CAPÍTULO 1 MOVIMENTOS E RELAÇÕES GEOMÉTRICAS NA MAQUINAGEM CAPÍTULO 1 1. MOVIMENTOS E RELAÇÕES GEOMÉTRICAS NA MAQUINAGEM 1.1 Tipos de movimentos 1.2 Grandezas de corte 1.3 Grandezas da apara 1.4 Superfícies maquinadas CAPÍTULO 1 › MOVIMENTOS E RELAÇÕES GEOMÉTRICAS NA MAQUINAGEM 1. MOVIMENTOS E RELAÇÕES GEOMÉTRICAS NA MAQUINAGEM Na análise racional de qualquer processo de maquinagem é indispensável o estabelecimento de conceitos básicos sobre os movimentos e as relações geométricas. Estes conceitos devem ser utilizados por todos os que se dedicam quer à tecnologia da maquinagem, quer ao projecto e fabrico de ferramentas de corte e máquinas-ferramenta. Assim, torna-se necessário a sua uniformização, o que tem sido feito pelas principais associações de normas técnicas (DIN 6580-1963 e ISO 3002/I-1977). Os conceitos que se apresentam de seguida são aplicáveis a quase todos os processos de maquinagem. A sua universalidade permite reduzir ao mínimo a quantidade de conceitos necessários à prática. Estes referem-se sempre a um ponto genérico da aresta de corte designado por ponto de referência. 1.1 Tipos de movimentos Existem duas espécies de movimentos, os que provocam a formação da apara e os que não intervêm directamente na formação da apara. No que respeita aos movimentos que provocam a formação da apara (principais) podemos distinguir os seguintes: › o movimento de corte, que é o movimento entre a peça e a ferramenta que origina somente uma única remoção de apara durante uma rotação ou curso, mas que por si só não permite que novas porções de material a remover sejam retiradas. › o movimento de avanço, que é o movimento entre a peça e a ferramenta e que proporciona, juntamente com o movimento de corte, um levantamento repetido ou contínuo da apara. › o movimento efectivo de corte, que é o movimento resultante da composição dos dois movimentos anteriores. 31 CAPÍTULO 1 › MOVIMENTOS E RELAÇÕES GEOMÉTRICAS NA MAQUINAGEM A Fig. 1.1 ilustra os movimentos (principais) para os processos de arranque de apara, o torneamento, a furação, a fresagem e a rectificação. Fig.1.1 Movimentos que promovem a formação da apara (principais). Relativamente aos movimentos que não tomam parte na formação da apara (auxiliares) podemos distinguir os seguintes: › o movimento de penetramento (profundidade de corte), que é o movimento entre a peça e a ferramenta e que determina a espessura da camada de material a ser retirada. › o movimento de posicionamento que é o movimento entre a peça e a ferramenta, com o qual a ferramenta, antes da operação de maquinagem é aproximada da peça. 32 CAPÍTULO 1 › MOVIMENTOS E RELAÇÕES GEOMÉTRICAS NA MAQUINAGEM Podemos ainda referir o movimento de ajuste como sendo o movimento de compensação do desgaste. Porém, ele confunde-se geralmente com os dois movimentos anteriores. Aos movimentos que promovem a formação da apara correspondem as respectivas direcções, percursos e velocidades. A direcção do corte é a direcção instantânea do movimento de corte. Definições idênticas são válidas para os conceitos de direcção de avanço e direcção efectiva de corte. O percurso de corte é o espaço percorrido sobre a peça pelo ponto de referência da aresta de corte segundo a direcção de corte, Fig. 1.2. Para o percurso de avanço e percurso efectivo de corte são válidas definições semelhantes. A velocidade de corte (Vc) é a velocidade instantânea do ponto de referência da aresta de corte, segundo a direcção e sentido de corte. A velocidade de avanço (Va) e a velocidade efectiva de corte (Vec) têm definições análogas. Fig.1.2 Fresagem tangencial (a empurrar) com fresa cilíndrica. 1 - dente 1 de fresa 2 - dente 2 de fresa Lc - percurso de corte La - percurso de avanço Lec - percurso efectivo de corte Ao plano definido pela direcção e corte e pela direcção de avanço chama-se plano de trabalho. Designa-se por ângulo da direcção de avanço (ϕ) o ângulo entre a direcção de avanço e a direcção de corte e por ângulo da direcção efectiva de corte (η) o ângulo entre a direcção efectiva de corte e a direcção de corte, Fig. 1.3. Pode relacionar-se, η, com Va e Vc e ϕ através de uma relação trigométrica. Atendendo à Fig. 1.3 vem: 33 CAPÍTULO 1 › MOVIMENTOS E RELAÇÕES GEOMÉTRICAS NA MAQUINAGEM Fig.1.3 Diagrama de velocidades. (1.1.1) substituindo (1.1.2) e resolvendo em ordem a η, temos: (1.1.3) Geralmente, a relação Vc/Va é muito elevada, o que torna o ângulo da direcção efectiva de corte η desprezável na prática industrial. Por exemplo, na maioria das operações de torneamento pode tomar-se η = 0°. 1.2 Grandezas de corte As grandezas de corte são grandezas que devem ser ajustadas na máquina- ferramenta directa ou indirectamente para o arranque da apara. O avanço (a) mede o deslocamento relativo, na direcção de avanço, da ferramenta de corte e da peça para um curso elementar de trabalho ou para uma rotação. Um curso elementar de trabalho em máquinas de movimento de corte alternativo e uma 34 CAPÍTULO 1 › MOVIMENTOS E RELAÇÕES GEOMÉTRICAS NA MAQUINAGEM rotação em máquinas de movimento de corte (da ferramenta ou da peça) rotativo, Fig. 1.4 a) e b). O avanço por minuto utiliza-se em qualquer máquina e é importante na determinação do tempo de corte. Em ferramentas de aresta múltipla emprega-se o avanço por dente ou aresta de corte (ad) que é o percurso de cada dente, medido na direcção do avanço da ferramenta e corresponde à geração de superfícies de corte consecutivas. Temos então, Fig. 1.4 d) e e). a = ad z (1.2.1) Sendo z o número de dentes ou arestas de corte. O penetramento (p) corresponde à espessura da camada de material retirada. Mede-se perpendicularmente às direcções de avanço e de corte. No caso de trabalho com ferramentas rotativas de arestas multiplas, por exemplo, a fresagem, a rectificação, a furação, podemos distinguir o penetramento radial (pr) e o penetramento axial (pa). O penetramento radial (pr) é medido perpendicularmente ao eixo de rotação da ferramenta. Quando a direcção do movimento de avanço é perpendicular ao eixo de rotação da ferramenta (caso mais comum da fresagem) o pr será medido sobre o diâmetro da ferramenta, ou seja neste caso pr pode no máximo ser igual ao diâmetro da ferramenta, Fig. 1.4 a). Quando a direcção do movimento de avanço é paralela ao eixo de rotação da ferramenta (caso da furação) o penetramento radial é medido sobre o raio. Neste caso, pr pode no máximo ser igual ao valor do raio, Fig. 1.4 c). O penetramento axial (pa) é medido paralelamente ao eixo de rotação da ferramenta, Fig. 1.4 e). Em qualquer dos casos os valores de pr e pa são substituíveis por uma componente do movimento de avanço com a mesma direcção, caso exista. A largura de corte (c) substitui o penetramento ou uma das componentes do penetramento, no caso de trabalho com ferramentas de forma. Quando os valores de pr e pa forem muito diferentes, pode designar-se por penetramento o valor menor, chamando-se ao outro largura de corte. 1.3 Grandezas da apara A caracterização dimensional da apara é importante, não pela apara em si, que como tal não tem utilidade industrial, mas sim como elemento definidor de uma 35 CAPÍTULO 1 › MOVIMENTOS E RELAÇÕES GEOMÉTRICAS NA MAQUINAGEM qualquer operação de maquinagem. Interessa que essa caracterização seja o mais universal possível, ou seja, aplicável a qualquer operação em qualquer máquina- ferramenta. Fig.1.4 Grandezas de corte. A caracterização dimensional da apara pode ser feita com base nas grandezas de corte ou nas grandezas relativas à própria apara. Estas são derivadas das primeiras e obtidas através de cálculo, diferem das obtidas através da medição da apara, devido à deformação plástica em compressão que acompanha a sua formação. A espessura da apara (e) é medida perpendicularmente à direcção de corte instantânea e à superfície de corte, Fig. 1.5. e = a sen χ (torneamento, aplainamento) (1.3.1) e = sen χ (furação) (1.3.2) e = ad sen ϕ (fresagem) (1.3.3) 36 CAPÍTULO 1 › MOVIMENTOS E RELAÇÕES GEOMÉTRICAS NA MAQUINAGEM A largura da apara (l) é dada pelo comprimento da aresta em trabalho, medida no plano perpendicular à direcção do movimento de corte, Fig. 1.5. (torneamento, aplainamento) (1.3.4) (furação) (1.3.5) l = pa (fresagem) (1.3.6) Fig.1.5 Grandezas da apara. A secção da apara (S) é calculada num plano ortogonal à direcção do movimento de corte, Fig. 1.5. S = a p = e l (torneamento, aplainamento) (1.3.7) No caso de trabalho com ferramentas de forma, S = a c. (furação) (1.3.8) Na fresagem, as aparas arrancadas por cada aresta de corte de uma fresa são de espessura variável, podendo essa variação ir de zero ao avanço por dente (ad) para 37 CAPÍTULO 1 › MOVIMENTOS E RELAÇÕES GEOMÉTRICAS NA MAQUINAGEM uma mesma apara. A secção da apara é, pois, em cada instante igual ao produto da espessura pela largura da apara. S = e l = pa ad sen ϕ (1.3.9) 1.4 Superfícies maquinadas As superfícies de corte são superfícies geradas na peça pela ferramenta. As que permanecem na peça constituem as superfícies maquinadas. A superfície principal de corte é a superfície gerada pela aresta principal de corte da ferramenta. A superfície gerada pela aresta secundária (lateral) de corte da ferramenta designa-se por superfície secundária (lateral) de corte. A Fig. 1.6 ilustra o anteriormente referido para o caso do torneamento longitudinal. Fig.1.6 Superfícies de corte no torneamento longitudinal. BIBLIOGRAFIA › BESNARD R., “Utilisation rationelle des outils coupants”, Edité por Société des Publications Mécaniques, Paris, (Ed. 1960). › ROSSI M., “Máquinas-herramientas modernas”, Editorial Científica-Médica, Barcelona, (Ed. 1960). 38
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