Ficha Técnica Copyright © 2011, Regina Echeverria Diretor editorial Pascoal Soto Coordenação editorial Tainã Bispo Preparação Renata Cavalli e Ana Marson Revisão de textos Taís Gasparetti e Júlio Talhari Capa João Baptista da Costa Aguiar Projeto e diagramação de miolo Città Estúdio Pesquisadora Susana Horta Camargo Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP-Brasil) Ficha catalográfica elaborada por Oficina Miríade, RJ, Brasil. E18 Echeverria, Regina, 1951- Sarney : biografia / Regina Echeverria. – São Paulo : Leya, 2011. 624 p.: il. Inclui bibliografia e índice onomástico. ISBN: 9788580441635 1. Presidentes – Brasil – Biografia. 2. Políticos – Biografia. 3. Sarney, José, 1930- . I. Título. 10-0086 CDD 923.181 2011 Todos os direitos desta edição reservados a TEXTO EDITORES LTDA. [Uma editora do grupo Leya] Av. Angélica, 2163 – Conjunto 175 01227-200 – Santa Cecília – São Paulo – SP – Brasil www.leya.com Para Luiza, Luis e seu futuro. A Pedro Costa, por me ajudar a compreender. A Elio Gaspari, por me ensinar a fazer. PREFÁCIO ____________________ S OBRE ESTE LIVRO Alberto da Costa e Silva A primeira vez que ouvi o nome de José Sarney foi em 1948 ou 49, em Fortaleza. Ele fazia parte de um grupo de jovens poetas maranhenses – Lucy Teixeira, Bandeira Tribuzi, Lago Burnett e Ferreira Gullar – cujos poemas eram lidos com entusiasmo. Sarney e Gullar mal saíam dos 18 anos, e seus versos tinham o bom sabor da adolescência. Nos anos que se seguiram, encontrei em revistas literárias alguns poucos – pouquíssimos – poemas de José Sarney, mas, porque me tocaram, guardei o nome do autor. E este não demoraria a aparecer quase todos os dias nos jornais, pois o poeta assumira a sua outra vocação, a de político, e da arena estadual passara à federal, onde logo ganhou atenção pela fecundidade de suas ideias e por sua capacidade de harmonizar diferenças. Ao acompanhar sua trajetória, lembrava-me de um tio meu, que presidira a União Democrática Nacional (UDN) do Maranhão, Alarico Pacheco, que me dissera, de quem então era ainda um rapazola, que esse rapazola tinha um talento excepcional para a política e estava destinado a ser o homem público mais importante de sua terra. Correu o tempo, e, em 1978, eu servia como diplomata em Roma, quando recebi uma carta de Odylo Costa, filho, pedindo a minha companhia, para um grande amigo seu que chegaria dentro de alguns dias à cidade, para participar de um encontro internacional de parlamentares. Na carta, Odylo, que sabia de gente como ninguém, me assegurava que José Sarney e eu ficaríamos amigos ao primeiro aperto de mão, porque havíamos afinado com os mesmos livros a nossa sensibilidade. Falávamos – escrevia ele – no mesmo tom de voz e com o mesmo vocabulário. Assim foi. Encontramo-nos numa sala cheia de senadores e deputados de todas as partes do mundo, mas logo nos isolamos em nosso diálogo, um cobrando do outro o bem-querer a Nazareth e a Odylo. Sob essa proteção desse casal querido, o que poderia ter sido um encontro corriqueiro se entreteceu em afeto. Quando, dias depois, Sarney partiu de volta ao Brasil, havíamos desfiado tantas lembranças semelhantes, que parecíamos ter sido vizinhos de casa na infância. Na evocação dos dias de sua meninice no interior maranhense e de sua adolescência em São Luís deve ter-se demorado José Sarney durante as conversas que teve com sua biógrafa, Regina Echeverria. Logrou ela reproduzir comovidamente o que a sua personagem, nos verdes anos, viu, viveu e sofreu. Se o leitor se deixar encantar pelo adágio da prosa, pensará que quem lhe escande as palavras é o próprio Sarney. E este não se embuça como fonte, pois só quem conheceu um avô nascido sem parte de um dos braços poderia descrever como fazia para barbear-se, e só quem percorreu, maravilhado, os vastos campos da Baixada Maranhense saberia desenhá-los liricamente. Ao desvendar (ajudada pelos rascunhos das Memórias que José Sarney está escrevendo) os dias do menino e do rapazola, Regina Echeverria nos chama para ver como eram, no segundo terço do século XX, as cidadezinhas pobres e desamparadas do interior do Maranhão, e como se acendiam, à noite, as luzes em São Luís. Modos de vida que já se foram, e objetos que não mais se usam, e formas de convívio que se gastaram ressurgem nas páginas deste livro – e em alguns leitores acordará lembranças emocionadas, enquanto que para outros tudo será surpresa ou novidade. O cuidado em desenhar a personagem contra a paisagem de cada momento acompanha a história, quando esta se muda para o Rio de Janeiro e para Brasília. E a cena está sempre animada por outros figurantes, podendo mudar de aparência, ao ser vista pelos olhos de outro ator que não o principal. Uma das virtudes desta biografia é, aliás, a de mostrar como determinados episódios foram explicados, interpretados ou julgados de maneira diferente por alguns daqueles que deles participaram. Esse jogo de espelhos que refletem parcialmente outros espelhos torna este livro especialmente importante para o conhecimento do que se passou no Brasil após a Segunda Guerra Mundial. A perspectiva predominante é a de José Sarney, mas a ela se somam – ou a modificam, ou a contradizem – várias outras. A autora não se conformou em ouvir uma única versão de um fato; saiu em busca de quem dele guardou lembrança diferente. E os contrastes dos testemunhos dão nova vida, e até um certo quê de suspense, a enredos que se têm por bem conhecidos, como a renúncia de Jânio Quadros, a doença e morte de Tancredo Neves e a euforia e o subsequente malogro do Plano Cruzado. Este não é um livro encomiástico. Não pretende louvar a carreira política de José Sarney, mas narrá-la e, na medida do possível, explicá-la. Para isso, não pôde evitar o esgarçar-se no relato dos atos mesquinhos, das armadilhas da ambição e da vaidade, dos jogos duplos, das ingratidões, das falsidades, das intrigas e de outros ingredientes de que se nutre o lado perverso da política. Se nele se registram as críticas feitas a Sarney ao longo de sua carreira e, principalmente, à sua gestão na Presidência da República, não se deixa de lhe fazer justiça, como grande conciliador, que sempre procurou somar, em vez de dividir. Mais de uma vez, ele escreveu que “governar é harmonizar conflitos” e “exercer até o extremo a arte da paciência e da prudência”. Foi o que fez, durante o dificílimo período em que lhe coube reger a passagem do autoritarismo para a plenitude democrática. O país lhe deve o ter chamado a todos, sem distinção, para o convívio na liberdade. E o teve como exemplo de moderação, comedimento, tolerância e respeito pelas diferenças de modos de pensar e de agir. Jamais o ouvi desqualificar a opinião de quem quer que fosse, embora a pudesse contestar ou lhe opor argumentos, e não só por respeito ao outro, mas porque não ignora que o verdadeiro democrata é aquele que sabe que, no plano das ideias, só o tempo, e muitas vezes nem mesmo o tempo, dirá quem está certo – e que sabe, por conseguinte, que pode estar errado, e o contendor ter razão. Isso não o impediu nem impede de formar juízo sobre o comportamento dos contemporâneos. Um dos atrativos desta biografia é, por sinal, a revelação de trechos inéditos de suas Memórias e de seus diários, em alguns dos quais retrata alguns daqueles que encontrou em seu caminho, andando no mesmo rumo ou em direção contrária. Noutras páginas, desabafa, expressa suas decepções e defende ou explica os seus atos. A partir do ingresso de Sarney na política partidária, quem lhe conta a história só de raro em raro se lembra do poeta, do contista, do romancista e do jornalista, e de todo se esquece do pintor de domingo e do resto do menino que nele entranhadamente ficou. É verdade que, quase no fim do livro, Regina Echeverria dedica numerosos parágrafos ao êxito de crítica e de vendas dos seus romances O dono do mar e Saraminda e ao lançamento de A duquesa vale uma missa. Mas, no decorrer do livro, quase nada nos conta sobre a formação intelectual de José Sarney, sobre os autores que o marcaram na juventude e na maturidade, sobre os seus diálogos com os companheiros de geração, sobre suas aspirações como criador, sobre o seu primeiro livro de poemas, A canção inicial, sobre como abriu brechas no sem-sossego de seus dias para a emoção da poesia, para escrever os poemas de Os maribondos de fogo e Saudades mortas. Os enredos de seu primeiro volume de ficção, Norte das águas, têm sua história, e ficamos à espera de que nos seja contada. Regina Echeverria nos diz que O dono do mar surgiu das conversas de José Sarney com os pescadores da ilha de Curupu, mas isso é pouco e pede mais. Ficamos sem saber como eram essas conversas, como Sarney anotava as expressões e palavras que deles ouvia e como entreteceu, no romance, os enredos das lendas e os relatos de pescarias e naufrágios. O enfoque desta biografia é, porém, o político José Sarney. Não o escritor que ele também é. Assim como há políticos que escrevem livros, há escritores que fazem política, sem que esta lhes condicione a vida – lembro, para ficar no passado, Gilberto Freyre, Jorge de Lima e Menotti Del Picchia, que se elegeram, o primeiro e o último, deputado federal, e o segundo, vereador no Rio de Janeiro, cuja Câmara presidiu. Sarney pertence a um outro grupo, o do português Teixeira Gomes, do argentino Domingo Sarmiento e do venezuelano Rómulo Gallegos, em quem não se dão trégua numa só pessoa o político e o escritor. Neles, ser escritor completa o homem público e vice-versa. Conheci José Sarney num encontro parlamentar, mas fui apresentado por Odylo Costa, filho, a um poeta. Mais tarde, embaixador em Lisboa, recebi como Presidente da República quem me dava a alegria de ter-me por amigo. De suas visitas, não guardo a pompa das cerimônias oficiais, mas os passeios que fizemos pelas livrarias do Chiado e dois almoços com escritores portugueses, um deles no Grêmio Literário, com Alçada Batista, Augusto Abelaira, David Mourão-Ferreira, José Saramago e Vergílio Ferreira, quando ficamos todos pasmos com a intimidade de José Sarney com Camilo Castelo Branco, de quem parecia ter lido até mesmo o menos conhecido dos romances. É desse José Sarney que se alimenta do padre Antônio Vieira, conversa com colombianos, em pé de igualdade, sobre a literatura da Colômbia, e é capaz de guiar-nos numa visita ao Museu do Louvre, que eu tento fazer o primeiro
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