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Por que não somos Nietzscheanos PDF

150 Pages·1993·67.649 MB·Portuguese
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1...1 '~'ergunta era: por que você não é nietzscheano? n que não confundimos o valor e a verdade (nós q enu . os a crer que seja verdadeiro tudo o que des jamos, mas nã sejar a verdadel), nós que amamos a verdad mais do que o b ,o real mais do que a arte e a arte mais do que l estetas, nós que acreditamos na ciência e na razão, nós os clássicos ( arte a serviço da ver , eis o nosso cultol), nós os racionalista nós os continuadores J Sócrates e das Luzes ' mais especialmenr nós, os discípulos J Epicuro e d Spinoza! " nós 411 referimos o conh ento à interpr ção, a história gia (e a pergunta "o que é!" pergunta 'quemi'"), nós que nunca nos achamos demasi 1..,/ do humanos nós que só suportamos o elitismo republicano, os democratas, nós os progressistas, nós que somos ' que quer 1..,/ ser! ' do partido dos fracos edos escravos nós que não queremo sobretudo não! ' ultrapassar o homem, nós que desconfiamo embriaguez e das paixões, nós os apolíneos, nós os civilizad que tentamos ser mais ou menos morais (sempre entre o be mall), nós os inimigos dos malvados e dos sofistas, nós os ami sabedoria e da gente boa, nós que nos esfo ':"~~~~~~ por ser bons, justos everídicos, .~~ por que seríamos nietzscheanos?" ti ti •• _c:lIt-c»rCl _~sClIc» MOVIMENTO DEIDÉIAS/lDÊIAS EM MOVIMENTO E xpressão da mais recente guinada no solo da filosofia francesa, a coletânea reúne autores cujo tipo emergente convém sublinhar, diante das cortes filosóficas reinantes. Embora diferenciados por condutas teóricas individuais, convergem no traçado de uma nova pOstura comum, ascendendo do envolvimento adstringente com asidéias nietzscheanas - para-dogmática suprema e sufocante nas últimas décadas - à explícita rejeição crítica das mesmas. O próprio lema que adotam - "pensar com Nietzsche contra Nietzsche" - antes cautela diplomática do que critério analítico, mas não apenas, demarca aspontas do itinerário que viveram enquanto membros de uma geração intelectual que começou a se formar nos anos 60, portanto sob as cangas e derivações hipertróficas da "filosofia do martelo", lineamentos debaixo de cuja perspectiva se perfilaram por muito tempo, mas aos quais, em graus diversos, vêm denunciando agora como esgotados, insuficientes e errôneos, no mínimo porque, tal como dizem Ferry e Renaut na Apresentação, "a filosofia não está destinada ao exercício infinito da desconstrução" e de várias maneiras "retoma a exigência ancestral de racionalidade". De fato, para os autores deste livro, hoje, o combate estruturante é armado pela demanda de racionalidade cont.ra a desrazão das filosofias da diferença. Por essa linha se distribuem os textos. Do mero apelo à racionalização, ao "bom uso" da obra de ietzsche, feito por Raynaud, que se diz amparado e estimula- do pelo exemplo de Weber, mediando pela instrutiva reflexão de Descombes a respeito do advento do "nietzscheanismo à francesa", cujas respostas aos proble- mas ideológicos e culturais do tempo presente "devem ser rejeitadas, porque filosoficamente incoerentes j..'; mal concebidas e em termos inutilmente amaneirados ou desesperadamente confusos", que compõem "uma vaga orien- tação geral expressa por fórmulas como o 'descentramento do sujeito', a leitura 'sintomal' da linguagem, acrítica da 'falsa consciência"'. A exigência de racionalidade passa também pela contribuição de Legros, que recusa energicamente a metafisica da vida de Nietzsche, cujas ambíguas criações conceituais, partindo da "oposição entre o pensamento natural (o pensamento e a ação como processo sem sujeito) e o pensamento consciente levam de Voltaa todas as distinções da metafisica" tradicional, sem a consistência e o valor racional que a melhor parte desta sempre exibiu; o rumo das exposições é inte- grado ainda pelo texto de Boyer, cujo imperativo - "é preciso parar de interpre- tar Nietzsche e tomá-lo ao pé da letra" - é irrepreensível, se bem entendido como anecessária anterioridade do compreender (análise imanente ou estrutural) em relação à interpretação, a partir do qual interroga o "valor operatório ou analítico, e não apenas profético, dos conceitos especificamente nietzscheanos", pondo em evidência a "obsessão anti-igualitária" de Nietzsche na sua contraposição à "vontade de saber", tomada enquanto pos- sibilidade do nefasto. Culmina o fluxo crítico da obra na opulência dos ensaios de Comte- Sponville e Taguieff, os dois mais abrangentes e elaborados da coletânea. O primeiro aborda e promove a demolição dos temas mais caros a Nietzsche: noções como as de super-homern, eterno retorno, vontade de potência e transmutação dos valores são cuidadosa e competentemente investigadas e "~ergunta era: por que você não é nietzscheano? /.../ n refutadas, ao mesmo tempo em que seu autor confessa que "compartilhava que não confundimos o valor e a verdade (nós que com Nietzsche o essencial de suas recusas", mas que lhe repugna totalmente enu . mos a crer que seja verdadeiro tudo o que dese- o "que existe.(no conteúdo) de mais propriamente nietzscheano" - "porque jamos, mas não esejar a verdadel), nós que amamos a verdade diz não aos homens reais e especialmente não à moral, não à cultura, não à história, não à humanidade do homem". Por sua vez, Taguieff, com destreza mais do que o bel , o real mais do que a arte e a arte mais do que os e descortino, trafega pelas malhas do pensamento tradicionalista, desde Louis estetas, nós que acreditamos na ciência e na razão, nós os clássicos (a de Bonald e Donoso Cortês, passando por Maurras, até o entroncamento arte a serviço da verdade, eis o nosso cultol), nós os racionalistas, com Nietzsche, que aparece "como o fundador de uma segunda tradição do nós os continuadores de pensamento tradicionalista radical, cuja herança intelectual e política só sur- Sócrates e das Luzes - e girá na primeira metade do século XX. Deste segundo tradicionalismo anti- mais especialmente moderno, os herdeiros parciais, nos dois sentidos, serão legião entre osfilóso- nós, os discípulos de fos e osliteratos: Spengler e Évola, Edouard Berth e Drieu IaRochelle, Leon Chestov, Cioran ... e Heidegger, evidentemente". Segundo tradicionalismo Epicuro e de nutrido pelo "nacionalismo integral" epelo voluntarismo b~licoso. Spinoza! -, nós que Ambos, Cornte-Sponville e Taguicff, nos lineamentos mais vigorosos de preferimos o conhe- seus argumentos, independentemente de diferenças de fundamento ~ pers- ento à interpre- pectiva, fazem lembrar os melhores emais pertinentes aspectos da ampla críti- ção, a história à ca de Lukács ao irracionalismo alemão em geral e a Nietzsche em particular, gia (e a pergunta "o que é?" à realizada nos idos de 50. Sim, a recusa e o combate à herança nietzscheana não está começando agora... pergunta "quem 7.."1), no/s que nunca nos achamos dernasia.- O conjunto crítico de POR QUE NÃO SOMOS NIETZSCHEANOS é do humanos /.../ nós que só suportamos o elitismo republicano, nós sem dúvida um lenitivo, na enxurrada nietzscheano-hcideggeriana ainda em os democratas, nós os progressistas, nós que somos - que queremos voga dominante; enquanto tal fazjuz a acolhimento pelo contraste que pro- ser! - do partido dos fracos e dos escravos /.../ nós que não queremos - porciona epelo serviço que presta. Todavia, não sem que fique assinalado seu sobretudo não! - ultrapassar o homem, nós que desconfiamos próprio limite crítico, circunscrito pelo fundamento neo-racionalista, que embriaguez e das paixões, nós os apolíneos, nós os civilizados, n obriga e é obrigado a se acantonar no interior mesmo das estreitas fronteiras do liberalismo social-democrata. que tentamos ser mais ou menos morais (sempre entre o bem Limites que, porém, favorecidos pelas mazelas, aventuras e descaminhos, mall), nós os inimigos dos malvados e dos sofistas, nós os amigos práticos eteóricos, de certos marxismos, vem permitindo que Marx sejaincluí- sabedoria e da gente boa, nós que nos esforç do no rol dos "mestres da suspeita" (Ricoeur), embotando com isso, por longo tempo, a possibilidade de uma efetiva crítica ad hominem, no exato o, ~ por que seríamos nietzscheanos?" momento em que a deformação e a mutilação dos homens atingem nívelsem o- -o -o pmraenceíadceonted,op"anraãoohqáuaflataosso,fissóticiantnerieptrzestcahçõeaens"a --ceenstruaadaconrroelcaetaticiessmtéoticmaitod-a 0"0""",00 'c'c""oo t•i t•i mentira são ocanto dionisíaco de confirmação ejustificativa. c,..o.. 43-c:li'l'e>rCl 43-rlISClie> J. CHASIN MOVIMENTO DEIDÉIAS/IDÉIAS EM MOVIMENTO ALAIN BOYER ANDRÉ COMTE-SPONVILLE VINCENT DESCOM BES LUC FERRY ROBERT LEGROS PHILlPPE RAYNAUD ALAIN RENAUT PIERRE-ANDRÉ TAGUIEFF TRADUÇÃO ROBERTO LEAL FERREIRA ••••••-.•!!! e.c:::Iif"c:>rCl ~~sClic:> MaVIM ENTO DE IDÉIAS/lD ÉIAS EM MaVIM ENTO TíTULO ORIGINAL , POURQUOI NOUS NE SOMMES PAS NIETZCHEENS e ÉDITIONS BERNARD GRASSET & FASQUELLE/PARIS/l99l íNDICE e DA EDiÇÃO BRASILEIRA: EDITORA ENSAIO/SP/l994 PREFÁCIO 7 CAPA Luc Ferry e Alaln Renaut GILBERTO SATO HIERARQUIA E VERDADE 11 REVISÃO Alaln Boyer LíVIA C. A. COTRIM (ORIGINAIS) E A BESTA-FERA, O SOFISTA E O ESTETA: EQUIPE ENSAIO "A ARTE A SERViÇO DA ILUSÃO" 37 André Comte-Sponville DIAGRAMAÇÃO. COMPOSiÇÃO E FILMES O MOMENTO FRANCÊS DE NIETZSCHE 97 ENSAIO - EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Vlncent Descombes "O QUE PRECISA SER DEMONSTRADO IMPRESSÃO E ACABAMENTO NÃO VALE GRANDE COISA" 127 GRÁFICA EDITORA HAMBURG Luc Ferry e Alaln Renaut A METAFíSICA NIETZSCHEANA DA VIDA 151 Dados Internacionaisde Catalogação na Publicação (CIP) Roberl Legros (Cãmara Brasileirado livro. SP.BrasiQ Por que não somos nietzscheanos I Alein Boyer... NIETZSCHE EDUCADOR 191 Iet aLI; tradução Roberto leal Ferreira. - São Paulo: Phllippe Raynaud Ensaio.1993. O PARADIGMA TRADICIONALISTA: l. Nietzsche.FriedrichWilhelm.1844-1900I.Bover,Alain. HORROR DA MODERNIDADE E ANTILlBERALlSMO NIETZSCHE NA RETÓRICA REACIONÁRIA 213 93-3603 CDD-193 índices ParaCatãlogo Sistemático Plerre-André Taguieff 1.Nietzsche:Rlosofiaalemã 193 ISBN 85-85669-01-2 1994 TíTULO SELECIONADO PELA ~c:::Ii1"c:>rCl ~"sCli<> MOVIMENTO DE IDÉIAS/lDÉIAS EM MOVIMENTO Rua Tupi, 784 01233-000 - São Paulo - SP Telefones: (011) 66-4036/3168 PREFÁCIO ::::::::::::::;:::::::::: ::::::::::::::::::::::::::::::::: ::::::::::::~:~:~-:::~::~:::::~:::::::}~:~\\:~:~:::;:;.:.;.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.;.:.:.:.:.:.:.:. POR QUE NAO SOMOS NIETZSCHEANOS Pensar com Nietzsche contra Nietzsche: este po- deria ser o outro título desta coletânea, cuja Idéia nosso amigo André Comte-Sponville nos veio propor, um ano atrás. Para a maioria dos estudantes da nossa geração - aquela que começou os estudos nos anos 60 - o ideal do lIuminismo só podia ser uma brincadeira de mau gosto, uma sombria mistificação. Pelo menos é isso que nos ensinavam. Os gurus da época chamavam-se Foucault, Deleuze, Derrida, AI- thusser e Lacan. Merleau-Ponty, o humanista, fazia o papel de figurão ultrapassado e Sartre já não era lido pela maior parte de nós. Da École Normale Supérieu- re ao College de France descobríamos os filósofos da suspeita: Marx, Freud, Heidegger, sem dúvida, mas an- tes de tudo Nietzsche, o inventor dessa "genealogia" em nome da qual era preciso tratar os discursos co- mo sintomas. Ilusão retrospectiva ou astúcia da história? Os que se queriam herdeiros dessa "filosofia do martelo" com a qual Nietzsche pretendia quebrar os ídolos da me- tafísica hoje ainda passam por serem os últimos cria- dores de uma tradição filosófica em vias de esgota- mento. Para a nossa geração, essa evidência teve vl- da longa. Os ensaios aqui reunidos, em sua própria diversidade - nenhum dogma comum os reúne =, são testemunhas disso: a filosofia não está destinada ao exercícío infinito da desconstrução. Sob múltiplas for- mas, ela retoma a exigêncía ancestral de racionalida- de a que o relativismo dos pensamentos da diferença nos convidava muito comodamente a renuncíar. Sem dúvida, as escamas caíram de nossos olhos: hoje nin- guém mais acredita no Saber absoluto, no sentido da história ou na transparência do sujeito. Eisaí exata- mente por que é mesmo com Nietzsche que deve- mos pensar contra Nietzsche. L.F. e A.R. ..•~:~:~:~:1:~:j:~:f~:r~:~:~:~:~:~:~::::::::::::::::::::::::::;:;:;:::::::::;:::;;::;::;;:::;::::;::;::::;:: ::;:::;;;:::::::;::::::::::::::::::::::::;::::;::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::;::.::..;:..;:..::..;:.:.;.:.; . HIERARQUIA E VERDADE HIERARQUIA E VERDADE ALAIN BOYER "Que tenho eu a ver com refutações ..." F. NIETZSCHE Em 1884 foram publicados em Breslau os Funda- mentos da Aritmética. Simultaneamente, em Ni- ce, aquele que escreveu tão bons livros terminava a quarta parte do Zaratustra. Frege e Nietzsche. Que é então a filosofia, e mesmo a filosofia alemã, para que essas duas obras possam ser consideradas como per- tencentes à mesma "disciplina"? Nunca a cisão entre o matemo e o poema, para falar como Alain Badiou, se mostrou tão aberta. E, de fato, cada um desses dois pensadores iria ser considerado, no século XX, o Inventor de uma nova maneira de pensar. A revolu- ção fregiana terá como posteridade Russell,Wittgens- tein, Carnap, Quine... O filósofo "a marteladas" fará o papel de profeta aos olhos de Heidegger e do "pen- samento francês" dos anos 60-70, mas não se deve desdenhar sua influência sobre homens como Simmel e Max Weber. (A posição de Husserl é singular: ele parece ignorar Nietzsche, ao passo que a crítica feita por Frege de seu primeiro livro em 1895 foi, ao que parece, determinante, tanto quanto a de Brentano.) O século XIX legou-nos pelo menos três grandes lo- tes de problemas ao redor dos quais ainda gira a maior parte de nossas inquietações: o econômico, o político e o epistemológico. O mercado, a democra- cia, a ciência (e a técnica) são os objetos que deve- mos continuamente tentar pensar. Marx ou Walras, T cqueville ou Pareto, Comte ou Claude Bernard, não . Itaram os analistas à cabeceira da modernidade. utores há até, como Cournot ou Mill, que procura- ram compreender o todo. Quanto ao mercado e, de um modo mais geral, à economia industrial, Nietzsche não parece ter dado a ela tanta importância quan- POR QUE NÃO SOMOS NIETZSCHEANOS HIERARQUIA E VERDADE ALAIN BOYER CONTRA A IGUALDADE. A HIERARQUIA to seu contemporâneo Marx, que ele, aliás, não cita mos, em compensação, um eterno retorno da obses- nunca. Mas no que diz respeito à democracia, é pa- o anti-igualitária, É preciso parar de interpretar tente que Nietzsche não se cansa de pensar nela. NI tzsche e tomá-Io ao pé da letra. O cristianismo é Não para fundamentá-Ia, e sim para condená-Ia. Não m primeiro lugar para ele a religião da revolta dos há dúvida de que a leitura de Nietzsche continuará fracos, o pensamento plebeu, o igualitarismo integral. ainda por muito tempo a exercer seus efeitos estimu- ua admiração pelo sistema indiano de castas (ver O lantes sobre todos aqueles que não querem fazer da I\ntlcristo) aí está para nos convencer de que filosofia uma atividade profissional "como as outras", e Nletzsche se coloca sem hesitar do lado dos partidá- que nela vêem uma atividade vital. uma paixão. rios do Homo hierarchicus contra os defensores do Ho- Obras como Humano. Demasiado Humano ou Aurora mo aequalis. Poder-se-ia retorquir que ele não se can- contêm muitos textos otarmantee', que cumpre reler e a de fazer o elogio do Indivíduo contra a multidão, meditar, mesmo quando passamos o melhor de nosso até mesmo da pessoa de Jesus. Mas em que sen- tempo refletindo sobre a interpretação das teorias lido? científicas ou sobre o sentido do teorema de G6del... Ler Nietzsche, sim, sem dúvida, mas a questão não é essa, mas antes a seguinte: pode-se ser nietzscheano? A obsessão central de Nietzsche é a hierarquia. Ele o diz e o repete. "Dado que é sobre o problema da hierarquia que temos o direito de falar, que ele é o nosso problema, de nós outros, espíritos livres..."2 A hie- CONTRA A IGUALDADE, rarquia, a saber, ao mesmo tempo o problema da A HIERARQUIA hierarquia dos valores e o elogio dos valores de; hie- rarquia. Pensar é Julgar, por certo, mas no sentido do juizo de valofl. Situar-se "além do bem e do mal" não Nietzsctre-Cóucles- não se insurge tanto contra o significa em nenhum caso renunciar a julgar, classifi- individualismo quanto contra o igualitarismo de- car, eliminar. Pelo contrário. Mas é querer situar-se pa- mocrático: "A democracia é o cristianismo naturaliza- ra além das avaliações tradicionais, a um só tempo do'". A modernidade é uma "desnaturação dos valo- cristãs e igualitárias. Se o lIuminismo e a revolução en- res. Contrários introduzidos no lugar dos graus e ordens frentavam a igreja, faziam-no em nome de valores naturais. Ódio à hterorqutc". igualitários cujo fonte era cristã. Não interpretar Nietzsche, tomá-Io literalmente, sem Mas, para além desse diagnóstico lúcido, podemos comentários: encontrar em Nietzsche uma interessante crítica da igualdade? Não estou convencido disso. Encontrare- A falta de clareza moderna 1. No bom e no mau sentido da palavra: alguns frios elogios da Não vejo o que se quer fazer com o operário guerra pela guerra (Humano. Demasiado Humano. § 477) têm algo europeu. Ele se acha bem demais para não pas- de propriamente "ignóbil". 2. Humano. Demasiado Humano. Prefócio. § 7. sar de agora em diante a exigir cada vez mais, 3. Ver G. DELEUZE,Nietzsche et Ia philosophie. PUF, 1962. p. 1: "O projeto mais geral de Nietzsche consiste no seguinte: introduzir na fi- losofia os conceitos de sentido e de valor". Quanto ao sentido, se 4. Comparação rejeitada por J. GRANIER, Le probleme de Ia véri- "à relação científica do efeito e da causa Nietzsche substitui a cor- té dons Ia philosophie de Nietzsche,Éd. du Seuil, 1966, p. 419, mas relação do fenômeno e do sentido" (ib" p. 4), perguntamo-nos em ratiflcada por G. DELEUZE,p. 66. que sentido da palavra "sentido" os fenômenos naturais têm "senti- 5. Fragments posthumes, 1887, Galllmard, 1976, p. 145. do"; sobre a hierarquia. ib.. pp. 8, 67. 6. lb., p. 64.

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