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Políticas e projetos na era das ideologias: A imprensa no Brasil republicano (1920-1940) PDF

183 Pages·2015·1.991 MB·Portuguese
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Preview Políticas e projetos na era das ideologias: A imprensa no Brasil republicano (1920-1940)

Copyright © 2014 by Paco Editorial Direitos desta edição reservados à Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. Coordenação Editorial: Kátia Ayache Revisão: Elisa Santoro Capa: Renato Santana Diagramação: Bruno Balota Edição em Versão Impressa: 2014 Edição em Versão Digital: 2014 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Conselho Editorial Profa. Dra. Andrea Domingues (UNIVAS/MG) (Lattes) Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes) Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna (UNESP/ASSIS/SP) (Lattes) Prof. Dr. Carlos Bauer (UNINOVE/SP) (Lattes) Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha (UFRGS/RS) (Lattes) Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa (FURG/RS) (Lattes) Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes (UNISO/SP) (Lattes) Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira (UNICAMP/SP) (Lattes) Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins (UNICENTRO-PR) (Lattes) Prof. Dr. Romualdo Dias (UNESP/RIO CLARO/SP) (Lattes) Profa. Dra. Thelma Lessa (UFSCAR/SP) (Lattes) Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (UNIPAMPA/RS) (Lattes) Prof. Dr. Eraldo Leme Batista (UNIOESTE-PR) (Lattes) Prof. Dr. Antonio Carlos Giuliani (UNIMEP-Piracicaba-SP) (Lattes) Paco Editorial Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 Telefones: 55 11 4521.6315 | 2449-0740 (fax) | 3446-6516 [email protected] www.pacoeditorial.com.br Sumário Folha de Rosto Página de Créditos Prefácio CAPÍTULO 1: A IMPRENSA DO PCB: 1920-1940 Introdução 1. Primórdios 1.1 Movimento Comunista 1.2 A Classe Operária 1. Época de derrota 2. Proposta de União Nacional Concluindo Referências Jornais Consultados: CAPÍTULO 2: O NACIONALISMO XENÓFOBO NAS PÁGINAS DE GIL BLAS Introdução 1. A ligação com o poder: distanciamento ou aproximação? Considerações Finais Referências Fontes 1. Livros: 2. Revistas CAPÍTULO 3: A HEGEMONIA ILUSTRADA - A UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO NO PENSAMENTO POLÍTICO E CULTURAL DE JÚLIO DE MESQUITA FILHO 1. O conservadorismo liberal do OESP 2. O governo ilustrado: a criação da Universidade de São Paulo (USP) Considerações Finais Referências CAPÍTULO 4: IMPRENSA INTEGRALISTA - UM RECORTE Conclusão Referências CAPÍTULO 5: AS REPRESENTAÇÕES DO FASCISMO ITALIANO NA REVISTA INTELIGÊNCIA - MENSÁRIO DA OPINIÃO MUNDIAL (1935-1938) Referências CAPÍTULO 6: A EDUCAÇÃO INTEGRAL – “MORAL, FÍSICA E INTELECTUAL” – NA AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA 1. Para compreender a educação integral moral, física e intelectual Conclusões Referências CAPÍTULO 7: JOEL SILVEIRA - UM JORNALISTA NO ESTADO NOVO 1. Joel Silveira, Dom Casmurro e Diretrizes 2. O Estado Novo e a Guerra nas colaborações de Joel Silveira Conclusão Referências CAPÍTULO 8: A CAMPANHA ANTIBRITÂNICA NAS PÁGINAS DO JORNAL MEIO-DIA (1940-1941) 1. Contra a “plutocracia” inglesa Conclusão Referências SOBRE OS AUTORES Paco Editorial Prefácio Tania Regina de Luca Unesp/CNPq O leitor tem em mãos uma coletânea composta de oito ensaios que, a despeito de suas especificidades, privilegiam os impressos periódicos como fonte e analisam as décadas iniciais do século XX, sem ultrapassar, do ponto de vista cronológico, o primeiro governo Vargas (1930-1945). À exceção da professora Marly de Almeida Gomes Viana, que conta com vasta produção historiográfica, os demais colaboradores são pesquisadores jovens, que ainda não obtiveram o seu doutoramento ou o fizeram recentemente. Os títulos dos capítulos bem revelam a intenção de analisar jornais e revistas com viés ideológico bem marcado, com nítida predominância do espectro da direita. Esse é o caso do artigo de Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus a propósito do nacionalismo antilusitano da revista Gil Blas durante os dois primeiros anos de vida do periódico (1919-1920), num esforço para evidenciar os múltiplos significados que o termo poderia assumir no período. Particularmente instigante é a demonstração das relações entre a publicação e Epitácio Pessoa, alerta a respeito das articulações complexas entre imprensa e poder. Os textos de Rodolfo Fiorucci e Renata Duarte Simões abordam questões relativas ao integralismo, movimento que ocupou lugar de destaque na cena política dos anos 1930. O primeiro investigou as publicações fundadas no âmbito da Ação Integralista Brasileira (AIB) e evidenciou a diversidade e multiplicidade de títulos, que tinham em mira a difusão, para públicos específicos, dos ideais que professavam. A segmentação permite evocar a imprensa-empresa atual, com seus nichos voltados para setores muito bem determinados do mercado. Simões, por seu turno, perscruta as estratégias mobilizadas para arregimentar simpatizantes e enfatiza a concepção educacional que defendiam (a chamada “educação integral, moral física e intelectual”) e os esforços empregados para colocá-la em prática por meio de instituições específicas. A polarização que marcou a década de 1930 também se manifesta em dois títulos ainda pouco explorados na historiografia sobre a imprensa: o jornal Meio-Dia, que circulou no Rio de Janeiro entre 1939 e 1941 e colocou-se ao lado da Alemanha nazista, uma opção pouco comum no nosso meio jornalístico, e a revista Inteligência, mensário paulistano aqui analisado entre os anos de 1935 e 1938. O estudo de João Franzolin a respeito da campanha antibritânica levada a cabo pelo periódico de Joaquim Inojosa permite desvelar os valores professados pela publicação, que seguiu apoiando o 3º Reich até o seu fechamento. Já o texto de Alexandre Costa trata de publicação a respeito da qual não há nenhum estudo específico e nem mesmo menções nas histórias da imprensa. A proposta de Inteligência assemelha-se à de Seleções, ou seja, tal como a norte-americana, que chegou ao Brasil apenas em 1942, a publicação comprometia-se a apresentar um sumário dos acontecimentos em curso no cenário internacional. Entretanto, como demonstra o autor, tratava-se de um olhar engajado, que tomava partido e defendia ideais caros aos regimes autoritários então em vigor na Itália e Alemanha. Caminhando no espectro político, os valores liberais professados pelo jornal O Estado de S. Paulo e seu proprietário, Júlio de Mesquita Filho, são objeto de reflexão de Guilherme Bravo, que se debruça nas razões que levaram o matutino a capitanear a criação da Universidade de São Paulo, isso num contexto em que a elite paulista gestava um projeto político-cultural que tinha por meta recolocá-la na direção dos destinos do país. O Estado Novo, instaurado em 1937, impôs um regime ditatorial e acabou com qualquer veleidade de conquista do poder pela via eleitoral. A censura imposta aos meios de comunicação, os tribunais de exceção e o projeto cultural implantado pelo poder deixavam pouca margem para a oposição. Entretanto, Danilo Ferrari bem evidencia que sempre havia a possibilidade de se opor, mesmo que fosse por vias transversas e nas entrelinhas, como exemplifica a atuação do jornalista Joel Silveira. O único texto dedicado à esquerda, o da professora Marly Vianna, passa em revista a imprensa do Partido Comunista nas décadas de 1920 e 1930. Fica evidente que o Partido sempre publicou seus periódicos, estivesse ou não na legalidade, e que o estudo dessas folhas permite acompanhar não apenas os desafios enfrentados a cada momento, mas também programas, estratégias e valores. A leitura desses ensaios testemunha a diversidade e vigor das pesquisas desenvolvidas em programas de pós-graduação da área de Humanidades, com particular ênfase na História, e a importância das fontes periódicas para a releitura desse passado recente, cujas marcas ainda se fazem presentes na vida política brasileira. CAPÍTULO 1: A IMPRENSA DO PCB: 1920-1940 Marly de Almeida Gomes Vianna Introdução O objetivo deste capítulo é analisar a imprensa do Partido Comunista do Brasil (PCB) durante as décadas de 1920 e 1930, o que significa saber da política comunista nesse período. Quero entender como suas lideranças expressaram-se, com a finalidade de levar consciência à classe que pretendiam representar e ganhar adeptos para sua causa entre outras camadas da população; como, nas condições concretas do Brasil da época, os comunistas pensavam a situação do país, quais suas propostas de mudança e de que maneira pretendiam torná-las realidade. Os fundadores do PCB vieram todos do sindicalismo revolucionário, influenciados pela Revolução de Outubro na Rússia e convencidos de que uma forte organização política era indispensável para a concretização da revolução socialista. Diferiam dos anarquistas tanto nesse sentido quanto no da admissão de autoridades que comandassem e coordenassem não só a vida partidária, mas a organização da futura sociedade socialista. Por outro lado, sem o reformismo socialista, que buscava fundamentalmente vias legais para a chegada ao poder, os comunistas admitiam a participação nas eleições. 1. Primórdios Já em 1918 haviam começado as tentativas de organização de um partido político. O jornal A Liberdade, nº 29, de abril de 1919, publicou o programa de um partido comunista organizado no começo do mês, programa bastante próximo das posições anarquistas. A criação do partido havia sido planejada para aquele ano de 1918, ideia abortada pelo fracasso da tentativa de insurreição em novembro. O jornal Spartacus, em 1920, anunciava a criação do grupo comunista Zumbi, que também pouco se diferenciava das ideias anarquistas: Tendes amor à terra em que nascestes? Desejais que ela venha a figurar ao lado das outras pátrias na aurora que começa a despontar para a Humanidade? Desejais um Brasil grandioso, sem amos nem escravos? Desejais contribuir’ com o vosso apoio moral, para combater os males que nos infelicitam, que nos degradam, como o analfabetismo, a política, o alcoolismo, a prostituição e o desfibramento das energias juvenis? Crês, como nós, que no Brasil como no mundo, nem tudo está perdido? Credes num futuro mais belo? Numa vida digna de ser vivida? Alistai-vos imediatamente, como sócio, no “Grupo Comunista Brasileiro Zumbi”.[...] Contra a ditadura republicana, contra o predomínio da burguesia sobe as outras classes, contra o culto das incompetências, contra a exploração organizada, contra a mentira oficial. Pelo homem livre sobre a terra livre, pela emancipação da mulher, pelo culto à criança, que é o homem de amanhã, pela abolição dos privilégios de classe, pela ordem proveniente de um mútuo acordo entre os homens, pela República Universal, onde todos trabalhem e onde todos tenham direito à vida. ¹ 1.1 Movimento Comunista O PCB que sobreviveu foi o fundado em março de1922, embora sua imprensa começasse a ser divulgada em janeiro daquele ano. O recém- fundado partido tinha pressa de ligar-se à Internacional Comunista (IC), o que lhe daria a força e o prestígio de que carecia internamente. Esse empenho em ser reconhecido pela organização internacional refletiu-se em sua imprensa, como ficou explicitado na primeira publicação do PCB, a revista Movimento Comunista: Este mensário, órgão dos Grupos Comunistas do Brasil, tem por fim defender e propagar entre nós o programa da Internacional Comunista. Dentro dos modestos limites das nossas possibilidades, pretendemos torná- lo um repositório mensal fidedigno de doutrina e informação do movimento comunista internacional. ² Nessa colocação está a principal característica das ideias do PCB em seus primórdios: a referência à Revolução Russa, à Internacional Comunista e à sociedade soviética. A recém-nascida imprensa comunista tratava muito pouco dos assuntos políticos nacionais. E nos raros artigos com pretensões teóricas encontram-se ainda fortes traços anarquistas. Escreveu Rodolfo Coutinho, dirigente do PC no Recife: O estudo da evolução passivista de nossa história, com as suas misérias, a falta de eficiência do pensamento revolucionário e a leveza de um caráter em formação convence de que há para nós uma necessidade visceral de Ação. A Ação, a inteligência agindo sobre a vontade, esclarecendo-a, despertando-a, é que nos pode salvar. [...] Como conseguira Ação? Estudando, refazendo corações e mentes. [...] A educação é o ponto central da política revolucionária entre nós ³ Apesar de tratar de alguns temas nacionais, como o das eleições disputadas em 1922 ⁴ , a esmagadora maioria dos artigos do mensário tratava de assuntos relacionados ao movimento comunista internacional, havendo um bom número de traduções de discursos e artigos de líderes internacionais. Podemos tomar como exemplo, para se ter uma ideia de como os comunistas faziam a propaganda de suas propostas nesses primeiros momentos de existência, o sumário da edição extraordinária de Movimento Comunista, nº5, de maio de 1922: “Viva a Rússia dos sovietes”, editorial escrito por Astrojildo Pereira; “A luta de classes na América”, por Upton Sinclair; “O gesto de Leibknecht”, por Fram; “A situação econômica da Rússia”, por S.M.A.; “O executivo da IC e a oposição operária´”, por L.H.A e “Makhno julgado pelos anarquistas da Ukrania”. Nenhum artigo sobre o Brasil. Os principais jornais com que trabalhei foram Movimento Comunista e A Classe Operária, referida quase sempre como Classop. Movimento Comunista foi publicado de janeiro de 1922 a junho de 1923 (23 números, dos quais tive acesso a 15) e A Classe Operária, periódico oficial do PCB, que começou a ser publicado em 1925 e foi até a década de 60. Não tive acesso à primeira fase de A Classe Operária, interrompida em 1927, mas somente a seu relançamento, a partir de 1928, tendo analisado o jornal até 1939-40. Em Movimento Comunista, os teóricos citados pela revista foram principalmente Stalin e líderes da IC, a maioria soviéticos. Para se ter uma ideia da importância, para o jovem partido brasileiro, do movimento comunista internacional e de que forma buscava ligar-se a ele, vejamos uma estatística sobre os temas do jornal. O nº 2 de Movimento Comunista tinha 13 artigos e somente o editorial era sobre o Brasil. O nº 3, com nove artigos, só o editorial sobre o Brasil; o nº 4 tinha oito artigos, nenhum sobre o Brasil; n° 5, uma edição extra com seis artigos, aos quais já me referi, não tinha nenhum sobre Brasil; o nº 6, com nove artigos, só o editorial sobre Brasil. O nº 7 foi uma exceção. De junho de 1922, tinha cinco artigos sobre assuntos internacionais e quatro sobre o Brasil, porque o número anunciava o “lançamento definitivo” do PCB. O nº 8, com oito artigos, só o editorial sobre o Brasil; dos 13 artigos do nº 9-10, dois eram sobre o Brasil e 11 internacionais; o nº11, com dez artigos, tinha dois sobre o Brasil; o nº 12, de novembro de 1922, foi toda uma edição, nove artigos, dedicada ao aniversário da Revolução Russa e o nº 13, com dez artigos, apenas dois falavam de Brasil. Os números 18-19 tinham 18 artigos, quatro sobre o Brasil e 14 internacionais. O número é de março de 1923, e comemora o aniversário da Comuna de Paris, fala da tomada do poder pelos fascistas italianos e tem boa parte dedicada à reprodução de materiais do IV Congresso da IC. Temos assim que dos artigos publicados nos 15 números do jornal que analisei (13 fascículos) 104 trataram de assuntos do movimento comunista internacional (85,25%) e apenas 18 (14,25%) trataram de problemas brasileiros. E deve-se levar em conta que alguns dos artigos que tratavam do Brasil estavam referidos principalmente à Internacional. O editorial do nº 7, anunciando a formação do partido, dizia, por exemplo: Podemos, pois, desde agora, considerar-nos integrados de vez no seio da grande família proletária e revolucionária do mundo, a qual tem na Internacional de Moscou sua mais alta expressão ideológica e orgânica. Mas isso, com ser motivo de compreensível contentamento, constitue principalmente para nós outros, iniciadores do Partido, um feito da maior e mais grave responsabilidade. Ao constituir-se em seção brasileira da IC tomamos sobre os ombros o compromisso de uma intensa tarefa: desfraldar e sustentar, nesta parte da América, a bandeira vermelha da revolução mundial; formar, num só corpo orgânico, sólido e homogêneo, a vanguarda do proletariado nacional; organizar e orientar as grandes massas trabalhadoras do Brasil em suas lutas e movimentos de reivindicações ⁵ 1.2 A Classe Operária O jornal que melhor expressou as posições do PCB foi A Classe Operária. Movimento Comunista fez parte da constituição do partido e demonstrou a necessidade da jovem organização de respaldar-se na autoridade da Revolução Russa. Já A Classe Operária tratou dos problemas brasileiros na grande totalidade de seus artigos. Suas posições, entretanto, estavam muito dependentes dos interesses da IC e dos conceitos por ela utilizados, assim como de avaliações – quase sempre erradas – sobre a América do Sul. Tentativas de pensar a realidade nacional e propor uma atuação considerada concernente a ela – como a organização do Bloco Operário e Camponês – não foram bem-vistas pela IC. No início de 1930, além disso, Astrojildo Pereira, dentro da visão sectária e falsa da Internacional, foi expulso do partido como renegado, liquidacionista e antipartido.

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