7 Pteridófitas em fragmentos florestais daAPA Fernão Dias, Minas Gerais, Brasil1 Luciana Cláudia Neves Melo23 & Alexandre Salino2 Resumo (Pteridófitas em fragmentos florestais da APA Femão Dias, Minas Gerais, Brasil) Foi realizado o estudo das pteridófitas ocorrentes na APA Femão Dias, situada no extremo sul do estado de Minas Gerais, na Serra da MantiqueiraabrangendoáreasdosmunicípiosdeCamanducaiaGonçalves,ExtremaeItapevaEstaregiãoencontra- se entre 1.OCX) e 2.068 metros de altitude, cm zona de tensão ecológica entre as florestas tropicais montanas e submontanas.Constatou-seaocorrênciade 173espéciesdepteridófitas,distribuídasem23famíliase55gêneros. AsfamíliasmaisrepresentativasforamPolypodiaceae(21 spp.),Thelypteridaceae(18spp.),Lomariopsidaccae(1 spp.),PteridaceaeeAspleniaceae(13spp.cada),BlechnaceaeeHymenophyllaceae(12spp.cada),Grammitidaceae (10spp.)eLycopodiaceae(8spp.).OsgêneroscommaiornúmerodeespéciesforamThelypteriseElaphoglossum (17spp.cada),Asplenium(13spp.),Blechmim(12spp.),Trichonumes(7spp.),Campyloneurum(6spp.),Peclwna, Polypodium, Huperzia e Hymenophyllum (5 spp. cada). A maioria das espécies é terrestre com distribuição neotropical.Athyriumfdix-femina(L.) Roth.consiste na primeira referênciapara Minas Gerais. Esteestudo revelouapresençadeumaespécieameaçadadeextinção DicksoniasellowianaHook.)etrêspresumivelmente ( ameaçadas(Alsophilacapensis(L.f.)J.Sm.,Dryopterispulula(Sw.)Undcrw.eBotrychiumvirginianum(L.) Sw.),constantesdaLista VermelhadasEspéciesAmeaçadasde Extinçãoda Florade MinasGerais. Palavras-chave: Pteridófitas,florística,florestaestacionaiscmidecidual,florestaombrófila. Abstract (PteridophytesfromAPAFemãoDias,MinasGerais,Brazil) Afloristicinventoryofpteridophyteswascarriedout in the APA Femão Dias, located in Serrada Mantiqueira, on the southem ofMinas Gerais State, including tlie municipalitiesofCamanducaia,Gonçalves,ExtremaandItapeva.Thisregionissituatedbetween 1.000and2.068 metersofaltitude,inazoneofTropicalscasonalsemideciduousandTropicalrainforests.Atotalof173pteridophyte specieswereidentified,distributedin23familiesand55genera.ThemostrepresentativefamilieswerePolypodiaceae (21 spp.), Thelypteridaceae(18 spp.), Lomariopsidaceae (17spp.), Pteridaceaeand Aspleniaceae (13 spp. each), BlechnaceaeandHymcnophyllaceae(12spp.each),Grammitidaceae(10spp.)andLycopodiaceae(8spp.).The genera with the highest numbers ofspecies were Thelypterisand Elaphoglossum (17 spp. each),Asplenium (13spp.),Blechnum(12spp.),Trichonumes(7spp.),Campyloneurum(6spp.),Pecluma, Polypodium,Huperzia and Hymenophyllum (5 spp. each). Most ofthe species were terrestrial and has a Neotropical distribution. Athyriumfdix-femina(L.)Roth.isthefirstrecordfortheMinasGeraisState.Thisstudyhasalsoidentifiedthe presenceofaspeciesthreatenedwithextinction.DicksoniasellowianaHook.,andofthreespeciespresumably thrcatened:Alsophilacapensis(Sw.)Conant,Dryopterispulula (Sw.)Underw. andBotrychium virginianum (L.)Sw„ includedin the Red ListofThreatenedSpeciesofthe FloraofMinasGeraisState. Keywords: Pteridophytes, floristic.Tropical scasonal semideciduous forest. Tropical rain forest. Introdução encontra-se nos trópicos úmidos e nas & As pteridófitas ocorrem nos mais montanhassubtropicais(Tryon Tryon 1982). variados ecossistemas, em uma grande Este grupo forma um importante componente variedade de ambientes: do nível do mar a da flora de florestas tropicais úmidas, elevadas altitudes, de regiões árticas-alpinas compreendendo geralmente cerca de 10% do ao interior de florestas tropicais úmidas, de total do número de espécies de plantas & áreassubdesérticasnointeriordoscontinentes vasculares (Grayum Churchill 1987; Melo até regiões rochosas costeiras e mangues & Salino 2002). Estima-se que haja entre (Page 1979).Noentanto,suamaiordiversidade 10.000e 1 1.300espéciesdepteridófitas(Ross Artigorecebidoem04/2006. Aceitoparapublicaçãoem01/2007. 'PartedaDissertaçãodeMestradodaprimeiraautoradesenvolvidanoCursodePós-Graduaçãoem BiologiaVegetalda UniversidadeFederal deMinasGerais. 'Departamento de Botânica, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Cx. Postal 486, 30123-970, Belo Horizonte, MG, Brasil. 'Autorparacorrespondência: [email protected] SciELO/JBRJ cm L2 13 14 15 16 17 208 Melo, L C.N. &Salino,A. 1996).ConformeestimativadeMoran(1995a), causados pela duplicação da BR 381 (Femão hánaAméricadoSul aproximadamente3.000 Dias) situa-se no extremo sul do estado de espécies, sendo que no Brasil estima-se a Minas Gerais, na Serra da Mantiqueira e ocorrência de 1.200 a 1.300 (Prado 1998) e abrange seis municípios integralmente Minas Gerais abriga pelo menos 50% desse (Camanducaia, Extrema, Gonçalves, Itapeva, total(Salino2000). Sapucaí-Mirim e Toledo) e dois parcialmente Os estudos da pteridoflora no estado de (Paraisópolis e Brasópolis). Minas Gerais são fragmentados. Alguns A APA inclui toda a bacia hidrográfica trabalhosapresentamapenaslistasdeespécies do rio Jaguari em Minas Gerais, da qual se (Brade 1942a, 1949; Lisboa 1954; Giulietti et destaca o rio Camanducaia como o maior e al. 1987; Krieger & Camargo 1990; Graçano principal afluente.FormadordorioPiracicaba, etal. 1998; Melo & Salino 2002 e Figueiredo jánoestadode São Paulo, orioJaguari recebe & Salino 2005). Há trabalhos flonsticos que em território paulista confluência de outros apresentam chaves de identificação, cursos d’água nascentes em Minas Gerais descrições e ilustrações, que são geralmente (DER/MG 1998). restritos a uma família, sendo quase todos A APA encontra-se entre 1.000 e 2.068 realizados na Cadeia do Espinhaço (e.g. metros de altitude, em zona de tensão Carvalho 1982; Camargo 1987; Windisch & ecológica entre as formações de Floresta Prado 1990;Prado 1992;Windisch 1992;Prado Ombrófila Densa, Ombrófila Mista e & Windisch 1996; Prado 1997 e Prado & Estacionai Semidecidual. Dependendo das Labiak 2003). condições climáticas, muitas vezes Os estudos para a região da Serra da relacionadas a gradientes topográficos e ao Mantiqueira,ondeseinsereaáreaobjetodeste relevo, predomina uma ou outra tipologia trabalho, resumem-se aos de Brade (1937) na vegetal ou, em alguns casos, misturam-se determinaçãode materialcolecionadodurante aspectosde maisde umtipo(DER/MG 1998). uma excursão de Campos Porto à região Segundo aclassificação de Kõeppen (Ayoade de Campos do Jordão (SP); Brade (1949) 1998), o clima é temperado chuvoso (Cwb), relatório de excursão à Passa Quatro (MG) e com verão fresco. As temperaturas variam Brade (1942b) composição da flora de entre as médias de 14°C e 19°C, podendo pteridófitas do Itatiaia. atingir, no inverno, temperaturas mínimas No sul de Minas a cobertura vegetal absolutas inferiores a 4°C (DER/MG 1998). originaleraconstituídaporextensasformações No espaço geográfico daAPA, o pluviômetro florestais (Azevedo 1962), que têm sido nas dafazendaLevantinaregistraasmédiasanuais últimas décadas reduzida a fragmentos, que de chuvas superiores a 1.500 mm. Os sofrem constantes pressões agropastoris. Este excedentes hídricos ocorrem nos meses de trabalho teve como objetivo documentar a outubro a abril, com a altura média anual das riquezadepteridófitasemformaçõesflorestais chuvas variando entre 1.600 a 1.800 mm. e a daÁrea de ProteçãoAmbiental (APA) Femão evaporação potencial anual entre 650 e 800 Dias, Minas Gerais, subsidiando o mm (DER/MG 1998). conhecimento da composição florística da região sul do estado. Amostragem e análise dos dados As atividades de campo para coleta e MaterialeMétodos registro dos dados foram desenvolvidas no Caracterização da área de estudo período de dezembro de 2000 a fevereiro de A Área de Proteção Ambiental (APA) 2002,realizandocoletasnosdiferentesperíodos Fernão Dias, criada como medida climáticos na APA Fernão Dias. Foram compensatória aos danos ambientais coletadas todas as pteridófitas através de Koílriguésia 58 (1): 207-220. 2007 SciELO/JBRJ cm .. PteridófitasdaAPA FemãoDias, MinasGerais, Brasil 209 caminhadas pelas bordas e interior de cada; Blechnaceae e Hymenophyllaceae com fragmentos florestais, em fundos de vale com 12 cada; Grammitidaceac com 10; e cursosd'água,alémdeoutrosambientescomo Lycopodiaceae, com oitoespécies. Estas nove barrancos de estradas, manchas ciliares e famílias representam 71,7% do total das afloramentos rochosos, abrangendo áreas dos espécies. Os gêneros com maior número de municípios de Camanducaia, Gonçalves, espécies foram Thelypteris e Elaphoglossum, Extrema e Itapeva. Dados sobre o hábito das com 17 cada; Asplenium, com 13; Blechnum, espécies foram registrados como epííita, com 12; Trichomanes, com sete; hemiepífita, terrestre e rupícola. Para alguns Campyloneurum, com seis; Pecluma, táxons considerou-se como hábito variado Polypodium, Huperzia e Hymenophyllum, aqueles que apresentaram mais de um hábito com cinco espécies cada. Estes 10 gêneros específico, muitasvezesacidental, i.e.,epífita, representam 53,2% do total das espécies rupícolaeterrestre; rupícolaeepífita;terrestre determinadas. e epífita; hemiepífita, epífita e terrestre. As Aspteridófitasnosfragmentosestudados amostras foram coletadas e herborizadas são predominantemente herbáceas, mas também podem ser arborescentes a segundoastécnicasusuais paraas pteridófitas (Silva 1989).Osespécimestestemunhosforam subarborescentes como Blechnum depositados no Herbário do Departamento de brasiliense. As arborescentes estão Botânica, Instituto de Ciências Biológicas, representadas pelos gêneros Cyathea, Universidade Federal de Minas Gerais Sphaeropteris, Dicksonia e Alsophila. (BHCB) e duplicatas foram enviadas a Dentre as herbáceas, 95 (57,9%) são especialistas. A identificação das espécies foi terrestres, 38 (23,2%) epífitas, 18(11%) de realizadacomauxíliodeliteraturaespecializada hábitovariadoe 13(7,9%)rupícolas.Algumas eporcomparaçãocommaterialjádeterminado espécies de hábito epífito, eventualmente por especialistas existentes nos herbários ocorrem como terrestres na região estudada: BHCB. HB, R e RB (acrônimos segundo Elaphoglossum erinaceum, E. tamandarei, Holmgren et al. 1990). E. burchellii, Pecluma recurvata, AsplCenoimuom Os táxons são apresentados em ordem auritum, A. harpeodes e A. wacketii. alfabética de família de acordo com a Flora constatadoporDittrichetal. (2005),Blechnum Mesoamericana(Moran 1995b).Paraafamília binervatum ssp. acutum apresenta-se epífito Vittariaceaeutilizou-seaclassificaçãogenérica no Parque Estadual do Pico do Marumbi e de Crane (1997). Para as abreviações dos terrestreou hemiepífitoemoutrasáreas. Esses nomes dos autores das espécies adotou-se dados demonstram que este táxon possui Pichi-Sermolli (1996). O sistema de hábito bastante variado, como constatado classificação da vegetação usado loi o de também na APA, onde se apresentou nos Veloso et al. (1991). diferentes fragmentos como hemiepífito, epífito e terrestre. Resultados e Discussão Amaioriadaspteridófitasencontradasna Foram encontradas nos fragmentos área ocorre no interior das florestas, bflaorrresatnaciso,saldéem edsetroaudtarsos eambaifelnotreasmecnotmoos easspeescpiéaclimeesntemaniassácroeamsumnasisfúomriadma:s,Asspenldeoniquume harpeodes, A. auritum, Campyloneurum rochosos, 173 espécies de pteridófitas, distribuídas em 23 famílias e 55 gêneros nitidum, Dicksonia sellowiana, Hypolepis Microgramma squamulosa, rugulosa, (Tab. 1). As famílias mais representativas Polypodium foram Polypodiaceae com 21 espécies; Pecluma pectinatiformis, cThoemlyp1t7e;rPitdearciedaaec,ecaeome A1s8;plLeonmiaarcieoapes,idcaocmeae1,3 mcaotnhtaerviinadee,nsPe..hiArosutliosnsgiomumdacs Páorleyasstimcahiusm Rodriftuésia 58 (1): 207-220. 2007 SciELO/JBRJ cm 12 13 14 15 16 17 0 21 Melo, L.C.N. &Salino,A. alteradas, principalmente nas margens das meridionais de distribuição da família estradas e bordas de florestas, é comum a (Labiak & Prado 2003). Este padrão foi ocorrência de espécies como Blechnum observado na área estudada, onde a família occidentale, B. binervatum, Lycopodium ocorre apenas nos fragmentos situados acima m clavatum, Dicranopterisflexuosa, Sticherus de 1.300 de altitude. Estas observações pruinosus e S. bifidus. de distribuição e arranjo das espécies foram A especificidade quanto ao forófito foi feitas no campo, sem qualquer tipo de observada apenas em algumas espécies como quantificação, porém refletem padrões já Pecluma truncorum e Trichomanes verificados em outros estudos (e.g. Dittrich et polypodioides que ocorrem apenas em caule al. 2005; Poulsen 1996). de Cyatheaceae e Dicksoniaceae, como já A ocorrência de espécies de pteridófitas ressaltadoporEvans(1968)eLellinger(1994). epífitas na áreaestudada é consideravelmente Muitas espécies coletadas foram observadas baixa (23,03%), quando comparada a outros em locais com diferentes perturbações estudos já realizados (e.g. Sylvestre 1997a e antrópicas, como Polypodium catharinae, P Dittrich et al. 2005). Geralmente as áreas de hirsutissimum e Microgramma squamulosa, floresta atlântica da costa sudeste e sul do ao passo que outras de Hymenophyllaceae e Brasil possuem grande quantidade de Grammitidaceae foram observadas em áreas pteridófitasepífitas (Sylvestre 1997a; Dittrich mais preservadas. Algumas espécies ocorrem et al. 2005 e Labiak & Prado 1998). No preferencialmente em áreas bastante entanto, dentre as áreas já inventariadas no alteradas, como trilhas de gado e bordas de estado de Minas Gerais, estaé aque registrou mata como Hypolepis rugulosa, que é a maior ocorrência de epífitas. Figueiredo & abundante nestesambientes,apesardetersido Salino(2005)registraram26(13,7%)espécies também registrada no interior de mata epífitas em quatro Reservas Particulares do preservada. Na área estudada observa-se que Patrimônio Natural (RPPN's) da Região Alsophila stembergii ocorre com freqüência, Metropolitana de Belo Horizonte, Melo & em agrupamentos densos de indivíduos, Salino(2002)registraramnove(8,25%)epífitas principalmente, em ambientes alterados. Este noParqueEstadualdoRioDoceeoito(8,42%) & padrãoécitadoporTryon Tryon(1982)para na Estação Biológica de Caratinga. A APA a família Cyatheaceae, que pode formar Femâo Dias revela uma mistura de elementos populações densas em regiões montanhosas, de florestas ombrófilas e de florestas sendo dominantes na vegetação. Padrão estacionais,aqualpoderiaseratribuídoobaixo semelhante é observado em Alsophila setosa percentual de ocorrência de epífitas, já que & porSylvestre Kurtz (1994), que apresentou aquelas semidecíduas contribuem com uma importânciamoderadanaestruturadafloresta, riqueza bem menor de espécies epifíticas. em função de sua elevada densidade relativa. Ressalta-se que os gêneros Huperzia, Comentam ainda nesse estudo que A. setosa Elaphoglossum e Hymenophyllum e a família foi encontrada em agrupamentos de até 10 Grammitidaceae, que são comuns nas áreas indivíduos, crescendo, especialmente, em de floresta atlântica litorânea, estão bem formações secundárias. Schmitt & Windisch representados na área de estudo. (2005) também discutem o adensamento O número de espécies registradas na encontrado para A. setosa. APAFemãoDias(173)demonstraumagrande As espécies de Grammitidaceae riqueza de pteridófitas, quando comparado a geralmente ocorrem em áreas superiores a outras áreas estudadas (e.g. Sylvestre 1997a; 1.000 m, estando a ocorrência em altitudes Sylvestre 1997b; Salino &Joly 200 Melo& inferioresrestritaatáxonsdeampladistribuição Salino 2002; Prado & Labiak 2003;1B; ueno & altitudinal,ouàquelesqueocorremnoslimites Senna 1992; Brack et al. 1985; Paciência & Rodriguésia 58 (1): 207-220. 2007 SciELO/JBRJ cm 2 13 14 15 16 17 18 PteridófitasdaAPA FemãoDias, MinasGerais, Brasil 211 Prado 2004). Se considerados os trabalhos virginianum, constantes da Lista Vermelha similares publicados para o estado de Minas das EspéciesAmeaçadasde ExtinçãodaFlora Gerais (Graçano et al. 1998; Melo & Salino de Minas Gerais (Mendonça & Lins 2000). 2002;Figueiredo&Salino2005)aáreadaAPA Dicksonia sellowiana é um elemento Fernão Dias apresentou a segunda maior característico da Floresta Ombrófila Mista e m riqueza de espécies de pteridófitas, ocorre numa faixa de 1.600-2.300 de contribuindo para o incremento de novos altitude (Fernandes 1997). Na região, esta registros para o estado, além de abrigar espécie se encontra bastante representada. espécies raras e ameaçadas de extinção. As principais ameaças às espécies de Noqueserefereàdistribuiçãogeográfica pteridófitas na região são o desmatamento e das espécies, a grande maioria (57%) é alteração da cobertura vegetal, em especial neotropical, corroborando com dados da pela agricultura, com conseqüente literatura (Salino & Joly 2001; Dittrich et al. fragmentação e exposição das comunidades 2005;Labiak&Prado 1998),oudeocorrência pteridofíticas a diferenças microclimáticas e restrita ao Brasil (30%). No que se refere às edáficas, daquelas originais. espécies brasileiras, 80,4% (41) são restritas Alsophila capensis ocorre no sudeste do - às Regiões Sul e Sudeste; as outras 10 são de Brasil, em altitudes que variam entre 1.000 ampladistribuição.Constatou-seaindaquedo 2.000 m, crescendo preferencialmentejunto a total de espécies registradas na região, 27 rochasúmidasoubeiradecórregosnointerior possuem distribuição ampla nas Américas do das matas. Segundo Fernandes (1997), A. Sul e Central; duas são paleotropicais: capensis é citada como espécie típica da Macrothelypteris torresiana e Diplazium região de Araucárias no sul do Brasil e nos petersenii; e quatro são pantropicais: estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Lycopodiella cernua\ Ostnunda regalis', Janeiro, em formações cuja ocorrência está Cochlidiurn serrulatum e Pleopeltis associada a Dicksonia sellowiana e macrocarpa. A maioria das espécies de Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze, Elaphoglossumapresentoudistribuiçãorestrita espécies típicas da Floresta Ombrófila Mista. Ea.o Brlasainlg,sdeoxrcfeftoiiE. bEu.rchelolrinia; tE.umgayaenunEv., DAnrtyiolphtaesriatsépsautludlaaAorcgoernrteindaeesdneoosuMdeésxtiecdo,o sellowianum. ; Brasil. Apesar de sua ampla distribuição nas OestudonaAPAFemãoDiasapresentou AméricasCentraleSul,noBrasilelaébastante importantes registros para a flora do estado, restrita, com ocorrência apenas no Mato como Athyriumfilix-femina, que apesar de Grosso e Minas Gerais. Ressalta-se, que em Bterrasdiilstérciobnuisçiãdoeraamdpalraarnaa,sAemnédroicaqauitrroepgiicaslt,randoa dMeincaosleGtearsainsasSoemrernatedasePtieemdacdoenheeceimmenutmo como primeira referência para Minas Gerais. fragmento daAPA Femão Dias. Dessa forma, De acordo com Sehnem (1979) e Brade foi incluída como uma espécie (1937), esta espécie ocorre no México, Peru, presumivelmente ameaçada de extinção, com Colômbia e Brasil, nos estados do Rio de suas populações expostas a alta pressão dos Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio desmatamentos e ações humanas. Botrychiurn virginianum é uma espécie rara, única GrandedoSul. O levantamento florístico realizado em representante do gênero no Brasil, ocorrendo fragmentos da APA Fernão Dias revelou a em poucos fragmentos da região. No Brasil, presença de uma espécie ameaçada de B. virginianum ocorre nos estados de Santa Em extinção, Dicksonia sellowiana, e três Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais. presumivelmente ameaçadas, Alsophila Minas Gerais esta espécie está registrada capensis, Dryopteris patula e Botrychiurn apenasparaaregiãodaSerradaMantiqueira. Rodriguésia 58 (1): 207-220. 2007 SciELO/JBRJ cm 2 13 14 15 16 17 18 .. 1 1 212 Melo,L. C.N. &Salino,A. Muitoemboraalgunsfragmentosflorestais da região da APA Fernão Dias, com uma aqui estudados estejam em bom estado de elevadariquezadepteridófitas(173)ocorrentes conservação, a área daAPA está sujeita a um em poucos fragmentos florestais, corroboram elevado grau de pressão para formação de com esforços de implantação de políticas de pastos e lavouras. Diversas espécies ainda preservação e do plano de manejo da APA, resistem à movimentação antrópica e outras possibilitando a manutenção da preservação sucumbem à degradação. As particularidades dessa diversidade remanescente. Tabela 1 - Lista das espécies de pteridófitas ocorrentes na APA Fernão Dias, Minas Gerais, Brasil. EP: epífita; HE: hemiepífita; RU: rupícola; TR: terrestre. Taxa Hábito Materialexaminado ASPLENIACEAE Aspleniumabscissum Willd. TR Mota1285 A. auriculatum Sw. EP/RU Melo148;Salino5611,5769,6406,6927 Â. auritumSw. EP/RU/TR Melo125,145;Salino5580,5785,6869,6883, 6407;Mota1283;Torres 1242 A. clausseniiHieron. TR Melo212;Salino5625,6394 A. harpeodes Kunze EP/TR Melo32,74, 1 5;Salino5573,5774,5620, 5626,6393 A. incurvatum Fée EP/RU Melo60;Salino6415,6936;Mota 1284 A. kunzeanum Klotzsch ex Rosenst. TR Salino4930 A. scandicinum Kaulf. EP Melo192 A.praemorsumSw.var.praemorsum EP Melo 187 A. radicansvar.uniseriale(Raddi)L.D.Gómez TR Melo 117, 173 Salino6429 A. serraLangsd. &Fisch. RU Salino5600,577;0,6411,6937;Melo33; Meireles419 A. triquetrumN.Murak.&R.C.Moran RU Melo119 A. wacketii Rosenst. EP/TR Melo44, 166;Salino6414,6939 BLECIINACEAE Blechnum austrobrasilianum de la Sota TR Melo213, 105;Salino5632 B.Rb.iMn.erTvraytounm&ssSp.toalczeutum (Desv.) HE/EP/TR M69e1l7o141, 169,208,211;Salino5780,5790 B. brasiliense Desv. TR Salino6891 B. xcaudatumCav. TR Melo97, 197 B. cordatum (Desv.)Hieron. TR Melo79,203, 142;Salino6896 B. gracile Kaulf. TR Melo207;Salino6898 B. occidentale L. TR Salino5568,6905 B. polypodioides Raddi TR Melo85;Salino6904,6886,5639 B.pteropus (Kunze) Mett. TR Melo169;Salino5780,6917 B. schomburkgii Klotzsch TR Melo75;Salino6416 B. spannagelii Rosenst. TR Melo78,99;Salino6397,5623 B. usterianum(Christ)C.Chr. TR Melo 111;Salino5627 CYAIHEACEAE Al(sSwo.p)hiDl.aS.cCaopennasnits subsp. polypodioides TR Melo 116, 171;Meireles42 Rodriguésia 58 (1): 207-220. 2007 SciELO/JBRJ cm 12 13 14 15 16 17 2 PteridófitasdaAPA FemãoDias, MinasGerais, Brasil 213 Taxa Hábito Materialexaminado A. setosaKaulf. TR Melo 172;Salino5624,5778,6427 A. stembergii(Stemb.) D.S. Conant TR Melo 177 Cyathea corcovadensis (Raddi) Domin TR Salino5599,6430,6916 C. delgadii Stemb. TR Salino6873 C. phalerata Mart. TR Melo 120 Sphaeropterisgardneri (Hook.) R.M. Tryon TR Salino6893 DENNSIAEDTIACEAE Dennstaedtia dissecta (Sw.) T. Moore TR Melo112, 183;Salino561 TR Melo202 D. globulifera (Poir.)Hieron. Hypolepismgulosa(Labill.)J.Sm. TR Salino5596,6432 Histiopterisincisa (Thunb.)J. Sm. TR Salino5619,6396 Lindsaeastricta (Sw.) Dryand. TR Salino6887 Pteridiumarachnoideum (Kaulf.) Maxon TR Salino6900 DICKSONIACEAE Dicksonia sellowiana Hook. TR Melo70;Salino5598,5622,6874 DRYOPTERIDACEAE Dryopterispatula (Sw.) Underw. TR Melo86 D. wallichiana (Spring) Hyl. TR Melo72;Meireles368;Salino5610,5783,b940 Polystichum montevidense (Spreng.) Rosenst. TR Melo31, 101;Mota 1292;Salino5569,5576, 6878 Rumohra adiantiformis (Forst.) Ching TR Melo66;Salino6880 GLEICHENIACEAE Dicranopterisflexuosa (Schrad.) Underw. TR Salino5556,6889,6921 D.ner\’osa(Kaulf.)Ching TR Melo 135;Salino6399,5641 Sticherusbifidus (Willd.)Ching TR Melo80;Salino6890 S.pminosus (Mart.) Ching TR Salino6400,6903 S. lanuginosus (Fée) Nakai TR Salino5640,6892 S. revolutus (Kunth) Ching TR Salino6913 GRAMMmDACEAE Ceradeniaalbidula (Baker) L.E. Bishop EP Melo 154 Cochlidiumpunctatum (Raddi) L.E. Bishop EP/RU Melo47,88;Salino5638 C.serrulatum(Sw.)L.E.Bishop EP Mota 1305 GrammitisfluminensisFée EP Melo94 TR Mota 1304 Lellingeria apiculata (Kunze ex Klotszch) A.R.Sm.&R.C.Moran L organensis(Gardner)A.R.Sm.&R.C.Moran EP Melo24;Salino5607,6405,6933 Melpomeneflabelliformis(Poir.)A.R.Sm.& EP Melo89 R.C.Moran M.peruviana(Desv.)A.R.Sm.&R.C.Moran RU Salino5637 M.pilosissima (M. Martens &Galeotti) EP Melo23,67 A.R.Sm.&R.C.Moran Terpsichoregradata(Baker)A.R. Sm. EP/RU Melo35:Salino6934 Rodriguésia 58 (1): 207-220. 2007 SciELO/JBRJ 2 13 14 8 214 Melo, L C.N. &Salino,A. Taxa Hábito Materialexaminado HYMENOPHYUACEAE Hymenophyllum caudiculatum Mart. TR Melo 134 H. elegans Spreng. RU Melo162 H.fucoidesSw. EP Melo90 H.polyanthos(Sw.)Sw. EP Melo55,155;Salino5606,6423,6424;Mota1286 H. rufumFée EP Melo54, 144;Salino6422;6930 Trichomanes anadromum Rosenst. EP Melo 127;Salino6870 T.angustatumCarm. EP Melo130;Salino5592,6863 T. diaphanum Humb. &Bonpl. exKunth EP Salino6914 T. hymenoidesL. EP Melo131 T. polypodioides L. EP Mota 1303 T. reptansSw. RU Salino6420,6931 T. rigidumSw. TR Salino6428 LOMARIOPSIDACEAE Elaphoglossum acrocarpum (Mart.) T. Moore TR Meireles420 E. eximium(Mett.)Christ RU Melo69;Salino6410,561 E. blanchetii(Mett.)C.Chr. TR Mota1281 E. burchellii(Baker)Christ EP/TR Melo 113, 139;Salino6871 E. erinaceum (Fée)T. Moore RU/TR Melo 140, 156 E. gayanum (Fée)T. Moore EP/RU Melo73,68, 147, 176;Salino6431 E. hymenodiastrum (Fée) Brade EP Melo 193 E. langsdorffii (Hook.&Grev.)T.Moore TR Mota1302 E. macahense (Fée) Rosenst. TR Melo157 E. minutum(PohlexFée)T.Moore EP Melo 143 E. organense Brade RU Salino6410b E. omatum (Mett.)Christ TR Melo 137 E.pachydermum (Fée)T. Moore EP Melo30, 138 E. paulistanum Rosenst. RU Melo168 E. sellowianum (Kaulf.)T. Moore EP Salino5604 E. tamandarei Brade RU/TR Salino6872 E. vagans(Mett.)Hieron. EP/RU Melo29,71,185;Salino5605,5617,6402;Mota 1282;Torres 1146, 1241 LOPHOSORIACEAE Lophosoriaquadripinnata(GF.Gmel.)C.Chr. TR Melo 133;Mota 1306 LYCOPODIACEAE Huperziabiformis(Hook.)Holub. RU/EP Melo91 Salino5767,5609;Meireles508 ; H. christii(Silveira)Holub. RU Melo63 H.pungentifolia(Silveira)B.011g. EP Salino5784 H. hexastichaB.011g.&RGWindisch EP/RU Melo62,87, 132;Meireles507;Salino5575, 5616 H. reflexa(Lam.)Trevis. TR Melo82;Salino5590,6944 Lycopodiellacemua (L.)Pic.Serm. TR Melo84;Mota 1291;Salino6909 Rodriguésia 58 (1): 207-220. 2007 SciELO/JBRJ L2 13 14 15 16 17 81 8 PteridófitasdaAPA FemãoDias, MinasGerais, Brasil 215 Taxa Habito Materialexaminado Lycopodium clavatum L. TR Melo41;Salino5571,691 L thyoidesWilld. TR Melo83;Salino5630 MARATTIACEAE Marattia laevisJ. Sm. TR Melo98;Salino6398,694 OSMUNDACEAE Osmunda regalisL. TR Melo95 OPfflOGLOSSACEAE Botrychium virginianum (L.) Sw. TR Melo52;Salino5629 POLYPODIACEAE Campyloneurum acrocarpon Fée EP Salino5490,5773 C. aglaolepis (Alston) de la Sota EP Salino5589,6895 C. cf. angustifolium(Sw.)Fée EP Melo 186 C. austrobrasilianum (Alston) de la Sota EP Melo191;Salino5781,5779;Mota 1288 RU Melo209 C. minusFée EP/RU Melo36,59;Salino5582,5583,6865,6926; C.nitidum(Kaulf.)C.Presl Mota 1295;Torres 1238;Meireles412 Microgrammasquamulosa (Kaulf.)de laSota EP Melo37, 122;Salino5782,5570,6899; Niphidiumcrassifolium(L.)Lellinger EP Melo206;Mota 1301 Peclumapectinatiformis(Lindm.)M.GPrice EP Melo25, 121, 150;Mota 1297;Salino5574 P robusta(Fée)M. Kessler&A.R.Sm. EP Melo 108 P.recurvata(Kaulf.)M.GPrice EP/RU/TR Melo107, 151;Salino5594,5776,6413,6907 P.singerii(delaSota)M.GPrice EP Mota 1299 P. truncorum(Lindm.)M.GPrice EP Melo 126;Salino6938 TR Melo178 Phlebodiumpseudoaureum (Cav.) Lellinger Pleopeltisastrolepis (Liebm.) Foum. EP Salino6881 Pmacrocarpa(Willd.)Kaulf. EP Melo57, 149;Salino5608,641 Polypodium catharinae Langsd. & Fisch. EP Melo27,77, 136;Mota1296;Salino5480, 5636,6419,6876;Torres 1107 P hirsutissimumRaddi EP Melo21,64;Salino5581,6879 P latipes Langsd. & Fisch TR Melo 163, 165, 181, 184 EP Melo28, 146;Salino5587,5593 P. pleopeltidis Fée TR Melo190 P. vacillansLink ITF.RIDACKAE Adiantopsis chlorophylla (Sw.) Fée TR Melo65, 114;Salino6877 TR Melo 161;Salino6882 A. radiata(L.)Fée TR Melo46 A. regularis (Kunze)T. Moore TR Melo205;Salino6901 Adiantum lorentzii Hieron. TR Melo92, 123,201;Mota 1298 A. raddianumC. Presl. TR Salino6908 A. subcordatum Sw. RU Melo68;Salino6902 Doryopteris crenulans (Fée) Christ RU Mota 1300 D. nobilis(T.Moore)C.Chr. Rodriguésia 58 (I): 207-220. 2007 SciELO/JBRJ 2 13 14 15 16 17 18 5 216 Melo, L C. N. &Salino,A. Taxa Hábito Materialexaminado Eriosorusmyríophyllus(Sw.)Copei. TR Melo20;Salino6392,6920 PterisdecurrensC. Presl TR Salino5635 P.deflexaLink TR Melo 110,96;Salino6403,5771 P lechleri Mett. TR Melo 159, 167 P. splendens Kaulf. TR Melo158, 194 SCHIZAEACEAE Anemia imbricata Sturm. TR Mota 1287 A.phyllitidis(L.)Sw. TR Salino5621,6884;Torres 1305 A. raddiana Link TR Melo128, 199 A. warmingiiPrantl TR Melo 160 SELAGINELLACEAE Selaginella marginata (Humb. & Bonpl. TR Melo 129 exWilld.)Spring S. muscosa Spring TR Melo188;Salino6425,6875,6928;Mota1290 S. tenuíssima Fée RU Melo93 TECTARIACEAE Ctenitissubmarginalis (Langsd. & Fisch.) Ching TR Melo102;Salino5572,6885 Lastreopsisamplíssima(C. Presl)Tindale TR Salino5631,6395 L.effusa(Sw.)Tindale TR Melo 196 Megalastrumcrenulans(Fée)A.R. Sm. & TR Melo 174;Salino561 R.C.Moran M.umbrinum(C.Chr)A.R.Sm.&R.C.Moran TR Melo210;Salino6932 Megalastrum sp. TR Melo 124 THELYPTERIDACEAE Macrothelypteris torresiana (Gaudich.) Ching TR Salino6897 TThealryaputcearriiseansmiasmbPaoynecnesis (Christ) Ponce TTRR SMaelliono16069;2M2ota1289;Salino5585,6911,6924 Tconspersa(Schrad.)A.R.Sm. TR Melo200;Salino5586 T. decurtata (Link)delaSota TR Salino5584 T. eriosora (Fée) Ponce TR Melo34,179;Salino5601,6942 T lugubris (Kunze exMett.) Ponce TR Melo189;Salino5628,6888 T metteniana Ching TR Salino6925 T oligocarpa(Humb.&Bonpl.exWilld.)Ching TR Melo40,Salino6935 T opposita(Vahl)Ching TR Melo8 Salino5578 1; T pachyrhachis (Mett.) Ching TR Melo 103;Salino5602 Tptarmica(Mett.)C.F.Reed TR Salino6915 T.patens(Sw.)Small TR Salino6912 T raddii (Rosenst.) Ponce TR Melo39,76;Salino5577,5579,5597,5614, 5633,5765,6866,6867,6868 T. retusa (Sw.)C.F.Reed TR Melo49, 109;Salino6919 T riograndensis(Lindm.)C.F.Reed TR Salino6910 T. tamandarei (Rosenst.) Ponce TR Salino5613 Rodríguésia 58 (1): 207-220. 2007 SciELO/JBRJ _2 13 14 15 16 17