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Política, instituições e personagens da Bahia (1850-1930) PDF

248 Pages·4.469 MB·Portuguese
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Política, instituições e personagens da Bahia (1850-1930) políticas, instituições e personagens - miolo.indd 1 10/12/13 15:19 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Reitora Dora Leal Rosa Vice-reitor Luiz Rogério Bastos Leal EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Diretora Flávia Goullart Mota Garcia Rosa Conselho Editorial Alberto Brum Novaes Angelo Szaniecki Perret Serpa Caiuby Alves da Costa Charbel Ninõ El-Hani Cleise Furtado Mendes Dante Eustachio Lucchesi Ramacciotti Evelina de Carvalho Sá Hoisel José Teixeira Cavalcante Filho Maria Vidal de Negreiros Camargo políticas, instituições e personagens - miolo.indd 2 10/12/13 15:19 Jeferson Bacelar Cláudio Pereira Organizadores Política, instituições e personagens da Bahia (1850-1930) SALVADOR EDUFBA/CEAO 2013 políticas, instituições e personagens - miolo.indd 3 10/12/13 15:19 2013, organizadores Direitos para esta edição cedidos à EDUFBA. Feito o depósito legal Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009. Projeto Gráfico Josias Almeida Jr. Capa Marcelo Vanzillotta Filho Paula Woshie Leonardo Lorenzo Revisão Eduardo Ross Normalização Sônia Chagas Vieira SIBI – Sistema de Bibliotecas da UFBA Política, instituições e personagens da Bahia (1850-1930) / Jeferson Bacelar e Cláudio Pereira, organizadores. – Salvador: EDUFBA; CEAO, 2013. 245p. il. ISBN 978-85-232-1128-8 1. Bahia – Política e governo – 1850-1930. 2. Escravos libertos – Bahia – História. 3. Escravos libertos - Bahia - Direitos fundamentais. 4. Escravos libertos – Bahia – Emprego. I. Bacelar, Jeferson Afonso. II. Pereira, Cláudio. III. Título. CDD – 981.42 – 22. ed. Editora filiada à EDUFBA Rua Barão de Jeremoabo, s/n Campus de Ondina 40170-115 Salvador-BA Tel: (71) 3283-6160/6164 [email protected] www.edufba.ufba.br políticas, instituições e personagens - miolo.indd 4 10/12/13 15:19 Sumário 7 Introdução 17 Educar para bem servir: entre a Abolição e a República: as elites baianas e a educação de escravos e libertos Miguel Luiz da Conceição 43 Migrações, itinerários e esperanças de mobilidade social no Recôncavo baiano após a Abolição Walter Fraga 73 A República de 1889: utopia de branco, medo de preto (A liberdade é negra, a igualdade é branca e a fraternidade é mestiça) Antônio Sérgio Alfredo Guimarães 93 Esperanças de Boaventuras: construções da África e africanismos na Bahia (1887-1910) Wlamyra Ribeiro de Albuquerque 125 Manuel Querino: operários e negros diante da desilusão republicana Sabrina Gledhill 145 O roseiral e os espinhos: J. J. Seabra e a crise da sua supremacia política na Bahia Joaci de S. Cunha 179 Sangue no Cais do Porto: pai e filho na luta contra a União dos Operários Estivadores na Bahia Maria Cecília Velasco e Cruz políticas, instituições e personagens - miolo.indd 5 10/12/13 15:19 215 Um galego no paraíso de todas as raças Jeferson Bacelar e Cláudio Pereira 243 Sobre os autores políticas, instituições e personagens - miolo.indd 6 10/12/13 15:19 Introdução A ideia inicial – antes de se pensar em livro – era muito simples: retrabalhar um texto de um dos organizadores, na medida em que pensá- vamos que ele oferecia abertura para múltiplas abordagens. Nele atentá- vamos para dois personagens, um branco e um negro, com prestígio em seus grupos raciais e étnicos, que se tornaram exemplos de construção de individualidades. Eles apareceram devido a um evento, no sentido de Barth, onde batem de frente, cada um usando suas armas para desqua- lificar o outro. De certa forma, reiterávamos nossa perspectiva contra o essencialismo ou a fixidez identitária, buscando mostrar que os indivíduos constroem diferenças a partir de contextos; e não só, no decorrer de suas vidas passam por várias mudanças. Por outro lado, enquanto pensávamos na reelaboração do artigo, Maria Cecília Velasco e Cruz enviou-nos o seu texto sobre o “crime do Caminho Novo”, o qual muito nos entusiasmou, por demonstrar a complexidade da formação da estiva em Salvador, com a luta de negros pelo seu domínio. A partir daí, sempre com a participação de Velasco e Cruz, come- çamos a pensar na realização de uma coletânea, agregando outros estu- diosos: a proposta era concentrar em personagens baianos na Primeira República. Mas, mesmo os personagens extrapolavam a sua condição pes- soal, muitas vezes envolvendo instituições e a política baiana. Além disso, apareceram textos que tratavam de instituições, basicamente. Foi também o que aconteceu com o período, a ideia inicial era se manter na Primeira República, o que se efetivou, porém dois artigos vão ao Império e ao pós-Abolição. Não vimos tais situações como problemas, antes como um enriquecimento e aprofundamento da compreensão da realidade baiana. E assim surge esta coletânea, denominada Política, instituições e personagens na Bahia: 1850-1930, com a participação de antropólogos, historiadores e um sociólogo. Nesta introdução, resolvemos dar alguns “palpites” sobre o período histórico. Evitamos maiores considerações sobre a escravidão, por não ser nosso objetivo, assim como por existir na Bahia, na Pós-Graduação 7 políticas, instituições e personagens - miolo.indd 7 10/12/13 15:19 em História da UFBA, um grupo especializado na temática, nacional e internacionalmente reconhecido, denominado “Escravidão e Invenção da Liberdade”, coordenado por João José Reis. Inclusive, recentemente lan- çaram uma coletânea, organizada por João José Reis e Elciene Azevedo, com o título A escravidão e suas sombras (Salvador: EDUFBA, 2012). Aliás, nós diríamos que um dos capítulos da nossa coletânea é uma continuida- de das preocupações do grupo de estudiosos da escravidão, ao abordar a trajetória de ex-libertos após a Abolição. Além de participantes na cole- tânea, temos entre os responsáveis por esta introdução um membro do grupo “Escravidão e Invenção da Liberdade”. Primeiro, nunca pensamos em o negro ou o branco, pois nos opomos a leituras homogeneizadoras da condição racial, abstraindo a localização geográfica, a nacionalidade, o momento histórico, a condição de classe, o gênero, o grupo familiar, o nível de educação, a situação etária, além das singularidades da história de cada individuo. Diferentes o são, conforme veremos, um comerciante galego, um membro das elites políticas, assim como ex-escravos, um líder da estiva e um intelectual orgânico da popu- lação afro-baiana. Segundo, os ex-escravos e seus descendentes chegaram à Repúbli- ca pobres, sem educação formal e desvalorizados socialmente. Nenhum mecanismo compensatório efetivo foi desencadeado para tentar atenuar as distâncias sociais entre negros e brancos. Instituições como a Casa da Providência ou a Sociedade Treze de Maio, aqui tratadas, terminavam por ser, antes que carreadoras de reais benefícios para escravos, pobres e ex -escravos, marcadores das distâncias entre os grupos e consagradoras da institucionalização do favor. Mesmo em tempos diferentes, a lógica era a mesma, o favorecido engrandecia sempre o benfeitor. Por outro lado, o critério racial, tendo por base a cor e seus elemen- tos coadjuvantes, foi utilizado para marcar a condição social dos negros. Naturalizou-se o comportamento do negro, sendo o mesmo equacionado à pobreza e à barbárie. Os jornais do período comprovam em profusão tal perspectiva. Entretanto, sendo eles maioria demográfica na cidade e entre os trabalhadores, com exemplos marcantes de revoltas no passado, torna- va-se fundamental para os grupos dominantes impedir a sua organização societária. Com a Abolição e a República, o racismo já era um compo- nente real da sociedade, com seus preconceitos e práticas discriminatórias inoculadas na estratificação social. Se com a Abolição nada aconteceu 8 políticas, instituições e personagens - miolo.indd 8 10/12/13 15:19 em relação à questão racial, com a República a situação de cidadania de segunda classe da gente de cor, como se dizia na época, foi ainda mais evi- denciada. A República recém-instalada previa que todos teriam direitos e deveres perante a lei e a sociedade, mas o voto de 1881 estava reservado a alfabetizados. A escravidão estava extinta, mas o trabalho forçado deixava à mostra quanto o passado escravista ainda pesava sobre a nação e os seus critérios de cidadania. Sutilmente, os grupos dominantes trataram de proteger e sacralizar a sua situação no mundo social. E isso é efetivado com propriedade e eficá- cia: indignando-se com a violência policial, como aparece nos jornais da época, “contra um pobre velho”; reagindo ao voto de Epitácio Pessoa na Conferência de Paris pela desigualdade das raças; incentivando protestos contra a segregação racial norte-americana; dizendo que racistas eram os outros, os estrangeiros da cidade. Enfim, de acordo com nossa concepção, ainda na Primeira Repúbli- ca começou a formular-se o mito da democracia racial na Bahia. Entre- tanto, no que tange ao cotidiano, à vivência de negros e brancos na Bahia, foi elaborado um “pacto de silêncio”. Em nenhum instante se discutiu a situação do negro no mercado de trabalho, onde ocupava as posições mais aviltadas, nem tampouco que lhes era vedado o acesso a determina- das categorias profissionais, como era o caso dos “caixeiros” nas princi- pais lojas e casas comerciais da cidade. Não se tratava da segregação nos espaços públicos, expressamente delineada no âmbito do lazer e serviços. Não se retratavam as formas desiguais de tratamento e relacionamento – com toda cordialidade, evidente, desde que o negro se “assuntasse”, ficasse no seu lugar – entre negros e brancos. Por que os negros aceitaram essa representação – e mesmo a reproduziram –, que confiscava a virtual possibilidade de uma identidade racial dos homens livres na nova ordem social? Seria apenas uma criação arbitrária do olhar superior dos brancos, o enunciado de uma equalização de todos – em geral irrealizável e muitas vezes impensada – e, ao mesmo tempo, a naturalização do lugar inferior do negro? Isso é simplificar em muito a realidade, na verdade a representa- ção instituída tinha uma longa conexão histórica, com as divisões e dife- renciações vivenciadas pelos africanos, crioulos e seus descendentes que chegavam à República. Inicialmente porque a ascensão dos mestiços, pre- tos e africanos, mesmo rara, mas realizada e realizável – e nos artigos os 9 políticas, instituições e personagens - miolo.indd 9 10/12/13 15:19

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