COLEÇÃO PSICOLOGIA, LAICIDADE E AS RELAÇÕES COM A RELIGIÃO E A ESPIRITUALIDADE Volume 3 Psicologia, Espiritualidade e Epistemologias Não Hegemônicas São Paulo · 2016 Conselho Regional de Psicologia SP - CRP 06 COLEÇÃO PSICOLOGIA, LAICIDADE E AS RELAÇÕES COM A RELIGIÃO E A ESPIRITUALIDADE XIV Plenário (2013-2016) Diretoria Conselheiros Alacir Villa Valle Cruces Presidente Aristeu Bertelli da Silva Elisa Zaneratto Rosa Bruno Simões Gonçalves Camila Teodoro Godinho Vice-presidente Dario Henrique Teófilo Schezzi Adriana Eiko Matsumoto Gabriela Gramkow Graça Maria de Carvalho Camara Secretário Gustavo de Lima Bernardes Sales José Agnaldo Gomes Ilana Mountian Janaína Leslão Garcia Tesoureiro Joari Aparecido Soares de Carvalho Guilherme Luz Fenerich Livia Gonsalves Toledo Luis Fernando de Oliveira Saraiva Luiz Eduardo Valiengo Berni Maria das Graças Mazarin de Araujo Maria Ermínia Ciliberti Marília Capponi Mirnamar Pinto da Fonseca Pagliuso Moacyr Miniussi Bertolino Neto Regiane Aparecida Piva Sandra Elena Spósito Sergio Augusto Garcia Junior Silvio Yasui CoorDenação Geral e orGanização revisão Final Luiz Eduardo Valiengo Berni Andrea Vidal Conselho eDitorial Projeto GráFiCo e eDitoração Ênio Brito Pinto Paulo Mota | CRP SP Fatima Regina Machado Luiz Eduardo Valiengo Berni Ronilda Iyakemi Ribeiro Wellington Zangari Ficha Catalográfica ___________________________________________________________________________ C755c Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. Psicologia, Espiritualidade e Epistemologias Não-Hegemônicas – Volume 4 3 / Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. - São Paulo: CRP - SP, 2016. 304 p.; 15 x 21 cm. (Coleção: Psicologia, Laicidade e as Relações com a Religião e a Espiritualidade) 1. Psicologia – Laicidade. 2. Espiritualidade. 3. Crenças Religiosas. 4. Epistemologia. I. Título CDD: 158.2 __________________________________________________________________________ Ficha catalográfica elaborada por Marcos Antonio de Toledo – CRB-8/8396. COLEÇÃO PSICOLOGIA, LAICIDADE E AS RELAÇÕES COM A RELIGIÃO E A ESPIRITUALIDADE sumário VOLUME 3 - PsicOLOgia, EsPiritUaLidadE E EPistEMOLOgias NãO HEgEMôNicas APRESEnTAÇÃO 07 InTRODUÇÃO 09 Psicologia, espiritualidade e epistemologias não hegemônicas 17 Nílson José machado O outro polo da experiência humana - 31 contribuições do pensamento chinês à Psicologia Luiz Antonio Neto mariotto Sentido, ética, cada um(a) e um caminho para chegar lá 37 Joari Aparecido soares de Carvalho Os diferentes usos do termo espiritualidade: 47 na busca por uma definição instrumental para a Psicologia Luiz Eduardo V. Berni Espiritualidade na Psicologia de acordo com a Logoterapia: 57 a dimensão noética e a busca de sentido Veridiana da silva Prado A experiência da espiritualidade como natureza da subjetividade 63 sidney Carlos rocha da silva, Aurino Lima Ferreira, silas Carlos rocha silva Espiritualidade, religiosidade, ciência – hoje 69 marina Boccalandro Espiritualidade laica: uma visão segundo o Humanismo 75 mariana marques Arantes, Aurino Lima Ferreira, Eugênia Paula Benício Cordeiro A espiritualidade como acontecimento transpessoal 81 Aurino Lima Ferreira, sidney Carlos rocha da silva Visão transpessoal da relação entre religião e espiritualidade 89 manoel José Pereira simão O eclipse da espiritualidade na formação d@ psicólog@ 95 Aurino Lima Ferreira, sidney Carlos rocha silva A espiritualidade na perspectiva transpessoal: 103 uma noção de múltiplos usos e diferentes conceitos Aurino Lima Ferreira, sidney Carlos rocha da silva Repensando paradigmas na produção de conhecimentos 115 em Psicologia: possibilidades metodológicas e éticas Luiz Eduardo V. Berni Repensando os paradigmas científicos na 121 Psicologia e suas relações com as práticas 5 Fábio Eduardo da silva, Thereza C. de Arruda s. D’Espíndula, Celia regina C. sampaio, Tatiany Porto, Ana inês souza A epistemologia de Rudolf Steiner integrando o espaço 127 psicológico: diálogos possíveis com a Psicologia Cultural Paula Franciulli Psicoterapia, identidade e neoesoterismo: configurações contemporâneas 135 Everton de oliveira maraldi, Leonardo Breno martins Pode (e deve) a educação científica diminuir 141 a crença nos fenômenos paranormais? Everton de oliveira maraldi, Fatima regina machado, Wellington Zangari 147 É preciso uma “nova” ciência? Usos e abusos do discurso da mudança de paradigma Everton de oliveira maraldi, Fatima regina machado, Wellington Zangari 153 O uso da hipnose por profissionais da Psicologia: a memória pode ser aumentada pela hipnose? Wellington Zangari, Guilherme rodrigues raggi Pereira 157 Um diálogo entre Psicologia, religião e espiritualidade Luciana Fernandes marques 163 Diálogos possíveis entre religião, espiritualidade, Psicologia e sociedade Filipe Barbosa margarido, Thiago Gomes marques 169 Processo de conscientização pela vivência de dor crônica: uma abordagem fenomenológica à luz da Psicologia Transpessoal Claudia sedano Fait 175 Os sistemas psicoterapêuticos transpessoais: a respiração holotrópica de Stanislav Grof e Christina Grof Aurino Lima Ferreira, sidney Carlos rocha da silva, Leonardo Xavier de Lima e silva 185 A publicação sobre Psicologia Transpessoal em periódicos on-line no Brasil: uma revisão integrativa Cléria maria Lobo Bittar, manoel José Pereira simão 191 Experiências espirituais positivas e a abordagem transpessoal: implicações terapêuticas maria Cristina m. de Barros, Vera saldanha, manoel José Pereira simão 197 Ao encontro do eu: um estudo da experiência psicoterapêutica na abordagem integrativa transpessoal Claudia sedano Fait, iara Beatriz Fontoura, Arlete silva Acciari 203 O conceito de emergência espiritual e categoria de problemas religiosos e espirituais do DSM: uma análise crítica Everton de oliveira maraldi, Leonardo Breno martins 209 Espiritualidade como dimensão constitutiva do humano na perspectiva wilberiana Eugênia Benício Cordeiro, mariana marques Arantes, Aurino Lima Ferreira 215 A a/cientificidade da Psicologia Transpessoal: alternativa, emergente ou resistente? Aurino Lima Ferreira, sidney Carlos rocha da silva, ronilda iyakemi ribeiro 225 Psicossíntese: a Quinta Força em Psicologia e o diálogo com a espiritualidade maria Beatriz da silva mattos 231 Estágio em Psicologia Social Comunitária na abordagem transpessoal Aurino Lima Ferreira, sidney Carlos rocha da silva, Tatiana Lima Brasil 239 Psicologia Transpessoal: uma abordagem não hegemônica Aurino Lima Ferreira, sidney Carlos rocha da silva, ronilda iyakemi ribeiro 249 Psicologia Transpessoal: transcendência na imanência Aurino Lima Ferreira, sidney Carlos rocha da silva, ronilda iyakemi ribeiro 6 257 O modelo da Cartografia da Consciência de Stanislav Grof Lígia splendore, sean Blackwell 265 Considerações sobre o transcender na contemporaneidade: as barreiras da experiência em Larrosa Valéria Nogueira de oliveira, selena mesquita de oliveira Teixeira, José Clerton de oliveira martins 271 A Psicologia Transpessoal no campo acadêmico brasileiro Aurino Lima Ferreira, sidney Carlos rocha da silva, ronilda iyakemi ribeiro 281 A Psicologia Transpessoal e o Sistema Conselhos de Psicologia: entre o des/conhecimento e o reconhecimento Aurino Lima Ferreira, sidney Carlos rocha da silva, ronilda iyakemi ribeiro 291 REFERÊnCIAS PRODUZIDAS nAS DISCUSSÕES GRUPAIS 299 CRéDITOS APrEsENTAção É com muita satisfação que o XIV Plenário do CRP SP apresenta esta publicação. Satisfação porque reflete o compromisso da gestão com as deliberações da categoria de psicólogas(os). Ao longo do processo do VIII Congresso Nacional da Psicologia, no ano de 2013, as(os) psicólogas(os) afirmaram a necessidade do Sistema Conselhos avançar na criação de espaços de diálogo para discussão da interface da Psicologia com a religião, a espiritualidade, as epistemologias não-hegemônicas e os saberes tradicionais. Naquela ocasião, a categoria afirmava a necessidade da Psicologia defender, na sua relação com o Estado, a laicidade para a construção e definição de políticas públicas de garantia de direitos. Reconhecia a necessidade de qualificar, em parceria com a Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP), a transversalidade deste princípio no âmbito da formação em Psicologia. Apontava que a Psicologia deveria garantir que seus saberes e práticas profissionais reconhecessem a religiosidade e a espiritualidade como dimensões constitutivas das experiências humanas, em suas mais diversas expressões, respeitando-as diante do multiculturalismo que resulta da história brasileira. Os Congressos deliberaram que as ações de orientação e fiscalização do exercício profissional, por parte dos Conselhos de Psicologia, deveriam tomar como um dos marcadores do caráter ético da atuação a laicidade da profissão, como compromisso com a garantia dos Direitos Humanos. ÃO Ç Para tanto, seria preciso criar espaços de diálogo na interface da TA n E Psicologia com a religião, a espiritualidade e os saberes tradicionais, marcando ES R P um posicionamento crítico em relação às perspectivas fundamentalistas. A Reafirmar a laicidade da ciência e das práticas em Psicologia significaria vincular esta temática à questão ética e técnica profissional, reconhecendo os 7 diferentes campos de saberes possíveis à fundamentação de conhecimentos em Psicologia, tendo em vista seu desenvolvimento histórico e a possibilidade de ampliação de referências para além daquelas que, desde o projeto fundador da Ciência Moderna, alicerçam, a partir de uma única experiência humana, dada sob condições específicas, determinadas concepções de homem e realidade. Tomamos como princípio a necessidade de valorização das diferentes culturas e dos saberes que delas resultam e assumimos que uma Psicologia comprometida com o enfrentamento das desigualdades precisa desnaturalizar diferenças e reconhecer as diversidades constitutivas das produções culturais humanas, dentre elas o conhecimento sobre a própria humanidade e a subjetividade. Neste sentido, é preciso avançar no diálogo com outras epistemologias e saberes produzidos ao longo do processo histórico. Analisar, de forma crítica, o campo a partir do qual se alicerça a ciência psicológica, desnaturalizando-a, e assumindo o compromisso para, de forma séria e rigorosa, avançarmos na construção da própria Psicologia. Uma Psicologia que se descoloniza ao assumir a possibilidade e a necessidade deste movimento de transformação na realidade latino-americana. Diante de tantos processos históricos de produção de humanidade, aos quais a Psicologia precisa estar atenta e dialogar caso se pretenda comprometida com essas distintas populações, devemos reconhecer saberes fundados em outros paradigmas que não apenas as epistemologias reconhecidas pela ciência ocidental moderna. Devemos, então, ter um olhar crítico e atento ao caráter colonizado das referências da Psicologia e o compromisso com sua ampliação. DE A satisfação que temos de apresentar esta obra deriva não apenas do A D ALI fato de termos assumido como da gestão o projeto apontado pela categoria. U RIT Deriva também do reconhecimento de que a possibilidade dessa construção SPI dependia da manutenção do método democrático: é preciso construir em E A E conjunto, em diálogo com diferentes profissionais, entidades, pesquisadores, O GIÃ estudantes, professores, usuários dos serviços, movimentos sociais que têm RELI se debruçado sobre essa questão. A gestão do CRP SP sabia que não possuía A M todas as respostas, mas possuía a condição de oferecer o espaço coletivo O C S para construí-las. E Õ AÇ A obra deriva dos encontros possibilitados entre diferentes saberes, EL R angústias e utopias que se unem no compromisso de uma Psicologia que tem S A E como horizonte ético-político a igualdade e a democracia. Esperamos que essa E D A produção, que se alimentou na esfera do Sistema Conselhos de Psicologia D CI AI de pontes e diálogos com outros Conselhos do Brasil, possa contribuir para GIA, L que, em âmbito nacional, a Psicologia avance no compromisso com o estado O OL laico, no reconhecimento e respeito às diversas expressões e experiências de C PSI religiosidade, e na produção de referências científicas, técnicas e profissionais O ÇÃ que representem um campo de saber reconhecido como brasileiro e latino- E COL americano. Assim se constrói uma Psicologia orientada para o povo brasileiro, que é antes de tudo latino-americano. 8 Elisa Zaneratto rosa Conselheira Presidente XiV Plenário do CrP sP iNTroDução Como se sabe, toda ciência é uma construção lógico-epistêmica centrada numa perspectiva paradigmática. Para Edgar Morin, paradigmas são “conceitos- mestres que orientam a ação direcionando pessoas e sociedades de forma inconsciente”; já para Thomas Khun, paradigma é “aquilo que os membros de uma comunidade científica partilham; inversamente, uma comunidade científica consiste em pessoas que partilham um paradigma”. Nessas perspectivas, o campo das verdades aceitas na Psicologia poderia ser compreendido como o campo do acordo intersubjetivo, ora consciente – quando acordado entre os membros dessa comunidade –, ora inconsciente – quando partilhado por essa comunidade em suas práticas. Para entender a dinâmica desse campo em permanente construção, é preciso compreender inicialmente as forças que o compõem. São quatro as forças que tencionam essa construção. Primeiramente, a força formativa, composta pelas Instituições de Ensino Superior (IES). Esse é um campo descentralizado e concentrado na mão da iniciativa privada (70%), em cursos noturnos, a maioria deles em faculdades isoladas em pequenas cidades de interior. Apenas 15% das IES oferecem cursos de formação em período integral. Depois, a força da profissão, concentrada no Sistema Conselhos, formado pelo Conselho Federal e pelos Conselhos Regionais de Psicologia. O funcionamento sistêmico da Psicologia no Brasil foi acordado nos anos 1990, quando foram instituídos o Congresso Nacional da Psicologia (CNP), em 1994, e a Assembleia das Políticas Administrativas e Financeiras (APAF), em 1996. A terceira força é a força dos sindicatos, que se foca nas questões trabalhistas; e a quarta força é a força da associação profissional livre, que se foca no interesse temático dos profissionais. Do ponto de vista da produção de subjetividades, a Psicologia, como profissão, guarda tenso relacionamento com alguns segmentos da religião. Essa situação reforça os clássicos argumentos de que a religião seja um elemento O exclusivamente de dominação – o “ópio do povo”, como afirmou Marx, e/ou ÇÃ U reflexo de imaturidade psíquica, como afirmou Freud. OD R T A tensão se deve, todavia, ao choque provocado pelo compromisso n I social que a Psicologia assumiu para com a sociedade brasileira, que, em alusão a Weber, se daria numa “construção ética de responsabilidade”, com lastros na 9 laicidade do Estado, objetivando a libertação de subjetividades, que se opõe aos princípios clássicos da religião, que, na perspectiva de Gertzé, é um “sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, permanentes e duradouras disposições e motivações nos seres humanos”. Nesse sentido, trazem em seu bojo um “posicionamento ético centrado na convicção”, com lastros no fundamento da religião, moldando as subjetividades às suas próprias doutrinas. Esse tensionamento está particularmente presente entre a Psicologia e os segmentos religiosos fundamentalistas, cuja proposição política – não religiosa – se concretiza na elaboração de projetos de lei exclusivamente restritivos
Description: