Mário de Andrade nova fronteira | rio de janeiro 2015 SUMÁRIO t t t Nota editorial Nota preliminar I Música elementar II Música da Antiguidade III A monodia cristã IV Polifonia católica V Início da música profana VI Melodrama VII Polifonia protestante VIII Música instrumental IX Classicismo X Romantismo XI Música erudita brasileira XII Música popular brasileira XIII Atualidade Índice alfabético NOTA EDITORIAL t O texto de Mário de Andrade presente nesta edição foi trabalhado pela equipe da Editora Nova Fronteira, partindo sempre de edições canônicas publicadas anteriormente. Com uma visada conservadora e respeitando a dicção tão peculiar do autor modernista, realizamos um trabalho minucioso, cuidando para alterar a grafia de termos que foram passíveis de mudanças quando das reformas ortográficas de 1971 e 1990, posteriores, portanto, ao falecimento do autor. Isso porque, embora este não seja um texto estabelecido por especialistas na obra de Mário de Andrade, nossa edição optou por manter a integridade textual e a intenção autoral ao máximo possível, especialmente nos casos em que se percebia desacordo com o formulário ortográfico vigente. Assim, o leitor poderá encontrar registros que, por vezes, fogem às regras gramaticais – sintáticas, ortográficas e de pontuação. Por exemplo: mantivemos a vírgula entre o sujeito e o predicado, muito usada por Mário de Andrade. Da mesma maneira, procedemos com os hifens, como no caso de bom-senso, senso- comum, crítico-moral, ideias-origens etc. Variações no registro de se (si), melhor (milhor) e quase (quasi) também poderão ser encontradas nesta obra. Por outro lado, quando duas grafias atualmente aceitas são registradas pelo autor, optou-se pela de uso mais corrente no Brasil, como é o caso de contato (ao invés de contacto) e característica (em lugar de caraterística). Procedemos, igualmente, com os casos de concordância, mantendo, nas poucas ocorrências existentes, o desacordo entre sujeito e predicado ou a variação de verbos impessoais. Com a iniciativa de publicar este texto em livro digital, acreditamos estar dando a público uma edição cuidada, atualizada, sem ferir os padrões estéticos e conceituais de Mário de Andrade. E ao mesmo tempo possibilitando acesso imediato a esta obra de grande importância para os estudiosos da cultura nacional ou para aqueles que por ela se interessam. O editor Dedicatória A Renato Almeida NOTA PRELIMINAR1 t Da presente edição da Pequena história da música, retirou-se a Discoteca. Encarecia muito o livro e era de pouco uso nestes tempos de guerra, em que o comércio de discos é incerto e fraco. Em compensação e graças à paciência de Sônia Sterman, a quem sou tão grato, foi acrescentado um índice analítico. E como as datas foram eliminadas o mais possível para não embaraçar a leitura, as de nascimento e morte dos artistas citados vêm nesse Índice Analítico. Também neste se esclarece o sentido de várias palavras técnicas, cuja definição não coube no texto. Usou-se a maiúscula para salientar os termos técnicos, principalmente na primeira vez em que aparecem no livro. M. de A. 1. Nota feita pelo autor para a edição de 1944. t Carlos Gomes t Litografia Doyen, Turim t Col. M. de A. t CAPÍTULO I t MÚSICA ELEMENTAR É comum afirmarem que a Música é tão velha quanto o homem, porém talvez seja mais acertado falar que, como Arte, tenha sido ela, entre as artes, a que mais tardiamente se caracterizou. O nocionamento do valor decorativo de qualquer criação humana, seja o objeto, o gesto, a frase, o canto, muito provavelmente derivou do tecnicamente mais benfeito. Um machado de pedra mais bem lascado, uma lança mais bem polida, o próprio gesto mais bem realizado, ao mesmo tempo que mais úteis e eficazes, tornam-se naturalmente mais agradáveis. Já o canto, a música, porém, para reunir à sua manifestação o valor estético do agradável, do decorativo, parece exigir mais que a ocasionalidade do apenas mais benfeito. Este valor estético do decorativo exige nela maior organização da técnica, sons fixos, determinação de escalas, etc. E pela sua própria função mágico-social, a música primitiva se via impedida de nocionar o agradável sonoro. Com efeito, é muito sabido que os espíritos, os seres sobrenaturais concebidos pela mentalidade primitiva, são mais ruins que bons. O deus bom é vaguissimamente nocionado e os primitivos se desinteressam dele, exatamente porque bom, incapaz de os prejudicar. Ao passo que os demônios, a própria caça, o próprio vegetal alimentar sujeito, pra ser bom (útil), ao decorrer das estações, são entidades malfazejas, más, horríveis que ou é preciso afastar duma vez, amedrontando-as, ou torná-las propícias, abrandando-as. Desse princípio derivam todas as magias e incipientes religiões primitivas. Ora na fabricação de ídolos, de máscaras, na ideação lírica dos mitos e lendas, na gesticulação das dansas imitativas, por mais feios que fossem os demônios, os objetos e coreografias inventados, si tecnicamente mais benfeitos, eles se
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