RBPAB, v. 02, n. 05, 251 p., maio/ago. 2017. ISSN 2525-426X Apoio

251 Pages·2017·2.26 MB·English

RBPAB, v. 02, n. 05, 251 p., maio/ago. 2017.
ISSN 2525-426X
Associação Brasileira de
Pesquisa (Auto)Biográfica
Apoio:
Presidente Sudeste
Jorge Luiz da Cunha – UFSM Inês Ferreira de Souza Bragança – UNICAMP
Zeila de Brito Fabri Demartini – UMESP/CERU
Vice-Presidente
Ecleide Cunico Furlanetto – UNICID Sul
Vera Lúcia gaspar Silva – UDESC
Secretário Lúcia Maria Vaz Peres – UFPel
Jussara Fraga Portugal – UNEB
Paula Perin Vicentinni – USP CoNSELho FISCAL
Titulares
Tesoureiro Maria Rosa R. Martins Camargo – UNESP
Elizeu Clementino de Souza – UNEB Wolney onório Filho – UFg-Catalão
Verbena Maria Rocha Cordeiro – UNEB Cristhianny Bento Barreiro – IFSul-Rio-grandense
Suplentes
DIREtoRIA REgIoNAL
Ercília Maria Braga de olinda – UFC
Norte
Wolney onório Filho – UFg-Catalão
Silvia Nogueira Chaves – UFPA Maria Stephanou – UFRgS
Selma Costa Penna - UFPA
Conselho de Publicação
Nordeste Dislane Zerbinatti Moraes – USP
Antônia Edna Brito - UFPI Edla Eggert – PUCRS
Cristóvão Pereira Souza – UNP Maria helena Menna Barreto Abrahão – PUCRS
Maria da Conceição Passeggi – UFRN
Centro-oeste Maria teresa Santos Cunha – UDESC
Filomena Maria de Arruda Monteiro – UFMt Sônia Kramer – PUC/RJ
Eliane greice Davanço Nogueira – UEMS terezinha Valim oliver gonçalves – UFPA
Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica Rio de Janeiro | Brasil
É uma publicação quadrimestral da BIograph –
Caterina Bonelli | Universitá degli Studi di Milano-
Associação Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica.
Bicocca | Itália
As opiniões emitidas são de responsabilidade dos
autores. É permitida a reprodução total ou parcial César Augusto Castro | Universidade Federal do
dos artigos desde que citada a fonte. Maranhão- Brasil
Christine Delory-Momberger | Université de Paris 13
EqUIPE EDItoRIAL | França
Editores Christophe Niewiadomski | Université de Lille 3 |
Dislane Zerbinatti Moraes - USP França
Edla Eggert - PUCRS Christophe Wulf | Universidade Livre de Berlim |
Daniel hugo Suárez - UBA
Alemanha
Ecleide Cunico Furlanetto | Universidade Cidade
Editor Executivo
de São Paulo | Brasil
Elizeu Clementino de Souza – UNEB
Eliane Greice Davanço Nogueira | Universidade
Editor Assistente Estadual de Mato grosso do Sul | Brasil
Rodrigo Matos de Souza – UnB
Elsa Lechner | Universidade de Coimbra | Portugal
Filomena Arruda Monteiro | Universidade Federal
CoNSELho EDItoRIAL
de Mato grosso | Brasil
Andres Klaus Runge Peña | Universidade de
Gaston Pineau | Université de tours | França
Antióquia | Colômbia
Guilherme do Val Toledo Prado | Universidade
Aneta Slowick | Universidade da Baixa Silésia |
Polônia Estadual de Campinas | Brasil
Annamaria Gonçalves Bueno de Freitas | Henning Salling Olesen | Aarhus Universitet |
Dinamarca
Universidade Federal de Sergipe | Brasil
Inês Assunção de Castro Teixeira | Universidade
Antonia Edna Brito | Universidade Federal do Piauí
Federal de Minas gerais | Brasil
| Brasil
Inês Ferreira de Souza Bragança | Universidade do
Antonio Bolívar | Universidad de granada |
Estado do Rio de Janeiro | Brasil
Espanha
Jorge Luiz da Cunha | Universidade Federal de
Carmen Teresa Gabriel | Universidade Federal do
Santa Maria | Brasil
Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 02, n. 05, maio/ago. 2017 255
José Antonio Serrano Castañeda | Universidad Raimundo Martins | Universidade Federal de goiás
Pedagógica Nacional | México | Brasil
José Contreras Domingo | Universidad Barcelona | Ricia Anne Chansky | University of Puerto Rico at
Espanha
Mayagüez | Puerto Rico
Laura Formenti | Universitá degli Studi di Milano
Rosa María Torres Hernández Torres | Universidad
| Bicocca | Itália
Pedagógica Nacional | México
Leonor Arfuch | Universidade de Buenos Aires |
Silvia Chaves | Universidade Federal do Pará |
Argentina
Brasil
Linder West | University of Cantubery – Inglaterra
Sonia Krammer | Pontifícia Universidade Católica
Maria da Conceição Passeggi | Universidade
do Rio de Janeiro | Brasil
Federal do Rio grande do Norte | Brasil
Maria Helena Menna Barreto Abrahão | Teresa Sarmento | Universidade do Minho |
Universidade Federal de Pelotas | Brasil Portugal
Maria Rosa Rodrigues Martins de Camargo | Terezinha Valim Oliver Gonçalves | Universidade
Universidade Estadual Paulista | Brasil Federal do Pará | Brasil
Maria Stephanou | Universidade Federal do Rio Vera Lucia Gaspar da Silva | Universidade do
grande do Sul | Brasil Estado de Santa Catarina | Brasil
Maria Teresa Santos Cunha | Universidade do Verbena Maria Rocha Cordeiro | Universidade do
Estado de Santa Catarina | Brasil Estado da Bahia | Brasil
Paula Perin Vicentini | Universidade de São Paulo Zeila de Brito Fabri Demartini | Universidade
| Brasil Metodista de São Paulo | Brasil
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Versão para o inglês / English version: Lorena Lustosa
Versão para o espanhol / Spanish version: Ricardo Castaño
Projeto gráfico e ilustrações / Graphic desing and ilustrations: Linivaldo Cardoso greenhalgh
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RBPAB, v. 2, n. 5, 251 p., maio/ago. 2017.
Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica. Salvador, BIograph, V.1, n.1, 2016.
quadrimestral
Publicação da Associação Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica (BIograph)
ISSN 2525-426X
1. Educação. 2. Pesquisa autobiográfica
RBPAB publica artigos acadêmico-científicos inéditos, que aprofundem e sistematizem a pesquisa empírica com fontes biográficas e
autobiográficas, assim como de caráter epistemológico e teórico-metodológico vinculados à pesquisa (auto)biográfica em Educação.
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256 Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 02, n. 05, maio/ago. 2017
SUMÁRIo
260 Editorial
DOSSIÊ
263 Viagens e narrativas (auto)biográficas
Ana Chrystina Mignot
268 As cartas de “crianças da Rússia”: diários de bordo de um exílio sem retorno
Verónica Sierra Blas
290 Viagens e passeios familiares e escolares registrados em cadernos de alunos
(1957-2015)
Eliane Peres
310 Desembarque da nova escola em Buenos Aires: navios heterogéneos em portos
heterogêneos
héctor Rubén Cucuzza 
330 Eternizando travessia: memórias de formação em álbum de viagem
Ana Chrystina Mignot
343 Vestígios autobiográficos na escrita de viagem: o “Diário de Bordo” (1934)
Jussara Santos Pimenta
359 Experiências de formação e narrativas educacionais de professores brasileiros
em viagem aos Estados Unidos (1929-1935)
Silmara Fátima Cardoso
378 Entre observações e representações: escrita de si nas narrativas de um
educador viajante (1923)
Sara Raphaela Machado de Amorim
395 Entre a casa e a escola: sobre percursos e viagens!
Danielly Samara Besen; Vera Lucia gaspar da Silva; Emerson Correia da Silva
413 Escritas de si, escritas da liberdade: representações sobre as viagens em
autobiografias de escravizados
Alexandra Lima Silva
428 Construção da imagem de si e do outro: cartas de viagem de Jan hus para
Constança (1414)
thiago Borges de Aguiar
ARTIGOS
449 Estado da arte da pesquisa (auto)biográfica: uma análise do portal de
periódicos CAPES
Michael Daian Pacheco Ramos; Rita de Cássia Magalhães de oliveira; Maria Rita
Santos
470 Experiências formativas em música na construção dos projetos de vida dos
jovens: um estudo a partir de entrevistas narrativas
Andrea Matias queiroz
483 A escrita de professoras nos memoriais de formação
Maria Couto Cunha; Marta Lícia Brito de Jesus; Regina Lucia Portela
501 Instruções aos Colaboradores
Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 02, n. 05, maio/ago. 2017 257
CoNtENtS
260 Editorial
DOSSIER
263 travelling and autobiographicol narratives
Ana Chrystina Mignot
268 the letters of the “children of Russia”: on board diaries of an exile without return
Verónica Sierra Blas
290 School and family outings and trips registered in students’notebooks
(1957-2015)
Eliane Peres
310 Landing of the new school in Buenos Aires: heterogeneous ships in
heterogeneous ports
héctor Rubén Cucuzza 
330 Eternizing crossings: traveling album formation memories
Ana Chrystina Mignot
343 Autobiographical traces in travel writing: the “travel journal” (1934)
Jussara Santos Pimenta
359 Experiences of formation and educational narratives of brasilian teachers
traveling to the United Estates (1929 – 1935)
Silmara Fátima Cardoso
378 Between observations and representations: self-writing in the narratives of
a traveling educator (1923)
Sara Raphaela Machado de Amorim
395 Between home and school: a study concerning pathways and journeys!
Danielly Samara Besen; Vera Lucia gaspar da Silva; Emerson Correia da Silva
413 Self-writings, writings of freedom: travel representations in slave
autobiographies
Alexandra Lima Silva
428 Constructing the images of oneself and the other: Jan Hus’ letters from his trip
to Constance (1414)
thiago Borges de Aguiar
ARTICLES
449 State of the art of (auto)biographical research: an analysis of the portal of
jounals CAPES
Michael Daian Pacheco Ramos; Rita de Cássia Magalhães de oliveira; Maria Rita
Santos
470 Formative experiences in music in the construction of life projects of young
people: a study from narrative interviews
Andrea Matias queiroz
483 The teacher’s writing in the formation memorials
Maria Couto Cunha; Marta Lícia Brito de Jesus; Regina Lucia Portela
258 Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 02, n. 05, maio/ago. 2017
SUMARIo
260 Editorial
DOSSIER
263 Viajes y narrativas (auto)biográficas
Ana Chrystina Mignot
268 Las cartas de los “niños de Rusia”: diarios de a bordo de un exilio sin retorno
Veronica Sierra Blas
290 Viajes y paseos familiares y escolares registrados en cuadernos de alumnos
(1957-215)
Eliane Peres
310 Desembarco de la escuela nueva en Buenos Aires: heterogéneas naves en
puertos heterogéneos
héctor Rubén Cucuzza 
330 Eternizando travesía: memorias de formación en álbum de viaje
Ana Chrystina Mignot
343 Rastros autobiográficos en la escritura de viaje: el “Diário de Bordo” (1934)
Jussara Santos Pimenta
359 Experiencias de formación y narrativas educativas de profesores brasileños en
viaje a los estados unidos (1929-1935)
Silmara Fátima Cardoso
378 Entre las observaciones y representaciones de la escritura de sí en las
narrativas de un educador viajero (1923)
Sara Raphaela Machado de Amorim
395 Entre la casa y la escuela: ¡sobre los recorridos y los viajes!
Danielly Samara Besen; Vera Lucia gaspar da Silva; Emerson Correia da Silva
413 Escrituras de sí, escrituras de la libertad: representaciones sobre los viajes en
autobiografías de esclavizados
Alexandra Lima Silva
428 Construcción de la imagen de sí y del otro: cartas de viaje de Jan hus para
Constanza (1414)
thiago Borges de Aguiar
ARTÍCULOS
449 Estado del arte de investigación (auto)biográfica: un análisis del portal de
revistas de la CAPES
Michael Daian Pacheco Ramos; Rita de Cássia Magalhães de oliveira; Maria Rita
Santos
470 Experiencias formativas en música en la construcción de proyectos de vida de
jóvenes: un estudio a partir de entrevistas narrativas
Andrea Matias queiroz
483 La escritura de profesoras en los memoriales de formación
Maria Couto Cunha; Marta Lícia Brito de Jesus; Regina Lucia Portela
Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 02, n. 05, maio/ago. 2017 259
EDItoRIAL
As discussões construídas no campo da pes- descobertas, travessias e circulação de mode-
quisa (auto)biográfica abrem possibilidades los pedagógicos, práticas culturais, hábitos e
diversas, as quais implicam modos próprios dimensões institucionais visitadas.
como se configuram as práticas de formação, Este número tem início com o Dossiê “Via-
de inserção profissional e diálogos pós-disci- gens e narrativas (auto)biográficas”, organi-
plinares sobre as narrativas como centralidade zado pela professora Ana Chrystina Mignot,
da vida na contemporaneidade. A cada edição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
a Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográ- (UERJ), que lança um olhar sobre o fenômeno
fica (RBPAB) vem ampliando discussões epis- das narrativas de viagem como locus inter-
temológicas e teórico-metodológicas, através pretativo para a investigação (auto)biográfica.
de fecundos diálogos com pesquisadores bra- A viagem, como narrativa, se confunde com a
silieros e estrangeiros, sobre os domínios dos própria noção de humano, pois que as narra-
estudos (auto)biográficos. tivas – ou as grandes narrativas – dizem algo
Ao publicar o volume dois do segundo ano sobre os processos de deslocamento humano
de sua existência, a Revista Brasileira de Pes- e seu encantamento através do maravilhoso,
quisa (Auto)Biográfica (RBPAB), como periódi- do Outro, do Mesmo quase espelho do turis-
co comprometido com as potencialidades da mo, do olhar melancólico do refugiado. De
pesquisa educacional, dá continuidade a sua Homero a Joyce, de Heródoto a Hobsbawm, de
missão de acolher e difundir os conhecimen- Rousseau a Paulo Freire a temática da viagem
tos produzidos por pesquisadores de institui- aparece para dar sentido às práticas humanas,
ções brasileiras e de outros países, diversifi- tal como se antes da viagem não pudéssemos
cando seus interesses temáticos e teóricos, dizer nada ou, pelo menos, nada de comple-
cuja amplitude pode ser vislumbrada em cada tamente humano. O Dossiê conta com 10 (dez)
um de seus números, na diversidade de abor- artigos de pesquisadores brasileiros e de pes-
dagens e de sistematizações epistemológicas quisadores estrangeiros, da Argentina e da Es-
e teórico-metodológicas que têm contribuído panha.
para a afirmação do movimento biográfico no As análises empreendidas pelos autores
Brasil e suas interfaces com grupos e redes de do dossiê, ao tomarem como perspectiva
pesquisa nacionais e internacionais. narrativas de viagens e fontes diversas, ver-
O presente número da RBPAB organiza-se sam sobre escritas de viagem, cartas, cartões
a partir de textos de pesquisadores que têm postais, relatórios, revelando disposições en-
se dedicado ao estudo das narrativas e suas tre vida e formação, marcadas pelas apren-
relações com as viagens como dispositivos dizagens biográficas e experiencias que são
existencial e biográfico, como dimensão peda- oportunizadas pelas viagens e seus contextos
gógica e de desenvolvimento/inserção profis- formativos.
sional. Ancorados em fontes diversas os textos Este número ainda é complementado na
apresentados analisam cartas, diários de bor- seção Artigos, por três textos que tematizam
do, cadernos de viagens, relatórios e imagens sobre estado da arte da pesquisa (auto)bio-
de viagens, através dos relatos de viagens, gráfica, aspectos concernentes as experiências
com destaque para olhares históricos, socioló- formativas, através de entrevistas e análise de
gicos, antropológico e pedagógicos, revelando memoriais de formação. O primeiro, Estado da
260 Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 02, n. 05, maio/ago. 2017
arte da pesquisa (auto)biográfica: uma análi- tos por Christine Josso e como abordagem me-
se do portal de periódicos CAPES, dos autores todológica desenvolveu Entrevistas Narrativas,
Michael Daian Pacheco Ramos, Rita de Cássia nas quais pode perceber o olhar desses jovens
Magalhães de Oliveira e Maria Rita Santos, da sobre sua formação como músicos.
Universidade do Estado da Bahia, apresentam Em A escrita de professoras nos memoriais
uma revisão, na modalidade estado da arte, de formação, Maria Couto Cunha, Marta Lícia
da produção acadêmica desenvolvida no âm- Brito de Jesus e Regina Lucia Portela, da Uni-
bito da pesquisa (auto)biográfica e disponível versidade Federal da Bahia, retomam uma
no Portal de Periódicos da Coordenadoria de discussão frequente na investigação autobio-
Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superios gráfica brasileira, que são os memoriais de for-
(CAPES). O estudo mapeou a produção de co- mação. No estudo, discutem as produções tex-
nhecimento na pesquisa (auto)biográfica no tuais dos Memoriais de Formação escritos por
âmbito brasileiro e internacional publicados professoras de escolas públicas, que fizeram o
no Brasil, o que contribui para o reconheci- curso de Licenciatura Especial em Pedagogia,
mento do campo e com debate sobre os usos na Faculdade de Educação da Universidade
e as apropriações teóricas e metodológicas Federal da Bahia, entre 2010 e 2013. Analisa-
pelas pesquisas (auto)biográficas. Trouxe para ram os memoriais de 18 professoras, apresen-
o debate as opções teóricas do campo, sua tados nos respectivos Trabalhos de Conclusão
disposição geográfica, de estilo, bem como o de Curso, sob o viés da Análise do Discurso e
caráter indisciplinar que marca essa área de tendo os estudos autobiográficos como funda-
estudos. mento de análise.
O texto Experiências formativas em música Este segundo número de 2017 reafirma a di-
na construção dos projetos de vida dos jovens: versidade teórica e metodológica nos estudos
um estudo a partir de entrevistas narrativas, de narrativas como um dos marcos da pesqui-
de Andrea Matias Queiroz, da Universidade de sa (auto)biográfica em seu movimento nacio-
Brasília, é um artigo que apresenta os resulta- nal e internacional. É essa perspectiva que a
dos de uma pesquisa de mestrado que buscou Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica
compreender como os jovens da Orquestra de traz para seus leitores, estimando que aprovei-
Cordas do projeto Música para Crianças conti- tem este lugar diverso para (re)pensar o cam-
nuam seus estudos de música ao longo de suas po e as múltiplas possibilidades de diálogos
vidas. Do ponto de vista teórico, a autora, arti- para revigorar seus interesses de pesquisa e
cula os estudos sobre juventude e os conceitos seu trabalho diário sobre os domínios da pes-
de experiência formativa e busca de si propos- quisa (auto)biográfica.
A Comissão Editorial
Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 02, n. 05, maio/ago. 2017 261
DoSSIê
Ana Chrystina Mignot
VIAgENS E NARRAtIVAS (AUto)BIogRÁFICAS
Apresentação
Quem nunca se imaginou atravessando terras, teria, com papel e caneta nas mãos, enquan-
céus e mares em busca do desconhecido, do to descansa de caminhadas, para contar das
inusitado, do novo? Uma propaganda e até descobertas, dos encontros, das surpresas e
mesmo uma revista que se vê de relance em das decepções com a viagem? Quem nunca
uma banca de jornais despertam o desejo de saiu do caminho, em busca de uma estação de
partir, sumir, mudar, experimentar. Apesar de correios, para, com o coração aos sobressal-
sempre ter existido a curiosidade pelo estra- tos, fechar um envelope repleto de carimbos e
nho e o exótico, o educador Francisco Venân- belos selos, para enviar notícias? Quem nunca
cio Filho (1941)1, considerava que, o gosto pela se viu com um cartão postal nas mãos, com a
viagem era moderno na medida em que se tor- melhor vista ou monumento de uma cidade,
nara possível viajar pelo livro, pela revista ilus- cuidadosamente selecionado, para encurtar
trada ou pelo cinema. No seu entendimento, distâncias, amenizar saudades ou aguçar a
elas podiam ser de diferentes gêneros e espé- curiosidade do amigo, do familiar ou do ama-
cies: de negócio, de saúde, de luxo, de recreio e do, convidando-o, assim, a compartilhar a via-
de cultura, exigindo sempre um cuidado espe- gem? Nelson Schapochnik (1998)2, lembra que
cial. Assinalava, ainda, existir, uma “encanta-
Uma vez atingido o seu destino postal, a via-
dora psicologia da viagem” (idem, p. 119), como
gem recomeça. Mas, agora, o viajante é aquele
sugeria Paul Morand, em Le voyages (notes e que recebeu o cartão. Viagem virtual por outros
maximes), o que envolvia um projeto com pre- mundos, com o recurso dos fragmentos de ima-
gens postais e de imaginação. Seria como se lhe
visão de custos e itinerários, o que seria prece-
fosse dada a oportunidade de compartilhar as
dido da reunião de mapas, guias, prospectos e
vacilações da significação, a magia das pers-
conhecimento de uma literatura especializada,
pectivas ou ainda as glórias da conquista de um
capazes de fornecer informações preciosas e
novo espaço. O realismo das imagens estampa-
precisas. No delineamento de uma certa pe- das nos postais também cria uma disposição
dagogia da viagem, Venâncio Filho, sinaliza que transfere o sentido de ‘eu li’ para ‘eu vi’. A
posse do cartão daria ao destinatário a chance
para a importância de estudo e planejamen-
de sentir-se como Ulisses, Marco Polo ou Pero
to, como a necessidade de viajar com pouca
Vaz de Caminha. (p. 424)
bagagem, comprar o menos possível e conhe-
cer pelo menos cem palavras do país visitado Quem nunca se viu rodeado de amigos, con-
para ter acesso a números, moedas, passagens tando de passeios, sabores e cheiros da cidade
e alimentação. Alertava ainda: “A preparação que acaba de conhecer? Quem nunca organi-
cultural da viagem torna-se condição para que zou álbuns de fotografias de um país distante?
se aproveite o mais possível” (idem, p. 123). Quem nunca mostrou inúmeras imagens de
Quem nunca tomou uma xícara de café ou museus, paisagens, pessoas encontradas du-
saboreou um chocolate quente, numa cafe-
2 SChAPoChNIK, Nelson. “Cartões-postais, álbuns de
1 VENÂNCIo FILho, Francisco. A educação e seu apare- família e ícones da intimidade”. In: NoVAIS, Fernando
lhamento moderno. Rio de Janeiro: Companhia Edito- (Coord. coleção) e SEVCENKo. Nicolau (Coord. do vo-
ra Nacional. Coleção Atualidades Pedagógicas, Biblio- lume). História da vida privada no Brasil. São Paulo:
teca Pedagógica Brasileira, v. 38, 1941. Companhia das Letras, 1998, v. 3. p. 423-512.
Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 02, n. 05, p. 263-267, maio/ago. 2017 263