ebook img

Relações Exteriores do Brasil (1939-1950): Mudanças na natureza das relações Brasil-Estados Unidos durante e após a Segunda Guerra Mundial PDF

268 Pages·2012·1.435 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Relações Exteriores do Brasil (1939-1950): Mudanças na natureza das relações Brasil-Estados Unidos durante e após a Segunda Guerra Mundial

Gerson Moura RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL 1939-1950 Mudanças na natureza das relações Brasil-Estados Unidos durante e após a Segunda Guerra Mundial Brasília, 2012 Apresentação Letícia Pinheiro Num encontro com o embaixador Gelson Fonseca Jr., há cerca de um ano atrás, conversamos sobre a possibilidade de o Ministério das Relações Exteriores apoiar a reedição de um dos livros de autoria de Gerson Moura - Autonomia na Dependência: a política externa brasileira de 1935 a 1942 (Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980) -, um clássico do campo de estudos da Política Externa Brasileira, cuja única edição encontrava-se esgotada. Seu entusiasmo com essa possibilidade fez com que ele não demorasse a me enviar um e-mail falando da grande simpatia com que o embaixador José Vicente Pimentel, presidente da Fundação Alexandre de Gusmão, recebera a sugestão. Foi assim que, em seguida, o embaixador José Vicente estabeleceu contato com a família de Gerson e daí surgiu a proposta de publicar sua tese de doutorado. A publicação desta tese em seu formato integral finalmente traz a público os resultados de uma investigação que integrava um programa de pesquisa desenvolvido por Gerson Moura e alguns de seus contemporâneos que pode ser visto como um divisor de águas na área de estudos da Política Externa Brasileira. Uma de suas principais características era a interpretação de nossa política externa sublinhando o poder da escolha dos homens públicos do país, ainda que sob condições especiais, algumas vezes especialmente adversas. A tese defendida por Gerson Moura neste trabalho em particular, que também aparece em outros trabalhos do autor, resgata a ação política como um dos vetores explicativos centrais da inserção internacional do Brasil. Embora sem LETÍCIA PINHEIRO desconhecer o poder das estruturas, sua tese possui o mérito de sublinhar a existência de escolhas. Num certo sentido esta hipótese de trabalho com que Gerson desenvolveu tão intensamente suas pesquisas sobre períodos pretéritos possuía forte interface com o próprio momento histórico em que essas mesmas reflexões eram feitas. Sem cair em anacronismos que tendem a ver o passado com as lentes do presente, diplomatas, políticos e principalmente acadêmicos também buscavam, neste momento - meados da década de 1970 e fins da década de 1980 -, as explicações para o comportamento mais autônomo do Brasil no tempo do pragmatismo responsável e da política externa universalista – como assim batizaram seus próprios formuladores – num período em que ainda vigiam fortes limitações da Guerra Fria e da economia internacional para os países periféricos. A relevância científica e mesmo política de interpretações apoiadas em densa argumentação teórica e empírica que Gerson Moura nos ofereceu com seus livros e artigos, sem dúvida já seriam razão suficiente para nos convidar à leitura desta tese. Mas não se deve esquecer que essas interpretações foram igualmente construídas e refinadas por meio de uma aguçada curiosidade e uma grande paixão sobre a área das relações internacionais e, em particular sobre a política externa brasileira que, mesmo reconhecendo o valor científico que encontramos nas páginas dos livros de Gerson Moura, certamente o ultrapassa. Explico. Aqueles que já cursaram a disciplina de Política Externa Brasileira que costumo oferecer nos cursos de Graduação em Relações Internacionais da PUC-Rio seguramente perceberam o prazer com que inicio o módulo Anos de Guerra no Brasil. A riqueza e complexidade do período seriam, por si só, excelentes motivos para entusiasmar todo professor da área a compartilhar suas leituras com os alunos e a fomentar o debate acerca das escolhas feitas por nossos governantes. Mas algo mais me mobiliza e me entusiasma nessas aulas. É que ao longo deste módulo tenho a oportunidade de reviver os bons tempos em que como aluna, estagiária, assistente ou finalmente como colega de pesquisa de Gerson – juntamente com tantos outros colegas, hoje renomados pesquisadores da área - , tive a grata oportunidade de ”viver” o período da história da política externa brasileira sobre o qual Gerson estava pesquisando. Como professor, orientador ou parceiro num projeto, Gerson nos falava dos cenários internacionais, da política doméstica, dos processos de decisão – suas tragédias e comédias - como quem tivesse sido, ele próprio, uma testemunha dos mesmos. Sem nunca perder seu refinado senso crítico – com um ferino e igualmente muito elegante bom humor - Gerson trazia APRESENTAÇÃO à luz a documentação histórica dando-lhe vida, ao mesmo tempo em que destrinchava suas tramas por meio de sua excelente formação teórica e rigor conceitual. Era com idêntico entusiasmo e senso crítico que ele assim nos ensinava, estagiários ou assistentes de pesquisa, a encontrar nos arquivos privados do CPDOC/FGV, nos Maços do Arquivo Histórico do Itamaraty ou na farta documentação que, junto com sua então colega Monica Hirst, fotocopiara de arquivos públicos e privados nos Estados Unidos, aquilo que não estava explícito, mas apenas sugerido, esboçado. Gerson, enfim, nos ensinava a ler nas entrelinhas e a buscar no cruzamento de fontes aquilo que a documentação oficial guardava em segredo. Nesses momentos, a desconfiança mineira que Gerson orgulhosamente trazia consigo ajudava-lhe a questionar e a ir além das aparências. Era também com seu jeito manso que nos ensinava “a levar o leitor pela mão” – conselho que tantos de nós hoje reproduzimos para nossos orientandos. Mas era preciso fazer isso sem nunca desmerecer a inteligência de nossos leitores. Ao contrário, devíamos convidá-los a se tornar nossos companheiros de viagem, nossos parceiros na busca de interpretações sobre a política externa brasileira. E seria, afinal, o nosso argumento, o uso adequado da teoria, das evidências empíricas trazidas pelas pesquisas, seriam enfim essas as ferramentas a nos eximir de adjetivações desnecessárias sobre os atos e os fatos da História, pois ao formarem um argumento consistente, elas se encarregariam de levar o leitor a compartilhar conosco das qualificações não ditas. Todas essas características podemos encontrar em seus muitos artigos e livros já publicados - O tratado comercial Brasil-EUA de 1935 e os interesses industriais brasileiros, Autonomia na Dependência, Tio Sam Chega ao Brasil, Sucessos e Ilusões, Avanços e Recuos, ... Finalmente chegou a hora de relembrar - para uns - e conhecer - para outros – os ensinamentos de Gerson Moura, por meio da leitura dessa tese cujo acesso até hoje estava restrito aos leitores de língua inglesa. Com a bem-vinda publicação de Relações Exteriores do Brasil, 1939-1950: mudanças na natureza das relações Brasil-Estados Unidos durante e após a Segunda Guerra Mundial que a Funag hoje nos oferece, podemos novamente “ouvir” o nosso querido Gerson, aprender com ele e perceber que a Política Externa Brasileira não é para amadores. Outubro de 2012. Sumário Prefácio - Gerson Moura (1939-1992) .........................................................................15 Leslie Bethell Prefácio ............................................................................................................................25 Gerson Moura Notas explicativas .........................................................................................................29 Capítulo I – Introdução ................................................................................................33 A América Latina e a política internacional na década de 1930 ........................34 O Brasil na década de 1930 ......................................................................................47 Capítulo II – Os anos de neutralidade (1939-1941) .................................................57 Iniciativas dos Estados Unidos contra o Eixo .......................................................59 A colaboração econômica EUA-Brasil ....................................................................62 A colaboração política e militar EUA-Brasil ..........................................................67 Iniciativas culturais dos Estados Unidos ...............................................................75 Capítulo III – Da neutralidade à guerra (janeiro a agosto de 1942) .....................81 A Conferência do Rio ................................................................................................82 A barganha difícil ......................................................................................................93 O fim do equilíbrio pragmático .............................................................................116 Capítulo IV – Os anos da guerra (agosto de 1942-1945) .......................................119 Parte 1: O Brasil em guerra (setembro de 1942-1944) .............................................119 O período de preparação ........................................................................................123 O período de participação ......................................................................................142 O Brasil em guerra: uma avaliação .......................................................................153 Parte 2: Paz (1945) .......................................................................................................157 Estados Unidos, potência mundial .......................................................................157 A queda de Vargas ..................................................................................................170 Capítulo V – Os anos pós-guerra (1946-1950) ........................................................177 O Brasil e as Nações Unidas ..................................................................................182 O Brasil e o sistema interamericano .....................................................................194 O Brasil e os Estados Unidos .................................................................................206 Relações britânico-brasileiras ................................................................................224 Ascensão e queda das relações Brasil-URSS .......................................................230 Epílogo: o fim da década ........................................................................................238 Conclusões ....................................................................................................................247 Bibliografia ...................................................................................................................259 Prefácio Gerson Moura (1939-1992) Leslie Bethell1 Gerson Moura nasceu em Itajubá, Minas Gerais, em 24 de maio de 1939. Seus pais eram operários presbiterianos: o pai, um metalúrgico; a mãe, empregada na indústria têxtil. Eles se separaram quando Gerson era muito jovem (mais tarde se reconciliariam) e ele foi criado pelo pai e por algumas tias solteiras, das quais pelo menos duas eram professoras. Disso resultou que ele lia e escrevia muito antes de ir à escola pública primária municipal. Lá, ele ganhou uma bolsa de estudos em uma escola particular de Ensino Secundário. Em 1957, ele se tornou estudante no Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, onde, mais tarde ele recordaria, foi bastante influenciado pelo progressismo das ideias políticas e sociais do teólogo norte-americano Richard Schaull. Ao se graduar em 1960, contudo, em vez de se tornar pastor presbiteriano, como esperado, ele decidiu trabalhar na Associação Cristã dos Estudantes do Brasil (ACEB), em São Paulo. Em 1963, Gerson se matriculou na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (mais tarde UFRJ), no Rio de Janeiro. Ele decidiu cursar História e os professores que mais o influenciaram foram Manoel Maurício de Albuquerque e Hugo Weiss. Ele era um estudante no Rio, em 1964, quando ocorreu o golpe, ao qual ele se opôs fortemente e acabou por 1 Professor Emérito de História da América Latina na Universidade de Londres; Fellow Emérito do St. Antony’s College, Oxford; ex-diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Londres (1987-1992) e Diretor Fundador do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford (1997-2007). É membro da Academia Brasileira de Ciências e sócio (um dos vinte membros estrangeiros) da Academia Brasileira de Letras. 15 LESLIE BETHELL desempenhar papel central na reconstrução do diretório dos estudantes depois que a liderança pré-1964 foi deposta. Depois de se graduar em 1967, Gerson se mudou para São Paulo como dirigente da ACEB, mas com a promulgação do AI-5 em dezembro de 1968 e o fechamento da Associação, retornou para o Rio de Janeiro. Lá, em 1969, casou-se com a antropóloga Margarida Maria Pourchet Passos, com quem logo teve dois filhos, Leandro (nascido em 1971) e Priscila (nascida em 1973) – e mais tarde uma terceira, Marília (nascida em 1985). Ele ganhou a vida no Rio como professor de um curso pré-vestibular até ser incorporado ao Departamento de História e Geografia da Pontifícia Universidade Católica (PUC), onde se revelou ser um talentoso e popular professor de História Contemporânea. Em 1972, Gerson foi preso, sem explicações, por policiais civis da Política Civil, encarcerado no quartel da Polícia do Exército na Tijuca e mantido na maior parte em confinamento solitário por 17 dias antes de ser libertado. Um de seus colegas na PUC-Rio foi Francisco Falcón, com quem escreveu A formação do mundo contemporâneo (Rio de Janeiro: Campus, 1974 e várias reedições) que foi amplamente lido por estudantes de História e Ciências Sociais nas décadas de 1970 e 1980. Em 1975, com uma bolsa da CAPES, Gerson entrou para o programa de mestrado do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). Fundado em 1969, o IUPERJ era um centro de pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Cândido Mendes. Durante a ditadura militar, era o mais próximo, no Rio de Janeiro, ao CEBRAP, um centro de pesquisa independente de São Paulo, financiado pela Fundação Ford. O IUPERJ se especializou em Ciência Política e Sociologia, mas uma de suas professoras adjuntas, Maria Regina Soares de Lima, oferecia cursos sobre Relações Internacionais e Política Externa Brasileira, dos quais Gerson participou. Pouco depois de entrar no IUPERJ, Gerson também aceitou um cargo no Centro de Pesquisa e Documentação da História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getulio Vargas, criado em 1973. Sua principal tarefa consistia em organizar os documentos pessoais de Oswaldo Aranha, embaixador brasileiro em Washington de 1934 a 1938 e ministro das Relações Exteriores de 1938 a 1944, enquanto outros pesquisadores estavam trabalhando com os documentos do próprio Getúlio Vargas e de Artur de Souza Costa, ministro da Fazenda (1934-45). Seu primeiro artigo, “O tratado comercial Brasil-EUA de 1935 e os interesses industriais brasileiros” (Revista de Ciência Política, v. 21, n. 1, 1978), foi escrito em colaboração com Maria Celina D’Araújo, assim como ele, pesquisadora do CPDOC e mestranda do IUPERJ. 16 PREFÁCIO Como assunto de sua dissertação de mestrado, Gerson escolheu a política externa brasileira desde a assinatura do tratado comercial com os Estados Unidos, em 1935, até a declaração de guerra do Brasil contra as potências do Eixo, em agosto de 1942. Sua dissertação foi orientada por Aspásia Alcântara de Camargo, uma de suas colegas no CPDOC que tinha laços estreitos com o IUPERJ. Ele também se aconselhou com Maria Regina Soares de Lima e com Celso Lafer, que era professor de Direito na Universidade de São Paulo (USP) na época e tinha escrito um artigo importante e pioneiro sobre relações internacionais: “Uma interpretação do sistema de relações internacionais do Brasil” (Revista Brasileira de Política Internacional, ano X, n. 39-40, 1967). Gerson terminou seu mestrado em 1979, aos 40 anos, e sua dissertação foi publicada no ano seguinte com o título Autonomia na dependência. A política externa brasileira de 1935 a 1942 (Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980). Sob certos “sistemas de poder” e sob certas condições internacionais favoráveis, Gerson argumentava, era possível a um aliado subordinado reter um grau de autonomia e negociar com uma grande potência (autonomia na dependência). Embora a relação com os Estados Unidos tenha sido um pilar central na política externa brasileira desde a proclamação da República em 1889, o alinhamento do Brasil com os Estados Unidos na década de 1930 não foi automático. O poder crescente da Alemanha no mundo, a ameaça potencial que os alemães representavam à hegemonia dos EUA na América do Sul, os laços econômicos e militares do Brasil com a Alemanha e, igualmente importante, a existência de afinidades ideológicas e pessoais com o nazismo alemão em alguns setores da sociedade e do governo brasileiros forneceram a Getúlio Vargas a oportunidade de perseguir uma política de equidistância pragmática entre os Estados Unidos e a Alemanha. Havia, no entanto, limites às possibilidades de barganha com os Estados Unidos e os benefícios econômicos e militares a serem ganhos. Nunca se duvidou, principalmente desde o início da guerra na Europa, em setembro de 1939, e especialmente desde a ocupação da França em junho de 1940, que o Brasil seria levado por realidades políticas e econômicas a consolidar sua relação com Estados Unidos. Como os títulos dos capítulos da dissertação sugerem, equidistância pragmática era possível em 1935-37, difícil em 1938-39, rompida em 1939-41 e essencialmente descartada entre a Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, no Rio, em janeiro de 1942, após o ataque japonês a Pearl Harbor e a declaração de guerra dos EUA aos países do Eixo, e a declaração do próprio Brasil em agosto de 1942. 17

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.