Portugal e a NATO: Diplomacia em Tempo de Guerra (1961-1968) ˝NDICE ACR(cid:211)NIMOS E OUTRAS ABREVIATURAS............................................................III INTRODU˙ˆO................................................................................................................5 1. PORTUGAL E A NATO: 1949 (cid:150) 1961......................................................................12 1.1. UM BREVE QUADRO DOS ACONTECIMENTOS............................................12 1.2. MODUS OPERANDI DAS INSTITUI˙(cid:213)ES CIVIS DENTRO DA NATO...........26 2. O DEFLAGRAR DAS GUERRAS COLONIAIS E A AC˙ˆO DIPLOM`TICA NO SEIO DA NATO......................................................................................................29 2.1. A INDEPEND˚NCIA DO CONGO BELGA (1960) E AS SUAS REPERCUSS(cid:213)ES NA POL˝TICA EXTERNA PORTUGUESA...............................................................31 2.2. O IMPACTO DAS RESOLU˙(cid:213)ES DAS NA˙(cid:213)ES UNIDAS E O IN˝CIO DA GUERRA COLONIAL................................................................................................39 2.3. NOVOS PROTAGONISTAS NO PAL`CIO DAS NECESSIDADES E O ENDURECIMENTO DA POL˝TICA EXTERNA PORTUGUESA.............................56 2.3.1 FRANCO NOGUEIRA E A CIMEIRA MINISTERIAL DE OSLO EM MAIO DE 1961...........58 2.3.2. A QUESTˆO DO ARMAMENTO NATO...............................................................................62 2.3.3. CONSEQU˚NCIAS DO DESVIO DO ARMAMENTO NAS ESTRUTURAS MILITARES DA NATO...............................................................................................................................................71 2.4. A ADMINISTRA˙ˆO KENNEDY (1961-1963): O MAIOR OBST`CULO (cid:192) POL˝TICA EXTERNA PORTUGUESA......................................................................75 2.4.1. O PAPEL DA NATO NA POL˝TICA EXTERNA DA ADMINISTRA˙ˆO KENNEDY.........93 2.5. AS "DISSID˚NCIAS" DOS ALIADOS E O CONCERTAR DE POSI˙(cid:213)ES.......98 2.6. O ANO DE 1962 E UMA NOVA ETAPA NAS RELA˙(cid:213)ES ENTRE PORTUGAL E A NATO.................................................................................................................109 2.6.1. A CONFIRMA˙ˆO DO ISOLAMENTO DE PORTUGAL...................................................110 2.6.2. O FUNDAMENTO DA MUDAN˙A.....................................................................................116 2.7. A NORMALIDADE ANORMAL.......................................................................127 I Portugal e a NATO: Diplomacia em Tempo de Guerra (1961-1968) 3. O FALHAN˙O DO MULTILATERALISMO DA NATO E O APOIO BILATERAL DOS ALIADOS....................................................................................136 3.1. O APOIO DA FRAN˙A E A SA˝DA DA ESTRUTURA MILITAR DA NATO EM 1966....................................................................................................................146 3.2. O APOIO DA RFA.............................................................................................154 4. O APAZIGUAMENTO DA PRESSˆO NA NATO (1964-1968)........................... 158 4.1. A ADMINISTRA˙ˆO JOHNSON E O SUAVIZAR DE POSI˙(cid:213)ES.................158 4.2. O IN˝CIO DA ESCALADA NO VIETNAME E A GUERRA COLONIAL NO SEIO DA ALIAN˙A.................................................................................................168 4.3. O APARECIMENTO P(cid:218)BLICO DE POSI˙(cid:213)ES INSAN`VEIS ENTRE OS ALIADOS..................................................................................................................178 4.4. O DIA SEGUINTE.............................................................................................184 5. CONCLUS(cid:213)ES........................................................................................................187 6. FONTES E BIBLIOGRAFIA..................................................................................191 II Portugal e a NATO: Diplomacia em Tempo de Guerra (1961-1968) ACR(cid:211)NIMOS E OUTRAS ABREVIATURAS ACA (cid:150) American Committee on Africa (ComitØ Americano para `frica) AHD (cid:150) Arquivo Hist(cid:243)rico-DiplomÆtico AOS (cid:150) Arquivo Oliveira Salazar CCA (cid:150) Companhia de Ca(cid:231)adores Especiais CNS (cid:150) Conselho Nacional de Seguran(cid:231)a CO (cid:150) CorrespondŒncia Oficial COE (cid:150) CorrespondŒncia Oficial ExtraordinÆria CONCP (cid:150) ConferŒncia das Organiza(cid:231)ıes Nacionalistas das Col(cid:243)nias Portuguesas DRIL (cid:150) Direct(cid:243)rio RevolucionÆrio de Liberta(cid:231)ªo IbØrica EMFA (cid:150) Estado-Maior das For(cid:231)as Armadas EUA (cid:150) Estados Unidos da AmØrica FFAA (cid:150) For(cid:231)as Armadas FNLA (cid:150) Frente Nacional de Liberta(cid:231)ªo de Angola GRAE (cid:150) Governo RevolucionÆrio de Angola no Ex(cid:237)lio IAN/TT (cid:150) Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo IBERLANT (cid:150) Iberian Atlantic Command ou Comando IbØrico do Atl(cid:226)ntico JCS (cid:150) Joint Chiefs of Staff MAAG (cid:150) Military Assistance Advisory Group MAP (cid:150) Military Assistance Program ou Programa de AssistŒncia Militar MNE (cid:150) MinistØrio dos Neg(cid:243)cios Estrangeiros MPLA (cid:150) Movimento Popular de Liberta(cid:231)ªo de Angola NAC (cid:150) North Atlantic Council ou Conselho do Atl(cid:226)ntico Norte NATO (cid:150) North Atlantic Treaty Organization ou Organiza(cid:231)ªo do Tratado do Atl(cid:226)ntico Norte NE (cid:150) Neg(cid:243)cios Estrangeiros NSC (cid:150) National Security Council OCDE (cid:150) Organiza(cid:231)ªo de Coopera(cid:231)ªo e Desenvolvimento Econ(cid:243)mico III Portugal e a NATO: Diplomacia em Tempo de Guerra (1961-1968) OIT (cid:150) Organiza(cid:231)ªo Internacional do Trabalho ONU (cid:150) Organiza(cid:231)ªo das Na(cid:231)ıes Unidas PRO/FO (cid:150) Public Record Office/Foreign Office RFA (cid:150) Repœblica Federal da Alemanha SACEUR (cid:150) Supreme Allied Commander Europe SACLANT (cid:150) Supreme Allied Commander Atlantic SHAPE (cid:150) Supreme Headquarters, Allied Powers (cid:150) Europe UNITA (cid:150) Uniªo Nacional para a IndependŒncia Total de Angola UPA (cid:150) Uniªo das Popula(cid:231)ıes de Angola URSS (cid:150) Uniªo das Repœblicas Socialistas SoviØticas IV Portugal e a NATO: Diplomacia em Tempo de Guerra (1961-1968) INTRODU˙ˆO O trabalho que aqui se apresenta Ø o resultado de um estudo sobre a actua(cid:231)ªo da diplomacia portuguesa no seio da Alian(cid:231)a Atl(cid:226)ntica durante a dØcada de sessenta do sØculo XX, numa altura em que se procuravam os apoios necessÆrios para a sobrevivŒncia da pol(cid:237)tica colonial do Estado Novo. Como se verÆ ao longo do estudo, a diplomacia portuguesa obteve relativo sucesso em algumas diligŒncias realizadas no quadro de apoio multilateral da Alian(cid:231)a. Isto nªo quer dizer, contudo, que a NATO apoiasse integralmente a pol(cid:237)tica colonial de Salazar. Segundo Costa Pinto, (cid:147)a muralha protectora da Alian(cid:231)a no contexto da Guerra Fria diminuiu o isolamento internacional e permitiu um apoio militar importante.(cid:148) Esta foi indubitavelmente a principal caracter(cid:237)stica do apoio da Alian(cid:231)a a um aliado que era vituperado por alguns parceiros, designadamente pelos pa(cid:237)ses n(cid:243)rdicos. A Dinamarca e a Noruega, bem como o CanadÆ e Holanda, foram os mais cr(cid:237)ticos da Ditadura portuguesa. Logo em 1961, (cid:147)a Noruega bloqueou qualquer venda de armas a Portugal e daqui, como do CanadÆ, partiram alguns projectos de expulsªo do pa(cid:237)s da pr(cid:243)pria NATO.(cid:148)1 Um dos argumentos de Portugal para justificar o apoio da NATO na defesa das col(cid:243)nias prendia-se com o poss(cid:237)vel uso das bases militares e portuÆrias da costa africana pela Alian(cid:231)a e subsequente defesa do Atl(cid:226)ntico Sul, numa altura em que os soviØticos apoiavam os movimentos nacionalistas em `frica. O que estava em causa era a defesa do Ocidente e Portugal arvorava-se em paladino dessa defesa. Acontece que os americanos nunca depreenderam da(cid:237) a necessidade de apoiarem Portugal. Nem mesmo o argumento dos pontos de apoio nessa Ærea os seduziu, uma vez que prefeririam usar, caso fosse necessÆrio fazŒ-lo, as bases militares de pa(cid:237)ses recØm-independentes em detrimento de pa(cid:237)ses subjugados ao colonialismo. Esta posi(cid:231)ªo era corroborada pelo representante americano no ComitØ dos 24 das Na(cid:231)ıes Unidas, donde provinham as resolu(cid:231)ıes condenat(cid:243)rias da pol(cid:237)tica colonial de Salazar.2 Vamos ver que a diplomacia portuguesa se esfor(cid:231)a para 1 PINTO, Ant(cid:243)nio Costa, O Fim do ImpØrio. A Cena Internacional, a Guerra Colonial e a Descoloniza(cid:231)ªo, 1961-1975, Lisboa, Livros Horizonte, 2001, pp. 14 e 30. 2 Vd. COKER, Christopher, NATO, the Warsaw Pact and Africa, Londres, MacMillan, 1985, pp. 56. 5 Portugal e a NATO: Diplomacia em Tempo de Guerra (1961-1968) dissuadir o sentido de voto dos parceiros atl(cid:226)nticos nas vota(cid:231)ıes da ONU sobre a pol(cid:237)tica colonial de Portugal. Os EUA e alguns aliados sªo insens(cid:237)veis a tal pedido e pela primeira vez na hist(cid:243)ria da NATO um aliado nªo obtØm a solidariedade de outros parceiros. Na Alian(cid:231)a Atl(cid:226)ntica, Portugal procurou sempre fazer valer a solidariedade devida a um aliado que se encontrava num fogo cruzado em Nova Iorque e no terreno. A indigna(cid:231)ªo portuguesa Ø maior quando nas vota(cid:231)ıes da ONU se juntam ao bloco afro-asiÆtico parceiros atl(cid:226)nticos. Portugal insiste ad nauseam no argumento da defesa do Ocidente e dos valores tradicionais da Europa numa altura em que os «ventos de mudan(cid:231)a» tinham jÆ virado uma pÆgina da hist(cid:243)ria do continente africano. Como pre(cid:226)mbulo a este estudo Ø apresentada uma resenha hist(cid:243)rica do papel de Portugal na NATO desde a sua forma(cid:231)ªo e das inova(cid:231)ıes produzidas nas For(cid:231)as Armadas portuguesas por via dessa filia(cid:231)ªo. Um dos grandes ganhos do Estado Novo foi a moderniza(cid:231)ªo da estrutura militar do pa(cid:237)s em grande parte devido aos acordos dos A(cid:231)ores, firmados com os EUA, logo ap(cid:243)s a Segunda Guerra Mundial, e renovados ap(cid:243)s a entrada no Pacto. A Base das Lajes foi sempre o maior trunfo de Salazar para a obten(cid:231)ªo de favores ou apoios. Por outro lado, os americanos foram sempre vistos de soslaio por Salazar. Atente-se, por exemplo, no caso da nacionaliza(cid:231)ªo do Canal do Suez, em 1956. Tanto a Fran(cid:231)a como a Grª-Bretanha esperavam um apoio dos EUA, que nªo surgiu, e esta atitude americana apareceu aos olhos de Salazar como uma trai(cid:231)ªo (cid:224)s potŒncias europeias e (cid:224) solidariedade atl(cid:226)ntica. Em resultado disso, Portugal antecipou-se a um poss(cid:237)vel cenÆrio de falta de apoio, reorganizando a estrutura militar de defesa das suas col(cid:243)nias. Como veremos mais adiante, Salazar joga a cartada africana, ignorando a posi(cid:231)ªo americana, e o estalar da crise no Congo em 1960 confirma as piores expectativas do Estado Novo relativamente aos nacionalismos africanos. As rela(cid:231)ıes luso-americanas pautaram-se sempre por uma desconfian(cid:231)a inata de Salazar. Com o in(cid:237)cio das revoltas nacionalistas em Angola e a oposi(cid:231)ªo de Kennedy (cid:224) pol(cid:237)tica colonial do Estado Novo, o quadro pol(cid:237)tico do aliado anacr(cid:243)nico altera-se por completo. O corpus deste estudo pode ser dividido em trŒs partes essenciais. Na primeira, temos a actua(cid:231)ªo diplomÆtica na NATO durante a vigŒncia da administra(cid:231)ªo Kennedy e respectivas consequŒncias de uma oposi(cid:231)ªo frontal dos EUA aos princ(cid:237)pios coloniais do Estado Novo. Esta oposi(cid:231)ªo americana juntava-se (cid:224) dos pa(cid:237)ses n(cid:243)rdicos dentro da Alian(cid:231)a. 6 Portugal e a NATO: Diplomacia em Tempo de Guerra (1961-1968) Antes de entrarmos nas minudŒncias diplomÆticas para a angaria(cid:231)ªo dos apoios ao Estado Novo e retalia(cid:231)ıes a uma oposi(cid:231)ªo no seio da Alian(cid:231)a, Ø apresentado um subcap(cid:237)tulo que nos mostra a reac(cid:231)ªo portuguesa (cid:224) independŒncia do Congo, em 1960. Podemos dizer que os argumentos arreigados do Estado Novo sobre a preserva(cid:231)ªo das col(cid:243)nias e do status quo dos europeus no continente africano tiveram o seu fundamento nos acontecimentos que rodearam a independŒncia da antiga col(cid:243)nia belga. A decisªo da concessªo da independŒncia ao Congo, em 1960, fez soar em Portugal um alarme: a avalanche das independŒncias poderia suplantar as col(cid:243)nias lusas e, para evitar tal acontecimento, tornava-se necessÆrio prevenir. Salazar reorganizou militar e politicamente as col(cid:243)nias nos finais dos anos cinquenta, com maior incidŒncia ap(cid:243)s os confrontos no Congo no rescaldo da independŒncia. A razªo pela qual Ø feita uma sœmula dos acontecimentos no Congo prende-se com o pedido belga feito (cid:224) NATO para a desloca(cid:231)ªo temporÆria de armamento a fim de se pacificar o conflito. TambØm Portugal, um ano ap(cid:243)s este pedido, solicitou (cid:224) Alian(cid:231)a a desvincula(cid:231)ªo de material militar com o intuito de reprimir as revoltas nacionalistas em Angola. Foi, portanto, a primeira grande ajuda da organiza(cid:231)ªo (cid:224)s guerras coloniais. Quem nªo estava pelos ajustes era a administra(cid:231)ªo Kennedy. O presidente americano foi um feroz opositor da pol(cid:237)tica colonial de Salazar. A sua oposi(cid:231)ªo foi sempre criticada pelos representantes portugueses na NATO que pediam mais solidariedade de um aliado numa altura em que na ONU o bloco soviØtico arregimentava grande parte do apoio aos nacionalistas africanos. Os EUA ripostam, procurando concitar entre os chefes nacionalistas africanos algum capital pol(cid:237)tico. Isso acontece com a UPA de Holden Roberto. Portugal via nesta atitude um claro sinal de divergŒncia e desalinho de um parceiro atl(cid:226)ntico. Nunca o deixou de mostrar nas Sessıes do Conselho do Atl(cid:226)ntico. As linhas de ac(cid:231)ªo pol(cid:237)tica de Kennedy baseavam-se nas recomenda(cid:231)ıes de um relat(cid:243)rio produzido por um Grupo de Trabalho (Task Force), encarregado de estudar a pol(cid:237)tica portuguesa em `frica e de delinear op(cid:231)ıes pol(cid:237)ticas, entregue em Julho de 1961. Uma dessas recomenda(cid:231)ıes dizia directamente respeito a Portugal e (cid:224) NATO: a administra(cid:231)ªo norte-americana nªo devia manifestar ostensivamente a sua oposi(cid:231)ªo (cid:224) pol(cid:237)tica colonial de Portugal sob pena de este nªo renovar os Acordos dos A(cid:231)ores ou atØ retirar-se da Alian(cid:231)a, deixando-a vulnerÆvel aos ataques soviØticos na Europa, uma vez que 7 Portugal e a NATO: Diplomacia em Tempo de Guerra (1961-1968) as Lajes funcionavam como placa girat(cid:243)ria de todo o dispositivo militar americano e, por conseguinte, influenciavam todos os planos de defesa da Europa. Pese embora a pressªo americana, Salazar mantØm o aliado em sentido com a poss(cid:237)vel nªo renova(cid:231)ªo dos Acordos dos A(cid:231)ores. (cid:201) por esta altura que no Departamento de Estado ganham ascendente pol(cid:237)tico aqueles que defendiam uma maior concentra(cid:231)ªo nos assuntos europeus e da NATO (os europe(cid:237)stas) em detrimento dos africanistas, que viam no continente africano uma nova oportunidade hist(cid:243)rica para alterar a rela(cid:231)ªo de for(cid:231)as naquele continente, num contexto de Guerra Fria. Na segunda parte do trabalho, relevamos o falhan(cid:231)o do multilateralismo da Alian(cid:231)a e subsequente apoio bilateral de aliados, mormente a Fran(cid:231)a e a RFA. Estes dois pa(cid:237)ses foram na primeira fase da guerra colonial os principais aux(cid:237)lios de Salazar. Mais tarde, Portugal contou tambØm com os EUA, jÆ com Johnson no poder, e com a Grª-Bretanha: (cid:147)a guerra colonial gozaria ((cid:133)) de uma neutralidade colaborante dos principais aliados de Portugal (EUA, Fran(cid:231)a, Grª-Bretanha e Repœblica Federal da Alemanha), parceiros centrais da Alian(cid:231)a Atl(cid:226)ntica.(cid:148)3 Estamos em crer que o apoio bilateral se concretiza ap(cid:243)s o falhan(cid:231)o de uma plataforma de apoio multilateral da Alian(cid:231)a, deixando caminho livre para a institui(cid:231)ªo de acordos bilaterais com aqueles pa(cid:237)ses desejosos de cimentar uma posi(cid:231)ªo pol(cid:237)tica na Europa. A Fran(cid:231)a Ø o caso mais paradigmÆtico. De Gaulle nunca escondeu o desejo de supremacia gaulesa na Europa em detrimento dos americanos e tudo fez para alcan(cid:231)ar esse des(cid:237)gnio. Salazar era visto como o l(cid:237)der europeu que ainda acreditava no poder extracontinental de uma Europa que estava sendo ultrapassada. Apesar de a Fran(cid:231)a ter abdicado da ArgØlia, o general nada fez para aconselhar Salazar a ir pelo mesmo caminho com as col(cid:243)nias portuguesas. Esse silŒncio fundava-se no desejo de nªo macular um aliado atl(cid:226)ntico, escudando-se no argumento de que isso eram assuntos internos de Portugal. De Gaulle nªo consegue a dita supremacia na Europa e em consequŒncia retira a Fran(cid:231)a do comando militar da organiza(cid:231)ªo em 1966, permanecendo contudo como membro pol(cid:237)tico da Alian(cid:231)a. Para Portugal, este epis(cid:243)dio revelou-se positivo. Lisboa recebeu a sede do Comando IbØrico do Atl(cid:226)ntico (IBERLANT), em Fevereiro de 1967. A institui(cid:231)ªo deste novo comando chegou quando as rela(cid:231)ıes no seio da Alian(cid:231)a estavam na sua fase mais fria e distante. A import(cid:226)ncia que Ø dada a um aliado que se vinha alheando dos comandos 3 PINTO, Ant(cid:243)nio Costa, Op. Cit., pp. 13. 8 Portugal e a NATO: Diplomacia em Tempo de Guerra (1961-1968) militares da Alian(cid:231)a em favor da sua concep(cid:231)ªo militar de defesa do pa(cid:237)s nªo Ø de todo descabida. Esta foi uma jogada pol(cid:237)tica da NATO, motivada decerto pelo abandono da Fran(cid:231)a, que fez Portugal regressar ao conv(cid:237)vio dos comandos militares da Alian(cid:231)a, alØm de que era uma prova pol(cid:237)tica da conivŒncia atl(cid:226)ntica para com as guerras coloniais. Como afirma Ant(cid:243)nio Telo, (cid:147)Portugal aceita que nªo existe uma visªo comum sobre o carÆcter das guerras de `frica e aceita que a NATO nªo as considera como uma amea(cid:231)a pr(cid:243)pria.(cid:148)4 O apoio da RFA foi sempre um apoio paradoxal. Por um lado, os acordos comerciais com Portugal indiciavam o desejo de a Alemanha se impor na Europa como uma economia forte (vivia-se a dØcada do (cid:147)milagre econ(cid:243)mico(cid:148)), mas por outro nªo queria ver o seu nome alinhado com um pa(cid:237)s colonial condenado nos are(cid:243)pagos internacionais, pois era prejudicial para as rela(cid:231)ıes comerciais com os pa(cid:237)ses africanos recØm-independentes, tambØm eles sa(cid:237)dos do jugo colonial. As rela(cid:231)ıes luso-alemªs eram, portanto, pautadas pelo cuidado teut(cid:243)nico em nªo beliscar um estatuto que se pretendia alcan(cid:231)ar. A œltima parte do trabalho centra-se nas rela(cid:231)ıes atl(cid:226)nticas jÆ no per(cid:237)odo da administra(cid:231)ªo Johnson (1964-68). Johnson permitiu que Portugal recuperasse da oposi(cid:231)ªo feroz lan(cid:231)ada pelo seu antecessor. Podemos dizer que (cid:147)a pol(cid:237)tica da administra(cid:231)ªo Johnson relativamente (cid:224)s col(cid:243)nias africanas de Portugal tinha subjacente as preocupa(cid:231)ıes estratØgicas dos A(cid:231)ores e do papel de Portugal na NATO.(cid:148)5 Como tal, as preocupa(cid:231)ıes humanistas de Kennedy jamais entraram nas contas da pol(cid:237)tica externa de Johnson. Relativamente (cid:224) questªo das col(cid:243)nias portuguesas, a administra(cid:231)ªo Johnson vai justificar a sua actua(cid:231)ªo diplomÆtica em (cid:147)razıes de seguran(cid:231)a nacional(cid:148). A pol(cid:237)tica externa americana vai (cid:147)evitar p(cid:244)r em perigo o uso da Base das Lajes(cid:148), cuja renova(cid:231)ªo do acordo se encontrava suspensa pelo governo portuguŒs, mas com o direito de preferŒncia para os americanos.6 O Vietname foi a pedra no sapato da administra(cid:231)ªo Johnson e a grande causa para o apaziguamento da pressªo sobre Portugal. A escalada americana no Sudeste AsiÆtico desviou as aten(cid:231)ıes no seio da Alian(cid:231)a. Os problemas coloniais de Portugal eram remetidos para segundo plano, diluindo-se com o passar do tempo. Entre os aliados, discutia-se a 4 TELO, Ant(cid:243)nio JosØ, (cid:147)Portugal e a OTAN: 1949-1976(cid:148), pp. 100, In AAVV., Portugal e os 50 Anos da Alian(cid:231)a Atl(cid:226)ntica 1949-1999, Lisboa, MinistØrio da Defesa Nacional, 1999. 5 DICKSON, David A., (cid:147)US Foreign Policy Towards Southern and Central Africa: The Kennedy and Johnson Years(cid:148), Presidential Studies Quarterly, Vol. XXIII, n” 2, Spring 1993, Center for the Study of the Presidency, pp. 308. 6 DICKSON, David A., Idem, pp. 307. 9 Portugal e a NATO: Diplomacia em Tempo de Guerra (1961-1968) concentra(cid:231)ªo de for(cid:231)as americanas num continente que pouco dizia aos restantes parceiros. De Gaulle Ø a voz do inconformismo, criticando os EUA de se esquecerem da Europa. Era preocupa(cid:231)ªo not(cid:243)ria entre os aliados, Portugal inclu(cid:237)do, a crescente mobiliza(cid:231)ªo militar para uma zona do globo distante dos verdadeiros interesses. Aqui era a l(cid:243)gica americana de a Guerra Fria ter uma dimensªo global e o comunismo ter de ser travado em qualquer lugar, enquanto que para os restantes aliados aquela s(cid:243) se fazia sentir devido (cid:224) amea(cid:231)a militar da URSS. Rusk acusava os franceses de complicarem tudo e (cid:147)admitia a crise do Pacto(cid:148). Segundo ele, os aliados nªo queriam ocupar-se dos problemas reais no mundo.(cid:148) A diplomacia portuguesa aproveitava este argumento para relembrar que aquilo que os americanos faziam na `sia era o mesmo que os portugueses faziam em `frica: a defesa do Ocidente e o combate contra o comunismo internacional. 7 Depois da agita(cid:231)ªo provocada pela sa(cid:237)da da Fran(cid:231)a da estrutura militar da NATO, os aliados jÆ pouco verberavam a pol(cid:237)tica colonial de Salazar, sob pena de fragilizar ainda mais a Alian(cid:231)a. Estamos em crer que o esfor(cid:231)o de oposi(cid:231)ªo a Portugal que alguns aliados fizeram no in(cid:237)cio da dØcada de sessenta se foi esvaindo com a no(cid:231)ªo de que uma Alian(cid:231)a fragmentada e fragilizada por desalinhos internos s(cid:243) beneficiaria a URSS. Nªo podemos dizer que foi uma vit(cid:243)ria da diplomacia portuguesa tout court, mas a insistŒncia produziu bons resultados para o Estado Novo que assim conseguiu aguentar as guerras em `frica atØ ao derrube do regime, em Abril de 1974. Uma œltima nota. OptÆmos por referir ao de leve o caso da invasªo de Goa e por deixar de fora a actua(cid:231)ªo diplomÆtica portuguesa relativamente (cid:224)s restantes col(cid:243)nias (Macau e Timor). * * * Esta tese nªo estaria terminada se nªo fizesse uma referŒncia especial a todos aqueles que, directa ou indirectamente, estiveram envolvidos na realiza(cid:231)ªo da mesma. Sem 7 NOGUEIRA, Franco, DiÆlogos Interditos. A Pol(cid:237)tica Externa Portuguesa e a Guerra de `frica, Vol. 2, Braga, Interven(cid:231)ªo, 1979, pp. 205. 10
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