ebook img

Redalyc.O desenho da figura humana PDF

24 Pages·2016·0.21 MB·Portuguese
by  
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Redalyc.O desenho da figura humana

Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación - e Avaliação Psicológica ISSN: 1135-3848 [email protected] Associação Iberoamericana de Diagnóstico e Avaliação Psicológica Portugal Arteche, Adriane Xavier; Ruschel Bandeira, Denise O desenho da figura humana: Revisando mais de um século de controvérsias Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación - e Avaliação Psicológica, vol. 2, núm. 22, 2006, pp. 133-155 Associação Iberoamericana de Diagnóstico e Avaliação Psicológica Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=459645449008 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto 133 O desenho da figura humana: Revisando mais de um século de controvérsias Draw-a-Person: a century of controversies ADRIANE XAVIERARTECHE*, DENISE RUSCHELBANDEIRA* RESUMO O Desenho da Figura Humana (DFH) tem sido uma das técnicas mais difun- didas na prática dos psicólogos, no entanto, permanece uma das mais questio- nadas em relação à validade. Neste sentido, o presente artigo busca discutir as questões de validade desta técnica através de uma revisão da literatura centrada nas formas de levantamento do DFH. Pode-se observar, no material estudado, a existência de três grandes sistemas de interpretação do DFH: aqueles que com- preendem o desenho como medida de avaliação do desenvolvimento cognitivo infantil, os sistemas que compreendem o desenho como medida projetiva e os sistemas que propõem uma análise dos aspectos emocionais a partir de uma aná- lise empírica. Pôde-se verificar que as maiores consistências são encontradas nas escalas evolutivas no DFH. Já em relação aos sistemas projetivos, observa- se a tentativa de enquadrar uma técnica oriunda da interpretação clínica em for- matos psicométricos, o que acaba por deixar de lado informações importantes. Desta forma, sugere-se a utilização do critério da validade clínica como método para estudos que utilizem o DFH projetivo. Já em relação aos sistemas que uti- lizam os indicadores emocionais, mas que não trabalham com a concepção pro- jetiva, pensa-se que a dificuldade em encontrar parâmetros psicométricos ade- quados possa ser superada com a utilização de estatísticas mais atuais – como a Teoria de Resposta ao Item (TRI). Palavras-Chave: Desenho da Figura Humana, Projeção, Análise empírica, Validade. * Universidade Federal de Rio Grande do Sul RIDEP ·Nº 22 ·Vol.2 ·2006 ·133 - 155 134 ABSTRACT The Draw-a-Person test has been one of the most known psychological assessment techniques. Despite of that, its validity’s indicators remain a contro- versial point. Concerning this, the present article intends to discuss this topic through a literature review emphasizing the DFH interpretation systems. It’s possible to identify three main systems: those that comprehend the drawings as a developmental indicator; those that identify the DAPas a projective technique and those that purpose to analyze the emotional indicators through empirical analysis. It was observed that the best validity indicators are found among the DAPdevelopmental scales. Among the projective systems it was observed that the researchers try to apply the same psychometrics parameters to a technique that was born from the clinical experience, not considering other subjective information that could be useful to identify validity indicators. Because of that, it is suggested the clinical validity criteria as an indicator to studies with the pro- jective DAP. Concerning the systems designed to evaluate emotional indicators, but not through a projective conception, the difficulty about the psychometrics parameters could be overlapped by the use of new statistics analysis such as the Item Response Theory (IRT). Key-Words: Draw-a-Person, Projection, Empirical analysis, Validity. INTRODUÇÃO desenhos infantis à luz dos conceitos da Psicologia não seja recente O desenho, desde os primórdios da (Kamphaus & Pleiss, 1991), o recon- humanidade, tem tido importância hecimento da validade desta técnica crucial na compreensão das emoções, não foi simples, e, ainda hoje, não está sentimentos e ações. Tendo surgido completo. antes mesmo da escrita, estabeleceu- Dentre as diversas técnicas de desen- se como uma das mais antigas formas ho, a do Desenho da Figura Humana, ou de comunicação humana (Cox, 1995; DFH, é, com certeza, uma das mais Hammer, 1991; Wechsler, 2003). No difundidas na prática dos psicólogos e, meio acadêmico, entretanto, passou a também, uma das mais questionadas em ser percebido não apenas como uma sua validade (Anastasi & Urbina, 2000; forma de comunicação, mas também Cunha, 2000). Ainda que muito popular, como técnica de avaliação psicológi- não há concordância entre os profissio- ca. Embora a idéia de interpretar os nais que utilizam o DFH sobre qual a RIDEP ·Nº 22 ·Vol.2 ·2006 135 melhor forma de analisá-lo. Na busca de capaz de rabiscar e, durante toda a critérios de avaliação adequados, diver- infância, irá aprimorar esta habilidade, sos sistemas de interpretação foram des- passando, gradativamente, das garatu- envolvidos. Nestes, pode-se distinguir jas ao desenho representativo ou figu- três grandes vertentes: 1) os sistemas que rativo (Cox, 1995). compreendem o desenho como medida Florence Goodenough foi a pionei- de avaliação do desenvolvimento cogni- ra na tentativa de organizar estes con- tivo infantil, como o de Goodenough hecimentos em um sistema de avalia- (Abell, Horkheimer & Nguyen, 1998; ção dos desenhos infantis. Em 1926 Alves, 1981), o de Koppitz – Indicadores foi criado o teste, chamado por ela de Desenvolvimentais (Koppitz, 1984) e, no teste de inteligência, e baseado na Brasil, o de Wechsler (2003) e, recente- capacidade da criança de desenhar um mente, o de Sisto (2006); 2) os sistemas homem. Em 1963 este trabalho foi que compreendem o desenho como revisado e ampliado com a colabora- medida projetiva, ou seja, como expres- ção de Dale Harris, passando então a são de aspectos inconscientes da perso- ser chamado de “Desenhe um nalidade (Hammer, 1997), dentre os Homem” e utilizado como indicador quais se destaca o de Machover (1949); e de maturidade intelectual e não de 3) os sistemas que propõem uma análise inteligência (Cox, 1995). Harris dos aspectos emocionais não a partir de salientava que a inteligência envolve- uma interpretação projetiva e, sim, de ria mais de uma dimensão e que o des- uma análise empírica, como os trabalhos enho não contemplaria estas diversas de Koppitz – Itens Emocionais (1984) e faces da inteligência. Indicava que, ao de Naglieri (Naglieri, McNeish & desenhar uma pessoa, a criança estaria Bardos, 1991). expressando seu conceito de ser Enquanto medida de avaliação dos humano e sua compreensão das carac- aspectos cognitivos, o desenho é terísticas do mesmo. Além disso, entendido como expressão de aspectos sugeriu que fossem desenhadas duas desenvolvimentais. Ou seja, existe um figuras, masculina e feminina, apre- ciclo infantil típico que pode ser sentando sistemas distintos para a observado, também, a partir da produ- correção de cada desenho (Harris, ção gráfica. Ainda que existam contro- 1963 citado por Wechsler & Schelini, vérsias sobre as etapas do desenho e, 2002). Esta adaptação do sistema ori- especialmente, sobre a linearidade do ginal de Goodenough passou a ser processo de desenvolvimento destas, a chamada sistema de Goodenough- maior parte dos autores reconhece Harris e consiste na atribuição de pon- estágios típicos neste processo. De tos conforme o número de elementos forma geral, entende-se que, durante o incluídos, suas proporções e a forma primeiro ano de vida, a criança já é como se ligam à figura principal RIDEP ·Nº 22 ·Vol.2 ·2006 136 (Cox, 1995). Embora ainda na década foram selecionados 30 itens e foi rea- de 90 seja possível encontrar referên- lizada então a normalização. A partir cias de pesquisas que utilizaram os da análise inicial sobre a presença dos indicadores Goodenough-Harris itens na totalidade dos protocolos, a (Fabry & Bertinetti, 1990), a contri- autora percebeu que a presença dos buição deste sistema, desde a década itens nas diferentes faixas etárias de 70, está mais restrita à sua utiliza- dava-se de forma crescente. Além ção como base para novas formas de disso, a mesma observou que meninos interpretação do DFH, como a pro- e meninas diferiam em termos de des- posta de Sisto (2006). envolvimento do desenho, e destacou Em 1968, Elisabeth Koppitz ini- que as meninas mais novas apresenta- ciou o desenvolvimento de um outro vam produções superiores às dos sistema de análise do desenho. meninos, embora tal diferença fosse Baseada na teoria das relações inter- diminuindo nas faixas etárias mais pessoais de Harry Stack Sullivan, a altas até que, em torno dos 8-9 anos, autora partiu da premissa de que o os meninos superam as meninas e até desenho revelaria o nível evolutivo da mesmo as ultrapassam em termos de criança e suas relações interpessoais, qualidade e detalhes do desenho. ou seja, suas atitudes frente a si Considerando estas observações, mesma e às pessoas significativas em os itens propostos por Koppitz (1984) sua vida. Esse sistema considerava o foram divididos em quatro categorias DFH como um retrato de um determi- conforme a prevalência em cada faixa nado momento, com medos e ansieda- etária e conforme cada sexo. A pri- des típicos, e propunha-se a realização meira categoria refere-se aos itens de um único desenho, escolhendo o esperados, cuja freqüência varia de 85 examinando o sexo e a idade da figu- a 100% e sua ausência indica imaturi- ra desenhada (Koppitz, 1984). dade, problemas neurológicos ou Em seu estudo, Koppitz (1984) regressão decorrente de aspectos identificou itens de desenvolvimento emocionais; a segunda categoria é e itens que diferenciariam crianças denominada itens comuns e refere-se com transtornos emocionais de crian- àqueles que aparecem entre 51-84%; ças sem transtornos emocionais. Em a terceira indica os itens não habi- relação ao Sistema Koppitz de Itens tuais, cuja prevalência mantém-se Desenvolvimentais, a fim de elaborar entre 16-50%; e, por fim, tem-se a a lista dos itens, a autora selecionou a categoria itens excepcionais, cuja fre- partir da proposta de Goodenough- qüência varia entre 1 e 15% e sua pre- Harris e da sua própria experiência, sença indica idade maturacional itens considerados de natureza evolu- acima da média. Abusca da validade tiva. Após uma análise preliminar, deste sistema de interpretação foi RIDEP ·Nº 22 ·Vol.2 ·2006 137 estudada pela autora (Koppitz, 1984) Com resultado e objetivo semel- através das seguintes hipóteses: a fre- hante, embora voltado especificamen- qüência do item deve aumentar à te para os problemas de leitura surgi- medida que a criança cresce e a produ- dos na 1a série, Dunleavy, Hansen, ção gráfica infantil não deve ter rela- Szasz e Baade (1981) avaliaram 141 ção com a instrução dada, com o mate- pré-escolares americanos. Os pesqui- rial utilizado para desenhar, com a sadores concluíram que o DFH, ava- aprendizagem escolar ou com a capa- liado pelo Sistema Koppitz de Itens cidade artística da criança. Tendo em Evolutivos, mostrou-se útil na identi- vista que o seu estudo inicial já havia ficação da dificuldade de leitura das confirmado a primeira hipótese, foram crianças, tendo-se identificado correc- então realizados quatro outros estudos tamente 42% dos participantes com a fim de verificar as demais suposiçõ- dificuldades nesta área, e incorrecta- es. Os resultados confirmaram todas mente apenas 10% das crianças sem as hipóteses sugeridas pela autora. dificuldades. Além dos estudos realizados pela Em um estudo comparativo entre própria idealizadora deste sistema de crianças americanas e argentinas de avaliação, já são encontradas, desde 11 a 14 anos, Koppitz e Casullo 1970, pesquisas de outros autores (1983) não observaram diferenças envolvendo o Sistema Koppitz (Hall entre os dois grupos no que se refere & Ladriere, 1970; Snyder & Gaston, aos itens esperados de desenvolvi- 1970), as quais se dividem entre aque- mento. No entanto, as crianças argen- las que se centram nos aspectos inte- tinas desenharam com mais freqüên- lectuais e aquelas que enfocam as cia figuras com duas ou mais peças de questões emocionais. Em relação aos roupa e, por sua vez, as crianças ame- estudos que priorizam o desenvolvi- ricanas desenharam com mais fre- mento cognitivo, destaca-se o de qüência dedos e o número correto de Weerdenburg e Jansen (1985). Em um dedos. Além disso, algumas diferen- estudo com pré-escolares, buscando ças específicas entre os gêneros foram identificar instrumentos eficazes na observadas – por exemplo, os meni- predição do sucesso escolar na primei- nos argentinos deram mais ênfase ao ra série, os pesquisadores avaliaram cabelo e ao movimento das figuras, 85 crianças, aplicando diversas técni- desenhando freqüentemente jogado- cas, tanto verbais como gráficas. Os res de futebol. Em relação às meninas, resultados indicaram que as técnicas metade das americanas desenhou gráficas como o Bender e o DFH ava- figuras femininas vestindo jeans, liado pelo sistema Koppitz apresenta- enquanto 85% das argentinas desen- ram uma contribuição insignificante haram figuras femininas com vestidos na predição do rendimento escolar. ou saias. Tais resultados revelam dife- RIDEP ·Nº 22 ·Vol.2 ·2006 138 renças culturais que, no DFH, se no qual o percentual foi de 72%. refletem nos itens não essenciais. Foram obtidas as freqüências de oco- No Brasil, pesquisas com o sistema rrência dos itens em cada faixa etária, Koppitz também têm sido realizadas, tanto para os itens evolutivos quanto tanto buscando confirmar a validade, para os itens emocionais. Apartir dos quanto visando ao estabelecimento de resultados, os itens evolutivos foram parâmetros nacionais para este siste- classificados, conforme a proposta de ma de avaliação do DFH. Bandeira e Koppitz (1984), em itens esperados, Hutz (1994) realizaram um estudo comuns, ocasionais e excepcionais. A com uma amostra de 152 crianças comparação entre os dados brasileiros com idades entre seis e oito anos, fre- e os resultados originais de Koppitz qüentadoras da primeira série. No íni- revelou diferenças importantes entre cio do ano escolar foram aplicados o as duas amostras, indicando que, DFH, o Bender e as Matrizes embora o DFH não requeira uma res- Progressivas Coloridas de Raven, e, posta verbal, não é uma técnica cultu- ao final do período letivo, foi aplicada ralmente livre – conforme já havia uma prova de rendimento escolar, indicado o estudo de Koppitz e além do reteste do Desenho da Figura Casullo (1983). Humana. Os resultados dos itens evo- Buscando um sistema construído lutivos do DFH apresentaram correla- especificamente para as crianças bra- ções significativas com o rendimento sileiras, Solange Wechsler elaborou escolar, mas a análise individual dos um sistema quantitativo de avaliação itens mostrou que poucos demonstra- do desenvolvimento cognitivo a partir ram, isoladamente, correlações signi- do DFH. A primeira edição de seu ficativas com o desempenho na esco- estudo foi publicada em 1996, e nela la. De forma geral, o DFH foi o foram apresentados os indicadores de segundo melhor preditor do rendi- validade e fidedignidade da proposta. mento escolar, tendo sido o Bender o Posteriormente, em 2000, foram apre- instrumento que melhor o fez. sentados os estudos nacionais e trans- Hutz e Antoniazzi (1995), em um culturais que corroboravam os resul- estudo sobre as normas do Sistema tados apresentados quatro anos antes Koppitz, avaliaram 1856 crianças e, em 2003, foi publicada a edição com idades entre cinco e quinze anos, revisada e atualizada com normas estudantes de escolas públicas da referentes a várias regiões brasileiras região de Porto Alegre/RS. Os desen- (Wechsler, 2003). hos foram avaliados por juizes treina- Os resultados da pesquisa em rela- dos e o grau de concordância entre os ção à validade indicaram que o desen- mesmos variou de 92% a 100%, com ho, conforme hipotetizado, emerge exceção do item “boas proporções”, como uma medida de desenvolvimen- RIDEP ·Nº 22 ·Vol.2 ·2006 139 to, uma vez que existem diferenças bém pela autora, embora tenham sido significativas entre as faixas etárias. observados ganhos nas diferentes fai- Entretanto, estas diferenças não são xas etárias, sugerindo desempenhos lineares, o que sugere um desenvolvi- cognitivos mais elevados – tanto por mento não contínuo, mas em saltos. mudanças educacionais quanto por Além disso, também foram evidentes uma maior representatividade da as diferenças entre meninos e meni- amostra de tais recentes pesquisas nas, indicando que o sexo relaciona-se (Wechsler, 2003). com diferentes formas de conceber a Conforme referido anteriormente, figura humana. Os dados da análise a avaliação dos desenhos como medi- discriminativa com o Teste Viso- da do desenvolvimento cognitivo Motor de Berry corroboraram os infantil, embora seja a que apresenta resultados positivos já alcançados em menos controvérsias, não é a única relação à validade de construto, ao forma de interpretação da técnica do indicarem uma alta correlação entre o DFH. A avaliação projetiva emerge DFH e tal instrumento para os dois como a segunda e bastante difundida sexos e para os dois desenhos, varian- vertente de análise do DFH. Apesar do entre r=0,57 e r=0,68 (p<0,001). disso, a ampla utilização dos sistemas Segundo a autora, este resultado mos- projetivos de avaliação do DFH não a tra que, conforme esperado, o desen- deixou à parte das críticas que atin- ho mede outro construto além do des- gem os instrumentos projetivos. Pelo envolvimento motor, o desenvolvi- contrário, as técnicas projetivas gráfi- mento cognitivo (Wechsler, 2003). cas, como o Desenho da Figura Os resultados referentes à fidedig- Humana, talvez sejam as que mais nidade foram igualmente positivos. têm sofrido críticas quanto à sua vali- Todas as correlações obtidas no teste- dade (Craig, Olson & Saad, 2002; reteste, considerando a pontuação Handler, Levine & Potash, 1965; total, a pontuação por sexo e a pon- Lilienfeld, Wood & Garb, 2000; tuação por faixa etária atingiram nível Matto, 2002). de significância mínimo de p<0,05 e Este formato de análise do DFH variaram entre r=0,22 e r=0,85. O tem dentre seus principais expoentes coeficiente alfa, nos dois sexos e nas Machover (1949). A forma de inter- diferentes faixas etárias, também pretação proposta por Machover utili- apresentou elevada correlação no za a concepção projetiva, partindo do intervalo de três meses, variando entre princípio de que a figura é o sujeito e 0,76 e 0,88. Tais resultados positivos o papel o meio, e sconstitui um siste- foram subseqüentemente confirmados ma cujo objetivo é identificar impul- pelos resultados das pesquisas de sos, traços, ansiedades, conflitos e revalidação do DFH realizadas tam- características dos indivíduos. Aauto- RIDEP ·Nº 22 ·Vol.2 ·2006 140 ra propõe a solicitação de dois desen- de pressão da linha e detalhes, tanto hos: a primeira figura seria interpreta- no DFH quanto nos desenhos da casa, da como uma expressão do “eu” e do da árvore e da família. Na amostra de próprio sexo, enquanto a segunda (do 80 pacientes psiquiátricos infantis, sexo oposto à primeira) seria interpre- com idade média de 10,69 anos tada como contendo indicativos do (dp=2,94), tais itens foram compara- relacionamento da criança com pesso- dos com medidas de ansiedade as importantes em sua vida. Neste sis- (Revised Children´s Manifest Anxiety tema há a atribuição de significado a Scale e Roberts Anxiety Scale), cada um dos itens presentes no desen- depressão (Children´s Depression ho, cada um contendo relação com um Inventory e Roberts Depression aspecto da personalidade essencial- Scale), afeto positivo e afeto negativo mente calcado na psicanálise (Cox, (Positive and Negative Affect 1995; Machover, 1949). Schedule) e personalidade (Roberts Amaior parte das pesquisas condu- Apperception Test for Children). Os zidas com o Sistema de Machover resultados indicaram que, embora os tem se centrado nos itens por ela refe- indicadores avaliados tenham apre- ridos. Alguns estudos, como o de sentado adequados índices de fidedig- Holmes e Wiederholt (1982), por nidade, com elevada correlação entre exemplo, detiveram-se nos itens que os dois juízes avaliadores (taman- descrevem aspectos gerais da figura, ho=0,95; detalhes=0,91 e pressão da como localização e tamanho – enten- linha=0,92), não apresentaram corre- dido como aspecto projetivo. Na pes- lação com as demais medidas utiliza- quisa acima referida foram participan- das. Desta forma, os autores concluí- tes 180 pacientes, tendo sido compa- ram que, na amostra estudada, o rados pacientes com diagnóstico de tamanho, os detalhes e a pressão da depressão, pacientes sem diagnóstico linha não se revelaram indicadores de depressão e funcionários de um válidos para identificação de proble- hospital sem diagnóstico de depres- mas emocionais. são. As conclusões indicaram que as Os indicadores de ansiedade têm figuras desenhadas pelos três grupos sido os alvos de parte importante dos equivaliam em tamanho, pelo que este estudos conduzidos com o sistema de item não se mostrou preditor de Machover desde a década de 60. depressão. Goldstein e Faterson (1969), explo- Outras pesquisas têm enfocado a rando um destes, a presença de som- interpretação de itens mais específi- breado e suas relações com a ansieda- cos. Em crianças, Joiner, Schmidt e de, realizaram uma pesquisa com tra- Barnett (1996) analisaram, além do balhadores noturnos e encontraram aspecto geral tamanho, os indicadores que, em homens, mas não em mulhe- RIDEP ·Nº 22 ·Vol.2 ·2006 141 res, o percentual de sombreado emer- pesquisas acerca dos indicadores de giu como um preditor da ansiedade. ansiedade no DFH. Aanálise dos estu- No entanto, os indicadores propostos dos sugere que existe uma lacuna em por Machover para identificação da relação aos procedimentos metodoló- ansiedade também têm sofrido críti- gicos utilizados, por exemplo, poucos cas. Handler e Reyher (1965), em procedimentos de controle são utiliza- uma revisão de literatura acerca dos dos e alguns indicadores tradicionais indicadores de ansiedade do DFH, de ansiedade como sombreado e uso encontraram inúmeras contradições da borracha, na verdade, freqüente- entre os estudos, com poucos dados mente estão presentes em desenhos de que dêem apoio à utilização do boa qualidade artística sendo expres- Sistema Machover para avaliação são de habilidade e não de transtorno. desta variável. Além disso, os autores indicam que a Buscando então uma alternativa, expressão dos mecanismos de defesa Handler elaborou uma escala de ava- é facilmente confundida com indica- liação de ansiedade nos desenhos de dores de ansiedade e que não existe adolescentes e adultos – instrumento um sistema de escore efetivamente este que também passou a ser utiliza- válido para avaliar esta variável atra- do na aplicação infantil (Van Kolck, vés do DFH. 1981). Assim, algumas pesquisas pas- Tal resultado foi posteriormente saram a ampliar a forma de avaliação confirmado em um estudo conduzido da ansiedade, não utilizando exclusi- também pela equipe da UFRGS. vamente os indicadores de Machover. Bandeira, Loguercio, Caumo e Valendo-se do Sistema Machover e de Ferreira (1998) buscaram verificar a alguns itens das revisões de Jones e validade dos indicadores de ansiedade Thomas (1965, citado por Engle & da escala de Handler através da apli- Suppes, 1970) e de Handler e Reyher cação do DFH e do IDATE-C em (1965), Engle e Suppes (1970) não crianças em situação pré-cirúrgica e encontraram efeitos significativos em crianças de um grupo controle. Os entre os itens analisados e escore de resultados indicaram que, corroboran- ansiedade em crianças, e o escore do a hipótese inicial, as crianças em geral obtido no DFH apresentou uma situação pré-cirúrgica apresentaram correlação baixa, apesar de significa- níveis de ansiedade mais elevados, tiva (r= 0,38, p<0,01), com o instru- conforme pôde ser observado nos mento utilizado para avaliar ansieda- resultados do IDATE-C. Entretanto, o de (TASC). escore total do DFH entre os dois gru- Duas décadas após o trabalho de pos não apresentou diferenças signifi- Handler e Reyher (1965), Sims, Dana cativas, e, além disso, não houve e Bolton (1983) voltaram a revisar as correlação significativa entre o referi- RIDEP ·Nº 22 ·Vol.2 ·2006

Description:
Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto O Desenho da Figura Humana (DFH) tem sido uma das técnicas mais difun- jetiva, pensa-se que a dificuldade em encontrar parâmetros psicométricos ade- processo de desenvolvimento destas, a.
See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.