L.S. Vigoíski PSICOLOGIA PEDAGÓGICA Tradução do russo por PA ULO BEZERRA Martins Fontes São Paulo 2001 к VJCiM ^ л . Ь Esta obra foi publicada originalmente em russo com o título PEDAGOGUlTCHESKAYA PSIKHOLÓGUIYA. Copyright © Vigotskiy L. S. Copyright © 2001, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., Sâo Paulo, para a presente edição. 1* edição agosto de 2001 Tradução PAULO BEZERRA Revisão gráfica Ana Luiza França Eliane Rodrigues de Abreu Produção gráfica Geraldo Alves Paginação/F otolitos Studio 3 Desenvolvimento Editorial Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Vigotsky, Lev Semenovich, 1869-1934. Psicologia pedagógica / Lev Semenovich Vigotsky ; tradução de Paulo Bezerra. - São Paulo : Martins Fontes, 2001. - (Psicologia e pedagogia.) Título original: Pedagoguítcheskaya Psikhológuiya. Bibliografia. ISBN 85-336-1376-8 1. Pedagogia 2. Psicologia educacional I. Título. II. Série. 01-3006_______________________________________CDD-370.15 índices para catálogo sistemático: I. Psicologia pedagógica : Educação 370.15 Todos os direitos desta edição para a língua portuguesa reservados à Livraria Martins Fontes Editora Ltda. Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 01325-000 São Paulo SP Brasil Tel. OD 3241.3677 Fax (11)3105.6867 e-mail: [email protected] http:llwww.martinsfontes.com.br índice Prefácio XI Capítulo I Pedagogia e psicologia 1 Capítulo II O conceito de comportamento e reação 15 Capítulo III Leis fundamentais da atividade nervosa superior (do comportamento) do homem 35 Capítulo IV Fatores biológico e social do comportamento 63 Capítulo V Os instintos como objeto, mecanismo e instrumento de educação 79 Capítulo VI A educação no comportamento emocional 12 7 Capitulo VII A psicologia e a pedagogia da atenção 149 Capítulo VIII Reforço e reprodução das reações 181 Capítulo IX O pensamento como forma especialmente complexa de comportamento 213 Capítulo X Enfoque psicológico da educação pelo trabalho 247 Capítulo XI O comportamento social em face do desenvolvimento etário das crianças 277 Capítulo XII O comportamento moral 295 Capítulo XIII A educação estética 323 Capítulo XIV Exercício e cansaço 365 Capítulo XV O comportamento anormal 379 Capítulo XVI Temperamento e caráter 397 Capítulo XVII O problema da inteligência e os objetivos individuais da educação 427 Capítulo XVIII Formas básicas de estudo da personalidade da criança 433 Capítulo XIX A psicologia e o mestre 445 Capítulo XX O problema do ensino e do desenvolvimento mental na idade escolar 465 Capítulo XXI A dinâmica do desenvolvimento mental do aluno escolar em função da aprendizagem 489 Desenvolvimento dos conceitos cotidianos e científicos na idade escolar 517 A análise pedológica do processo pedagógico 547 Bibliografia 553 índice onomástico 559 O desenvolvimento das nossas respostas é a história da nossa vida. Se nos coubesse procurar uma expressão para a verdade mais importante que a Psicologia moderna pode fa cultar ao mestre, ela rezaria simplesmente: o aluno é um apa relho que reage. H. MÜNSTERBERG A psicologia e o mestre Prefácio Este livro se propõe uma questão de natureza principal mente prática. Ele gostaria de ajudar a nossa escola e o mestre e contribuir para uma elaboração de uma concepção científica do processo pedagógico em face dos nossos dados da ciência psicológica. A psicologia passa atualmente por uma crise. As suas teses mais radicais e fundamentais estão sendo revistas, razão por que na ciência e na escola reina a mais completa confusão de idéias. Solapou-se a confiança nos sistemas anteriores e os novos ain da não se constituíram a ponto de ousarem destacar de si mes mos uma ciência aplicada. A crise na psicologia implica fatalmente crise também para o sistema de psicologia pedagógica e sua reconstrução desde o início. Contudo neste sentido a nova psicologia é mais feliz que toda a sua antecessora, já que não terá de “tirar conclusões de suas teses e desviar-se quando deseja aplicar os seus dados à educação”. A questão psicológica ocupa o próprio centro da nova psi cologia. A teoria dos reflexos condicionados é a base sobre a qual deve ser construída a nova psicologia. Reflexo condicio nado é nome daquele mecanismo que nos transfere da biologia para a sociologia e permite elucidar a essência mesma e a natu reza do processo educacional. XII _ Psicologia pedagógica É preciso dizer francamente que a psicologia pedagógica como ciência só se tornou possível a partir dessa descoberta. Até então carecia daquele princípio fundamental capaz de unir em um todo aqueles dados fatuais fragmentários de que ela se valia. Hoje deve tornar-se tarefa principal do curso a aspiração a manter uma unidade científica de princípio na análise de ele mentos particulares da educação e na descrição de diversos as pectos do processo pedagógico. É de suma importância mostrar com precisão científica definitiva que a educação, a despeito do que refira e das formas que assuma, sempre acaba tendo por base o mecanismo da educação do reflexo condicionado. Entretanto seria incorreto ver nesse princípio um meio que tudo abrangesse e tudo salvasse, algum mágico “Abre-te Sésamo” da nova psicologia. Ocorre que a psicologia pedagó gica, pela essência mesma da sua tarefa, opera com fatos e ca tegorias psicológicas de natureza e ordem mais complexas do que algumas respostas isoladas ou reflexo e, em linhas gerais, do que aqueles a cujo estudo chegou a atual ciência da atividade nervosa superior do homem. A pedagogia é levada a operar com formas mais sintéticas de comportamento, com respostas integrais do organismo. Por isso a teoria dos reflexos condicionados pode, naturalmente, constituir apenas o fundamento para o presente curso. Na des crição e análise de formas de comportamento mais complexas tem-se de empregar plenamente todo o material científicamen te fidedigno da velha psicologia, traduzindo conceitos velhos para uma linguagem nova. O autor procurou sempre descobrir e mostrar a natureza motriz e refletora de todas essas formas de comportamento e assim ligá-la aos pontos de vista básicos e fundantes sobre o objeto. Ele supõe, com Münsterberg, que passou o tempo em que “todo o aspecto motor parecia um apêndice sem importância, sem o qual a vida da alma poderia continuar da mesma forma XIII Prefácio. em sua ordem. Hoje tudo se coloca ao contrário. Hoje a rela ção ativa e a ação são precisamente as que se consideram como aquelas condições que propiciam a efetiva possibilidade para o desenvolvimento dos processos centrais. Pensamos porque agimos” (1910, p. 118). Quanto à terminologia, em parte alguma o autor temeu manter a antiga por ver nela o modo mais inteligível, cômodo e econômico de descrição de muitos fenômenos a ser emprega do temporariamente até que se elabore uma nova linguagem científica. O autor achou que criar novos termos e denomina ções seria falsa pretensão, porque sempre que se descreveram fenômenos teve-se de adotar não só o nome como o material antigo. Por essa razão achou-se mais cômodo decodificar sem pre o verdadeiro conteúdo do nome e do próprio material anti gos. Por isso o livro traz marcas evidentes daquela época cien tífica de transformação e crise em que tal terminologia estava sendo criada*. Neste caso, como em qualquer curso sistemático, o autor teve de expor constantemente concepções alheias e traduzir idéias alheias para a sua linguagem. Teve de expor de passagem suas próprias considerações e unificá-las com considerações alheias. Apesar de tudo, supõe que se deva considerar este livro como uma nova experiência de construção de um curso de psi- * Neste sentido o autor pôde basear-se em I. P. Pávlov, que considera: “Os dados objetivos obtidos [...] a ciência os transfere, mais dia menos dia, para o nosso mundo subjetivo e assim elucida, de forma imediata e clara, a nossa natureza tão misteriosa, esclarece o mecanismo e o sentido vital daquilo que mais ocupa o homem: a sua consciência, as angústias da sua consciência. Por isso permiti na exposição uma espécie de contradição nas palavras [...] Empreguei o termo ‘psí quico’ mas lancei apenas investigações objetivas, deixando de lado todo o subje tivo. Os fenômenos vitais, denominados psíquicos, embora observados objetiva mente nos animais, mesmo assim se distinguem, ainda que seja pelo grau de complexidade, dos fenômenos puramente fisiológicos. Que importância há em como denominá-los: psíquicos ou complexamente nervosos à diferença dos sim ples fenômenos fisiológicos, uma vez que mal se tomou consciência e se reco nheceu que o naturalista só pode abordá-los no aspecto objetivo, sem qualquer preocupação com a essência do fenômeno” (1924, pp. 30-1). XIV Psicologia pedagógica cologia pedagógica, como tentativa de criação de um manual de novo tipo. A própria escolha do sistema e da distribuição do material constituiu uma experiência nova e ainda não realizada de gran de síntese de diversos dados e fatos científicos. No aspecto atual o livro não repete nenhum dos manuais do mesmo objeto de que o autor tenha conhecimento. Por isso o autor assume como sua cada idéia deste livro. O autor deixa que a crítica competente julgue até que pon to ele conseguiu essa síntese e a convida a considerar o livro um manual provisório a ser substituído por outro mais aperfei çoado no mais breve espaço de tempo possível. Além de todos os erros pessoais do autor, a imperfeição dessa primeira experiência pareceu inevitável quando ele teve de construí-la em um campo absolutamente despreparado e não desbravado. O autor achava que o único objetivo do curso era pôr em prática, de modo rigoroso e coerente, o ponto de vista cen tral do processo educacional como processo de reconstrução social das formas biológicas de comportamento. Por isso sua intenção principal era criar este curso de psicologia pedagógi ca em base biossocial. O autor acharia que seu trabalho teria atingido a meta se, a despeito de todas as imperfeições do primeiro passo, este fos se dado na direção certa, se o livro viesse a ser o primeiro passo no sentido da criação de um sistema científico de psicologia pedagógica objetivo e preciso.