Sobre Rap e política Pedro Alexandre Sanches Tudo é política. Não há sinais de vida fora do planeta Política. O apoliticismo é uma forma de participação pela omissão. A periferia respira política. São afirmações que perpassam, não necessariamente nessas palavras, toda a extensão deste Rap e política, de Roberto Camargos. O fazer musical é político, trate-se da música alienada de Roberto Carlos ou da música engajada dos rappers brasileiros. Rap e política analisa o exercício político cotidiano desses últimos, que formam uma comunidade musical ainda hoje marginalizada por inúmeras razões, entre elas a consciência e a autoafirmação constante de seu engajamento, para além dos ditames da indústria cultural, que apregoa a música como mero entretenimento, ou da indústria informativa, que repele qualquer forma de engajamento como chatice panfletária. Interessado em observar o mundo “de baixo para cima” e não dos mesmos postos de poder de sempre, Roberto Camargos explica com sutileza por que é que o rap, entre tantos outros gêneros musicais, digamos, populares, incomoda tanta gente, irrita tanta sensibilidade, exaspera tanto crítico musical e insulta tanto senso comum “de cima para baixo” – mesmo hoje, 2015, depois de décadas de acúmulo histórico e de adventos fora-e-dentro da indústria cultural, como os dos ícones pop Criolo e Emicida. Se tudo é política e todos nós fazemos política 24 horas por dia, o autor de Rap e política não haveria de constituir exceção à regra. Assim como seu objeto de estudo, também a obra de Roberto é 100% política. Isso transparece exemplarmente na seleção de amostras musicais que ele recolhe e analisa, usando olhos e ouvidos independentes e alheios aos lobbies e vícios institucionais dos parques industriais da música e do jornalismo. Racionais MC’s, Thaíde, MV Bill, Rappin’ Hood e Marcelo D2 estão aqui, mas o que destaca e enriquece a análise de Roberto é a profusão de vozes polifônicas – sistematicamente ignoradas por nossas instituições culturais, orientadas “de cima para baixo” – de rappers maranhenses, goianos, baianos, mato-grossenses, gaúchos, pernambucanos, paulistas, mineiros, catarinenses, brasilienses... O autor quer compreender não o rap de acordo com fulano ou sicrana, mas sim os raps brasileiros, assim com S, no plural. E isso também é política (e rap), no sentido mais nobre do termo. Copyright desta edição © Boitempo Editorial, 2015 Direção editorial Ivana Jinkings Edição Thaisa Burani Coordenação de produção Livia Campos Revisão Maíra Mendes Galvão Diagramação Otávio Coelho Capa Ronaldo Alves Fotos Thiago Nascimento Equipe de apoio: Ana Yumi Kajiki, Artur Renzo, Bibiana Leme, Elaine Ramos, Fernanda Fantinel, Francisco dos Santos, Isabella Marcatti, Kim Doria, Marlene Baptista, Maurício dos Santos, Nanda Coelho e Renato Soares Diagramação Schäffer Editorial CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ O51r Oliveira, Roberto Camargos de Rap e política [recurso eletrônico] : percepções da vida social brasileira/ Roberto Camargos de Oliveira. - 1. ed. - São Paulo : Boitempo, 2015. recurso digital Formato: ePub Requisitos do sistema: adobe digital editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-7559-430-8 (recurso eletrônico) 1. Hip-hop (cultura popular) - Aspectos sociais. Rap (Música) - Aspectos sociais. 3. Livros eletrônicos. I. Título 15-19788. CDD: 784.5 CDU: 78.067.26 É vedada a reprodução de qualquer É vedada a reprodução de qualquer parte deste livro sem a expressa autorização da editora. Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor desde janeiro de 2009. 1a edição: janeiro de 2015 BOITEMPO EDITORIAL www.boitempoeditorial.com.br www.boitempoeditorial.wordpress.com www.facebook.com/boitempo www.twitter.com/editoraboitempo www.youtube.com/user/imprensaboitempo Jinkings Editores Associados Ltda. Rua Pereira Leite, 373 05442-000 São Paulo SP Tel./fax: (11) 3875-7250 / 3872-6869 [email protected] Sobre o autor Roberto Camargos é professor, pesquisador e doutorando em história social pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Seu trabalho, majoritariamente focado em culturas urbanas contemporâneas e práticas musicais populares, deu origem a artigos sobre punk, hardcore e rap e a um documentário sobre funk. Este Rap e política é seu primeiro livro. A todos aqueles que fazem da cultura – e particularmente do rap – sua ferramenta de interrogar o mundo... Legenda das fotos capa Graffiti – 0880 – Heliópolis (CCA Lagoa | ESTRONDO beats. 6 fev. 2014 p. 2 FH2 – Teste Seu Fôlego & DosPlanos, b. boy TheKingSarará. 23 jul. 2011 p. 8 Mesa de discotecagem. 24 mar. 2014 p. 52 Projeto de hip hop instrumental ColigAvante (parceria Avante O Coletivo e Coligação Z.E.M.). 1 nov. 2012 p. 93 Público no Palco do Hip Hop, nos 461 anos de São Bernardo do Campo. 31 ago. 2014. p. 94-5 Batalha das “Pistas” – Intinerário Rap, Mauá-SP. 28 maio. 2014 p. 96 Racionais MC’s | Soul Art 27 jan. 2013. p. 126 Eduardo, do Facção Central – Pista de Skate de São Bernardo do Campo. 14 jan. 2012 p. 188 II Block Party – Polo Cultural de Heliópolis (UNAS). 23 mar. 2014 SUMÁRIO Prefácio: Sem travas na língua - Adalberto Paranhos Introdução Duas ou três palavras sobre o rap Diálogo com as críticas A construção do sujeito engajado Política e cotidiano Tribunal da opinião Representações, experiências, verdades Poéticas do vivido Fontes Bibliografia Agradecimentos PREFÁCIO: SEM TRAVAS NA LÍNGUA Adalberto Paranhos I nesperadamente, num show de 2012 depois transposto para o formato de CD e de DVD e batizado de Na carreira, ninguém menos do que o cancionista Chico Buarque rendeu suas homenagens ao rap e aos rappers. Para surpresa de seus fãs – em sua maioria, ao que tudo indica, pouco afeitos ao hip hop em geral e ao rap em particular –, ele, do alto de sua autoridade como um dos maiores ícones da música popular brasileira, conferiu, por assim dizer, o selo de legitimidade a um gênero musical que nada tem a ver com a prática que o consagrou. Chico saudou, sem meias-palavras, o rapper Criolo, que se apropriara de “Cálice” – composição emblemática dos anos 1970, alvo de perseguição e da censura da ditadura militar – para injetar-lhe novo sopro de vida, adaptando-a ao seu estilo artístico: Gosto de ouvir rap, o rap da rapaziada Um dia vi uma parada assim no Youtube E disse: quiuspariu, parece o Cálice Aquela cantiga antiga minha e do Gil Era como se o camarada me dissesse: Bem-vindo ao clube, Chicão, bem-vindo ao clube Valeu, Criolo Doido, evoé, jovem artista Palmas pro refrão doído do rapper paulista: Pai, afasta de mim a biqueira Pai, afasta de mim as biate
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