PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP Rosa Maria Neves Abade TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS: RELEVÂNCIA PENAL MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2009 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP Rosa Maria Neves Abade TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS: RELEVÂNCIA PENAL MESTRADO EM DIREITO Dissertação Apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Direito Penal pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Profª. Doutora Maria Celeste Cordeiro Leite dos Santos. SÃO PAULO 2009 3 BANCA EXAMINADORA ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ 4 AGRADECIMENTOS À Deus, agradeço por cingir de forças e aperfeiçoar meu caminho. À minha família, meus pais, irmãos, sobrinhos e noivo, cujo apoio e incentivo torna possível minha caminhada. À caríssima mestra Maria Celeste Cordeiro Leite Santos, que com seu brilhantismo e entusiasmo desenvolveu-me o fascínio pela matéria. Certamente, sem o seu apoio e compreensão eu não teria conseguido. À ela minha eterna gratidão. 5 EPÍGRAFE “Minha tomada de consciência – o momento em que a enormidade daquilo tudo me deixou desnorteado – foi precisamente depois que extirpei o coração de Washkanski. Abaixei a vista e vi aquela cavidade [...] A comprovação de que diante de mim se achava um homem estendido, um homem sem coração, porém vivo, me parece que foi o momento que me infundiu mais pavor.” Christian Barnard 6 EPÍGRAFE “O acto de amor que é expresso com a doação dos próprios órgãos vitais permanece como um testemunho genuíno de caridade que sabe olhar além da morte para que vença sempre a vida. Do valor deste gesto deveria estar bem consciente quem o recebe; ele é destinatário de um dom que vai além do benefício terapêutico. O que recebe, de facto, ainda antes de ser um órgão é um testemunho de amor que deve suscitar uma resposta de igual modo generosa, a fim de incrementar a cultura da doação e da gratuidade.” Papa Bento XVI (Discurso aos participantes no Congresso Internacional promovido pela Pontifícia Academia para a vida sobre o tema da doação de órgãos) 7 RESUMO As permanentes transformações da humanidade, em busca de melhor qualidade de vida desencadearam, ao longo dos anos, vários estudos científicos. Os avanços da ciência moderna, mormente vinculadas ao corpo humano, foram se tornando realidade e, por esta razão, houve crescente preocupação no resguardo dos direitos fundamentais. O transplante de órgãos é um dos frutos da evolução da ciência moderna, cuja realização envolve uma dicotomia entre o interesse individual e coletivo, exigindo, assim, a intervenção do Estado. O momento da morte é assunto resguardado nesta lei, sendo este polêmico e complexo, com necessidade de determinantes legais. O tema deste estudo focaliza a compreensão destes aspectos na lei de transplante de órgãos. Analisou-se para tanto, a lei propriamente dita, o básico conceito de transplante e sua evolução histórica e também legislativa. O princípio da dignidade humana, como formador do novo conceito de cidadania, bem como os demais direitos fundamentais, assegurados pela Constituição Federal, foram também analisados. Enfocou-se o aspecto do consentimento, a opção inicial do legislador pelo modelo de consentimento chamado "presumido", a alteração introduzida pela MP nº 1.718/98, posteriormente pacificada pela Lei 10.211/01, bem como a natureza jurídica, os requisitos para a validade do consentimento, sua gratuidade e revogabilidade. Finalmente, culmina o estudo com a descrição dos artigos da Lei vigente nº 9.434/97, bem como as alterações da lei nº 10.211/01, enfatizando os aspectos penais, bem como o objetivo do legislador em punir as condutas criminosas ali previstas. Conclui-se que referida lei necessita de alterações, com a exclusão de tipos abertos, sugerindo tipos que façam a previsão do resultado morte a título de dolo, a criação de tipos intermediários, bem como aplicação de efeitos extrapenais da condenação. Palavras Chave: Transplante de órgãos. Morte encefálica. Consentimento. Tipos penais 8 ABSTRACT The ongoing transformation of humanity in search of better quality of life caused over the years, several scientific studies. The advances of modern science, especially related to the human body were becoming reality, and for this reason, there was growing concern in the band of fundamental rights. The transplantation of organs, is a fruit of the development of modern science, whose task involves a dichotomy between individual and collective interests, requiring therefore the involvement of the state. The moment of death is subject guarded in law, which is controversial and complex and in need of legal determinants. The theme of this study focuses on the understanding of these aspects in the law of organ transplantation. It was analyzed for both the law itself, the basic concept of transplantation and its historical development and legislation. The principle of human dignity, how to format the new concept of citizenship as well as other fundamental rights guaranteed by the Constitution, were also analyzed. Focusing on the issue of consent, the initial choice of the legislature called by the model of consent "assumed", the amendment introduced by MP No 1718/98, later pacified by Law 10211/01, and the legal, requirements for validity of consent, its free and revocability. Finally, the study concludes with a description of the existing articles of Law No. 9. 434/97 and the amendments of the Law 10211/01, emphasizing the criminal aspects, and the legislature's purpose in punishing criminal conduct planned there. It is concluded that this law needs to change, with the exception of open type, suggesting that types are anticipating the outcome of death for fraud, the creation of intermediate types, and application of extrapenais purposes of sentencing. Keywords: transplantation of organs. Criminal aspects. Brain death 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 12 CAPÍTULO 1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA ............................................................... 18 1.1 Evolução Histórica do Transplante de Órgãos e Tecidos no Mundo ............... 18 1.2 Histórico do Transplante de Órgãos no Brasil ................................................. 23 1.3 Evolução Histórica da legislação de Transplante no Brasil ............................. 24 CAPÍTULO 2 – TRANSPLANTE ............................................................................. 32 2.1 Conceito .......................................................................................................... 32 CAPÍTULO 3 – DIREITOS FUNDAMENTAIS E A LEI DE TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS ................................................................................................................. 36 3.1 Considerações ................................................................................................ 36 3.2 Princípio da Dignidade da pessoa humana ..................................................... 36 3.3 Considerações relativas ao direito fundamental à vida ................................... 43 3.4 Princípio da Integridade física ......................................................................... 45 3.5 Princípio da liberdade ...................................................................................... 47 3.6 Direito à saúde ................................................................................................ 48 3.7 O direito ao próprio corpo ................................................................................ 52 CAPÍTULO 4 – A LEI DE TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – LEI Nº 9.434/97 E ALTERAÇÕES PELA LEI Nº 10.211/01 ................................................ 55 4.1 Disposições Gerais ......................................................................................... 55 4.2 A morte encefálica e a Lei de Transplante de Órgãos .................................... 57 4.2.1 Conceito de Morte ................................................................................... 58 10 CAPÍTULO 5 – A FIGURA DO “DOADOR” E “RECEPTOR” ................................ 77 5.1 A figura do “doador” ......................................................................................... 77 5.2 A figura do “receptor” ....................................................................................... 79 5.3 O afastamento do consentimento presumido pela nova lei nº 10.211/01 ....... 80 5.4 Transplante e o Direito Legislado .................................................................... 83 CAPÍTULO 6 – ANENCEFALIA E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS ................................... 88 CAPÍTULO 7 – RELEVÂNCIA PENAL DO TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS ........... 92 7.1 Introdução ....................................................................................................... 92 7.2 A finalidade da pena nas condutas penais da lei de Transplante de Órgãos ... 95 7.3 Bem jurídico Tutelado pela Lei de Transplante de Órgãos ............................. 97 CAPÍTULO 8 – DOS TIPOS PENAIS .................................................................... 100 8.1 Remoção em desacordo com a lei ................................................................ 100 8.1.1 Formas qualificadas ............................................................................. 103 8.2 Comercialização de Órgãos .......................................................................... 106 8.3 Transplantação de Órgãos obtidos de Modo Ilegal ....................................... 108 8.4 Transporte irregular de Órgãos ..................................................................... 109 8.5 Realização de Transplantação sem permissão do receptor .......................... 110 8.6 Falta de Recomposição Estética do Cadáver do Doador ou Retardamento na entrega do Corpo aos familiares .................................................................... 111 8.7 Publicação de Anúncio ou Apelo Público em Desacordo com o Disposto no artigo 11 da Lei nº 9.434/97 ................................................................................ 113
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