Reflexao sobre culto 0 moderno dos deuses fe(i)tiches L Reflexoo sobre culto 0 moderno dos deuses fe(i)tiches Coordena~ao Editorial Irma Jacinta Turolo Garcia Bruno Latour Assessoria Administrativa IrmaTeresa Ana Sofialli TRADU~AO Sandra Morei.ra I I ,I Coordena~ao da Cole~ao Filosofia e Politica Luiz EugenioVescio FILOSOFIA~)POLiTlCA Edftor.d.Unlvlraldld,doSlgr,doCor.~io lIISTITUTO DE PSICOLOGIA - Ufl(l;~ RIRLIOTECJ • Sumario Prefacio Prolago Primeiraparte: objecos-encantados.objeros-feicos* Como os modernos fabricam {eeiches entre aqueles com quem entram em contato Comoos modernos conseguem construirseus pr6prios{eeiehes Como as modernos esfor~am-separa distinguir os fatas e os fe- ...... riches sem, concudo, consegui-lo Comofaras e{eeiehesconfundemsuasvirtudes, mesmaentre as modernos Comoapta.ricados fe(i)tiches escapaa(eoria Comoestabelecer 0 perfil de tun antifetichista Como representar os fe(i)tiches clivados dos modernos I Segundaparte: Trans-pavores** i Nota do tradutor Comoobret,gr~asaos migrantes deperiferia, as divindades de contrabando J o original frances grafa/aitiche. Este eerma, sem equiva Como seprivardainterioridade edaexterioridade lence em portugues, condensa duas fontes etimo16gieas que Comoestabelecera "cadernode encargos" das diyindades apresentam, ao rnesmo tempo, fonemas quase identieos: fait Como transferiraspaYores adj. feito; S.m. feito, faro e fetiehe s.m. fetiche. Isto permite Comocompreenderumaat;ao "superadapelos acontecimentos" que se estabele<;,a, em frances, urn jogo sutil entte os sentidas e as sonoridades das palavras/aitiche efetiche. 0 rermo aqui suge rido, fe(i)tiehe, busea eonservar tais sutilezas, eondensando, * igualmente, os sentidos dos termos em portugues, "feito" e "fe No original: objets-/ies,objets-/aits. Os termos se valem dos diferentes sentidos de dais fonemas quase identicos, em frances: fie adj. aquila tiehe", tomados na aeepc;ao proposta pelo autor, onde 0 primei queeencantado,quepossuipoderesmagicos;s.f.fada, feiticeira,efait ro "pareee remeter a realidade exterior", e 0 segundo, "as eren adj. feito; s.m. feito, fato. A tradut;aO nao consegue captar asutileza ,as absurdas do sujeito". A grande dificuldade, em portugues, destarela.;ao. (N.T.) eonsiste em reproduzir a sonoridade do termo em frances. ** No original: trans-/rayeurs. Termo que condensa as sentidos de transferencias [trans/erts] epavores [frayeursl conforme designadopela Psicologia. 0 termo original estabelece urn duplo sentidosonoro en tretrans/erts [transferencias]etrans-/rayeurs [trans-payores}. (N.T.) Tobie Nathanes.."uaequipe receberam-medurantetres me ses em suas consultas de etnopsiquiatria. Isabelle Stengers pe diu-mequeviesseexplicaremseusemimirio0 efeitodestaexpe rienda, que tento definir hi alguns anos, sobre a antropologia dos modernos. Philippe Pignarre propos-me acolher esra re£le xao, muito provisoria no ambito de sua cole<;ao, a fim de acele car 0 dialogo entre aqueles que falam dos fatos eaqueles que fa lam dos fetiches. Aceitei a oportunidade que me ofereceram de comparar cenos efeitos da sociologia das ciencias com alguns tra<;os da etnopsiquiatria. Escolhi centrarminhacompara<;ao nano<;ao multiformede I cren<;a. De fato, nossos antepassados, adeptos do pensamento li I vre, ao zombarem de nossas cren<;as extravagantes e, ao mesmo J a tempo, das dosoutros, nos legaram aironia qual Voltaire,apos tantos, soube dar 0 tom. Mas para ridicularizar assim todos os cultos,paraderrubartodosos[dolos,seriaprecisoacreditarnara zao, unica for<;a capaz de refutar todas essas loucuras... Como fa larsimetricamentede nos como dos outrossemacreditar nem na razao nem nacren<;a, respeitando, ao mesmo tempo, os fetiches e os fatos? Esforcei-me para realizar isso, de forma um tanto desa jeitada, definindo 0 agnosticismo como uma forma de nao acre ditar, em absoluto, na no<;3:o de cren<;a. Por meio de seus prudentes conselhos, Isabelle Stengers, Antoine Hennion, Emilie Hermant, Tobie Nathan, tentaram tornar este texto menos bizarro, mas comoeuos assessorei mal, • eles quase nao conseguiram realizar tal tarefa, donde esse "ob jeto compacto" que fala de outros objetos compactos. Agrade,o igualmenre aos pesquisadores do Cresal, de Saint-Etienne, porsuas uteis sugest5es. "Diz-se que os povos de pele clara que habitam afajxa se tentrional do Atlantico praticam uma forma particularde culto as divindades. Eles partem em expedi~aoa outras na~5es, apro priam-se das esratuas de seus deuses, e as destroem em imensas fogueiras, conspurcando-as com as palavras 'fetiches! fetiches!', que em sua lfngua barbara parece significar 'fabrica~ao,falsida de, mentira'. Ainda que afirmem nao possuir nenhum fetiche e terrecebidoapenas desi pr6prios amissaode livraras outras na C;5es dos mesmos, pareceque suas divindades saomuito podero sas. Naverdade, suasexpedic;5esaterrorizameassombramospo vos assim atacados, por meio de deuses concorrentes, que eles chamamdeMauDin,cujopoderparecesercaomisteriosoquan to invencfvel. Acredita-se que tenham erguido varios templos e queos cultos realizados no interiordos mesmos sejam taO estra nhos, assustadores e barbaros quanto os realizados no exterior. No decorrer das grandes cerimonias, repetidas de geraC;ao em gera~ao, eles destroem seus idolos a golpes de martelo; ap6s 0 que, declaram-se livres, renascidos, nao tendo apartir de encao, nem ancestrais, nem mestre. Acredita-se que tirem grande be neficio destas cerimonias, pois, livres de todos os seus deuses, podemfazer, duranteesteperiodo, tudo0 quequiserem, combi nando as forc;as dos quarro Elementos aquelas dos seis Reinos e dostrinea eseis Infernos, semsesentirem,de modoalgum, res ponsaveis pelas violencias assim provocadas. Uma vez termina das eais orgias, diz-se que entram em grande desespero, e que, • aospes desuas estatuas destrufdas resta-lhesapenas, acreditar-se responsaveis por tudo que aconteceu e aque chamam 'humano' au 'sujeito livre de si', au ao (oorraeio, que nao sao responsaveis pot nada, e se encontram inteiramente submetidos ao que cha mam 'natureza' au 'ohjeto causa de tudo' - os reemos se tradu zero mal na nossa lingua. Assim,comoqueaterrorizados porsua propriaaudaciaeparaporfim ao seudesespero, restauram asdi vindades Mau Din que acabaram de dest!uir, oferecendo-lhes milhares de oferendas e milhares de sacrificios, recolocando-as nos cruzamentos, protegendo-as com areas de ferro, como faze mos com 0 fundo dos toneis. Diz-se, por fim, que forjaram urn a e, deus sua imagem, i5tO como eles, ora senhor absoluto de tudo que fabrica, ora inteiramenteinexistente. Estes povos bar Pri rte barosparecem naocompreender0 queagirquerdizer." (Relat6 rio do conselheiro Deobale, enviado aChina pela corte da Co Objetos-encantados, rei., na merade do ,eculo XVIII). objetos-feitos I I ,1 • :f{'J':#iM;~F";"" capitulo I Como as modernlliftlltam fetiches entre aqueles cam qu,1eii1m!hA;'dei:;"nb+tAram em cantata \ e A cren~a nao urn estado mental, mas urn efeico das rela c;5es entre os pavos; sabe-se disso desde Montaigne. 0 visitante sabe, 0 visitadoacreditaOU, ao contcirio, 0 visitante sabia, 0 vi sitado 0 faz compreender que ele acreditava saber. Apliquemos este prinefpia ao caso dos modernos. Por todas os lugares oode e, lanc;am aneora, estabelecem fetiches, isto os modernos veem, em rodos as povos que encontram, adoradores de objetos que naosao nada. Comoternqueexplicarasi peopriosabizarriades ta adorac;ao, code nada de objetivo pode sec percebido, des su poem, entre as selvagens, urn estado mental que remeteria ao que einterno e nao ao que eexterno. Amedida em que afrente de coloniza~aoavan~ava,0 mundo sepovoavadecrentes. Emo derno aquele queacreditaqueos outros acreditam. 0 agnostico, ao contdrio, nao se pergunta se e preciso acreditar au nao, mas par que as modernos tern tanta necessidade da cren~apara en trar em cantata com as outros. A acusas-ao,pelosportugueses, cobertosdeamuletos daVir gemedossantos,come~anacostadaAfricaOcidental,emalgum lugar na Guine: os negros adoravam fetiches. Intimados pelos a portugueses a responder primeira questao: "Voces fabricaram comsuaspr6prias maos os idolos de pedra,de argila edemadei raquevoces revereneiam?", osguineenses responderam sem hesi a tarquesim.Intimadosaresponder segundaquestio: "Essesido los depedra, deargilaede madeirasaOverdadeiras divindades?", os negrosresponderamcoma maiorinocenciaquesim,claro,sem o que, eles nao os teriam fabricado com suas pr6prias maos! Os como os negros, a escolher entre 0 que coma forma atraves do portugueses,escandalizados masescrupulosos, naoquerendocon trabalho e 0 artiffcio fahricado; essa recusa, ou hesitac;ao, con a denarsemprovas,oferecernumaiiltimachanceaosafricanos: "Vo duz fascinac;ao, induz aos sortilegios. Ainda que todos os di ces naopodem dizer quefabricaram seus fetiches, equeestessao, cionarios etimol6gicos concordem sobre tal origem, a presi tem ao mesmo tempo, verdadeiras divindades, voces queescolher, ou dente de Brosses, inventor, em 1760, da palavra "fetichismo", bern urn ou bern outro; a menos que, diriam indignados, voces agrega aqui 0 fatum, destino, palavra que da origem ao subs nao tenham miolos, eque sejam insensfveis ao prindpio de con tantivo fada {fee], como ao adjetivo, na expressao objeto-en tradiC;aocomo aopecadoda idolatria". Silehcioembotadodos ne cantado [objet-feel.' gros que, nafalta dediscernimentodacontradiC;ao,provam, fren te ao seu embarac;o, quantos degraus os separam daplenaecom Os negrosdaCostaOcidenraldaAfrica,emesmoosdo inte rior das terras are a Nubia, regiao limltrofe do Egito, tern par pleta humanidade... Pressionados pelas questoes, obstinam-se a objetodeador~ao algumasdivindadesqueoseuropeuschamam repetir que fabricaram seus fdolos e que, por conseqiiencia, os de fetiches, termo forjado por nossos comerciantes do Senegal, mesmos sao verdadeiras divindades. Zombarias, escarnio, aversao sabre a palavraportuguesa Fetisso (sic), isto e, coisa encantada, dos portugueses frente a tanta rnafe. ciivinaou que pronunciaoraculos; ciaraiz latinaFatum, Fanum, Paradesignaraaberrac;ao dos negros da Costada Guine e Fari. (p.15) para dissimtllar0 mal-entendido, os portugueses(muito cat6li cos, exploradores, conquistadores, ate mesmo mercadores de Qualquer que seja a raiz preferida, a escolha cominat6ria escravos), teriam utilizado 0 adjetivoftitifo, originario defeito, permanece; escolha evocada pelos portugueses e recusada pelos e partidplo passado do verbo fazer, forma, figura, configura.;ao, negros: "Quemfala nooraculo 0 humanoquearticulaou0 ob mas tambern artificial, fabricado, factfcio, e por fim, fascina jeto-encantado? A divindade e real ou artificial?" - "Os dois", do, encantado.1 Desde 0 prindpio, a etimologia recusa-se, respondem os acusados, sem hesitar, incapazes que sao de com preenderaoposiC;ao.- "E precisequevoces escolham", afirmam I os conquistadores, sem menorhesitac;ao. As duas rafzes dapala ,I vra indicam bern aambigiiidade doobjeto que fala, que efabri 1. Le-se no dicionario Aurelio de pottugues as seguintes defini cado ou, para reunir em uma s6 expressao os dais sentidos, que ~oes (observar que em portuguesftififo vem do frances, por in JazJa/ar. Sim, 0 fetiche eurn fazer-falar. termediodopresidentede Brosses): Pena que os africanos nao tenham devolvido 0 elogio. Te -feiti~o [defeito + i~oJ; 1.adj. artificial,factlcio; 2.posti~o, fal ria sido interessante que eles perguntassem aas traficantes por so; 3. maleficio de feiticeiros; 4. ver bruxaria; 5. ver fetiche; 6. encanto, fascin~ao, fascinio. Proverbio. "virar0 feiti~o contra0 tugueses se eles haviam fabricado seus amuletos da Virgem ou feiticeiro"; -feitio [de feito + io]; forma, figura, configur~ao, feic;ao; -fetiche; 1.objetoanimadoouinanimado, feito pelohomemau produzidopelanatureza, aoqual se atribui padersobrenaturale 2. Brosses,Charles de. Ducultedesdieux/ftiches (1760), reedi~ao se prestaculto, [dolo, manipanso;[depois,sao os mesmossigni Corpus des reuvres de philosophie. Fayard, Paris: 1988. A eti ficados dofrances}. mologia de Charles de Brosses nao e retomada em nenhum ou Observar 0 aspecto admicivel do italiano, que daao mesmo verba tro lugar. Trata-se de uma contamin~ao entre as palavras fadas /atturare0 sencidode: 1.falsificar, adulterar; 2.faturar; 3.enfeiti~ar. efetiches? • se estes cafam diretamente do ceu. - "Cinzelados com arte por zeloindignadodeMoisescontra0veadodeouro. "Osidolos tern nossos ourives", teriam respondido orgulhosamente. - "E por olhos e nao veem. ouvidos e nao escutarn. bocas e nao falam." isso eles sao sagrados?", teriam entao perguntado os negros. Quanto aos guineenses, eles nao pereebem bern a diferen,a en "Mas claro, benzidos solenemente na igteja Nossa Senhora dos tre 0 fetiche derrubado e 0icone eoloeado em seu lugar e espa Remedios, pelo arcebispo, na presenc;ado rei". - "Se voces reco C;O. Relativistas at/ant fa fettre, pensam que as porcugueses agem nhecem enta~, ao mesmo tempo, a transformac;ao do ouro e da como eles. E justamente essa indiferenc;a, essa incompreensao prata no cadinho do ourives, e a carater sagr\do de seus [cones, que os condena aos olhos dos portugueses. Esses selvagens nao par que nos acusam de contradic;ao, n6s que nao dizemos outra discernem nem mesmoadiferenc;aentre"latria" e"dulia",entre coisa? Parafeitic;o, feitic;oemeio."- "Sacrilegio! Ninguempode seus fetiches eos kones santos de Seus invasores; recusam-secom confundir idolos a serem destrufdos com kones a serem louva preender a abismo que separa a construc;ao de urn artefato feito dos", teriam respondido os portugueses, indignados, uma se pelo homem e a realidade definitiva daquilo que ninguem ja gundavez, com tanta imprudencia. mais construiu. Mesmo a diferen~a entre a transcendencia e a Podemos apostar, contudo, que eles teriam apelado a urn imanencia pareee escapar-Ihes... Como nao ve-Ios como primi te6logo para livro-Ios do embarac;o no qual as rnergulhara urn tivos, e0 fetichismo como umareligiaoprimitiva,3vistoquees pouco de antropologia simetrica. Teria sido necessaria urn sabio ses selvagens persistem diabolicamente no erro? sutil para ensina-Ios adistinguir "latria" e "dulia". "As imagens religiosas",teriapregado0 te610go,"naosaonadaparsi pr6prias, jaque apenas evocam a Iernbranc;a do modelo que deve ser, so 3. Pietz resume deman;i~"';~~~r;~~e a inven~ao do presidentede mente ele, objeto de urna adorac;ao legitima, enquanto que seus Brosses: "Fetishism was a radically novel category: it offered an fdolos rnonstruosos seriam, segundosuas declarac;oes, as pr6prias atheological explanationoftheoriginofreligion,onethataccoun divindades, que voces confessarn fabricar irnpunemente." Por tedequallywellwiththeisticbeliefsand nontheisticsuperstitions; it identified religious superstition with false causal reasoning I que se comprometer, alias, com discussOes teol6gicas com sim about physical nature, making people's relation to material ob I ples primitivos? Envergonhado por tergiversar, tornado por urn jects rather than to God the key question for historians ofreli J zelosagrado,0te610goteriaderrubadoos idolos, queimadoosfe gion and mythology; and it reclassified the entire ofancient and ticheseconsagrado,emseguida,noscasebresdesinfetados,aVer contemporary religious phenomema(...). In short the discourses dadeira Imagem do Cristo sofredorede suaSantaMae. about fetishism displaced thegreat objectofEnlightenmentcri Mesmo sem a ajuda deste dialogo imaginario, compreen ticism- religion- intoacausativeproblematicsuited toitsown secular cosmology, whose "reality principle" was the absolute demos bern que os negros id6latras nao se opoem aos portugue split between the mechanistic-material realm ofphysical nature ses sem imagens. Vemos povos cobertos de amuletos ridiculari (the blind determnisms ofwhose events excluded any principle zac outros povos cobertos de amuletos. Nao ternos de urn lado ofteleologicalcausality,thatis,Providence)and theend-oriented icon6filos e do outro iconoclastas, mas de iconodlilios e mais human realm ofpurposes and desires (whose free intentionality iconodlilios. Entretanto,0 mal-entendidopersiste,poistodos se distinguished itseventsasmoral action, properlydetermined by recusam a escolher os termos que lhes sao pr6prios. Os portu rational ideals rather than by thematerial contingencyofmerely natural beings). Fetishism was the definitive mistake ofpre-en guesesrecusam-seemhesitarentreosverdadeirosobjetos depieda lightened mind: itsuperstitiouslyattributed intentional purpose deeasmascaraspatibularescobertasdegordura edesanguedos e anddesiretomaterialentitiesofthenaturalworld,whileallowing sacrificios. Cada porcugues, na Costa do Ouro, tornado pelo socialaction tobedeterminedbythe(clericallyinterpreted)wills • Tres seculos mais tarde, no RiodeJaneirocontemporaneo, . Eu fui raspado (iniciado) paraOsala em Salvador mas preci mesti~os de negros e de portugueses obstinam-se em dizer, no selassentarYewa(quepediu atraves da divinac;aoparaser assen mesmo tom, que suas divindades sao, ao mesmo tempo, cons tacla~ e mae Aninha (sua iniciadora) me mandou para 0 Rio de tmfdas, fabricadas, "assentadas" eque sao,parconseqiiencia, reais. JaneIro porgue ja na epoca Yewa era por assim dizer urn Orisa Vejamos como aantropologa Patricia de Aquino compilae tra em via de extins;:ao. Muitos ja nao conheciam mais os oro [Yo rubaparapalavras eritos] deYewa. duz a tescemunho dos iniciados dos candombles: Eu sou de Oba, Oba guase que ja morreu porgue ninguem \ sabeassentarela, ninguem sabe!azer, entao euvim para ca(nes te candomble) porgue agui eu fui raspada ea gente nao vai es guecerosawo [segreclos em Yoruba] para/azerela.4* ofcontingentlypersonified things,whichwere, in truth, merely the externalized material sites fixing people's own capricious li o bidinal imaginings (fancy in the language ofthat day)". Wil antifetichismo que repousa em nos nao pede suponar 0 liam Fetishism as Cultllral Discourse. Pietz, Cornell Universiry despudor destas frases. Escondam essa fabrica~ao, essejazer, que Press, Irhaca: 1993. p. 138. (0 ferichismo era uma caregoria nos naoconseguirfamosver! Comovocespodemconfessardema radicalmente nova: ofereciaumaexplicac;aoateo16gica da origem neirataohipocritaqueeprecisefabricar, assentar,situar,constroir dareligiaoquelevavaemcontaranro ascrenc;as tefsricasquanro essas divindades que seapoderam devoces eque, entretanco, Ihes as supersric;oes nao-refsricas; associava a supersric;ao religiosa escap~am? Voce: ignoram encao adiferen<;a entre constroir 0 que comurnfalsoraciodniocausalsobreanaturezaHsica,fazendoda relas;:ao das pessoas com objetos materiais, e nao com Deus, a provem devocesereceber0 queprovemdeoutrolugarqualquer? questiio-chave paraos historiadoresdareligiao eda mirologia; e Por codos as lugares onde desembarcam, os portugueses, reclassificava todos os fenamenos religiosos antigos e contem chocadoscom0 mesmodespudor, tiveramquecompreender0 fe a pora-neos (...). Em resumo, osdiscursos sobre fetichismo subsri tichismo relacionando-o, ora ingenuidade, ora ao cinismo. Se vo tllfram 0 grande objeto da crltica iluminisra- a rdigiao - por ces reconhecem quefabricam inteiramenteseus fetiches reconhe I uma problematica causativa que se adequava asua propria cos I cern, entao, que manejam os 60S como faria urn marionetista. mologiasecular, cujoprindpio de realidade eraaabsolurasepa J rac;ao entre a esfera material-mecanicisra cia narureza ffsica (os determinismoscegoscujos evenrosexclufam qualquer prindpio de causalidade releo16gica, ou seja, a Providencia) e a esfera hurnanade prop6sitos edesejos (cuja intencionalidade livre dis 4. Patricia de Aguino (comunicac;iio pessoal). Agrades;:o-Ihe por tinguiaseus eventoscomo~aomoral,propriamenre determina rermeautorizadoautilizaresresdadosextrafdosdeseuDEA(Di da pelos ideais racionais e nao pela contingencia material de plame d' estudes approfondiesI Diplomas deestudos aprofunda merosseresnaturais).0 fetichismofoi 0 eerodefinitivodamente dos) "LaconstructiondelapersonnedansIecandomble" Riode Jane~ro: Aqui~o; pre-iluminista: ele atribufa, de modo supersticioso, prop6siro e Museu Nacional. Ver tambem Patricia de Jose desejo intencionais as enridades mareriais do mundo natural, ao FlavlO Pessoa de Barros (994), "Leurs noms d'Afrique en terre mesmo tempoem que permiriague umaac;ao social fosse derer ~'Ameri~ue",No!'vellereviled'ethnopsychiatrie, vol. 24, p. 111-25. minada pelas vonrades (clericamente interpretadas) de coisas Ur:n Onsae~~ladeextinc;ao" eumaexpressaodaecologiague conringentemenre personificadas que eram, na verdade, mani deslgnaas espec1es ern viade desaparecimento! * festas;:oesconcrecas que estabeleciamas proprias fantasias libidi Em pOrtugues nooriginal. Aspalavras entreparenresessaodo nosas eextravaganres daspessoas. original frances. (N.T.) • liSIIilJ,0 DE PSICOLUI.:iIA _ 0101 InT~1""i fU