REVISTA DO Ano XLI • Julho - Dezembro de 2005 Revista do Arquivo Público Mineiro História e arquivística Ano XLI • julho-dezembro de 2005 Av. João Pinheiro, 372 Belo Horizonte MG Brasil CEP 30.130-180 Tel. +55 (31) 3269-1167 [email protected] Governador do Estado de Minas Gerais Aécio Neves da Cunha Secretária de Estado de Cultura Eleonora Santa Rosa Secretário Adjunto Marcelo Braga de Freitas Superintendente do Arquivo Público Mineiro Renato Pinto Venâncio Editor Regis Gonçalves Projeto gráfico e direção de arte Márcia Larica Produção executiva Roseli Raquel de Aguiar Pesquisa e seleção iconográfica Luís Augusto de Lima Revisão Mariângela Ramos Pimenta Fotografia Daniel Coury Editoração eletrônica Túlio Linhares Conselho Editorial Affonso Ávila | Affonso Romano de Sant'Anna Caio César Boschi | Heloísa Maria Murgel Starling Jaime Antunes da Silva | Júlio Castañon Guimarães Luciano Raposo de Almeida Figueiredo | Maria Efigênia Lage de Resende | Paulo Augusto Castagna Edição, distribuição e vendas: Arquivo Público Mineiro Tiragem: 1.000 exemplares. Impressão: Rona Editora Ltda. Revista do Arquivo Público Mineiro. ano 1, n. 1 (jan./mar.1896) - . Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, 1896 - v.; il.; 20,5 x 26cm. Semestral Irregular entre 1896-2005. De 1896 a 1898 editada em Ouro Preto. BH - Dezembro de 2005. ISSN 0104-8368 1. História – Periódicos. 2. Arquivologia – Periódicos. 3. Memória – Periódicos. 4. Minas Gerais – Periódicos. 5. Coleção Casa dos Contos. I. Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais. II. Arquivo Público Mineiro. CDU 905 Foto-postal da Casa dos Contos de Ouro Preto, autor desconhecido, s/data (circa1925). Coleção Luís Augusto de Lima. SUMÁRIO EDITORIAL |Traço de continuidade | Eleonora Santa Rosa e Renato Pinto Venâncio 6 Ao entrar na terceira fase de sua existência, a RAPMpreserva a identidade original. ENTREVISTA | Evaldo Cabral de Mello | Mary Del Priore 8 Um dos maiores intelectuais brasileiros fala de sua paixão pela pesquisa. DOSSIÊ | Coleção Casa dos Contos | Caio C. Bosch 18 Fio condutor interliga os quatro textos dessa seção. Derrama e política fiscal ilustrada | Luciano Raposo de Almeida Figueiredo 22 Excessos tributários, insurreições e conciliação metropolitana na Minas colonial. Desvendando a riqueza na terra dos diamantes | Angelo Alves Carrara 40 Revelações sobre o acervo documental produzido pela antiga Intendência dos Diamantes, entre 1733 e 1764. Jóia da coroa | Eugênio Ferraz 60 Passo a passo, a restauração da Casa do Contos de Ouro Preto. O ouro cruza o Atlântico | Leonor Freire Costa, Maria Manuela Rocha Uma complexa rede administrativa e e Rita Martins de Sousa 70 mercantil esteve por trás da transferência para Lisboa da maior riqueza colonial. ENSAIO | Barbeiros, cirurgiões e médicos na Minas colonial | Júnia Ferreira Furtado 88 A invenção de uma medicina prática nos sertões mineiros. De escravo a senhor | Iraci Del Nero da Costa e Francisco Vidal Luna 106 Como a propriedade de escravos se distribuía entre homens livres e forros no regime escravista brasileiro. Laços fraternos | Eliana de Freitas Dutra 116 Publicação portuguesa quis manter a idéia de uma comunidade cultural luso-brasileira indissolúvel. ARQUIVÍSTICA | Digitalização de acervos, desafio para o futuro |Eduardo Valle e Arnaldo Araújo 128 O impacto das tecnologias digitais sobre a preservação de acervos documentais. ESTANTE | Novidades da historiografia mineira 144 ESTANTE ANTIGA | Uma festa para o príncipe infante | Márcia Almada 146 A Comarca de Sabará se engalana para comemorar o nascimento do príncipe da Beira. > Raros são os periódicos científicos que sobrevivem mais de um século. O que o leitor tem em mãos é um deles. Criada em 1896, a Revista do Arquivo Público Mineiro (RAPM) marcou uma nova etapa nos estudos históricos de Minas Gerais e do Brasil, divulgando instrumentos de pesquisa, estudos inéditos e transcrições documentais. Em 1938, esse periódico deixou de ser publicado, retornando em 1975 e sendo, 20 anos depois, novamente desativado. Em 2005, graças ao esforço da Secretaria de Estado de Cultura – com apoio do Programa Cultural da Cemig, empresa responsável por ações sociais e culturais de grande envergadura – eis que ressurge a Revista do Arquivo Público Mineiro.Talhada em belíssimo projeto gráfico, essa nova versão – condizente com a instituição que representa – procura honrar a tradição de mais antiga revista de história das Minas Gerais, trazendo a público documentos do período colonial, assim como sugerindo a reedição de obras raras e regis- trando, através de entrevistas, a experiência dos mais talentosos historiadores de nossa época. Ao mesmo tempo, abrem-se na nova revista as portas para a modernidade, tornando-se nela acessíveis as mais avançadas pesquisas universitárias nacionais e internacionais tanto na área de história quanto na de arquivística e, também, notícias bibliográficas referentes aos mais recentes livros sobre o passado mineiro. Este novo número da Revista do Arquivo Público Mineiro é dedicado à Coleção Casa dos Contos. Trata-se de um acervo que contém milhares de documentos administrativos e fiscais, assim como valiosas infor- mações de natureza militar, religiosa e política – para citarmos apenas alguns temas – concernentes às Minas Gerais dos séculos XVIII e XIX. | | 6 Revista do Arquivo Público Mineiro Editorial Desde 2003, esse acervo tem sido alvo de um projeto desenvolvido pelo Arquivo Público Mineiro em colabo- ração com o Arquivo Nacional e a Biblioteca Nacional, que conta agora com a recente adesão da própria Casa dos Contos, de Ouro Preto. O objetivo central do projeto é o de disponibilizar instrumentos de pesquisa que tornem acessíveis informações relativas aos códices e avulsos da mais importante série documental de Minas Gerais, dispersa nas instituições acima mencionadas. Numa segunda etapa, serão digitalizados os próprios docu- mentos da Coleção Casa dos Contos, criando-se, assim, um suporte a mais para sua conservação e divulgação. Todo esse riquíssimo material de pesquisa – cujo gigantismo e dispersão por diferentes instituições muito dificultaram seu uso – em breve estará fácil e amplamente acessível. É justamente isso que aqui comemo- ramos: o Arquivo Público Mineiro, através do projeto Coleção Casa dos Contos, cumpre exemplarmente sua missão de preservar e divulgar a história de Minas Gerais. A escolha do dossiê Coleção Casa dos Contos, como matéria de destaque desta edição, também teve por objetivo homenagear a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), que patrocina o projeto em pauta. Essa instituição, parte importante da história de Minas Gerais contemporânea, é motivo de orgulho para todos nós e, em especial, para os pesquisadores mineiros. Com sensibilidade e inteligência, ela tem viabilizado, junto a inúmeras instituições do Estado, a multiplicação de pesquisas científicas de grande alcance, base para o desenvolvimento e a justiça social. Eleonora Santa Rosa Renato Pinto Venâncio Secretária de Estado de Cultura de Minas Gerais Superintendente do Arquivo Público Mineiro | | Revista do Arquivo Público Mineiro Editorial 7 Revista do Arquivo Público Mineiro Entrevista Evaldo Cabral de Mello Um historiador nos arquivos Mary Del Priore Revista do Arquivo Público Mineiro 9 “A historia é única coisa autenticamente mágica que encontrei na vida.” > Considerado pela crítica um dos maiores historiador e, em especial, sobre a apaixonante historiadores brasileiros contemporâneos, Evaldo experiência de pesquisador em arquivos. Cabral de Mello vem construindo, com paciente labor e apetite voraz por arquivos, a história de RAPM - O Arquivo Público Mineiro concentra as uma região riquíssima de homens, de fatos mais importantes séries documentais de Minas políticos e de cultura, que é o Nordeste. Autor de Gerais. A historiografia mineira depende em grande nove obras incontornáveis sobre o tema, membro parte dessa instituição de pesquisa. No caso da de uma família de intelectuais pernambucanos, historiografia pernambucana, ela depende mais de diplomata com serviços prestados em vários arquivos nacionais ou internacionais? países da Europa e nos EUA, sua paixão pela ciência histórica nasce na infância, com a leitura Evaldo Cabral de Mello - A historiografia de historiadores locais e da literatura regional de pernambucana depende de ambos, obviamente, José Lins do Rego. A proximidade com os primos mas no tocante ao período holandês depende Gilberto Freyre e José Antônio Gonsalves de especialmente dos documentos holandeses. Mello só aprofundou o convívio com a matéria, A documentação holandesa é naturalmente muito amplamente enriquecido por meio de acesso mais rica do que a portuguesa. Quanto ao período a arquivos e bibliotecas internacionais. ou períodos de domínio lusitano, os arquivos portugueses têm uma riqueza que não têm os A descoberta dos livros de Fernand Braudel levou-o locais, que só se tornam a fonte principal a partir ao que chama de "um terceiro caminho" entre a da Independência e da criação do Estado Nacional. história convencional e o esquematismo marxista: A documentação que existia em Pernambuco até aquela história, segundo ele, que se prende à 1630 foi destruída pelo incêndio que os holandeses vida, ao cotidiano e à materialidade, e sobre a atearam em Olinda. Daí que não se dispõe, para qual os documentos dos arquivos regurgitam de essa fase das atas da Câmara de Olinda, dos informações. Autodefinindo-se como "historiador documentos notariais e da papelada eclesiástica, do Nordeste", Cabral de Mello é um feroz crítico do embora aquela relativa à ordem beneditina tenha, burocratismo universitário e da historiografia feita em boa parte, chegado até nós. Após a expulsão exclusivamente entre Rio de Janeiro e São Paulo – dos holandeses, a documentação local (segunda que denomina, aliás, com bom humor, de "história metade do século XVII e todo o século XVIII) é saquarema" – que desconhece a história de outras certamente considerável, mas não dispensa, regiões do país. Exemplo de erudição, de fôlego longe disto, a consulta aos acervos portugueses. para pesquisa, de sensibilidade e rigor metodológico, Pode parecer curioso, mas salvo a documentação esse misto de gentlemane homem de inteligência de procedência holandesa existente no Instituto é, antes de tudo, um modelo de intelectual. Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, trabalhei muito pouco em arquivos pernambucanos. Nesta entrevista, concedida com exclusividade a Mary Del Priori para a Revista do Arquivo Público RAPM - Em sua opinião, qual o papel Mineiro, Cabral de Mello fala sobre sua trajetória de desempenhado pelos arquivos privados? | | 10 Revista do Arquivo Público Mineiro Mary Del Priore