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Portugal no tempo dos Filipes PDF

196 Pages·2000·81.681 MB·Portuguese
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Fernando Bouza Álvarez PORTUGAL NO TEMPO DOS FILIPES POLÍTICA, CULTURA, REPRESENTAÇÕES v (1580-1668) O Prefácio de António Manuel Hespaníia. o Tradução de Angela Barreto Xavier e Pedro Cardim Edições Cosmos Lisboa, 2000 Edição apoiada pela Comissão Nacional para as Comemorações dos índice geral Descobrimentos Portugueses 9 Prefácio de António Manuel Hcspanita • 19 1. Introdução.Cartas,/;-<zf(Zíesátiras.Política,culturacreprcscnações no Portugal dos Filipes (1580-1668) U . 39 2. Documentos antigos e imprensas novas na pretensão ao trono portu- guês. Sobre a propaganda escrita de D. Filipe I 61 3. Retórica da imagem real. Portugal e a memória figurada de D. Filipe I , 109 4. A «saudade» dos reinos e a «semelhança do rei». Os vice-reinados de príncipes no Portugal dos Filipes 127 5. Entre as alterações de Beja (1593) ca «Revolta dos Ingleses» (1596), em Lisboa. Luta política no último Portugal do primeiro Filipe 2000, Edições Cosmos e Fernando Bouza Álvarez 159 6. Lisboa Soxwlia, quase viúva. A Cidade e a mudança da corte no Portugal dos Filipes Composição, impressão e acabamento: Garrido artes gráficas 185 7. Como se tivesse sido de fumo. índice onomástico e toponímico: Angela Barreto Xavier e Pedro Cardim Memória ejuízo do Portugal dos Filipes ante a Restauração de 1640 Julho de 2000 207 8. A nobreza portuguesa e a corte de Madrid. Nobres e luta política no Portugal de Clivares ISBN 972-762-195-3 Depósito legal 154281/00 257 9. Dissonância na monarquia. Uma ficção musical da política barroca em torno do 1640 português Edições Cosmos Av. Júlio Dinis, 6-C, 4." Dto. - P 1050-131 LISBOA 271 10. Entre dois reinos, uma pátria rebelde. Telefone 21 799 99 50 Fax 21 799 99 79 Fidalgos portugueses na monarquia hispânica depois de 1640 homepage: www.liv-arcoiris.pr e-maíl: [email protected] 293 Notas Difusão: Livraria Arco-íris homepage: [email protected] 357 índice onomástico e toponímco Prefácio de António Manuel Hespanha o Com este livro, uma parte muito significativa da obra de Fernando Bouza Álvarez sobre o "período filipino" fica disponível para o seu público mais na- tural, embora não o fique ainda o seu trabalho de maior fôlego - a sua tese de doutoramento, Portugal' en Ia Monarquia Hispânica (] 580-1640). Filipe II, /as cor- tcs de Tomar y Ia génesis dei Portugal Católico, Madrid, Universidade Complutense, difusão restrita, 1987. A publicação deste conjunto de estudos sobre a luta política em Portugal, desde c. 1580 a c. 1670 é absolutamente oportuna, de diversos pontos de vista. É-o, desde logo, da perspectiva da revisão da historiografia sobre esta época. Reúne hoje largo consenso a tese de que a historiografia corrente sobre a Restauração sofria de grandes anacronismos. O rnais referido - o pressupos- to nacionalista, segundo qual a época fora atravessada por uma oposição fun- damental entre portugueses e espanhóis, criou-o uma leitura nacionalista dos acontecimentos, propiciada, quer pela natureza já de si enviesada dos relatos da época, quer pelo nacionalismo romântico da historiografia oitocentista, com destaque para Rebelo da Silva e Pinheiro Chagas. Em todo o caso, faltava encontrar uma narrativa histórica que desse plena conta dos meandros da política portuguesa entre a União e a Restauração. Tinham surgido, é certo, alguns modelos gerais. Magalhães Godinho, seguindo uma ideia de Jaime Cor- tesão, insistira na substituição de complexos histórico-gcográficos. António de Oliveira realçara a importância dos movimentos anti-fiscais. Eu próprio sugeri a mudança de paradigmas de exercício do poder. Mas, em qualquer dos casos, tratava-se de modelos muito genéricos, sendo difícil passar deles para os processos concretos de decisão política sem simplificações grosseiras. Fernando Bouza, estribado num conhecimento ímpar das fontes, ence- tou outro caminho. O da reconstituição dos grupos e facções de corte que eram os actores da política desses tempos. Mas mais e melhor do que isso, o 12 Portugal no tempo dos Filipes. Po!inça, cultura e representações (1580-1668) Prefácio l 3 da reconstituição dos modelos c horizontes mentais da política. E explicando, esconderiam, confirmando uma generosidade que os seus amigos lhe conhe- a partir de uma sábia combinação de prosopografía e interpretação densa das cem. fontes, as categorias profundas que explicam as decisões e os comportamen- Enfim, um grande livro, de um dos grandes historiadores do momento. tos. Não é que os modelos gerais antes referidos deixem de ser convocados nos momentos próprios. Mas, ao lado destes, vê-se que funcionam muitos Agosto de 1999. outros, desde a lógica dos sentimentos até à força indutora das imagens literá- António Manuel Hespanlia rias. E aqui, justamente, que aparecem no livro outras oportunas novidades. Trata-se, como se disse, de um livro de «história política», tanto no sen- tido (próprio) de que trata de uma história do poder, como no sentido (impró- prio) de que lida com actos de sujeitos individuais na luta por esse poder. E, no entanto, a narrativa evita dois erros comuns neste caso. O primeiro é o de supor que, nesta história política, os indivíduos modelam a história ao sabor das suas arbitrárias vontades, por motivos intrinsecamente pessoais e insusceptíveis de qualquer modelização. O segundo é o de supor que, nessa hermenêutica da decisão, os motivos são, para nós, naturais e evidentes; final- mente, porque no historiador e nos sujeitos históricos, a arquitectura da razão e da vontade seria a mesma. Fernando Bouza preocupa-se em esconjurar estas duas simplicidades. Descreve, longa e eruditamente, mecanismos mentais hoje estranhíssimos. O poder das imagens, dos símbolos e dos emblemas, as técnicas de construção e preservação da memória, a relação com o livro, as simpatias entre géneros de saber hoje absolutamente separados, como a mú- sica ou a arquitectura, por um lado, e a política, por outro. Mundos intelectu- ais de saberes perdidos, cujo impacto na acção política quotidiana passaria despercebida a uma história política que homogeneizasse a teoria da acção humana num modelo descritivo sem tempo nem lugar. Nenhuma acção de nenhum sujeito pode ser explicada (ou compreendida) sem a referência a estes fundamentos do cálculo intelectual que comanda a acção. São assim como as regras da aritmética que, quaisquer que sejam os números que discricionariamente proponhamos, condicionam o resultado tanto como os números propostos. Há porém outro aspecto que gostaria de realçar. O autor é de uma erudi- ção imensa. Mas lida com ela com uma também imensa modéstia e disponibi- lidade. As referências eruditas não são nem a variante independente da narra- tiva, como quando não há tantas ideias como citações. Nem servem propósi- tos de arrogância ou terrorismo intelectual (por muito que o que elas supõem de trabalho aterrorize o menos madraço ...). O autor revela erudição à medida da necessidade, inserindo a referência num contexto narrativo coerente e flui- do. Frequentemente, oferece ao leitor fontes e pistas de trabalho que outros Abreviaturas ACB Archivo de los Condes de Bornos, Madrid. ACEDAL Archivo de Ia Casa y Estados de los Duques de Abrantes y Linares, Jerezde Ia Frontera. ADA Archivo de los Duques de Alba, Madrid. AGI Archivo General de índias, Sevilha. AGS Archivo General, Simancas, Valhadolid. AHN Archivo Histórico Nacional, Madrid. AHN-SN Archivo Histórico Nacional, Sccción Noblcza, Toledo. AHPM Archivo Histórico de Prococolos, Madrid. AHPS Archivo Histórico Provincial, Segóvia. AHR Archivo de Ia Santa, Real y Pontifícia Hermandad dei Refugio y Piedad [Santo António dos Portugueses da Corte], Madrid. AMAAEE Archivo dei Ministério de Asuntos Exteriores, Madrid. ANTT Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa. AP Archivo de Palácio, Madrid. AST Archivio dí Stato, Turim. BCG Biblioteca de Ia Casa de Cadaval, Muge. BES Biblioteca de San Lorenzo cl Real, El Escoriai, Madrid. BGUC Biblioteca Geral da Universidade, Coimbra. BL Bntish Library, Londres. BMS Biblioteca Particular de Bartolomé March Servera, Madrid. BNL Biblioteca Nacional, Lisboa. BNM Biblioteca Nacional, Madrid. BNP Biblithèque Nationale, Paris. BPDE Biblioteca Publica Distrital, Évora Para Arcángela M.a Casín Grés BPNA Biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa, BPT Biblioteca Provincial, Toledo. BR Biblioteca Real, Madrid. BUG Biblioteca de k Uníversidad, Granada. BUSA Biblioteca de Ia Universidad, Salamanca. G\UL Cambfidge University Library, Cambridge. *« FZ Biblioteca Francisco de Zabálburu, Madrid. • IVDJ Instituto Valência de Don Juan, Madrid. LCW Library of the Congress, Washington, Manuscript Divisíon. RAE Real Academia Espanola, Madrid. RAH Rea! Academia de Ia Historia, Madrid. Introdução Cartas, traças e sátiras. Política, cultura e representações no Portugal dos Filipes (1580-1668) «... até dos santos de c;í ci medo» D3 Filipa de Jesus. «A una República no se lê puede hacer mayor dano que liurtarle instantes» António Vieira, Sen/tones, Madrid, 1662. * * «Neste desterro, outra auzencia». A ausência de cartas era mais um motivo de amargura para Dona Filipa de Jesus, a filha «cativa», «mofina» e «seim ventura» do Prior do Grato que, desde a década de 1580 até ao início do século XVII, percorria Castela de clausura em clausura1. «Qual coração umano ouuer- lamentar-se-ia- que poderá com perder tal pai como eu, com destero, ... com prizão, com me não deixareim ver neim falar a pessoa ninhuma, antre iientc estranha, apartada até desa irmã que comigo veio, seim me fiar neim de dar um ai onde me oução»2. Numa época em que «até dos santos de cá ei medo»3, uma das poucas esperanças que Dona Filipa podia ainda alimentar era a de receber cartas. Quanto a escrever, tinha de o fazer «às furtadas... que não me deixão um momento, como se eu ouese de roubar o musteiro e fugir dele» e, mesmo assim, quase que o não conseguia, pois estava «seim ter com que compre... neim para huma folha de papel, que neim esa tenho de meu»4. Todavia, «se tivese novas do meu rei e ho vise restaurado tudo isto e meu destero não sentiria»5. Inicia-se o Portugal dos Filipes corn esta correspondência da triste triste Dona Filipa de Jesus assim como com as cartas que D. Filipe I de Portugal enviou, entre 1581 e 1583, às suas filhas Isabel Clara Eugenia e Catarina Micaela6. A única maneira de entender esses sessenta anos de história é fazendo eco quer do Portugal cheio de arcos de triunfo, de festejos e, ainda, de algumas esperanças, ilustrado pelas cartas às duas infamas meninas, quer desse outro «mofino e cativo Purtugal» que, do desterro, Dona Fiíipa imagi- nava como um quase espelho seu7. «Amigo lector e amiga lectora» - peço emprestadas a Tomé Pinheiro da Veiga estas adequadíssimas palavras de proémio8 -, gostaria de o ter alcançado com os trabalhos que aqui apresento. A historiografia relativa ao Portugal Habsburgo tem sido dominada, com demasiada frequência, pelo conhecimento do seu desenlace final, atitude que corresponde, provavelmente, ao mais convincente dos sentidos; ou seja, ao

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