Ano 2, n. 5, maio, 2017 Potencialidades da Energia Eólica no Nordeste Francisco Diniz Bezerra Engenheiro Civil. Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente Coordenador de Estudos e Pesquisas do BNB/ETENE [email protected] Lucas Sousa dos Santos Graduando em Engenharia Mecânica Jovem Aprendiz - Banco do Nordeste /CIEE 1 INTRODUÇÃO 2 CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE A CADEIA PRO- DUTIVA DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL E A INSERÇÃO DA GERAÇÃO EÓLICA No cenário mundial, o Brasil se destaca por ter sua matriz de geração de energia elétrica fortemente baseada em fontes renováveis, com preponderância da A geração de energia a partir da fonte eólica integra hidroeletricidade e da biomassa proveniente da cana-de- a Cadeia Produtiva da Energia Elétrica. Para a adequada -açúcar. Além dessas, outras fontes renováveis compõem compreensão dessa atividade, considera-se fundamental o a matriz de geração elétrica do País, a exemplo da energia conhecimento prévio da cadeia produtiva na qual ela está eólica, inserida mais recentemente. inserida e de sua interação com os demais elos, tarefa em- Como se depreende dos resultados dos leilões de preendida neste tópico. compra e venda de energia, promovidos pela Agência Da produção até o consumo, o setor de energia Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, a fonte eólica se elétrica engloba as seguintes atividades: geração, trans- mostra competitiva no Brasil, tendo os seus projetos sido missão e distribuição. Nessa cadeia, reveste-se também aprovados em diversos certames realizados nos últimos de importância singular o processo de comercialização da anos. Neste contexto, o Nordeste se destaca, em razão de energia elétrica (Figura 1). seu elevado potencial eólico e por dispor de inúmeros sí- Transmissão e distribuição constituem monopó- tios com velocidades médias de vento dentre as maiores lios naturais, haja vista ser antieconômica a instalação de do País. Este cenário se mostra promissor para vultosos dois ou mais sistemas paralelos para atender o mesmo investimentos na Região nordestina em geração eólica, conjunto de consumidores. Por meio da rede básica de como inclusive já se observa atualmente. transmissão, a energia chega às redes de distribuição, Esta análise setorial teve como objetivo disponibi- operadas por uma ou mais empresas concessionárias ou lizar informações sobre a geração de energia elétrica no permissionárias privadas ou estatais em cada estado. A Brasil a partir da fonte eólica, com ênfase no Nordeste. É remuneração do serviço de transmissão é realizada por constituída por oito tópicos, sendo o primeiro esta intro- meio da Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão – TUST, dução. No segundo tópico, faz-se uma contextualização enquanto a remuneração do serviço de distribuição é efe- sobre a cadeia produtiva da energia elétrica no Brasil e a tuada mediante pagamento de Tarifa de Uso do Sistema inserção da fonte eólica, particularizando o Nordeste. No de Distribuição – TUSD, ambas reguladas pela Agência terceiro tópico, caracteriza-se a atividade de geração eó- Nacional de Energia Elétrica – ANEEL. Por outro lado, a lica, conforme definições normativas vigentes. No quarto geração ocorre em ambiente concorrencial, realizada por tópico, são apresentados aspectos tecnológicos da gera- meio de leilões ou de livre negociação. ção eolioelétrica, embora de forma superficial. No quin- A transmissão de energia elétrica no Brasil é rea- to, são discutidas as potencialidades e as perspectivas lizada por meio do Sistema Interligado Nacional – SIN, do mercado da geração eólica no Brasil, em particular no que é formado pelos subsistemas Sul (Rio Grande do Sul, Nordeste. No sexto, são tecidas algumas considerações Santa Catarina e Paraná), Sudeste-Centro-Oeste (todos sobre a competitividade da fonte eólica no Brasil, em estados do Sudeste e do Centro-Oeste, Rondônia e Acre), particular no Nordeste. No sétimo, expõem-se os prin- Nordeste (estados do Nordeste, exceto Maranhão) e cipais instrumentos legais brasileiros nos quais se insere Norte (Maranhão, Pará e Tocantins). Outros subsistemas a geração eólica, inclusive no âmbito da geração distri- existentes no País, não conectados ao SIN, são chamados buída. Por último, no oitavo tópico, são feitas algumas “subsistemas isolados” (Figura 2). considerações finais. Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE Início 2 Ano 2, n. 5, maio, 2017 Figura 1 - Cadeia Produtiva da Energia Elétrica no Brasil Ambiente competitivo Preços Solar Definidos em leilões (ACR) Negociadoslivremente (ACL) Ambiente de Contratação Regulada –ACR Hídráulica (mercado cativodas distribuidoras) Eólica Térmica Ambiente de Contratação Livre –ACL Mercado de Curto Prazo –PLD Monopólio Natural Monopólio Natural Tarifas definidas pela ANEEL (TUST) Tarifas definidas pela ANEEL (TUSD) Fonte: adaptado de ANEEL (2016) por BNB/ETENE/Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais. Figura 2 - Integração Eletroenergética no Sistema Interligado Nacional (SIN) Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS (2017a). Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE Início 3 Ano 2, n. 5, maio, 2017 A integração eletroenergética existente no Brasil, Gráfico 1 – Brasil e Regiões: potência instalada de gera- constituída por extensas redes de transmissão, aliada ao ção de energia elétrica por fonte (MW) fato das usinas localizarem-se em bacias hidrográficas dis- Atualizado em: 07/03/2017 tintas1, confere maior segurança ao Sistema Interligado Usinas em Operação (MW) BRASIL Fonte MW % Nacional. De fato, essa característica torna o abasteci- Hídrica 98.060 6 4,65 mento do País menos vulnerável, pois é mais remota a Fóssil 26.939 1 7,76 Biomassa 14.159 9 ,33 probabilidade de ocorrer escassez de chuvas em todas as Eólica 10.516 6 ,93 bacias simultaneamente. Assim, a insuficiência de água Nuclear 1.990 1 ,31 43.475 Solar 24 0 ,02 para geração elétrica no Nordeste pode ser compensada Total 151.688 1 00,00 pelas usinas do Norte do País e vice-versa. Idem entre o 32.107 30.252 27.656 Sul e o Sudeste ou entre o Norte e o Sul. Além disso, qual- quer central geradora ligada ao SIN, independentemente 18.198 da fonte de energia que utiliza e de sua localização, con- tribui para atender a carga de energia de todo o sistema. Cabe destacar que a matriz elétrica brasileira pos- SE S NE N CO Solar 4 4 15 0 1 sui características próprias que a distingue da existente Biomassa 7.650 1.542 1.852 195 2.920 na maioria dos países. Aqui predomina, historicamente, Fóssil 9.120 3.608 8.529 3.870 1.811 a geração de fontes renováveis, com destaque para a Eólica 28 2.192 8.296 - - Hídrica 24.683 24.760 11.560 23.591 13.466 energia hidráulica. Caracteriza-se, também, pelo uso ex- Total 43.475 32.107 30.252 27.656 18.198 pressivo de biomassa e, mais recentemente, pela presen- Fonte: ANEEL (2017). ça da geração eólica. Em conjunto, as fontes renováveis Elaboração: BNB/ETENE/Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais. representam 80,9% da capacidade instalada de geração no Brasil, correspondente a 151,7 GW, em dados de 07/03/2017. No Nordeste, em particular, embora a fonte 2.1 A geração eólica no Subsistema Nordeste do SIN hídrica seja preponderante, seguida das térmicas movi- das a combustíveis fósseis, a fonte eólica ganha destaque, Até recentemente, a energia elétrica produzida no representando, atualmente, 27,4% da capacidade instala- Nordeste brasileiro provinha basicamente da fonte hídrica, da de geração elétrica da Região (Gráfico 1). destacando-se o rio São Francisco como o seu principal pro- No que concerne à comercialização da energia vedor. Neste contexto, destaca-se a importância da Compa- elétrica no Brasil, existem três tipos de mercado: a) nhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), principal em- Ambiente de Contratação Regulada – ACR, efetivado presa geradora de energia elétrica no Subsistema Nordeste, por meio de leilões de compra e venda de energia sendo proprietária das principais hidrelétricas existentes na elétrica, realizados pela Câmara de Comercialização Região. Este cenário de preponderância da fonte hídrica no de Energia Elétrica (CCEE), por delegação da Agência Nordeste tem mudado nos últimos anos. De fato, a partir de Nacional de Energia Elétrica – ANEEL. Normalmente, 2013, as termelétricas e a fonte eólica têm crescido de for- os contratos celebrados no âmbito do ACR são de ma expressiva na composição da geração de energia elétrica longo prazo, assegurando a compra da energia elétrica no Subsistema Nordeste, em razão da ocorrência de anos de gerada a preços pré-definidos durante a sua vigência; baixa pluviometria e do aumento da capacidade instalada b) Ambiente de Contratação Livre – ACL, no qual de geração eólica na Região (Gráfico 2 e Gráfico 3). geradores e consumidores livres negociam a compra de energia, estabelecendo volumes, preços e prazos de Gráfico 2 – Evolução da participação das fontes hidráu- suprimento; e c) Mercado de Curto Prazo, destinado à lica, térmica e eólica na matriz de geração equalização de diferenças de medição dos montantes elétrica do Subsistema Nordeste (%) efetivamente produzidos/consumidos por cada agente. Nesse mercado, as diferenças apuradas, positivas ou Média anual em % nliqeugaidtiavçaãso, sfiãnoa nccoenirtaa,b ivliazlaodraads aps ealao CPCreEçEo pdaer aL ipqouisdtearçiãoor 80,,73 30,,76 123,,04 120,,20 136,,56 4,9 7,8 19,2 37,2 36,5 das Diferenças (PLD). 38,8 49,0 43,5 91,0 95,7 84,6 87,9 79,8 31,3 34,1 56,3 43,3 37,3 31,5 29,5 1 Atualmente, a hidroeletricidade representa aproximadamente 65% da capacidade instalada de geração de energia elétrica no Brasil. Hidráulica Térmica Eólica Dado o seu peso na matriz elétrica nacional, a interligação eletroe- Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS (2017b). nergética de bacias é de suma importância para dar maior segurança Elaboração: BNB/ETENE/Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais ao SIN. Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE Início 4 Ano 2, n. 5, maio, 2017 Gráfico 3 – Evolução mensal do volume útil dos três prin- Gráfico 5 - Nordeste: usinas de geração elétrica sem cipais reservatórios utilizados para geração construção iniciada (MW) hidrelétrica no Subsistema Nordeste - Jan/ 3.518 Atualizado em: 17/03/2017 2010-fev/2017 (% capacidade máxima de ar- NORDESTE Fonte MW % mazenamento de água do reservatório) Eólica 4.132 4 7,7 Fóssil 3.086 3 5,6 120 Solar 1.240 1 4,3 Biomassa 181 2,1 1.516 1.490 HToídtarilca 8 . 6 6268 1 0 00,,30 100 900 716 80 229 206 90 1 BA SE PE RN CE PI PB MA AL 60 Hídrica 0 - 22 5 - - - - 1 Fóssil 316 1.516 1.238 - 6 5 - 6 - 40 Biomassa 150 - - - - - 31 - - Solar 561 - 148 206 180 - 144 - - 20 Eólica 2.491 - 82 689 530 224 32 84 - Total 3.518 1.516 1.490 900 716 229 206 90 1 0 jan/10 abr/10 jul/10 out/10 jan/11 abr/11 jul/11 out/11 jan/12 abr/12 jul/12 out/12 jan/13 abr/13 jul/13 out/13 jan/14 abr/14 jul/14 out/14 jan/15 abr/15 jul/15 out/15 jan/16 abr/16 jul/16 out/16 jan/17 FEolanbtoer:a AçNãoE:E BL N(2B0/1E7T)E.NE/Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais. Sobradinho Luiz Gonzaga Três Marias Nota: parcela hídrica refere-se a PCH. Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS (2017b). Elaboração: ETENE/Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais. Na Região Nordeste, os projetos eólicos em implan- tação e os projetados com construção ainda não iniciada Considerando que o potencial hidrelétrico rema- totalizam 7,5 GW. Considerando o preço médio do inves- nescente economicamente viável no Nordeste encontra- timento de R$ 4,6 bilhões/MW, verificado no 8º. Leilão de -se próximo do seu esgotamento, a expansão dessa fonte Energia de Reserva (último com usinas eólicas aprovadas), de geração elétrica na Região está comprometida. Essa estima-se que os projetos eólicos em andamento e pre- assertiva é corroborada pelo Plano Decenal de Expansão vistos para o Nordeste demandarão recursos da ordem de de Energia 2024, elaborado pela Empresa de Pesquisa R$ 35 bilhões nos próximos anos, representando enormes Energética (EPE, 2015), já que nesse estudo não consta oportunidades em toda a cadeia produtiva. nenhum projeto de hidrelétrica previsto para o Nordeste Ressalta-se que, historicamente, a crescente de- no horizonte até 2024. Assim, a tendência é o incremento manda de energia elétrica do Nordeste só tem sido ple- paulatino da participação da fonte eólica na matriz de ge- namente atendida graças à importação de outras regiões, ração de energia elétrica da Região nordestina, em razão principalmente do Subsistema Norte. O Gráfico 6 apresen- desta ser, atualmente, a segunda alternativa mais com- ta a geração e a importação líquida de energia elétrica do petitiva, perdendo apenas para as grandes hidrelétricas, Subsistema Nordeste a partir de 2007, demonstrando a sua e também por ter dezenas de projetos já contemplados dependência da produção de eletricidade em outras regiões nos últimos leilões, previstos para entrar em operação do País. Contudo, graças ao elevado potencial eólico e solar nos próximos anos (Gráfico 4 e Gráfico 5). do Nordeste, a Região tende a se tornar autossuficiente na geração de energia elétrica. Gráfico 4 - Nordeste: usinas de geração elétrica em cons- trução (MW) Gráfico 6 - Evolução da Geração e Importação Líquida 1.468 Atualizado em: 17/03/2017 de Energia Elétrica no Subsistema Nordeste NORDESTE Fonte MW % – 2007-fev/2017 Eólica 3.397 85,3 Solar 586 14,7 1.000 MWmédios Total 3.983 1 00,0 940 1,39 1,50 1,97 2,72 1.152 1,35 2,39 0,37 1,34 1,99 1,61 657 2,20 670 559 6,88 6,18 6,16 6,57 7,38 6,89 7,88 8,01 7,99 7,78 5,28 166 316 270 131 63 - - - - - - - -- -- BA PI RN CE MA PE PB SE AL Importação líquida Geração Solar Eólica Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS (2017). Fonte: ANEEL (2017). Elaboração: BNB/ETENE/Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais. Elaboração: BNB/ETENE/Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais. Nota: O Subsistema Nordeste integra o Sistema Interligado Nacional (SIN) e compreende todos os Estados da Região, exceto Maranhão. Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE Início 5 Ano 2, n. 5, maio, 2017 3 CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE DE GERAÇÃO DE mais de 7 MW. ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DA FONTE EÓLICA A tecnologia de geração eólica teve um desenvolvimento excepcional nas três últimas O vento constitui uma imensa fonte de energia na- décadas, tendo elevado substancialmente o porte tural e renovável, a partir da qual é possível gerar grande dos equipamentos e melhorado a sua eficiência e quantidade de energia elétrica. Para tanto, utilizam-se confiabilidade. A Figura 3 ilustra a evolução do porte equipamentos denominados aerogeradores, que pos- dos equipamentos de geração eólica, desenvolvidos e suem potência nominal que varia de menos de 1 kW até fabricados pela indústria de aerogeradores. Figura 3- Evolução da potência de aerogeradores Fonte: DEWI, 2006 apud Centro de Pesquisas de Energia Elétrica – CEPEL (2009). A indústria de aerogeradores de grande Gráfico 7 – Participação dos 15 maiores fabricantes no mercado porte é constituída por poucos fabricantes a mundial de aerogeradores de grande porte – 2015 nível mundial, o que caracteriza a sua estrutura de mercado como sendo um oligopólio. Os 15 GOLDWIND -CHINA; 12,63 OUTROS; 17,93 maiores fabricantes de aerogeradores detêm 82% do mercado mundial. Desses, oito possuem sede na China, inclusive a atual líder, Goldwind (12,63%), que recentemente desbancou a DONGFANG -CHINA; 2,35 VESTAS -DINAMARCA; 11,94 dinamarquesa Vestas (11,94%), hoje vice-líder XEMC -CHINA; 2,43 (dados de 2015). Observe-se que fabricantes NORDEX -ALEMANHA; 2,73 de origem chinesa detêm mais de um terço do SEWIND -CHINA; 3,09 mercado mundial de aerogeradores, seguidos GE WIND -EUA; 9,63 SENVION -ALEMANHA; 3,36 pelos alemães, com cerca de 20% do total (Gráfico 7). CSIC HAIZH3U,A41N G -CHINA; MINGYANG -CHINA; 3,50 SIEMENS -ALEMANHA; 8,12 ENVISION -CHINA; 3,51 UNITED POWER -CHINA; GAMESA -ESPANHA; 5,42 4,92 ENERCON -ALEMANHA; 5,03 Fonte: Portal-Energia (2017). Elaboração: BNB/ETENE/Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais. Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE Início 6 Ano 2, n. 5, maio, 2017 4 ASPECTOS TECNOLÓGICOS DA GERAÇÃO EÓLICA consolidou-se o projeto de turbinas eólicas com as se- 4.1 Características tecnológicas dos aerogeradores de guintes características: eixo de rotação horizontal, três grande porte pás, alinhamento ativo, gerador de indução (assíncrono) e estrutura não-flexível (CBEE, 2000 apud ANEEL, 2007). Concernente às características dos equipamentos, Os aerogeradores são classificados de diversas ressalta-se que este trabalho limitou-se apenas a apre- formas. Quanto ao porte, as turbinas eólicas se classifi- sentar os principais componentes dos aerogeradores de cam em: pequenas – potência nominal menor que 500 grande porte, visando a compreensão de seu funciona- kW; médias – potência nominal entre 500 kW e 1000 kW; mento (para detalhes sobre a tecnologia eólica, sugere-se e grandes – potência nominal maior que 1 MW (ANEEL, consultar o documento “Mapeamento da Cadeia Produ- 2007). tiva da Indústria Eólica no Brasil”, elaborado pela Agência No início da utilização da energia eólica, surgiram Brasileira de Desenvolvimento Industrial, disponível em turbinas de vários tipos – eixo horizontal, eixo vertical, www.abdi.com.br.). Neste sentido, a Figura 4 ilustra as com apenas uma pá, com duas e três pás, gerador de partes componentes de um aerogerador. indução, gerador síncrono etc. Com o passar do tempo, Figura 4 - Partes constituintes de um aerogerador de médio ou grande porte. Fonte: MME (2014). 4.2 Fator de capacidade conforme já referido. 5 MERCADO DE GERAÇÃO EÓLICA: POTENCIAL, EVO- LUÇÃO E PERSPECTIVAS Fator de capacidade representa a relação entre a energia efetivamente produzida e a capacidade nominal 5.1 No Mundo de geração de uma instalação ou conjunto de instalações, em um determinado espaço de tempo. A geração eólica tem experimentado crescimen- Como forma de se ter uma ideia do desempenho to vertiginoso no mundo. Na década compreendida en- dos aerogeradores implantados no Brasil, apresenta-se, tre 2005 e 2015, a capacidade instalada de geração eóli- no Anexo I, as informações disponibilizadas pelo Opera- ca evoluiu à taxa média de 22,1%a.a. Nos últimos cinco dor Nacional do Sistema Elétrico – ONS sobre o fator de anos (2010-2015), o ritmo de crescimento diminuiu para capacidade dos parques eólicos nacionais, verificado para 17,1%a.a, em média, embora ainda continue expressivo o ano de 2016. Ressalta-se que o fator de capacidade de (Gráfico 8). Olhando para o futuro, as perspectivas para a um parque eólico pode apresentar variações entre dois fonte eólica continuam promissoras, em razão da melhoria ou mais anos, em razão principalmente das característi- da competitividade da tecnologia dos aerogeradores e da cas de vento. maior conscientização da humanidade sobre o impacto da Conforme se observa, o fator de capacidade mé- queima de combustíveis fósseis sobre o clima, fator que dio dos parques eólicos implantados no Nordeste (44,2%) vem contribuindo para uma maior pressão pelo uso de fon- supera a média da Região Sul (32,10%), razão pela qual a tes mais limpas de energia. Região nordestina tem sido preferida pelos investidores, Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE Início 7 Ano 2, n. 5, maio, 2017 Gráfico 8 - Evolução da capacidade instalada de geração de altura. Considerando alturas maiores, com torres que eólica no mundo (GW) normalmente ultrapassam 80 metros, estima-se que o 434,7 potencial eólico do Brasil seja muito superior à atual ca- pacidade instalada de geração de energia elétrica do País, 371,9 de cerca de 150 GW. Com efeito, de acordo com estimati- 320,6 va do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mu- 284,7 danças Climáticas (INCT-Clima2), considerando as novas 239,2 tecnologias para produção de energia a partir do vento e, 197,7 principalmente, a utilização de aerogeradores posiciona- 160,1 dos a 100 metros de altura, o potencial eólico brasileiro 121,8 94,1 pode chegar a 880,5 GW, sendo que 522 GW são conside- 74,1 rados tecnicamente viáveis. Estão localizadas na Região nordestina as “jazi- 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 das” de vento que apresentam as melhores condições de Fonte: BP (2016). aproveitamento para fins de geração de energia elétrica Elaboração: BNB/ETENE/Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais. (Figura 5). Por esta razão, a maioria dos projetos que par- ticiparam dos leilões de energia da ANEEL está situada A capacidade mundial de geração de energia eóli- nessa Região. ca, correspondente a 434,7 GW em 2015, é relativamen- te concentrada em apenas cinco países: China (33,4%), Figura 5 – Potencial eólico do Brasil Estados Unidos (17,2%), Alemanha (10,4%), Índia (5,8%) e Espanha (5,3%). Em conjunto, representam 72% da ca- pacidade instalada de geração eólica do planeta (Gráfico 9). O Brasil participa com menos de 1% do total mundial, no entanto, apresenta-se como um mercado muito pro- missor, em virtude da competitividade da fonte eólica nos leilões de compra e venda de energia aliado ao fato de o País apresentar excelentes “jazidas” de vento, principal- mente no Nordeste. Gráfico 9 - Capacidade instalada mundial de geração de energia elétrica a partir da fonte eólica - 2015 (Valoresem % do Mundo) 33,4% Capacidade Instalada no Mundo (2015): 434,7 GW 17,2% Mundo (2015): 10,4% 10,0% 5,8%5,3% 3,3%2,6%2,4%2,1%2,0%1,4%1,1%1,1%1,0%1,0% Fonte: Feitosa et al. (2003). Fonte: BP (2016). Elaboração: BNB/ETENE/Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais. O elevado potencial eólico do Brasil, associado 5.2 No Brasil, com ênfase no Nordeste à competitividade dessa fonte energética nos leilões de 5.2.1 Potencial de geração eólica no Brasil compra e venda de energia elétrica, atraiu diversos fabri- cantes de componentes de aerogeradores para o País, já tendo sido instaladas diversas fábricas em vários estados. O Brasil possui potencial de geração de energia A vinda de fabricantes desses equipamentos traz consi- elétrica a partir da fonte eólica superior à atual deman- go know-how que poderá ser absorvido por profissionais da desse insumo. Segundo o Atlas do Potencial Eólico do brasileiros e possibilitar o surgimento de massa crítica Brasil (FEITOSA et al., 2001), o potencial eólico do Brasil alcança 143 GW, dos quais cerca da metade no Nordeste. Esse montante foi estimado tendo por base velocidades 2 Disponível em: <http://www.energia.sp.gov.br/2016/10/potencial- médias de vento igual ou superior a 7 m/s a 50 metros -eolico-onshore-brasileiro-pode-ser-de-880-gw-indica-estudo/>. Acesso em: 30 mar. 2017. Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE Início 8 Ano 2, n. 5, maio, 2017 nesse campo no País, ainda incipiente. Além disso, a efer- para torná-los mais condizentes com a realidade do País. vescência dessa indústria, cujo crescimento tem sido ver- Sendo a tecnologia dos aerogeradores de grande porte tiginoso e sustentável nos últimos anos, ensejou a criação relativamente recente, vislumbra-se enormes possibilida- de cursos de capacitação nas universidades brasileiras e des de P&D no aperfeiçoamento de seus componentes nordestinas, bem como a formação de grupos de pesqui- (turbinas, rotores, naceles, pás, torres etc.), visando ao sa nessa área. Espera-se, assim, que o Brasil e a Região aumento da eficiência e da vida útil, além de equipamen- nordestina, em particular, possam, com o passar do tem- tos acessórios de medição de vento e da energia gerada, po, gerar inovações no campo da geração eólica, conso- de controle da qualidade da geração e da ligação à rede, lidando o processo de internalização dessa tecnologia no dentre outros. Ressalta-se que a inércia na estruturação País. da P,D&I nessa área tem inibido a possibilidade do desen- Estando no Nordeste as áreas mais propícias à volvimento de uma tecnologia nacional, apesar do enor- geração eólica, alguns fabricantes de aerogeradores op- me potencial para a geração eólica existente no País. taram por instalar suas fábricas nessa Região, além de No que concerne aos aerogeradores de pequeno diversos fabricantes de componentes (torres, pás, flanges porte, existe um espaço enorme para crescimento, prin- etc.) (Quadro 1). cipalmente após os avanços observados na legislação brasileira, particularmente com o advento da Resolução Normativa ANEEL 482, de 17 de abril de 2012, que esta- Quadro 1 – Principais fabricantes de componentes da beleceu as condições gerais para o acesso de microgera- indústria eólica no Brasil ção e minigeração distribuída aos sistemas de distribui- Fabricantes UF Localização Principais Produtos ção de energia elétrica e criou o sistema de compensação de energia elétrica. Esse sistema possibilita a produção Gamesa BA Camaçari Nacele da própria energia elétrica por parte dos consumidores, BA Simões Filho Cubos eólicos inclusive pessoas físicas, e de seu intercâmbio com a rede Acciona Windpower RN Areia Branca Torres de concreto de distribuição. No Brasil, já existe tecnologia nacional para fabricação de aerogeradores de pequeno porte, em- Vestas CE Aquiraz Aerogeradores bora precise ser aprimorada para não perder espaço para CE Pecém Pás fabricantes de outros países. Wöbben/Enercon BA Juazeiro Torres SP Sorocaba Aerogeradores, pás 5.2.2 Evolução da geração eólica no Brasil, particular- WEG SC Jaraguá do Sul Aerogeradores mente no Nordeste GE SP Campinas Nacele O primeiro passo importante para a inserção da TEN - Torres Eólicas BA Jacobina Torres do Nordeste energia eólica no Brasil foi dado com a criação do Progra- ma de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica Tecsis BA Camaçari Pás – PROINFA (Lei nº 10.438/2002), iniciativa governamental LM Wind Power PE Suape Pás destinada a diversificar a matriz energética nacional e fo- Torrebras BA Camaçari Torres mentar o mercado interno para o uso dessa fonte, além de pequenas centrais hidrelétricas (PCH) e empreendi- Aeris CE Pecém Pás mentos termelétricos a biomassa. Segundo a Associação Irieta PE Suape Torres, flanges Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica, 2017), por meio Fonte: elaborado por BNB/ETENE/Célula de Estudos e Pes- do PROINFA, foram instalados no País 53 parques eólicos, quisas Setoriais. totalizando 1.303,1 MW de potência. No entanto, foi somente a partir de 2014 que o Cabe registrar que os aerogeradores de grande Brasil iniciou um processo mais acelerado de expansão porte até então instalados no Brasil são produzidos com do uso da fonte eólica na sua matriz elétrica, com incre- tecnologia desenvolvida em seus países de origem e mento anual acima de 1 GW. Isto ocorreu graças à criação naturalmente se adéquam melhor às condições para as por parte do Governo Federal de leilões de comercializa- quais foram projetados. Em razão de alguns fatores que ção de energia específicos para esta fonte e também ao interferem no desempenho dos equipamentos, como a aumento de sua competitividade ante outras opções de velocidade média anual dos ventos, condições atmosfé- geração (Gráfico 10). ricas e climáticas, os aerogeradores precisam ser melhor adequados às características do Brasil, abrindo assim, per se, um leque de opções de pesquisas tecnológicas Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE Início 9 Ano 2, n. 5, maio, 2017 Gráfico 10 – Evolução e projeção da capacidade instalada de geração de energia eólica no Brasil (MW) 16.694 17.284 15.190 17.164 10.198 11.970 7.634 135 4.979 2.195 1.882 1.426 223058 246 335 602 927 27 10 89 267 326 498 456 313 2.784 2.655 2.564 1.637 3.220 1.504 470 120 Até 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017* 2018 2019 2020 2021 2005 Previsão do ano Implantadas no ano Acumulado Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica – (ANEEL, 2017). Elaboração: BNB/ETENE/Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais. Notas: Valores anuais e acumulados em escalas distintas; * Em 2017, usinas implantadas até o mês de março; dados de abril/2017 a 2021 referem-se a projetos previstos para entrar em operação sem restrições ou que apresentam restrições não graves. Desde 2009 até 2016, foram contemplados nos dia, a R$ 117,41, em preços atualizados pelo IPCA para leilões de comercialização de energia elétrica promovidos fevereiro de 2017, o menor valor já alcançado para esta pela ANEEL 511 parques de geração eólica, totalizando fonte. Também cabe destaque ao 18º. LEN (13/12/2013), 12.678,2 MW de potência. Desse montante, 11.212,7 no qual foram contemplados 2,3 GW da fonte eólica, em MW (88,4% do total) estão no Nordeste. Dos nove es- 97 parques. A Tabela 1 detalha o resultado dos leilões tados brasileiros com parques eólicos contemplados em realizados pela ANEEL, por meio da Câmara de Comercia- leilões, oito são nordestinos. Fora da Região, apenas o Rio lização de Energia Elétrica – CCEE. Grande do Sul (1.465,5 MW) (Tabela 1). Além do PROINFA e dos leilões, parte da energia gerada nas centrais eóli- cas é comercializada no Ambiente de Contratação Livre (ACL), onde as condições contratuais são livremente ne- gociadas. Conforme se depreende do Gráfico 10, existem 6.951MW3 de potência em geração eólica previstos para ser implantados de abril de 2017 até 2021. Conforme já evidenciado anteriormente, esses empreendimentos re- presentam excelentes oportunidades de investimento para os próximos anos. O primeiro leilão no qual a fonte eólica aprovou projetos ocorreu em 14/12/2009. Trata-se do 2º. Leilão de Energia de Reserva (LER). Nesse certame, foram apro- vados 71 parques, totalizando 1.805,7 MW de potência, ao preço médio de R$ 236,52/MWh, em valor atualiza- do pelo IPCA para fevereiro/2017. Em seguida, no 3º. LER, realizado em 26/08/2010, foram aprovados 528,2 MW em 20 parques, com preço médio de R$ 189,60/ MWh. Dos 14 leilões onde a fonte eólica aprovou proje- tos, cabe destaque ao 15º. Leilão de Energia Nova – LEN (14/12/2012), no qual o MWh foi comercializado, em mé- 3 Ressalta-se que alguns projetos eólicos contemplados nos últimos lei- lões ainda não constam na base de dados da ANEEL que originou o Gráfico 10. Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE Início 10 Ano 2, n. 5, maio, 2017 2 0 1 6 1 5 0 5 2 1 8 7 3 8 - dio h) 6,5 9,6 3,5 3,4 7,4 2,6 8,3 0,0 7,9 0,8 2,3 1,0 0,4 9,8 -- éW 3 8 4 4 1 4 5 5 5 7 6 0 0 1 mW 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 o / ç$ eR Pr( 0 - - - - - - - - - - - - - 0 0, 0, E 3 3 S - - - - - - - - - - 0 - - - 0 0, 0, B 9 9 P A. C P o I - - - - 6 - - - - - - - 0 0 6 el A 01, 10, 30, 41, 17 p M 2 2 4 0 2 / o eir - - 0 - - 7 0 0 0 0 - - - - 7 ver PE 78, 191, 120, 120, 302, 82, 893, ara fe p s o d a - - 5,6 - - 0,0 0,0 8,0 - 8,0 5,0 - 1,6 - 8,2 ualiz PI 7 42 24 16 7 22 23 1.43 os at di é m 7 - 6 5 - 2 0 3 0 - - - 2 - 5 s 2, 3, 4, 3, 8, 2, 7, 7, 8, ço CE 54 10 17 11 9 21 11 9 1.45 s. Pre o n a s 0 0 0 4 0 5 6 0 0 - - - - - 5 o RS 186, 20, 492, 132, 28, 80, 326, 152, 48, 1.465, s próxim o n s 017 N 57,0 47,2 52,8 05,4 - 32,0 - 84,7 84,0 35,6 64,4 - - 25,2 88,3 ntado o/2 R 6 2 4 1 6 2 1 2.6 mpla arç er i m 0 0 6 8 3 8 0 8 - 5 6 0 - 0 4 a s o: A 90, 61, 65, 48, 52, 67, 83, 00, 73, 46, 90, 93, 72, par osiçã B 3 2 2 1 5 1.0 3 4 4 4.1 vistos ues eólicos do Brasil – P Qde. Potência Parques(MW) 711.805,7 20528,2 441.067,6 34861,1 10281,9 661.505,2 39867,6 972.337,8 21551,0 31769,1 36926,0 390,0 19538,8 20548,2 51112.678,2 531.303,1 1092.284,2 ---1.018,2 ---17.283,7 os e Pesquisas Setoriais.m operação e os que estão pre Tabela 1 - Brasil e Estados: parq Data LeilãoLeilão 14/12/200902ºLER 26/08/201003ºLER 17/08/201112ºLEN 18/08/201104ºLER 14/12/201215ºLEN 23/08/201305ºLER 18/11/201317ºLEN 13/12/201318ºLEN 06/06/201419ºLEN 31/10/201406ºLER 28/11/201420ºLEN 27/04/201503ºLFA 21/08/201522ºLEN 13/11/201508ºLER Total Leilões Proinfa* ACL* Outros Total Fontes: CCEE (2017) e ABEEólica (2017).Elaboração: BNB/ETENE/Célula de EstudNotas: os leilões contemplam projetos e* Dados divulgados pela ABEEólica. Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE Início 11
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