.. • .f . Pobreza ·.urb·ana IMPORTANTE! Este material foi disponibilizado EXCLUSIVAMENTE para uso pessoal e não comercial. Caso seja utilizado parte dele cite a fonte com a sua devida referência. 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Geografia urbana. 2. Sociologia urbana. L Abdala, Maria 13 Alice Ferraz. II. Titulo. III. Série. PODE-SE DEFINIR A "POBREZAii? ••••····•••••••••••••••••·••·•·•••••••••••···•••••••••·· CDD 307.76 23 '· EXPLICAÇÕES PARCIAIS DA POBREZA URBANA ··••••••••••····•••••••••••·••••·•••••• A POBREZA URBANA NO TERCEIRO MuNDo: )- 35 MARGINALIDADE OU BIPOLARIZAÇÃO? ••••.•.•...•••••.••••••..•••..•••.•••••••.••••.••• 57 Direitos reservados à Q CIRCUITO INFERIOR, CHAMADO "SETOR INFORMALii ·POR QUt? ....... . 4· Edusp - Editora da Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO E DA POBREZA: S· 77 6º andar - Ed. da Antiga Reitoria -Cidade Universitária CONSUMISMO OU IGUALITARISMO? ..................................................... . 05508-010 -São Paulo - SP -Brasil Divisão Comercial: Te!. (11) 3091-4008 / 3091-4150 Bibliografia Internacional ................................................................... . 87 SAC (l l) 3091-2911 - Fax (11) 3091 -4151 www.edusp.com.br - e-mail: [email protected] Printed in Brazil 2009 Foi feito o depósito legal APRESENTAÇÃO 1 O problema da pobreza ganhou, em nossos dias, uma atualidade incontestável por duas grandes razões: em parte pela gene ralidade do fenômeno que atinge a todos os países, embora em particular aflija mais duramente os países subdesenvolvidos, mas também pelo fato de que a urbanização galopante que estes últimos co nhecem _é acompanhada P~ia-e~p-~~;ã~:-;~~~~~~;ig~;i~d~ ~;p;~São ~a pobr~z~, ~~·s~~-q~~-e~t~·Sé'âp~esente de fúfrn~ ·p~rti'Zular ~especifi~a em cada país e nas diferentes cidades de um mesmo país. Este livro, dedicado a esse tema, compõe-se de duas partes: a primei ra procura colocar a questão de forma crítica, enquanto a segunda pretende oferecer uma bibliografia internacional do assunto. Na primeira parte retomamos a árdua questão da definição da po breza (Capítulo 1 - Pode-se Definir a "Pobreza"?), para indagar, em seguida, se o problema não tem sido frequentemente colocado de modo equívoco (Capítulo 2-Explicações Parciais da Pobreza Urbana). Mais adiante (Capítulo 3 -A Pobreza Urbana no Terceiro Mundo: Margina lidade ou Bipolarização?), tentamos resumir um debate, apaixonante na época em que se fez, sobre o problema da "marginalidade", e ao mesmo tempo sugerimos um enfoque que leva em conta a existência, na economia urbana, de dois circuitos interdependentes mas hierarqui camente organizados: o circuito superior e o circuito inferior. Este vem sendo chamado de "setor informal", denominação que permite uma discussão aprofundada, levando dos aspectos semânticos e filosóficos ao lado propriamente político da questão (Capítulo 4 - O Circuito Inferior, Chamado "Setor Informal''. Por quê?). Finalmente, discutimos as relações entre pobreza e teoria do desenvolvimento, para avançar algumas ideias relativas à esperada possibilidade de extinção dessa chaga que se alastrou no mundo ao mesmo tempo em que a economia conhecia índices de crescimento favoráveis (Capítulo 5 - Teorias do Desenvolvimento e da Pobreza: Consumismo ou Igualitarismo). Quanto à bibliografia, ela está long\, de ser completa. Os títulos que aí reunimos, somando cerca de oitocentos, permitirão, todavia, ao leitor melhor situar-se, diante de um elenco de informações oriundo de diver POBREZA URBANA sas partes do mundo e atendendo a diversas tendências do pensamento social. Estamos certos de que muitos trabalhos de valor escaparam ao nosso recenseamento, e nos protegemos dessa falha no triste consolo de que tarefas desse tipo terminam sempre por cometer injustiças, ainda que involuntárias. Nesse trabalho fui pacientemente ajudado pela geó grafa Maria Alice Ferraz Abdala, que se dispôs ao ingrato trabalho de percorrer bibliotecas e completar a documentação também por outras vias. Desejo exprimir-lhe, aqui, meu reconhecimento e minha gratidão. A publicação deste volume foi possível graças à colaboração que nos foi oferecida pela Universidade Federal de Pernambuco, na ocasião em que se realiza no Recife o Seminário Nacional sobre Pobreza Urbana e Desenvolvimento (4 a 7 de dezembro de 1978), promovido pelo Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano (mestrado). Um agradecimento particular é, aqui, endereçado ao professor Adalmi Beserra Alencar, que teve a iniciativa de me sugerir esse trabalho. MILTON SANTOS Outubro, 1978 l PODE-SE DEFINIR A "POBREZA"? Aabordagem do problema da pobreza nos países subdesenvol vidos é cheia de dificuldades e ciladas. As dificuldades são encobertas pelos deficientes instrumentos de pesquisa, tais como estatísticas e classificações duvidosas, enquanto a confusão a respeito dos objetivos e as formulações teóricas falsas ou incompletas representam verdadeiras arapucas. ?1</: ~- - ' A F AL~NCIA DAS ESTATÍSTICAS Jt ~ t)<>J:s' Lu~ A maioria dos escritores queixam-se de que as estatísticas são inade o m quadas, por não serem adaptáveis ou por serem insuficientes, ou ainda " z devido a problemas de interpretação - frequentemente insatisfatória " -, isso para não mencionar a manipulação (Aguilar, 1974, p. 166) que > " o é feita sob o pretexto de ajustá-las às condições locais, ou até mesmo • " com finalidades abertamente políticas (Feder, 1973, pp. 5-6). ,m. N As perguntas essenciais se subordinam a um modelo internacional (Santos, 1972). As pesquisas realizadas por organizações locais ou por pesquisadores independentes para compensar as deficiências dos re- sultados são, infelizmente, muito poucas e pouco acessíveis. Isso coloca determinante na construção teórica. Isso ocorre por exemplo com o problemas fundamentais e torna mesmo difícil qualquer tentativa de problema da definição de emprego, de desemprego e de subemprego. comparação ou de compreensão das realidades locais. Frequentemente, Recentemente, Guy Caire (1971) deu uma interpretação apropria o trabalho desenvolve-se com material mal selecionado e interpretado da das estatísticas de subemprego e desemprego, lembrando-nos que erroneamente, visto que a elaboração das estatísticas é feita obede esses conceitos cendo a uma transferência de conceitos elaborados para a Europa ou América do Norte e aplicados nos países subdesenvolvidos. O peso [. .. ]quando aplicados àos países do Terceiro Mundo, exigem uma reinterpre tação e que as medidas estatísticas gerais ou específicas deixam muito a desejar; das ideias feitas, a lei do mínimo esforço, o prestígio do exemplo, tudo por exemplo, o método da mais-valia (diferença entre a quantidade de trabalho contribui para manter um instrumento de pesquisa baseado em ideias disponível e a quantidade de trabalho socialmente necessário, o que exige conse preconcebidas. quentemente a escolha arbitrária de uma norma de produtividade) ou o método da É evidente que não se 2ode dispensar infQ!'~Matístic~~.IJ!ªS renda (número de trabalhadores de tempo integral, real ou potencial, que possuem recursos abaixo de um determinado nível, o que leva a considerar o trabalho pro é preciso recusar_a essas informações .!!!!l_ _' \'.alc~. .~ --próprio e suficiente. dutivo a longo prazo, curto prazo ou prazo indeterminado). Convém acrescentar As estatísticas só expressam a reali\:lade quando recolhidas através de que é precária a adaptação dos coeficientes de emprego ativo, determinados pelos ,-.« uma teoria válida; estatísticas e teoria se completam. recenseamentos, aos empregos tradicionais e às numerosas atividades organizadas No que diz respeito às estatísticas já existentes, o problema não é em torno das unidades familiares como unidades de trabalho. simplesmente abandoná-las sem maior consideração, e sim selecioná-las e usá-las com aquele senso crítico agudo reivindicado por Polly Hill A heterogeneidade das informações constitui outra dificuldade (1966, p. 18). Isso poderia autorizar que fossem usadas totalmente, encontrada ao se elaborar trabalhos mais meticulosos de comparação e em parte, ou simplesmente desprezadas. Assim, a utilização de dados síntese. A pesquisa socioeconômica está interessada nos mais diferentes estatísticos numa estrutura de análise e interpretação suscita problemas temas em cada país, dependendo de seu nível econômico, da urgência metodológicos, o que nos leva novamente aos problemas teóricos. com que os problemas precisam ser resolvidos e das opções políticas e As estatísticas dependem de uma compreensão sistemática, do meca interesses governamentais. Além do que os procedimentos adotados na nismo dos fenômenos que se quer estudar. Há necessidade, portanto, realização e execução do recenseamento variam com frequência, como de categorias analíticas que permitam a obtenção de dados e também também variam os intervalos entre os recenseamentos. a correção dos não confiáveis, o que ajudará na escolha das pesquisas Outro tipo de obstáculo é a definição dos limites urbanos. Os cri complementares necessárias. Com efeito, segundo Ch. Bettelheim térios sobre o que é "urbano", quase tão numerosos quanto os países a (1952), "toda medida implica na elaboração do conceito daquilo que que se referem, sã'o tão diversos que não permitem nenhuma tentativa < z é medido [. .. ] Uma medida resulta de um processo de abstração que, de generalização. O mesmo ocorre em relação à noção de "terciário" < • desde o início, elimina totalmente certas qualidades". Seria portanto e "terciarização". A maioria dos trabalhos sobre o Terceiro Mundo " o necessário reexaminar e renovar nossos conceitos, antes mesmo de referem-se a uma terciarização da sociedade e da economia, e a uma < •N coletar estatísticas (McGee, 1971, p. 68). Em outras palavras, são os urbanização terciária. Na verdade, trata-se de uma expr.essão de "• o conceitos, ou seja, a elaboração teórica, que assumem o papel primor certo modo já clássica, usada para designar uma atividade nova. Por " dial. A menos que o pesquisador seja consciente disso, os instrumentos exemplo, a população e as atividades que classificamos como sendo de pesquisa, e até mesmo os métodos, podem desempenhar um papel o Circuito Inferior da economia urbana (Santos, 197la) não são ne- cessariamente terciárias, como também não o é o protoproletariado restringem o problema a parâmetros de natureza puramente material. estudado por McGee (1974). O uso de um.a ~~ectiva herdada - a O. Lewis (1969, p. 115) é ainda mais explícito quando afirma que se repartição tradicional da economia em setores primário, secundário e pode obter uma descrição aproximada de pobreza definindo-a como terciário, uma divisão formal proposta por Colin Clark - é_ IJ~a a incapacidade de satisfazer necessidades de tipo material. em. d~c.11.ldad~~.mLex.Plica.r,J)JL~lo_ _i llffiQ§. avaliar _cor,r:<j;êUJ,.eJJJ:e Isso ajudaria a distinguir miséria de pobreza, como fizeram Sidney e qs problemas.ligados.à.pob.n:za uas.çi.d<!.<k~. O aparelho estatístico é Beatrice Webb (1911)? Os pobres, por essa definição, seriam "aqueles prisioneiro de uma noção geral que não está de acordo com a reali que têm um poder de compra mais reduzido que o considerado nor dade. Outro inconveniente provém do fato de que atualrp.<o.n~e mal para o ambiente em que vivem". Os mjseráyeis estariam priY.ados muito mais atenção ao fenômeno das favelas do que mesmo _à situação da sati~faç~o .\k ·ª]ggmª>-4'!~....!lt:.C.W.idades Yitaiá._.4tunaneira que a 4ª. pobreza como um todo. Essa preferência aparece claramente nos ~~ú_d,~---~-.<l:_!o~i!~~~ª.!.9.E!!~r=~-e-iam_p~:_~~!:.i!-s __ ~ PºE.~º de fazer perigar resultados estatísticos que frequentemente são de interesse mais antro .a pfÓ!'fÍ.iLY.id.@. pológico ou puramente econométrico que socioeconômico. Contudo, Carter (1970, p. 58) introduz a noção de "relatividade" ao afirmar seja qual for a motivação, o resultadA é o mesmo: o empobrecimento que '~a riqueza só traz satisfação quando comparada com o nível de ~;, ,_ \_, . da pesquisa e uma tendência para distorcer a compreensão global das vida de outros". Ou seja, ~~estar satisfeito é ser suficientemente rico r..-,--{ '--., realidades do mundo "marginal". para não sofrer de inveja". Mesmo assim, permanece o problema de ",..--.,' ."-" ~, -.,\/ É necessário, portanto, insistir na dificuldade de chegar a uma definir em que consiste a necessidade. ()_)" "'..- comparação válida das situações nacionais. Dificilmente seria possível A questão da pobreza não pode, na verdade, ficar restrita a defi· \'' uma comparação de variáveis isoladas, e isso mesmo só se poderia nições parciais. Já se tentou também estabelecer um limiar estatístico obter após uma tentativa preliminar de identificação. Ademais, como e,xªto da pobre_Z.fu._1Qmªndo_co_mopo11to_de i;ef~rênc_i_a~ p()_r e_2'emplo, os fenômenos em questão são fatos essencialmente complexos - com s!'lários, e. ~()_i:a.s_.\l;:. trabalhp. Mas a _n()ç~() fie "liu.ha_ d.e p.ubr.eza", postos portanto de variáveis múltiplas -, é preciso usar com cuidado av~liada __4 ~~-~~~ __ [<;>.,i:_µi_a por órgão_~--~n-~er1:1:_~_~J?,na_i_s _i 11t~r~s_§.açtQS. .. em iµ a estrutura estatística, e ir além dela. Do contrário, c:o_!'.!'.~-=~-..2.._risco formações quantitativas, e por planejadores preocupados em oferecer de apenas oferecer uma lista, que pode até ser prolífica, de variáveis sol~es con~ªbeis, não consti~ui um parâmetr? válido e não_permite isoladas que caracterizam uma determinada situação, e ao mesmo SQmP"!.!'529· Conforme salientou J. K. Galbraith, a noção de "linha 'e o tempo bloquear guaisg~E!_?]uções. É imprescindível dominar o pleno de pobreza" nem ao menos conduz a uma medida precisa, sendo o " funcionamento das variáveis, sua tendência a reagir reciprocamente, defeito mais grave o seu caráter estático: ~'Numa economia de cresci " para poder então inferir leis, ou pelo menos reconhecer um comporta mento existe uma necessidade óbvia de definir o limiar da pobreza ou < z mento geral e características específicas. Isso para todos os fenômenos de dar uma definição de pobreza que seja ao mesmo tempo relativa e ;; < • " sociais, inclusive a pobreza. dinâmica" (1969, p. 252). o ' < Os conceitos de recursos e necessidades são dinâmicos. A ideia de o N "•~ o QUE É POBREZA? escassez, um corolário dessas duas categorias, faz parte de sua própria •o natureza. Qs_ _~ \'.!_çur_s_os...p_Q.fil..~~isposição ~do_ _ Qgmem. em termos de f Certas definições, como a de Moore (1963), para quem a pobreza sua posição na escala soEi.al0JJJJ!.d.am.cQlll.O.J:~Jlll2Q _u:i..lugar, O valor é função de uma participação maior ou menor na modernização, d~; r~cu;sos é igu~l;,:;en_t_e_relativo,_cjfl'f!1c!e11g9_ _e jl1_g,ande parte _\!_a