poli[AMOR]fia

274 Pages·2017·28.82 MB·Portuguese

by  Verônica Domingues

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

VERÔNICA DOMINGUES ALMEIDA

poli[AMOR]fia
paisagens da docência

Salvador
2017
VERÔNICA DOMINGUES ALMEIDA

poli[AMOR]fia
paisagens da docência

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal da
Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutora
em Educação. Linha de Pesquisa: Currículo e (In)formação.

Orientadora: Prof.ª Drª Maria Roseli G. B. de Sá.
Coorientadora: Prof.ª Drª Paola B. M. B. G. Zordan

Salvador
2017
SIBI/UFBA/Faculdade de Educação – Biblioteca Anísio Teixeira

Almeida, Verônica Domingues.
poli[AMOR]fia: paisagens da docência / Verônica Domingues Almeida. –
2017.
267 f. : il.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Roseli Gomes Brito de Sá.
Coorientadora: Prof.ª Dr.ª Paola Basso Menna Barreto Gomes Zordan.
Tese (doutorado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de
Educação, Salvador, 2017.

1. Docência. 2. Amor. 3. Educação. 4. Facebook (Rede social on-line). 5.
Ética. I. Sá, Maria Roseli Gomes Brito de. II. Zordan, Paola Basso Menna
Barreto Gomes. III. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação. IV.
Título.

CDD 371.102 – 23. ed
Verônica Domingues Almeida

poli[AMOR]fia
paisagens da docência

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação,
Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutora em
Educação, aprovada no dia 08 de novembro de 2017, pela seguinte banca examinadora:

________________________________________________________________
Prof. Joaquim Antônio de Sousa Pintassilgo (Universidade de Lisboa)
Doutor em História pela Universidade de Salamanca

_________________________________________________________________
Prof. Dante Augusto Galeffi (UFBA)
Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia

________________________________________________________________
Prof. Dr. Roberto Sidnei Macedo (UFBA)
Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia

________________________________________________________________
Profª. Paola Basso Menna Barreto Gomes Zordan (UFRGS) – Coorientadora
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

_______________________________________________________________
Profª. Maria Roseli Gomes Brito de Sá (UFBA) – Orientadora
Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia
Dedico a todos que amam aqueles que amam...
Com amores eróticos, sedentos e apaixonados,
Fraternos, amistosos e solidários,
Sublimes, incondicionais e
Abertos ao mundo.
AGRADECIMENTOS

A realização de um estudo acadêmico, nos remete a imagem de uma produção densa de
conhecimento, solitária, submersa nas leituras e elaborações do pesquisador... Mas para além dessa
representação solipsista, mais do que uma produção de ciência social e ainda, neste estudo, de uma
ciência que faz um apelo de amor ao mundo, está a produção de existências em sua coletividade. É
inconcebível, em um trabalho desse gênero, a nulidade de aprendências pela cooperação, a ausência
das aberturas ao diálogo e as barreiras em trânsitos com outras subjetivações. Não é possível fazer
uma Tese sem encontros. Por isso, o momento de agradecer foi tão desejado e pensado quanto
qualquer outra etapa desse trabalho. A gratidão, aqui expressa, é pela potência de amplitudes que
todos os encontros me apresentaram.

Quero agradecer a minha mãe, Jacyra, ao meu pai, Esmeraldo (in memorian) e ao meu irmão,
Esmeraldo Júnior. Aos meus cunhados Guido e Marcos, a minha cunhada Andreza e aos meus
sobrinhos, Ygor, João Victor e Victória. Agradeço pelo apoio, pela compreensão das ausências, pelo
suporte e pela crença em minhas potencialidades, inclusive, em algumas que eu não reconhecia ter.

Agradeço a Felipe e a Leonardo, nasceram como filhos. São filhos-amigos. São filhos-amores.
Amores-amores...

A Ariadne, minha admirada chama acesa, que me convida a acender, também, o meu fogo pela busca
do conhecimento. Ela que sempre confiou em mim, mais do que eu mesma; acreditou tanto que me
empurrou na fogueira da educação. Ela sabia que eu estaria a salvo!

A Sandra, boa ouvinte, confidente e conselheira, amiga para todos os momentos!

Agradeço aos professores e professoras que se manifestam, publicamente, no Facebook, lançando
gritos de amor. Sem os barulhos dessas pessoas não haveria pesquisa, não haveria Tese!

Aos meus pequenos e grandes alunos e alunas, crianças e adultos queridos, que conviveram e
convivem comigo, depositando em mim sua confiança, quiçá, amor. Meu carinho fraternal!

Agradeço aos professores e professoras que estiveram comigo no meu percurso como estudante e
que, ao me verem como potência, apenas me apresentaram possibilidades. Não há nada maior do que
o possível.

A minha querida professora, sempre orientadora, Roseli de Sá, que, com sua leveza sublime, aliada
à sua seriedade e rigor, acolheu minhas propostas de pesquisa desde o Mestrado; contribui para
minha compreensão do percurso acadêmico e, ainda, colabora com minha atualização como ser
humano; atenta e ouvinte, remete olhares, palavras de acolhimento, condução e crítica... sempre está
em vista do meu crescer, em gerúndio... crescendo! Minha gratidão afetuosa!

A querida Paola Zordan por ter aceitado me coorientar, ter me acolhido na Universidade Federal do
Rio Grande do Sul e por ter deixado as janelas e portas de sua casa abertas para mim. Agradeço,
também, por ter lançado de modo voraz, mas meigo, a centelha de um desafio e, com isso, ter me
provocado a experimentar o sentipensamento. Agradeço aos afetos singelos, interpostos no seu
dizer: crie!

Ao professor Dante Galeffi por ser inspiração intensa e por ter me mostrado como se ama o saber, a
filosofia. Agradeço, ainda, por, na fase de qualificação do projeto, com uma suavidade firme, ter feito
intervenções valiosas, me proporcionando um debate ético de aprofundamento da pesquisa e, ainda,
ter se disposto a colaborar no exercício de meu sentirpensar acadêmico, me recebendo em sua casa
e me permitindo, ao olhar o mundo pela sua varanda, o olhar para mim mesma. Minha admiração!
Sou muito grata.

Ao professor Roberto Sidnei Macedo por, com seu rigor ético e modo olhar para o mundo em
movimento, ter feito questionamentos implicados que contribuíram com a qualificação da pesquisa.
Agradeço, ainda, por ser influxo para existências acadêmicas e, por sorte, a minha também. Minha
igual admiração e minha gratidão!

Ao professor Joaquim Pintassilgo por ter se dedicado a pesquisas no campo da formação de
professores, empreendendo provocações quanto ao estabelecimento de identidades e perfis rígidos à
docência e por ter aceitado participar de minha itinerância acadêmica, desde o Exame de
Qualificação, quando contribuiu de modo generoso com a ampliação do trabalho.

Agradeço, também, aos colegas professores e funcionários da FACED, por fazerem dessa casa, uma
casa aberta, livre e disposta ao mundo. Um agradecimento especial, aos colegas do Departamento II
e a equipe do Mestrado Profissional, pela compreensão e pelo apoio.

As colegas, queridas, Cilene Canda, Karina Menezes, Leila Soares e Liane Araújo pela solidariedade
e pelos abraços fraternos.

Aos colegas do doutorado da FACED, pela comunhão das angústias, pelo pacto velado das não-
perguntas a respeito do andamento da pesquisa, pelo ouvir, pelos debates, pelas discordâncias, pela
indicação de referências. Agradeço pela convivência e colaboração.

Ao grupo de pesquisa FEP pelo acolhimento, abertura e pelas possibilidades férteis em pesquisa a
que se propõe. Meu muito obrigada.

Um agradecimento aos meus queridos amigos e amigas. Aos que vejo em minha fronte ou apenas
pela tela do notebook e do celular. Ganhei livros, ouvi músicas, li textos, assisti filmes e visitei
exposições pela indicação de vocês. Agradeço, também, a cada post em que fui marcada no
Facebook, por tratar de amor. Espero poder retribuir tamanho cuidado!

A gratidão, aqui, se faz como afeição, sou cativa, amiga, disposta...

Muito obrigada a todas e todos!
Alucinação

Belchior (1976)

Cravos, espinhas no rosto
Eu não estou interessado(a)
Rock, Hot Dog
Em nenhuma teoria
Play it cool, baby
Em nenhuma fantasia
Doze Jovens Coloridos
Nem no algo mais
Dois Policiais
Nem em tinta pro meu rosto
Cumprindo o seu duro dever
Ou oba-oba, ou melodia
E defendendo o seu amor
Para acompanhar bocejos
E nossa vida
Sonhos matinais
Cumprindo o seu duro dever

E defendendo o seu amor
Eu não estou interessado
E nossa vida
Em nenhuma teoria

Nem nessas coisas do Oriente
Mas eu não estou interessado
Romances astrais
Em nenhuma teoria
A minha alucinação
Em nenhuma fantasia
É suportar o dia-a-dia
Nem no algo mais
E meu delírio
Longe o profeta do terror
É a experiência
Que a laranja mecânica
Com coisas reais

Um preto, um pobre
Uma estudante
Amar e mudar as coisas
Uma mulher sozinha
Me interessa mais
Blue, jeans e motocicletas
Amar e mudar as coisas
Pessoas cinzas normais
Amar e mudar as coisas
Garotas dentro da noite
Revólver: cheira cachorro Me interessa mais
Os humilhados do parque

Com os seus jornais
Amar e mudar as coisas
Carneiros, mesa, trabalho
Me interessa mais
Meu corpo que cai do oitavo andar
E a solidão das pessoas Amar e mudar as coisas
Dessas capitais
Amar e mudar as coisas
A violência da noite
O movimento do tráfego
Me interessa mais
Um rapaz delicado e alegre
Que canta e requebra
É demais!
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
ALMEIDA, Verônica Domingues. poli[AMOR]fia: paisagens da docência. 267 p. il. 2017.
Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

RESUMO

O presente trabalho apresenta a poli[AMOR]fia, um plano de imanência que traça paisagens de
amor na educação, criado em uma caosgrafia, engendrada a partir de uma postura complexa e
multirreferencial, estabelecida nos encontros entre a bricolagem de Lévi-Strauss e a ampliação
feita por Joe Kincheloe e a geofilosofia de Deleuze e Guattari. A composição das paisagens foi
tecida, ainda, nos encontros com Hannah Arendt e o amor mundi; Zygmunt Bauman e a liquidez
contemporânea; Luc Ferry e sua nova revolução humanista; Paulo Freire e sua epistemologia
amorosa; Humberto Maturana e a biologia do amor, além dos Eros, Philia e Ágape platônicos,
mitos, escritos bíblicos, músicas, filmes, contos, poemas e outras obras de arte. Esse plano,
construído conceitualmente, tensiona o problema da vinculação do amor a representações
aparentemente cristalizadas e a juízos de valor, que tendem a impor identidades e perfis à
docência. Apresenta paisagens provisórias, esboçadas por professores ao manifestarem suas
concepções de amor relativas à profissão na interface espacial Facebook. Transita nos conceitos
de subjetivação, território, segmentarização molar e molecular, agenciamento, mapa, decalque
e rizoma, para empreender uma bricolagem acêntrica, construída em ensaios metodológicos,
depreendidos por um mapa roteiro-esboço-coreografias, a caosgrafia, que contemplou o
atravessamento de referências heterogêneas sobre o amor, as quais coabitam na
contemporaneidade e ressoam no campo da docência. O plano da poli[AMOR]fia exprime o
processo de expansão e contração pulsátil que acontece nos atravessamentos entre fluxos de
permanência e fluxos de emergência e que provoca a criação de múltiplas formas de conceber
e de expressar o amor. É apresentado em compósitos textuais, não ordenados, emergidos de
uma escrita caótica, tecida na perspectiva da indissociabilidade entre o sensível e o inteligível
e, desse modo, a partir de tensões e intensidades racioemocionais. Sugere, sem indicar os
caminhos, a criação de uma nova ética amorosa para a educação, fundada em relações plurais
e aberta aos processos de subjetivação livres.

Palavras-chave: Amor. Caosgrafia. Docência. Educação. Facebook.
ALMEIDA, Verônica Domingues. poli[AMOR]fia: landscapes of teaching. 267 p. il. 2017.
Thesis (Doctorate) - Faculty of Education, Federal University of Bahia, Salvador, 2017.

ABSTRACT

This resume presents poli[AMOR]fia, a plan of immanence that draws the landscapes of love
in education, created in a caosgrafia, which was born from a complex and multireferential
posture, and was established at the meeting point between the “tinkering” of Lévi- Strauss, the
expansion of Joe Kincheloe, and the geo-philosophy of Deleuze and Guattari.The composition
of the landscapes, yet, was woven during meetings with Hannah Arendt and amor mundi;
Zygmunt Bauman and contemporary liquidity; Luc Ferry and his new transhumanist
revolution; Paulo Freire and his amorous epistemology; Humberto Maturana and the biology
of love, in addition to Eros, Philia and Agapé platonic, myths, biblical writings, music, movies,
tales, poems and other works of art. This plan, conceptually built, raises the question of the
link between love and seemingly crystallized representations and ethical judgments, which tend
to impose identities and profiles in teaching. Presenting preliminary landscapes sketched by
teachers while they were expressing their views on love in relation to the profession on the
interface of virtualization space, Facebook. It´s been traveling through the concepts of
subjectivation, territory, molar and molecular segmentation, management, chart, decal and
rhizome, to undertake an acentric tinkering, elaborate during methodological tests, deduced
from a map guideline- sketch-choreography, the caosgrafia, which as been contemplating the
crossing of heterogeneous references about love, which cohabit in contemporaneity and
resonate in the field of education. The plan of poli[AMOR]fia expresses a process of pulsatile
expansion and contraction, which occurs between flows of permanence and emergency flows
and, which causes the creation of multiple forms of conception and expression of love. It is
presented in textual and unorderly composites, which emerged from a chaotic writing, which
was woven in the perspective of the indissociability of the sensible and the intelligible and, in
that respect, from ratio-emotional tensions and intensities. It suggests, without indicating the
means, the creation of a new amorous ethic for education, based on pluralistic relations and
open to the processes of free subjectivation.

Keywords: Love. Caosgrafia. Teaching. Education. Facebook.