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Resistência: A história da mulher que desafiou Hitler PDF

321 Pages·2015·1.73 MB·Portuguese
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Título original: RÉSISTANCE Notre Guerre by Agnès Humbert © Editions Emile-Paul Frères, 1946 Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela CASA DOS LIVROS EDITORA LTDA. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite. Rua da Quitanda, 86, sala 218 – Centro – 20091-005 Rio de Janeiro – RJ Tel.: (21) 3175-1030 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A899r Humbert, Agnès, 1894-1963 Resistência: a história de uma mulher que desafiou Hitler / Agnès Humbert ; tradução Regina Lyra ; posfácio Julien Blanc. - Ed. Especial – Rio de Janeiro: HarperCollins, 2017. 326 p. : il. (100 milhões de leitores) Tradução de: Résistance Inclui bibliografi a e índice ISBN 9788595081451 1. Humbert, Agnès - Diários. 2. Guerra Mundial, 1939-1945 - Prisioneiros e prisões alemãs. 3. Guerra Mundial, 1939-1945 - Resistência - França. 4. Narrativas pessoais francesas. 5 . Prisioneiros de guerra - França - Diários. 6. Prisioneiros de guerra - Alemanha - Diários. 7. França - História - Ocupação alemã, 1940-1945. I. Título. II. Série. CDD 940.5344 CDU: 94(100)’1939/1945’ SUMÁRIO Prefácio: A silenciosa força das mulheres I O fim da Terceira República II Paris sob a suástica III A prisão de Cherche-Midi IV A prisão de La Santé V A prisão de Fresnes VI Em cela coletiva VII Os trabalhos forçados VIII Na fábrica “Phrix”, a tecelagem de seda artificial IX Doze ofícios, treze mazelas X A caça aos nazistas Posfácio Apêndice: Documentos sobre a Resistência Bibliografia PREFÁCIO A SILENCIOSA FORÇA DAS MULHERES Marina Colasanti Eu havia lido Resistência durante todo o fim de semana, e desci a serra ouvindo no carro os sofridos poemas de Anna Akhmátova. Trágicos fios que se entrelaçam, pois os poemas de Anna, silenciados pelo regime ainda na década de 1920, passaram a ser difundidos diariamente pela rádio oficial quando se tornou necessário infundir ânimo nos que, em Stalingrado, resistiam bravamente. Agnès, prisioneira na Alemanha, sabia, por notícias passadas boca a boca, da resistência de Stalingrado. Tivesse tido rádio, ouviria os poemas de Anna, certamente não os que ouvi, aqueles em que fala dos dias gelados e intermináveis passados em fila diante das muralhas do Kremlin na esperança de obter a libertação de seu filho preso, certamente não o do marido sendo levado pelo regime que o fuzilaria. Agnès aguardou em ânsia a chegada dos russos a Berlim. Para ela, Anna estaria entre os que venceram a guerra. Mas Anna só seria reabilitada oficialmente dez anos depois da libertação de Agnès. No imediato pós-guerra, uma peça fez sucesso na Itália. Chamava-se Le donne hanno perduto la guerra. Eu não tinha nem dez anos, mas lembro claramente da intensidade com que minha mãe e os adultos a comentavam, e o título gravou-se em mim. As mulheres sempre perdem a guerra. Não a querem, mas a perdem. Perdem quando estão no caminho dos exércitos e se tornam botim. Perdem quando batalham em silêncio nas cidades esvaziadas dos seus homens, para manter sólida a retaguarda e conservar a ordem do país. Perdem quando recebem seus homens num caixão ou quando eles voltam com o equilíbrio despedaçado. Perdem quando se apaixonam pelo inimigo e quando o inimigo se apaixona por elas. Minha babá, violentada num campo da Toscana por três soldados alemães e abandonada semimorta perdeu a guerra. E perderam a guerra as mulheres italianas que namoraram soldados alemães e que, com a libertação, tiveram a cabeça raspada em praça pública, espalmada de piche e coberta de penas. E também Teresa perdeu a guerra, aquela doce personagem de Annamaria Pierangeli, que no filme de Fred Zinnemann se apaixona por um GI e se casa com ele, para encontrar nos Estados Unidos preconceito e suicídio. O livro de Agnès Humbert, entretanto, consegue não ser um livro de perdas. Eu diria até que é um livro de conquistas. Quando se é obrigada a passar seis semanas sem trocar a roupa íntima, proibida de lavá-la e praticamente sem lavar- se, quando os piolhos infestam a cabeça e a fome devora o estômago, manter a dignidade é uma conquista diária. Quando o trabalho é forçado e massacrante, quando não há agasalho contra o frio nem colchão para deitar, quando não há espaço, não há proteção, não há trégua, manter vivos fraternidade e altruísmo é uma conquista. Ao retratar seu terrível cotidiano, Agnès nos entrega uma doçura insuspeitada. Só a amizade, o carinho, o cuidado de uma prisioneira com a outra tornam suportáveis seus cinco anos de confinamento. Ao lado do antiquíssimo cenário de crueldade e opressão, o feminino age, o gesto maternal protege, a mão da mulher organiza. Vi em Dresden a estátua de uma mulher anônima que varre. Não é uma homenagem às donas de casa. É a lembrança de uma tragédia e de um gesto de ressurreição. Logo depois do grande bombardeio que já ao fim da Segunda Guerra destruiu por completo aquela cidade então habitada só por velhos, mulheres e crianças, os que continuavam vivos saíram aos poucos de seus esconderijos. E só encontraram escombros. Então as mulheres cataram e empilharam tijolos, improvisaram vassouras e começaram a varrer. Seriam mesmo pequenos os gestos das mulheres, como sempre se disse? Mas o que faz a dimensão de um gesto, além do seu conteúdo? A guerra ia adiantada, já quase tudo faltava ao exército italiano; seguidas vezes ouvi os adultos dizendo que os Alpini — unidade especial que combate nos Alpes — estavam lutando sem proteção contra o frio, sem botas, sem agasalhos. E um dia minha mãe, mulher sofisticada nada voltada para as coisas do lar, declarou velha uma suéter do meu pai e tratou de desmanchá-la. Imagino que as amigas dela tenham feito o mesmo, pois, naquele tempo em que não havia mais lã para comprar, as vi reunidas mais tarde, tricotando toucas ninja — chamavam-se passamontagna — que seriam enviadas ao front nevado. Àquela altura, a aliança na mão da minha mãe não era mais a de ouro branco recebida no dia do casamento. Aquela havia sido depositada em um capacete sustentado por três fuzis diante da catedral da cidade em que vivíamos, junto com tantas alianças de tantas outras mulheres, parte voluntária do esforço de guerra. De um lado e de outro as mulheres abrigaram fugitivos. Mesmo sabendo os riscos que corriam, esconderam desertores em suas casas, abrigaram inimigos em seus sótãos e celeiros. Como a francesa apelidada Maman-Gâteau, que aos 65 anos e muito doente torna-se companheira de prisão de Agnès por ter acolhido soldados ingleses. Também a condessa italiana Andreola Vinci, cujo filho foi meu companheiro de infância, escondeu dois paraquedistas ingleses em sua villa. E na casa vizinha à da minha babá, em meio aos campos, todas as mulheres foram metralhadas pelos alemães que haviam encontrado um homem escondido no palheiro. Que não se permita, porém, à coragem inibir a doçura. Em meio ao inferno em que se encontra, Agnès pousa sobre seu entorno um olhar sempre capaz de descobrir a beleza. Mesmo durante o período especialmente duro na tecelagem Phrix, quando mal e mal consegue enxergar, na rara ocasião em que lhes permitem lavar-se, vê as companheiras nuas e as compara às odaliscas do famoso quadro de Ingres, O banho turco. Ou atravessa um espaço ao ar livre, afundando na lama e carregada de peso, reparando nas folhas, nos pássaros. E várias vezes, dos bombardeios, retém a beleza da luz afogueada contra a escuridão da noite. Silenciosa força interior, isso é o que têm as mulheres. Uma força discreta que, sem alarde, alimenta seus gestos de coragem e, tantas vezes, permite que conservem a cabeça erguida nas circunstâncias mais duras. Essa é a força que manteve Agnès viva e íntegra ao longo de cinco anos de provações. E que ela nos entrega em seu diário, dizendo-se apenas um elemento pequeno em seu grupo de resistência. Lendo o que ela escreveu, entretanto, uma pergunta aflora, inevitável: seria mesmo justo considerá-la pequena?

Description:
No início da década de 1940, a Segunda Guerra Mundial se formava no horizonte e o poderio nazista ocupava cada vez mais áreas da Europa. Em Paris, uma historiadora de arte se rebela contra o governo francês e o domínio nazista e decide usar as palavras como arma de guerra. Resistência conta a
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