UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA PRISCILA FREHSE PEREIRA ROBERT Da transferência negativa à destrutividade: percursos da clínica psicanalítica SÃO PAULO 2015 PRISCILA FREHSE PEREIRA ROBERT Da transferência negativa à destrutividade: percursos da clínica psicanalítica (Versão Corrigida) Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutora em Psicologia. Área de concentração: Psicologia Clínica Orientador: Prof. Dr. Daniel Kupermann São Paulo 2015 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Catalogação na publicação Biblioteca Dante Moreira Leite Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Robert, Priscila Frehse Pereira. Da transferência negativa à destrutividade: percursos da clínica psicanalítica. / Priscila Frehse Pereira Robert; orientador Daniel Kupermann. -- São Paulo, 2015. 201f. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Clínica) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. 1. Psicanálise 2. Clínica psicanalítica 3. Transferência negativa 4. Destrutividade 5. Resistência I. Título. RC504 Nome: Robert, Priscila Frehse Pereira Título: Da transferência negativa à destrutividade: percursos da clínica psicanalítica Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Psicologia Aprovado em: Banca Examinadora Prof. Dr. Joel Birman Instituição: UERJ, UFRJ e Paris 7________ Assinatura:_________________ Prof. Dr. Gilberto Safra Instituição: IP-USP____________________ Assinatura:_________________ Profa. Dra. Nadja Pinheiro Instituição: UFPR_____________________ Assinatura:_________________ Prof. Dr. Fabio Thá_______________________________________________ Instituição:___________________________ Assinatura:_________________ Prof. Dr. Daniel Kupermann _______________________________________ Instituição: IP-USP____________________ Assinatura:_________________ Para Marcio, companheiro de todas as horas, por sua força e doçura, por sua paixão e aconchego, por sua arte de reinventar o amor e abraçar os sonhos. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Daniel Kupermann, pela aposta e confiança, pelas indicações precisas, pela liberdade e incentivo ao pensamento crítico e por sua leitura viva da psicanálise. Ao Prof. Dr. Luiz Eduardo Prado de Oliveira, pelas orientações, pela generosidade e ajuda na realização do Doutorado Sanduíche. À Profa. Dra. Nadja Pinheiro, pelas contribuições na Banca de Qualificação, pela leitura atenta e crítica do meu texto, por ter me apresentado com tanto entusiasmo o trabalho de Winnicott, pelo incentivo para o ingresso no doutorado. Ao Prof. Dr. Fábio Thá, por sua generosidade e autenticidade, por sua crítica ao fechamento dogmático da psicanálise, por seu entusiasmo na leitura dos textos freudianos e pela amizade. Aos psicanalistas que fazem ou fizeram parte da minha formação: Rosane Sade Miguel, por acompanhar meus primeiros passos na clínica, Ronaldo Barra, com quem aprendi o respeito e ganhei gosto pela docência, Marion Minerbo, por sua delicadeza e sensibilidade clínica. Aos funcionários do Instituto de Psicologia, especialmente, à Claudia Rocha, pelo conhecimento técnico, pela simpatia e pela disposição a ajudar. Aos funcionários da Biblioteca Dante Moreira Leite, pela competência, simpatia, disposição e prontidão para auxiliar no trabalho de pesquisa. A todos os colegas do Laboratório PsiA, mas especialmente, Tatiana Cano, Daniel Vitorello, Lívia Santiago, Lucas Bulamah e Nadeje Barbosa pelo apoio, pelos socorros, pelas infindáveis discussões e bate-papos e sobretudo pela parceria e amizade construída ao longo desses anos. Sem o apoio de vocês, esse percurso teria sido muito mais árduo e muito menos divertido. À Manoel Madeira, pela ajuda e acolhimento em Paris, pela produção conjunta e pela amizade. E aos queridos amigos Laura Penna Alves, Júlio Canhada e Carolina Garcia que tornaram o período de Doutorado Sanduíche mais especial. Ao querido amigo Eduardo Vicenzi, pelo percurso que construímos desde os primeiros anos de faculdade, pelas infindáveis discussões clínicas e teóricas, por seu entusiasmo com a psicanálise, pela parceria e amizade; À Lígia Durski, Gustavo Vieira, Jean Diogo e Renan Brezolin, pelas discussões teóricas, pela ajuda e pela amizade; e aos colegas dos Encontros Clínicos, pelas trocas “psicanalíticas”. À Karlla Wiezzer, Luís Fernando Farias, Ricardo Polucha, Luciano Lacerda, Sergio Madeira e Patricia Lages pela amizade firme, pelo apoio, pelas traduções e leituras, e pelo compartilhamento de ideias. À Larissa e Rodrigo, meus queridos irmãos, pela amizade, pelo apoio incondicional, pelo companheirismo, pela generosidade, e pela alegria que trazem à minha vida, e a meus cunhados Sabrina e Gabriel, pela amizade, pela parceria, pelo apoio. A meus pais, Heloísa e Tadeu, pelo apoio incondicional, pelo amor, pelo incentivo e por compreenderem minhas ausências. À minha querida vó Odilma, por ter me ensinado a poesia da vida e pelo amor. À Marcio Robert, pela parceria ao longo desses anos, pelo companheirismo, pelo amor, pela amizade, pela paciência, pelas inúmeras conversas psicanalíticas, pelas inúmeras leituras e revisões de texto. À Capes, pela concessão da bolsa de doutorado e doutorado sanduíche, pelo apoio financeiro para a realização desta pesquisa. Resistir como quem deseja Meu versejar seja Alice Ruiz / ItamarAssumpção Todo principiante em psicanálise provavelmente se sente alarmado, de início, pelas dificuldades que lhe estão reservadas quando vier a interpretar as associações do paciente e lidar com a reprodução do reprimido. Quando chega a ocasião, contudo, logo aprende a encarar estas dificuldades como insignificantes e, ao invés, fica convencido de que as únicas dificuldades realmente sérias que tem de enfrentar residem no manejo da transferência. Sigmund Freud RESUMO ROBERT, P.F.P. Da transferência negativa à destrutividade: percursos da clínica psicanalítica. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. A presente tese consiste em percurso pelas concepções de manejo das transferências negativas nas produções de Freud, Ferenczi e Winnicott, explicitando os diferentes sentidos e enquadres da resistência e da destrutividade na teoria da clínica de cada um desses autores, e também ensaiando pontos de contato entre eles. Como fio condutor, ou como visada ética, a valorização de uma dimensão de positividade da destruição na clínica psicanalítica na medida em que, promotora de diferenças e limites, está implicada nos caminhos das transferências em análise. Ao longo do percurso, o estudo de figuras de submissão na clínica – masoquismo em Freud, identificação ao agressor em Ferenczi e falso self em Winnicott – nos permite mapear outras vias para o manejo da agressividade, especialmente em situações nas quais a resistência e ódio não aparecem no trabalho analítico ou, se aparecem, não são sentidos como próprios. Em comum entre Freud, Ferenczi e Winnicott, a crítica ao excesso interpretativo e às análises que ocorrem em nível estritamente intelectual. Em Freud, além da interpretação, princípio de abstinência, associação livre/atenção flutuante e luta para superação das resistências, forjados ao longo da primeira tópica, demonstramos que as noções de elaboração, construção, bem como a menção à lenta demolição do superego hostil, permitem o esboço de outras possibilidades de manejo que se desdobram nas teorias de Ferenczi e Winnicott. Em Ferenczi, abordamos o percurso clínico que culmina na elasticidade da técnica analítica e em sua discussão sobre a implicação e limites do analista no manejo do ódio traumático e clivado que reincide na clínica. Em Winnicott, o holding, a regressão à dependência, o brincar, o uso das falhas do analista e a destruição/sobrevivência do analista permitem abordar as diferentes facetas de sua teoria da agressividade no desenvolvimento emocional e diferentes posições do analista no manejo da transferência. Como recurso para explicitar os limites e possibilidades de manejo, a construção do texto é perpassada por extratos de casos clínicos. Em Freud, os casos Dora, Homem dos Ratos, Homem dos Lobos, Jovem Homossexual e AB são abordados; em Ferenczi, algumas considerações sobre a análise de Elisabeth Severn e S.I. são evocados; em Winnicott, são analisados os casos B. e Margaret Little. Por fim, nosso percurso permite afirmar que a possibilidade da destrutividade exercer sua função diferencial depende da disponibilidade do analista de se oferecer como suporte (o que inclui também oposição, resistência e limite) e de se permitir ser destruído e sobreviver à destruição ao longo do trabalho analítico. Palavras-chave: Psicanálise. Clínica Psicanalítica. Transferência negativa. Destrutividade. Resistência. ABSTRACT ROBERT, P.F.P. From negative transference to destructiveness: paths of psychoanalytical treatment. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. The present thesis consists of path through the management of negative transfers in Freud's, Ferenczi's and Winnicott's productions by making explicit different framing and meaning of resistance and destructiveness in treatment's theory of each of these authors, but also essaying points of contact among them. As a guidewire, or as ethic bias, the valorization of a dimension of positiveness of the destruction in psychoanalytic treatment insofar as, promoter of differences and limits, it is implied in the ways of the transfers in analysis. Along the course, the study of figures of submission in treatment – masochism in Freud, identification with the aggressor in Ferenczi and false self in Winnicott – allows one to map other ways for the management of aggressiveness, especially in situations in which resistance and hate do not appear in analytic work or, if they do, they are not felt as their own. Common to Freud, Ferenczi and Winnicott, the criticism to the interpretative excess and to analysis that occur in the strictly intellectual level. In Freud, besides interpretation, principle of abstinence, free association / floating attention and fight to overcome the resistances, forged along the first topic, we demonstrate that the notions of working through, construction, as well as the mention to the slow demolition of the hostile super-ego, permit outline other possibilities of management that unfold in Ferenczi's and Winnicott's theories. In Ferenczi, we approach the clinical course that culminates in the elasticity of the analytical technique and in its discussion about the implications and limits of the analyst in cleaved and traumatic hate management that relapses in treatment. In Winnicott, the holding, the regression to dependence, the play, the use of the analyst's fails and destruction/survival permit to approach the different facets of his theory of aggressiveness in emotional development and different positions of the analyst in transfer management. As a resource to make explicit the limits and possibilities of management, the construction of the text is permeated by extracts of clinical cases. In Freud, Dora, Rat Man, Wolf Man, Young Female Homosexual, and AB cases are addressed; in Ferenczi, some considerations about the analysis of Elisabeth Severn and S.I. are evoked; in Winnicott, B. and Margaret Little cases are analyzed. In conclusion, our course permits to affirm that the possibility of destructiveness to exert its differential function depends on the availability of the analyst to offer as a holding himself (which includes also opposition, resistance and limit) and to permit himself to be destroyed and himself to be destroyed and to survive to the destruction along the analytical work. Keywords: Psychoanalysis. Psychoanalytic treatment. Negative Transference. Destructiveness. Resistance.
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