Sandra Martins Farias ANTROPOLOGIA E MUSEUS – RECIPROCIDADES: O CASO DO MUSEU DO ÍNDIO Belo Horizonte - 2008 - SANDRA MARTINS FARIAS ANTROPOLOGIA E MUSEUS – RECIPROCIDADES: O CASO DO MUSEU DO ÍNDIO Trabalho apresentado ao Programa de Pós- graduação em Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Antropologia. Orientador (a): Profa. Dra. Ana Lúcia Modesto Área de concentração: Antropologia Social. Belo Horizonte 2008 II Sandra Martins Farias Antropologia e Museus – Reciprocidades: O Caso do Museu do Índio BANCA EXAMINADORA _________________________ Professora Ana Lúcia Modesto Orientadora ______________________________________ Professora Izabel Missagia de Mattos ____________________________________ Professor Leonardo Hipólito Genaro Fígoli ____________________________________ Professor Daniel Schoreder Simião BELO HORIZONTE 2008 III AGRADECIMENTOS Á Deus, presença constante em minha vida, e que, em sua infinita bondade, me conduziu nesta caminhada. A meus pais, irmãos, cunhados e sobrinhos, que souberam ser pacientes nos dias em que não pude estar com eles. Devo um agradecimento especial a minha mãe, Maria Joaquina, por sua crença perene em minha capacidade para finalizar este curso de mestrado, até mesmo quando eu já não mais acreditava. A Ana Lúcia Modesto, minha orientadora e mestra, por todos estes anos de caminhada, por aceitar meu pedido para orientar-me na elaboração desta dissertação, por sua dedicação, atenção e cuidado, por seus conselhos, sugestões e recomendações. A você Ana Lúcia meu mais profundo agradecimento pelo seu constante estímulo e dedicação, por ter generosamente compartilhado comigo seu saber e experiência, enfim sou muito grata a você por tudo. Aos meus amigos que compreenderam minha distância ao longo destes dois anos. Meu reconhecimento e gratidão aos funcionários do Museu do Índio, Carlos Augusto da Rocha Freire, Ione Couto e Lídia Zelesco, pelas orientações, pela paciência em atender meus pedidos e pela atenção a mim dedicada durante o período de pesquisa no Museu. Agradeço especialmente a Ione e Carlos Augusto, que com grande gentileza, dedicação e solicitude me ajudaram na aquisição e acesso a documentos imprescindíveis para a elaboração desta dissertação. Aos meus colegas de mestrado, com quem dividi angustias, ironias e risadas durante a realização deste curso de mestrado. À Fundação Municipal de Cultura, nas pessoas de Edilane Carneiro, Vanessa Viegas, Érika Reis e Sania Almeida, pela compreensão e apoio, sem os quais esta dissertação não seria concluída. Quero agradecer também a colaboração daquelas pessoas que, oferecendo-me generosamente seus pontos de vista, contribuíram sobremaneira para a finalização desta dissertação: Vanessa, Denise e Alexsandra; especialmente a Soraia, minha irmãzinha e braço direito. Meu reconhecimento à Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – FAPEMIG, pela bolsa de estudos que, durante sete meses, permitiu minha dedicação integral a este Mestrado. IV A necessidade de preservar a diversidade das culturas num mundo ameaçado pela monotonia e pela uniformidade não escapou decerto às instituições internacionais. Elas compreendem também que não bastará, para alcançar esses objetivos, afagar tradições locais e conceder uma moratória aos tempos passados. É o fato da diversidade que deve ser salvo, não o conteúdo histórico que cada época lhe outorgou e que nenhuma poderia perpetuar além de si própria. Cumpre, pois, escutar o trigo que germina, encorajar todas as potencialidades secretas, despertar todas as vocações de viver junto que a história mantém em reserva; cumpre também estar pronto a encarar sem surpresa, sem repugnância e sem revolta o que todas essas novas formas sociais de expressão não poderiam deixar de oferecer de inusitado. A tolerância não é uma posição contemplativa, dispensando as indulgências ao que foi ou ao que é. É uma atitude dinâmica, que consiste em prever, em compreender e em promover o que quer ser. A diversidade das culturas humanas está atrás de nós, à nossa volta e à nossa frente. A única exigência que podemos fazer a seu respeito é que cada cultura contribua para a generosidade das outras. (LÉVI-STRAUSS, 1960: 269 Apud ABREU, 2007:273-274). V FARIAS, Sandra Martins. Antropologia e Museus – Reciprocidades: O caso do Museu do Índio. 183f. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte. RESUMO Antropologia, patrimônio cultural e museus têm seu surgimento a partir da expansão colonial, mas se consolidam durante o século XIX. Nestes quase dois séculos de existência tiveram momentos de profunda e profusa reciprocidade e outros de grande distanciamento. No caso brasileiro as relações entre estas áreas também seguiram esta mesma oscilação. O presente trabalho objetiva apresentar quais foram alguns destes momentos de maior aproximação, tendo como pano de fundo o estudo de um museu etnográfico: o Museu do Índio. A proposta aqui trabalhada é de identificar e estabelecer quais as estratégias que o Museu do Índio estabelece e como elas atuam enquanto uma ponte de duas mãos na relação entre museu e antropologia. Neste sentido, a pretensão deste estudo é identificar os entrelaçamentos entre antropologia e museus em certo período da historia disciplinar / científica de ambos, tendo como alvo desta interatividade o Museu do Índio, de modo que venha a contribuir para o debate e o fortalecimento de estudos sobre temáticas do patrimônio cultural e museus dentro da ciência antropológica. Palavras-chave: antropologia, museu, patrimônio cultural, Museu do Índio, auto- representação. VI FARIAS, Sandra Martins. Anthropology and Museums – Reciprocities: the case of the Museum of the Indian. 183p. Dissertation (Master Degree in Anthropology) – Federal University of Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte. ABSTRACT Anthropology, heritage and museums have beginning them emergence throughout the colonial expansion, but and they consolidated during the XIX century. During these almost two centuries of existence had moments of deep and profuse reciprocity and others of great estrangement. In the Brazilian case the relationships among these areas also followed this same oscillation. The present work aims to present some of these moments of close approximate, having as background the study of one ethnographic museum: the Museum of the Indian. The proposal here worked is to identify and to establish the strategies that the Museum of the Indian establishes and how they act while a bridge of two hands in the relationship between museum and anthropology. In this sense, the pretension of this study is to identify the interlacements between anthropology and museums in certain period of the it disciplinary / scientific history of both, having as objective of this interactivity the Museum of the Indian, how it comes to contribute inside for the debate and the strengthen of studies on themes of the heritage and museums of the anthropological science. Keywords: anthropology, museum, heritage, Museum of the Indian, self-representation. VII FICHA CATALOGRÁFICA Biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Farias, Sandra Martins. Antropologia e Museus – Reciprocidades: O caso do Museu do Índio / Sandra Martins Farias - Belo Horizonte, UFMG, 2008. 183 f. Orientação Profa. Dra. Ana Lúcia Modesto. Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 1. Antropologia. 2. Museu. 3. Patrimônio Cultural. 4. Museu do Índio. 5. Auto-representação. VIII SUMÁRIO INTRODUÇÃO 01 I. Ponto de Partida Desta Pesquisa 02 II. A Proposta e o Enfoque: objetivos e perspectivas abordadas neste estudo 05 III. O plano de Dissertação: apresentação dos capítulos 10 Capítulo I Base Conceitual: elementos para o percurso de uma “boa reflexão 16 antropológica” e teórica I. Patrimônio Cultural: a trajetória dos sentidos e formas de acautelamento da modernidade até fins do século XX 17 II. Museus: trajetórias entre o templo das musas e a prática social 23 III. Antropologia: da busca pelo conhecimento do diferente ao encontro reflexivo sobre 30 si mesma Capítulo II Antropologia Brasileira: delimitação de um campo de conhecimento 43 I. Antropologia Brasileira – 1940-1950: fundamentos e antecedentes 48 II. Antropologia e o nacional: configurações durante as décadas de 1940 e 1950 55 III. Antropologia Brasileira (1940-1950): consolidando informações 62 Capítulo III “Conhecer e intervir” – Darcy Ribeiro: idéias e pressupostos para a 66 criação de um Museu I. Darcy Ribeiro: Índios, Antropologia e Museu 69 II. Perspectivas da Política Indigenista Brasileira – Pacificação e Proteção 85 Capítulo IV Idealização e Criação de um Museu Sui Generis 93 I. Pequena Rememoração Conceitual 94 II. Museu do Índio: configurações de sua instituição 100 III. Museu do Índio: pretensões e metodologia de trabalho 107 IV. Configurações Atuais do Museu do Índio 113 V. Práticas Expográficas e Antropológicas do Museu do Índio: Alguns exemplos 121 Atividades e Práticas de Pesquisa 122 Atividades e Práticas Educativas 126 Atividades e Práticas Expositivas 132 Capítulo V Considerações Finais: reciprocidades e interações entre museu e 137 antropologia I. Interações entre Museu, Antropologia e Patrimônio: uma visão geral das 139 reciprocidades II. Considerações sobre a Investigação Realizada 143 III. Delineando novos Caminhos e Reciprocidades 147 Referências Bibliográficas 152 Anexos 160 IX Introdução Ainda estou longe de ter explorado o bloco inteiro, de ter concluído a escultura. (MAUSS, 2003: 370) 1 Primeiramente, gostaríamos de destacar o caráter provisório deste estudo, pois a idéia aqui não é esgotar a temática, estamos muito distante disso, não se pretende apresentar um tratado geral do assunto aqui abordado. Nossa intenção é fazer uma espécie de passeio sobre o tema e em algumas ocasiões, consideradas chave para a compreensão da argumentação, trabalhar com mais minúcia, ou mais profundamente, determinado enfoque que compõe o presente estudo. Ou seja, a proposta e a intenção deste estudo não é apresentar um quadro exaustivo sobre a relação entre antropologia e museus, mas indicar, por meio do estudo de caso do Museu do Índio (Rio de Janeiro), possibilidades e processos que indicam as relações de parceria entre as duas áreas. Sendo assim, nossa pretensão não é construir uma análise historiográfica das possíveis relações entre ambas, mas recuperar os entrelaçamentos entre antropologia e museus, dentro de determinado período da história da disciplina, mais especificamente durante as décadas de 1940 e 1950 e após a década de 1990, tendo como locus desta interatividade o Museu do Índio. Nossa aspiração é reconhecer a existência de reciprocidades, no sentido de troca de conhecimentos e de interação teórico-metodológica, dentro do percurso histórico tanto da antropologia quanto dos museus. Esse reconhecimento não constitui a identificação de propostas, mas significa uma parceria entre as práticas da antropologia e dos museus etnográficos, na tentativa de propiciar uma resposta a questionamentos similares, que advém de uma busca em comum: a compreensão do diferente e o estabelecimento do diálogo entre culturas. Por fim, a expectativa e/ou desafio deste estudo é que ele contribua para a consolidação, dentro do campo disciplinar da antropologia, de estudos voltados para os temas patrimônio cultural e museus, e que ambos possam se firmar como áreas de produção antropológica. 1 Esta citação foi extraída de: MAUSS, Marcel. 2003. "Uma Categoria do Espírito Humano: a noção de Pessoa, a de 'Eu'" In Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify. 1
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