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Princípios de Economia PDF

368 Pages·2001·1.42 MB·Portuguese
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O E S CONOMISTAS A M LFRED ARSHALL PRINCÍPIOS DE ECONOMIA TRATADO INTRODUTÓRIO Natura Non Facit Saltum VOLUME I Introdução de Ottolmy Strauch Tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch Fundador VICTOR CIVITA (1907 - 1990) Editora Nova Cultural Ltda. Copyright © desta edição 1996, Círculo do Livro Ltda. Rua Paes Leme, 524 - 10º andar CEP 05424-010 - São Paulo - SP Título original: Principles of Economics: An Introductory Volume Direitos exclusivos sobre a Apresentação de autoria de Ottolmy Strauch, Editora Nova Cultural Ltda. Impressão e acabamento: DONNELLEY COCHRANE GRÁFICA E EDITORA BRASIL LTDA. DIVISÃO CÍRCULO - FONE (55 11) 4191-4633 ISBN 85-351-0913-7 I NTRODUÇÃO (Ensaio biobibliográfico sobre Alfred Marshall) “A verdade biográfica é indevassável” (Freud a Arnold Zweig) Marshall pertence, legitimamente, à linhagem dos grandes mes- tres fundadores da Economia Política Clássica inglesa — Adam Smith, Ricardo, J. S. Mill —, corrente de pensamento das mais fecundas que, brotando da Revolução Industrial, expandiu-se no século XIX e es- praiou-se até nossos dias por ramificações e canais doutrinários os mais diversos. Essa corrente teve três épocas distintas: a Clássica pro- priamente dita, a Ricardiana e a Marshalliana ou Ricardiana-Refor- mada.1 Os Princípios de Economia de Marshall constituem, juntamente com A Riqueza das Nações de Adam Smith, e os Princípios de Ricardo, um dos grandes divisores de águas no desenvolvimento das idéias eco- nômicas,2 representando a transição da antiga para a moderna Eco- nomia. Na história do pensamento econômico, Marshall tem um lugar proeminente, sendo considerado o chefe da chamada “escola neoclássica de Cambridge”; título, aliás, a que ele jamais se arrogou, embora fosse consciente de sua posição hegemônica no mundo anglo-saxônico, o que explica muito do que ele fez e do que se omitiu. Segundo a conhecida “Árvore Genealógica da Economia” traçada por Samuelson,3 Adam Smith (1723-1790), gênio tutelar da escola clás- sica, gerou David Ricardo (1772-1883), o “pai de todos”, que gerou duas 1 SHOVE, G. F. “The Place of Marshall’s PRINCIPLES in the Development of Economic Theory”. In: Economic Thought — An Historical Anthology. GHERITY, James A. (ed.). New York, Random House, 1965. p. 453 (publicado originalmente no Economic Journal. LII, 1942. p. 284-329). 2 SHOVE. Loc. cit. 3 Introdução à Análise Econômica. 8ª ed., Rio de Janeiro, Agir Editora, 1975. 5 OS ECONOMISTAS correntes opostas: uma, ortodoxa, personificada em John Stuart Mill (1806-1876) e nos neoclássicos Léon Walras (1834-1910), William Stan- ley Jevons (1835-1882), e Alfred Marshall (1842-1924), a qual gerou John Maynard Keynes (1883-1946), de quem provieram, por sua vez, os “neo” e os “pós-keynesianos” dos nossos dias; outra, heterodoxa, representada por Karl Marx (1818-1883) e seus descendentes “socia- listas científicos” matizados de hoje. Esses dois ramos díspares, e seus rebentos de diferentes graus de legitimidade ou bastardia em relação aos seus respectivos troncos histórico-doutrinários, constituem a teoria e a prática da Economia contemporânea. A contribuição de Marshall ao progresso da ciência econômica é, sem dúvida, de importância histórica. Herdeiro da rica herança inte- lectual dos economistas e pensadores dos séculos XVIII e XIX, tanto da Grã-Bretanha quanto do resto do continente europeu, exímio ma- temático, versado em Ciências Naturais, Filosofia, História e clássicos da Antiguidade greco-romana, Alfred Marshall sistematizou e quanti- ficou o material de Adam Smith e Ricardo, complementando-o e tor- nando seus princípios e conceitos “operacionais”, ou seja, na linguagem tecnológica de hoje, “reciclou-os”, tornando-os “computáveis”. Inovando ou simplesmente sistematizando em matéria doutrinária e de metodo- logia da análise econômica, procurou despojar a Economia Política or- todoxa de seu pretenso dogmatismo, universalidade e intemporalidade, submetendo seus postulados a um rigoroso tratamento científico, es- pecialmente diagramático e matemático, sendo considerado, a justo título, um dos precursores, com Cournot e Walras, do que hoje cha- mamos de Econometria. Marshall contribuiu, também, e sobretudo, para reabilitar e humanizar a Economia Política que, no curso da Revo- lução Industrial, criara um mítico homo economicus, lobo de seu seme- lhante, movido exclusivamente pelo interesse pessoal na luta pela sobre- vivência do mais forte, num “darwinismo social” impiedoso e incessante. Para Marshall, a Economia com suas análises e leis não era um corpo de dogmas imutáveis e universais, e de verdade concreta, mas “uma máquina para a descoberta da verdade concreta”. Keynes, seu discípulo dileto em Cambridge e seu mais eminente biógrafo, refere-se à “sua descoberta de um completo sistema copernicano no qual todos os elementos do universo econômico são mantidos em seus lugares por mútuo contrapeso e interação”.4 O próprio Marshall, aliás, já exprimia essa concepção das posições mutuamente dependentes dos fatores eco- nômicos, mesmo antes da publicação dos Princípios, comparando o uni- 4 "Alfred Marshall, 1842-1924". In: The Economic Journal. XXXIV, nº 135, setembro de 1924, p. 350. Republicado em Memorials of Alfred Marshall, ed. por A. C. Pigou, 1925, e nos Essay in Biography, 1933, do próprio Keynes. Nesse estudo, a mais completa biografia de Marshall, considerado por Schumpeter “uma das notáveis obras-primas da literatura bio- gráfica”, baseia-se, em grande parte, o presente ensaio biobibliográfico. 6 MARSHALL verso econômico ao sistema solar. “Assim como o movimento de todo corpo no sistema solar afeta e é afetado pelo movimento de todo outro, assim é com os elementos do problema da Economia Política”.5 Ainda na opinião de Keynes, “Marshall foi, como cientista, dentro de seu campo próprio, o maior do mundo por cem anos”.6 Summa Economica e compêndio básico para gerações sucessivas de estudantes, professores e economistas profissionais, seus Princípios seriam, segundo alguns, a única obra a conter toda a ciência econômica de seu tempo. “Está tudo em Marshall” — era voz corrente nos círculos acadêmicos dos países de língua inglesa e de grande parte da Europa continental, onde sua influência predominou, inquestionável, até recentemente, ten- do atingido seu zênite no primeiro quartel deste século, a chamada “época marshalliana” por excelência. Sua sombra gigantesca projeta-se até hoje sobre nós, reconheceu Schumpeter,7 um dos seus mais lúcidos e severos críticos. E essa sombra só tende a crescer na medida em que, na crista da onda neoconserva- dora, a ortodoxia política refluir à ortodoxia econômica. Ainda que sob essa inspiração a releitura dos clássicos da Economia Política, em busca das fontes originais do fundamentalismo econômico, será salutar e, para alguns, surpreendente. Ver-se-á, por exemplo, que Adam Smith tinha opiniões heterodoxas como a dos maus efeitos dos altos lucros sobre a elevação dos preços, que o lucro é um dedução do produto do trabalho, que o trabalhador é o único produtor de valor e o trabalho, portanto, é a medida real do valor de troca de todas as mercadorias. Ricardo, por sua vez, fazia do trabalho o estalão e a fonte criadora de riqueza, além de haver apontado, pela primeira vez, para a expropriação da “mais-valia” da mão-de-obra. Stuart Mill foi mais além, pois era partidário da intervenção do Estado na economia para coibir os abusos do laissez-faire no mercado e acabou proclamando-se socialista. Quanto ao nosso Marshall, sua obra, sob o rigor da densa e sistemática análise econômica, está impregnada da questão social, interrogando-se cons- tantemente sobre se realmente haveria necessidade de existirem pobres para que houvessem ricos, considerando a suprema finalidade da eco- nomia Política elucidar essa questão crucial. E até mesmo Marx, no extremo oposto do espectro doutrinário, relidos seus próprios escritos em confronto com a vulgata de seus supostos intérpretes, adeptos ou adversários, cuja interpretação, como a dos teólogos, passa por dogma exclusivo, acaba-se concordando com o próprio em que, afinal, “ele não era marxista...” 5 Artigo de Marshall de crítica à Political Economy de Jevons, publicado em The Academy em 1872, um dos dois únicos artigos de crítica que Marshall jamais publicou; o outro versa sobre Mathematical Psychics de Edgeworth em 1881, apud Keynes, ibid. 6 Loc. cit. p. 321. 7 "Alfred Marshall’s Principles: A Semi-Centennial Appraisal". In: Ten Great Economists — from Marx to Keynes. Nova York, Oxford University Press, 1951. p. 91. 7 OS ECONOMISTAS Um “eminente vitoriano” A biografia de Marshall, isto é, a cronologia de sua vida, nada mais é que a moldura de sua obra como, via de regra, só acontece com os grandes pensadores e artistas, com as raras e históricas exceções de todos conhecidas. Não há em sua vida acontecimentos que tenham significado próprio, senão em função de sua obra. De resto, em si “a verdade biográfica é indevassável” (como escreveu Freud a Arnold Zweig). Sua vida transcorreu, mansa e tranqüila, ao longo de duas vertentes — pacato professor e economista inovador —, a exemplo de Adam Smith; vertentes, aliás, convergentes, já que ele tinha por hábito comunicar a seus colegas e discípulos, muito antes de publicá-las, suas criações no campo da economia, e, por outro lado, como economista sempre teve a preocupação didática de explicar e ensinar. Alfred Marshall nasceu em 26 de julho de 1842 em Clapham — um bairro então aprazível de Londres — filho de William Marshall e Rebeca Oliver, de classe média. Seus ascendentes pelo lado paterno eram principalmente clérigos, alguns dos quais tiveram certa notorie- dade, tanto pela peculiaridade de suas convicções religiosas como, no caso de um deles notadamente, pela descomunal força física. Seu pai não seguiu a tradição familiar, mas quis que o filho o fizesse, o que ele acabou não fazendo, como é comum acontecer. Esse traço anglicano, porém, severo, ascético e antifeminista, especialmente pronunciado no sr. William, marcou a formação do jovem Alfred, orientada, a princípio, para a ordenação clerical. Mas não só ele não se ordenou, como nem mesmo, por fim, manteve-se crente; e a vida reservou-lhe ainda a irônica surpresa de levá-lo a casar-se com uma das primeiras mulheres da Inglaterra a obter grau universitário — a que sempre se opôs por questão de princípio — e que, ademais, foi professora de Economia e sua ativa colaboradora intelectual. Seu pai, caráter resoluto e dominador mas não cruel, em que a rispidez era temperada pela afeição familiar, era um evangelista e antifeminista militante, autor já na velhice (morreu com 92 anos) de um panfleto significativamente intitulado “Os Direitos do Homem e os Deveres da Mulher”. Ocupando a posição de certo relevo de Caixa do Banco da Inglaterra, proporcionou ao filho uma infância de relativo conforto mas exerceu despótica influência nos primeiros estágios de sua educação, financiada, no entanto, até o fim por “bolsas”, auxílio de parentes e aulas particulares. Obrigava Alfred a estudar, até altas horas da noite, hebraico (então preparatório para a carreira eclesiás- tica), que ele detestava e proibia-o, terminantemente, de praticar suas recreações prediletas — a Matemática, e o xadrez, consideradas “fri- volidades ociosas”; proibições essas que, em relação à primeira, o jovem desobedecia sistemática e secretamente mas que, quanto à segunda, ele respeitou a vida inteira, exceto quanto à leitura, já adulto, de pro- 8 MARSHALL blemas de xadrez. “Esse controle e repressão paternal teve um efeito marcante e duradouro sobre Marshall. Sua pronunciada tendência para a hipocondria, sua relutância em comprometer-se inequivocamente em publicar sem reservas e restrições maciçamente documentadas, seu temor à indolência e a ociosidade, sua rejeição fundamental de ativi- dades de ”puro prazer" (tal como a Matemática) têm suas raízes nas experiências de sua infância e juventude" — é a observação de Corry.8 A que Keynes acrescenta: “A hereditariedade é poderosa e Marshall não escapou de todo da influência do molde paterno. Um senso enrai- zado de predomínio em relação ao gênero feminino lutava nele com uma profunda afeição e admiração que sentia por sua própria mulher, e com um meio que o lançou em contato estreito com a educação e a liberação das mulheres”.9 Bem, isso é o quanto basta sobre os antece- dentes familiares de Marshall e a influência sobre a sua personalidade. Aos nove anos de idade, fez seus estudos de letras e línguas clássicas num reputado estabelecimento de ensino (Merchant Taylor’s School), graças a uma “bolsa” que seu pai, percebendo sua capacidade, obteve de um diretor do Banco da Inglaterra. Pela distinção com que fez esse curso, que abrangia a Matemática até o nível de cálculo di- ferencial, teria Alfred direito a uma “bolsa” de estudos clássicos na Universidade de Oxford, requisito básico para a sua ordenação na Igreja Anglicana, a que, como foi dito, estava destinado pelo pai. Ele, porém, rejeitou o desígnio paterno, rebelando-se não propriamente contra a teologia ortodoxa mas contra o prosseguimento de estudos clássicos, e foi fazer um curso superior de Matemática no St. John’s College da Universidade de Cambridge, com dinheiro emprestado por um tio, em- préstimo que, uma vez formado, pagou em um ou dois anos, dando aulas particulares de Matemática. Aliás, esse instrumental científico foi a vida inteira seu violon d’Ingres, pois, se conseguiu consagrar-se como emérito economista, foi sempre, no entanto, basicamente um excelente e exemplar matemático. Menino ainda já lia livros da matéria, escondido do pai, que felizmente, dizia Marshall, nada entendia do assunto. “Ele tinha um gênio para a Matemática”, reconheceu um dos seus primeiros professores, na Mer- chant School. Em Cambridge foi um dos mais brilhantes estudantes da matéria de sua geração. Ele próprio recorda o jovem teórico que em 1869, com 27 anos, portanto, costumava “pensar em matemática mais facilmente do que em inglês”. A Matemática foi a sua vocação básica, seu primeiro ganha-pão, e já quando economista seu principal instrumento analítico e metodo- lógico, além de ter sido seu caminho de acesso à Economia. Foi graças 8 CORRY, Bernard. “Marshall, Alfred”. In: International Encyclopedia of the Social Sciences. SILLS, David S. (ed.) The Macmillan Company ε The Free Press, 1968. v. 10, p. 25. 9 Ibid, p. 312. 9 OS ECONOMISTAS a ela que conseguiu transformar o material de Adam Smith, David Ricardo e Stuart Mill, em “uma máquina moderna de pesquisa”. Os alicerces e o arcabouço semi-oculto de sua obra são matemáticos. Sua dívida para com a Matemática, “seu grande aliado impessoal”, é imensa e, segundo alguns, jamais resgatada, pois que nunca lhe foi suficien- temente reconhecido e grato. A verdade é que sua atitude em face da Matemática, ou melhor, do seu emprego na Economia, foi ambivalente, relegando-a, aparentemente, a um plano secundário, confinando, em suas obras, os diagramas a notas de rodapé e as equações a apêndices. Mas sua concepção dos usos e abusos da Matemática em Economia, o que hoje se chama Econometria, será melhor explanada quando for abordada a sua obra como economista. Retomemos, enquanto isso, o curso de sua vida. Uma vez concluído, com distinção, o curso de Matemática em 1865, passou imediatamente a dar aulas dessa ciência como professor titular no Clifton College, por um breve período, e, em seguida, como preparador (ou explicador) para os cursos regulares de Matemática em Cambridge, ao mesmo tempo que estudava Filosofia, especialmente Kant e Hegel. Aí, principalmente sob a influência de alguns professores universitários que se preocupavam com os problemas sociais provocados pela Revolução Industrial e que se reuniam informalmente numa So- ciedade de Debates (Grote Club), foi se afastando gradualmente da Metafísica, da Ética e da Psicologia, que estavam então nas fronteiras das Ciências Sociais. Abandonou definitivamente a religião, tornando-se agnóstico, embora perdurasse, por toda a vida, o substrato anglicano de sua formação. Foi por essa época que se processou a laicização do ensino universitário, já que só na segunda metade do século XIX é que foram abolidos nas universidades inglesas, Cambridge inclusive, os exames de Teologia para todos os alunos, exceto os dos cursos dessa matéria. Marshall passou então a preocupar-se com a questão social, sendo levado à “percepção de que a pobreza estava na raiz de muitos males sociais”, o que acabou conduzindo-o ao estudo da Economia. Ma- téria para a qual, como muitos dos grandes economistas contemporâ- neos, nunca fez curso universitário regular e especializado, já que na época a matéria não existia senão como complemento de outros cursos, tal qual como no Brasil de algumas décadas atrás. Segundo a sua convicção, que manteve inalterada pela vida inteira, o problema da pobreza era não somente fundamental para a Economia como a sua própria razão de ser. Como ele próprio viria mais tarde a dizer nos Princípios: “o estudo das causas da pobreza é o estudo das causas da degradação de uma grande parte da Humanidade”. Tal como seu contemporâneo Karl Marx, Marshall passou da Fi- losofia para a Economia, só que no seu caso foi pela via matemática. Descrevendo sua passagem para a Economia, recordava ele já no final da vida: “Da Metafísica fui para a Ética, e achei que a justificativa 10

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Principles of Economics: An Introductory Volume representada por Karl Marx (1818-1883) e seus descendentes “socia- Ainda na opinião de Keynes, “Marshall foi, como cientista, dentro de seu In: Ten Great Economists — . pastor tanto quanto um cientista, cujo ponto de vista científico e obje
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