Rupturas e encontros desafios da reforma psiquiátrica brasileira Silvio Yasui SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros YASUI, S. Rupturas e encontros: desafios da reforma psiquiátrica brasileira [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2010. Loucura & Civilização collection. 192 p. ISBN 978-85-7541-362-3. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. RUPTURAS E ENCONTROS desafios da Reforma Psiquiátrica brasileira 1 FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ Presidente Paulo Gadelha Vice-Presidente de Ensino, Informação e Comunicação Maria do Carmo Leal EDITORA FIOCRUZ Diretora Maria do Carmo Leal Editor Executivo João Carlos Canossa Mendes Editores Científicos Nísia Trindade Lima e Ricardo Ventura Santos Conselho Editorial Ana Lúcia Teles Rabello Armando de Oliveira Schubach Carlos E. A. Coimbra Jr. Gerson Oliveira Penna Gilberto Hochman Joseli Lannes Vieira Lígia Vieira da Silva Maria Cecília de Souza Minayo Coleção Loucura & Civilização Editor Responsável: Paulo Amarante RUPTURAS E ENCONTROS desafios da Reforma Psiquiátrica brasileira Silvio Yasui Copyright © 2010 do autor Todos os direitos desta edição reservados à FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ / EDITORA Capa e projeto gráfico Guilherme Ashton Editoração eletrônica Daniel Pose Vazquez Revisão M. Cecilia G. B. Moreira Normalização de referências Clarissa Bravo Catalogação na fonte Centro de Informação Científica e Tecnológica Biblioteca da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca Y29 Yasui, Silvio Rupturas e Encontros: desafios da Reforma Psiquiátrica brasileira. / Silvio Yasui. – Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2010. 192 p., il. (Coleção Loucura & Civilização) ISBN: 978-85-7541-195-7 1. Reforma dos Serviços de Saúde. 2. Serviços de Saúde Mental. 3. Participação Comunitária. 4. Políticas Públicas. 5. Transtornos Mentais - Psicologia. I. Título. CDD - 22.ed. - 362.2 2010 EDITORA FIOCRUZ Av. Brasil, 4036 – 1o andar sala 112 – Manguinhos 21040-361 – Rio de Janeiro – RJ Tel.: (21) 3882-9039 e 3882-9007 Telefax: (21) 3882-9006 [email protected] www.fiocruz.br/editora Morte e Vida Severina O retirante explica ao leitor quem é e a que vai – O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; (...) Mais isso ainda diz pouco (...) Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: (...) morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida). Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida, passo a ser o Severino que em vossa presença emigra. João Cabral de Melo Neto SUMÁRIO Prefácio..................................................................................................... 9 Apresentação.......................................................................................... 13 1. Movimento Social e Política Pública................................................. 25 2. A Reforma Psiquiátrica e a Transição Paradigmática ......................... 75 3. Caps: estratégia de produção de cuidados ......................................113 4. Plantadores de Sonhos: a Reforma Psiquiátrica é um processo civilizador.........................................................................161 Referências...........................................................................................181 PREFÁCIO Aqui a vida é Severina, e a loucura também! Silvio Yasui é o nosso Severino sobrevivente, na descrição do mundo da loucura no Brasil, tomando recortes de diferentes lugares por onde passou, em narrativas de rara delicadeza e acuidade. “Severino foi à busca do mar e encontrou a pobreza, a morte, a dor, mas também a esperança no espetáculo da vida”. E é de esperança que vamos falar doravante, nos capítulos muito bem articulados deste livro, que retra- tam a trajetória do autor e sua visão particular da Reforma Psiquiátrica brasileira com tal cuidado que nos faz viajar junto, tal o seu rigor narrativo. Sempre ancorado na crítica leitura de uma bibliografia disponível e, sobre- tudo, na sua experiência como protagonista de diferentes experiências em instituições psiquiátricas e de saúde mental no Brasil. Lembro Silvio, quase menino, recém-formado, um bravo psicólogo a liderar um grupo de psicólogos ainda mais jovens, num programa de apri- moramento técnico no velho hospício do Juqueri. Transformou algumas coisas, lutou sempre. Lutou tão bravamente que o expulsaram de lá, nos fins dos anos 80. A brutalidade com que humanos subjugam humanos a condições vis, utilizando-se de argumentos, ora ‘científicos’, ora tutelares, para excluir a desrazão humana da cena principal, escondendo-a no porão, sensibilizou Silvio desde sempre a querer transformar o seu mundo de referência. A excitação pela possibilidade concreta de mudar a história talvez seja a maior regularidade na sua trajetória. 9 Seu comportamento ético o levou até a rua Itapeva, 700, onde o aco- lhemos. Coube a mim entrevistá-lo e convocá-lo para se juntar aos que davam sentido à ideia do primeiro Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Luiz Cerqueira, na Bela Vista, em São Paulo, que, por oportunidade, desejo e destino, me coube começar. Ali encontrou Jairo Goldberg, Sandra Fischetti, Nerse Reparch, Jonas Melmann, Carlos Videira, Ana Luiza Aranha, Sonia Barros, Adalberto, Sergio Urquiza, Tiana, Emiron e tantos outros e outras que fizeram e fazem real aquele sonho. Ali pude acompanhar a sua sensibilidade clínica e de reabilitação psicossocial, plenamente articuladas. Seu violão bem afinado atraía pessoas, harmonizava espíritos, estabilizava delírios e alucinações, que o seu estilo zen de escuta tratava de ouvir e decifrar, para transformar temores em mo- dos de viver a vida. Estivemos juntos na primeira iniciativa de aproximar “fazejamento” e “pensação”, como sempre quis o nosso David Capistrano, descrevendo, avali- ando e produzindo teoria em serviço comunitário de saúde mental no país. “Avaliação de serviço de atenção médico-psicossocial a usuários de sis- tema de saúde no município de São Paulo”, 1990, foi um projeto de pes- quisa financiada pelo Banco Mundial para avaliar serviços de saúde. Abriga- do no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), foi também a chance de conhecer outro Silvio Yasui, arguto e persistente indagador de métodos e técnicas de investigação que nos fizessem desvendar os mistérios de uma prática recente que tanto nos inquietava: lidar com a loucura fora do manicômio. O dilema ‘quali-quanti’ nos motivava ao debate, nas sessões noturnas, nas jornadas estendidas de trabalho de um técnico que não se satisfazia com as atividades assistenciais que estavam prescritas no seu contrato de trabalho e dedicava o tempo livre ao desafio do conhecimento. A vocação docente-assistencial desse Caps sempre o colocou no lugar de mestre-aprendiz, acolhendo, compar- tindo, aprendendo, ensinando... A atitude política de não se curvar ao estabelecido, participando de todas as iniciativas culturais, quer em eventos, quer em escritos, demons- trando uma trajetória coerente em defesa dos direitos humanos dos que sofrem com transtornos mentais, testemunhei muitas vezes. E essas inicia- tivas parecem ter estimulado muitas das questões arqueologicamente de- senvolvidas neste texto. 10