Universidade de Brasília Instituto de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Filosofia PERCEPÇÃO DE DEUS E JUSTIFICAÇÃO DA CRENÇA RELIGIOSA: Uma análise da epistemologia da religião de William Alston PAULO ESTEVÃO TAVARES CAVALCANTI Brasília, 2010 Universidade de Brasília Instituto de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Filosofia PERCEPÇÃO DE DEUS E JUSTIFICAÇÃO DA CRENÇA RELIGIOSA: Uma análise da epistemologia da religião de William Alston PAULO ESTEVÃO TAVARES CAVALCANTI Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Filosofia, para obtenção do titulo de Mestre em Filosofia. Orientador: Prof. Dr. Agnaldo Cuoco Portugal Banca: Prof. Dr. Scott Randall Paine Prof. Dr. Roberto Pich Brasília, março de 2010. ii Cavalcanti, Paulo - Percepção de Deus e Justificação da Crença Religiosa: Uma análise da epistemologia da religião de William Alston/ Paulo Estevão Tavares Cavalcanti – Brasília: Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília (Dissertação de Mestrado), 2010. 1. Epistemologia, filosofia da religião, experiência religiosa - 2. William Alston I Título iii Dedico este trabalho a minha esposa Tania, fiel companheira e incentivadora e aos meus filhos Carol, Paulo e Renata iv “Respondeu Moisés: Mas eis que não crerão, nem acudirão a minha voz, pois dirão: O SENHOR não te apareceu” (Êxodo, 4:1). v Agradeço à minha família pelo incentivo e apoio como porto seguro e solo firme em momentos difíceis e tempestuosos. Agradeço aos meus amigos e colegas de trabalho, pelo interesse e encorajamento em meus estudos filosóficos. Agradeço aos professores do Departamento de Filosofia e especialmente ao meu orientador que, com competência, paciência e entusiasmo auxiliou-me na elaboração desse trabalho. Por fim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram direta ou indiretamente para a realização desta empresa. vi RESUMO Este trabalho aborda a tese de William Alston contida em seu livro Perceiving God de que a experiência religiosa pode contribuir como elemento adicional, entre outros, de suporte racional à crença religiosa. Nesse sentido são revisadas as bases da epistemologia da experiência religiosa de Alston e a contribuição específica que a percepção pode dar para o conhecimento de um objeto. Desenvolve-se uma análise crítica da tese de Alston de que, sob certas condições, é possível justificar determinadas crenças religiosas com base em experiências místicas de percepções de Deus e se analisam as principais críticas a esta tese. O trabalho é consistente com a conclusão de que Alston apresenta um argumento sólido e coerente e que as principais críticas dirigidas à tese defendida por ele podem ser rebatidas dentro do escopo de seu argumento. Palavras-chaves: Epistemologia, filosofia da religião, experiência religiosa, William Alston. vii ABSTRACT This dissertation deals with William Alston's thesis contained in his book Perceiving God that religious experience can contribute as an additional feature, inter alia, to the justification of religious belief. In this sense, I analyze the basis of Alton’s epistemology of religious experience and the specific contributions that perception can make to the knowledge of an object. I develop a critical analysis of Alston's argument that under certain conditions, it is possible to justify certain religious beliefs based on mystical experiences of God's perceptions and some main criticisms of this thesis are also considered. My contention is that Alston has a strong and coherent argument and that the main criticisms of his claims can be replied within the scope of his argument. Keywords: Epistemology, philosophy of religion, religious experience, William Alston. viii SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................................................10 A EXPERIÊNCIA MÍSTICA DA PERCEPÇÃO DE DEUS...................................................................18 A experiência mística.............................................................................................................................18 Percepção mística e percepção sensorial...............................................................................................22 A percepção de Deus..............................................................................................................................32 A crítica de Zangwill..............................................................................................................................40 A tese de Alston e a estética transcendental de Kant.............................................................................46 O contra-argumento de Plantinga..........................................................................................................51 Resposta a Zangwill: Da possibilidade da percepção mística...............................................................55 JUSTIFICAÇÃO EPISTÊMICA, CONFIABILIDADE E PRÁTICAS DOXÁSTICAS.......................58 O ambiente epistemológico da proposta de Alston................................................................................58 A justificação epistêmica de crenças perceptuais..................................................................................61 A confiabilidade das crenças perceptuais..............................................................................................62 A confiabilidade da percepção mística...................................................................................................75 A abordagem das práticas doxásticas....................................................................................................76 Da racionalidade prática à confiabilidade e à justificação das práticas doxásticas.............................87 A POSSIBILIDADE DA JUSTIFICAÇÃO DA CRENÇA RELIGIOSA A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS MISTICAS.....................................................................................................................91 Práticas doxásticas místicas cristãs (PMC)...........................................................................................91 Possíveis objeções à PMC......................................................................................................................95 O problema da diversidade religiosa...................................................................................................107 O problema da justificação pela via do testemunho e o conhecimento de Deus..................................112 Criticas à tese alstoniana.....................................................................................................................115 A crítica de Robert Audi.......................................................................................................................116 A crítica de Michael Wakoff.................................................................................................................118 A idéia da atenção compartilhada de Adam Green..............................................................................124 Alston e as possiveis críticas à sua tese................................................................................................127 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................................................129 BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................................138 ix INTRODUÇÃO A questão da crença religiosa e mais especificamente, a crença na existência do Deus judaico-cristão, foi ao longo do tempo objeto de longa disputa filosófica, desde a tentativa de construir elaborados argumentos racionais até propostas de estabelecer domínios separados da fé e da razão. Dadas as importantes implicações existenciais envolvidas e o desenvolvimento da moderna ciência, com forte apelo aos aspectos matemático-experimentais da justificação racional, a crença teísta tem continuado a alimentar o debate envolvendo diversos pontos de vista e fazendo uso de novos argumentos elaborados à luz de recentes desenvolvimentos na epistemologia e na pesquisa teológica. Em grande medida, os diversos tipos de argumento ou visões de mundo que defendem a hipótese teísta alimentam um debate que remonta aos inícios do cristianismo, entre os que defendem o primado da fé e os que acreditam no concurso da razão para a justificação dessa crença. Uma das primeiras tentativas de formulação lógico-racional para a crença teísta vem com os argumentos ontológico, cosmológico e teleológico a favor da existência de Deus. Estas formulações integram a assim denominada teologia natural porque partem do pressuposto de que é possível, pelo uso da racionalidade chegar à conclusão da necessidade da existência de Deus. Estes argumentos foram propostos ou revisitados por Anselmo, Tomás de Aquino e Descartes e posteriormente questionados por Kant e Hume, entre outros. A validade dessa classe de argumentos tem sido objeto de disputa que está longe de uma pacificação. Uma das respostas aos problemas apontados nos argumentos da teologia natural clássica é a defesa do papel da experiência religiosa na confirmação e sustentação da crença teísta. A linha perseguida neste caso é a de que a experiência pessoal de contato com a divindade conta a seu favor com a força da evidência auto-justificável para aquele que a experimentou. Os problemas que envolvem esta abordagem relacionam-se à possibilidade de ilusão, engano, burla etc., por parte do indivíduo envolvido. Acrescente- 10
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