* UMASS AMHERST * HUMANISTA BlEDbb DEbD b7T5 1 P a t r i ce DT 657.2 L85 R4719 1990 3 J H HI \*% PATRIOTA, LUTADOR.HUMANISTA DATE DUE U N I V E R S I TY L I B R A RY UNIVERSITY OF MASSACHUSETTS AT AMHERST DT 657.2 L85 R4719 1990 Edicoes da Agenda de Imprensa Novosti & Moscovo, 1990 k \*% PATRIOTA, LUTADOR.HUMANISTA DATE DUE U N I V E R S I TY L I B R A RY UNIVERSITY OF MASSACHUSETTS AT AMHERST DT 657.2 L85 R4719 1990 Edicoes da Agenda de Imprensa Novosti & Moscovo, 1990 k Os acontecimentos aqui relatados ocorreram nos anos 60 do seculo XX, quando milhoes de africanos se libertaram da escravi- dao colonial secular. Estes tempos foram um perlodo de brilhantes vitorias dos movimentos de libertacao nacional, do nascimento de toda uma serie de palses independentes no continente, um periodo de esperanca de que o Dia da Libertacao Total e Final da Africa se aproximava. Em meados de 1960, ano que se afasta de nos de dia para dia, todo o mundo se sentiu atraido pelos acontecimentos no Congo — pais imenso, com uma superficie equivalente a uma decima segunda parte do continente africano, onde habitavam cerca de 15 milhoes de pessoas, e que disse «Nao!» ao passado colonial. Os colonizadores belgas nao queriam perder este apetitoso pedaco de territorio. Quanto a diversidade e reservas de minerios, o Congo detem um dos lugares cimeiros no mundo. A provincia de Katanga e qualificada pelos geologos de «milagre geologico». Esta grande zona e rica em cobre, cobalto, uranio, radio, prata, ouro, ferro, etc. No sul do pais, na provincia de Kassai, existem grandes zonas diamantiferas. No nordeste e leste do pais, nas provincias Oriental e Kivu, encontram-se jazigos de ouro e estanho. Os representantes dos circulos dirigentes belgas afirmavam hipocritamente estar movidos por melhores sentimentos e inten- coes em relagao ao povo congoles, movidos pelo desejo de aju- dar a promover o desenvolvimento e a cooperacao com base na igualdade. Mas de facto urdiam uma conspiracao contra o povo do Congo, contando provocar o descalabro e a anarquia no pais, sufocar o movimento de libertacao nacional, repor e consolidar o regime colonial. Em 1959 e 1960, em consequencia da polftica provocatoria das autoridades belgas, registaram-se recontros sangrentos entre diversos grupos etnicos em varias regioes do pais. Foram particu- larmente tragicos os acontecimentos na provincia de Kassai e em Luluabourg, seu centro administrative onde tinham eclodido 0804000000 hostiiidades entre as tribos baluba e lulua que ate entao tinham © Nikolai Rechetniak, autor do texto, 1990 vivido em paz. Muita gente morrera e centenas de familias ficaram © Vladimir Anokhine, arranjo grafico, 1990 sem abrigo... © Humberto Goncalves, tradueao, 1990 L Os acontecimentos aqui relatados ocorreram nos anos 60 do seculo XX, quando milhoes de africanos se libertaram da escravi- dao colonial secular. Estes tempos foram um perlodo de brilhantes vitorias dos movimentos de libertacao nacional, do nascimento de toda uma serie de palses independentes no continente, um periodo de esperanca de que o Dia da Libertacao Total e Final da Africa se aproximava. Em meados de 1960, ano que se afasta de nos de dia para dia, todo o mundo se sentiu atraido pelos acontecimentos no Congo — pais imenso, com uma superficie equivalente a uma decima segunda parte do continente africano, onde habitavam cerca de 15 milhoes de pessoas, e que disse «Nao!» ao passado colonial. Os colonizadores belgas nao queriam perder este apetitoso pedaco de territorio. Quanto a diversidade e reservas de minerios, o Congo detem um dos lugares cimeiros no mundo. A provincia de Katanga e qualificada pelos geologos de «milagre geologico». Esta grande zona e rica em cobre, cobalto, uranio, radio, prata, ouro, ferro, etc. No sul do pais, na provincia de Kassai, existem grandes zonas diamantiferas. No nordeste e leste do pais, nas provincias Oriental e Kivu, encontram-se jazigos de ouro e estanho. Os representantes dos circulos dirigentes belgas afirmavam hipocritamente estar movidos por melhores sentimentos e inten- coes em relagao ao povo congoles, movidos pelo desejo de aju- dar a promover o desenvolvimento e a cooperacao com base na igualdade. Mas de facto urdiam uma conspiracao contra o povo do Congo, contando provocar o descalabro e a anarquia no pais, sufocar o movimento de libertacao nacional, repor e consolidar o regime colonial. Em 1959 e 1960, em consequencia da polftica provocatoria das autoridades belgas, registaram-se recontros sangrentos entre diversos grupos etnicos em varias regioes do pais. Foram particu- larmente tragicos os acontecimentos na provincia de Kassai e em Luluabourg, seu centro administrative onde tinham eclodido 0804000000 hostiiidades entre as tribos baluba e lulua que ate entao tinham © Nikolai Rechetniak, autor do texto, 1990 vivido em paz. Muita gente morrera e centenas de familias ficaram © Vladimir Anokhine, arranjo grafico, 1990 sem abrigo... © Humberto Goncalves, tradueao, 1990 L Precisamente neste periodo, os partidos e organizacoes nacio- independencia do Congo, foram icadas milhares de bandeiras nalistas progressistas ergueram o povo para a luta de libertacao. desta nova republica africana nas cidades e vilas. 0 povo congo Ainda em 1959, em todo o pais, deu-se uma forte onda grevista. les festejou com imensa alegria a conquista da tao desejada As repressoes brutais das autoridades depararam com a resisten liberdade. Mas passados alguns dias teve de sofrer duras cia armada dos congoleses. 0 movimento revolucionario e de provacoes. libertacao nacional das massas populares ameacava varrer da face da Terra todo o putrefacto sistema colonial. Nestas condicoes, o Os paises africanos tiveram que demonstrar, numa luta renhida governo belga viu-se forcado a conceder a independencia ao e por vezes sangrenta, o seu direito a existencia soberana, mas Congo, julgando que esta seria em grande medida ficticia, permi- nenhum outro pais como o Congo suportou accoes de agressao tindo assim a Belgica manter as suas posicoes economicas e coordenadas de toda uma coligacao de paises imperialistas. politicas. Tudo isto decorreu na minha mocidade. Nos, operarios, estu- dantes e professores efectuavamos grandes comicios de apoio a Em Janeiro-Fevereiro de 1960, em Bruxelas, realizou-se a independencia do Congo. Lembro-me como num clube da cidade «Conferencia da Mesa-Redonda», com a participacao de repre- se empacotavam encomendas ate altas horas da noite para os sentantes da Belgica e do Congo, onde foram debatidas as patriotas do Congo. Nos acreditavamos profundamente em que a condicoes da independencia. A Conferencia deliberou proclamar nossa solidariedade com a luta do povo heroico detera os carras- a independencia do pais em 30 de Junho desse ano. 0 Estado cos, mas deu-se o irreparavel... integraria seis provincias unidas segundo os principios do federalismo. E isto seria a nossa maior dor de entao. Todos adoravam Em Maio realizaram-se eleicoes gerais para a Assembleia Patrice Lumumba. Ele atraia com a sua modestia, simplicidade, Legislativa do Congo (Camara Baixa) e para as assembleias de sociabilidade. Nos dias de Agosto de 1960, nas vesperas da provincia. Nelas venceram os partidos do movimento de liberta tragedia, vimos fotografias do Primeiro-Ministro do Congo nas cao nacional. Depois constituiu-se o Senado (Camara Alta) ruas de Leopoldville, rodeado de multidoes em apoteose. Liamos atraves da nomeacao dos membros eleitos pelas assembleias de os seus discursos em comicios e conferencias de Imprensa, provincia. Nas provincias formaram-se orgaos de poder local. 0 desejavamos-lhe vitoria e sucesso. governo central integrou representantes dos partidos politicos Mais tarde chegaria a noticia do assassinato de Lumumba e mais votados. Patrice Lumumba, lider do Movimento Nacional do seus correligionarios, um assassinato que admitiamos que pudes- Congo, foi nomeado Primeiro-Ministro. 0 lider nacionalista se vir a acontecer, mas no quai nao queriamos acreditar. Joseph Kasavubu foi eleito Presidente da Republica do Congo Por vontade do destino tive oportunidade de, como corres pelo Parlamento. pondents nos paises da Africa Austral, viajar ate Lusaka, capital As autoridades coloniais, forcadas a recuar face a pressao da da Zambia, instalar-me aqui, no centro dos paises da Frente, e luta de libertacao nacional, tentaram mostrar que tinham ofereci- encontrar-me de novo com Patrice Lumumba, agora um simbolo do de boa vontade a independencia ao povo congoles. 0 primeiro e bandeira que ostentam os seus antigos companheiros de armas a responder aos colonizadores foi o Chefe do Governo Nacional que lutaram pela libertacao nacional, simples africanos, que co- Patrice Lumumba no Dia da Proclamacao da Independencia. nhecem, recordam e amam Patrice Lumumba como dantes. Ao usar da palavra no parlamento da Republica, ele disse Viajei por cidades, vilas e aldeias de Angola, Botswana, abertamente na presenca do Rei, do Primeiro-Ministro e dos Zimbabwe, Zambia. Estive na Namibia e na RAS e por toda a ministros da Belgica: parte vi ruas, escolas, granjas e fabricas com o seu nome. Ouvi «Nenhum dos habitantes do Congo jamais esquecera opinioes sobre ele. que a independencia foi por nos conquistada atraves da Nas ruas Patrice Lumumba de Lusaka, Harare e de outras capi- luta diaria, renhida e dificil, numa luta em que nao nos tais dos paises da Frente surgiu a ideia de entrevistar pessoas e detinham nem as privacoes, nem os sofrimentos, nem as perguntar-lhes a opiniao sobre este notavel lutador pela indepen imensas vitimas, nem o sangue derramado pelos nossos povos.» dencia da Africa, preparar uma serie de materiais com o tema: «Entrevista na rua Patrice Lumumba», falar com eminentes figuras Em 30 de Junho de 1960, no dia solene da proclamacao da Precisamente neste periodo, os partidos e organizacoes nacio- independencia do Congo, foram icadas milhares de bandeiras nalistas progressistas ergueram o povo para a luta de libertacao. desta nova republica africana nas cidades e vilas. 0 povo congo Ainda em 1959, em todo o pais, deu-se uma forte onda grevista. les festejou com imensa alegria a conquista da tao desejada As repressoes brutais das autoridades depararam com a resisten liberdade. Mas passados alguns dias teve de sofrer duras cia armada dos congoleses. 0 movimento revolucionario e de provacoes. libertacao nacional das massas populares ameacava varrer da face da Terra todo o putrefacto sistema colonial. Nestas condicoes, o Os paises africanos tiveram que demonstrar, numa luta renhida governo belga viu-se forcado a conceder a independencia ao e por vezes sangrenta, o seu direito a existencia soberana, mas Congo, julgando que esta seria em grande medida ficticia, permi- nenhum outro pais como o Congo suportou accoes de agressao tindo assim a Belgica manter as suas posicoes economicas e coordenadas de toda uma coligacao de paises imperialistas. politicas. Tudo isto decorreu na minha mocidade. Nos, operarios, estu- dantes e professores efectuavamos grandes comicios de apoio a Em Janeiro-Fevereiro de 1960, em Bruxelas, realizou-se a independencia do Congo. Lembro-me como num clube da cidade «Conferencia da Mesa-Redonda», com a participacao de repre- se empacotavam encomendas ate altas horas da noite para os sentantes da Belgica e do Congo, onde foram debatidas as patriotas do Congo. Nos acreditavamos profundamente em que a condicoes da independencia. A Conferencia deliberou proclamar nossa solidariedade com a luta do povo heroico detera os carras- a independencia do pais em 30 de Junho desse ano. 0 Estado cos, mas deu-se o irreparavel... integraria seis provincias unidas segundo os principios do federalismo. E isto seria a nossa maior dor de entao. Todos adoravam Em Maio realizaram-se eleicoes gerais para a Assembleia Patrice Lumumba. Ele atraia com a sua modestia, simplicidade, Legislativa do Congo (Camara Baixa) e para as assembleias de sociabilidade. Nos dias de Agosto de 1960, nas vesperas da provincia. Nelas venceram os partidos do movimento de liberta tragedia, vimos fotografias do Primeiro-Ministro do Congo nas cao nacional. Depois constituiu-se o Senado (Camara Alta) ruas de Leopoldville, rodeado de multidoes em apoteose. Liamos atraves da nomeacao dos membros eleitos pelas assembleias de os seus discursos em comicios e conferencias de Imprensa, provincia. Nas provincias formaram-se orgaos de poder local. 0 desejavamos-lhe vitoria e sucesso. governo central integrou representantes dos partidos politicos Mais tarde chegaria a noticia do assassinato de Lumumba e mais votados. Patrice Lumumba, lider do Movimento Nacional do seus correligionarios, um assassinato que admitiamos que pudes- Congo, foi nomeado Primeiro-Ministro. 0 lider nacionalista se vir a acontecer, mas no quai nao queriamos acreditar. Joseph Kasavubu foi eleito Presidente da Republica do Congo Por vontade do destino tive oportunidade de, como corres pelo Parlamento. pondents nos paises da Africa Austral, viajar ate Lusaka, capital As autoridades coloniais, forcadas a recuar face a pressao da da Zambia, instalar-me aqui, no centro dos paises da Frente, e luta de libertacao nacional, tentaram mostrar que tinham ofereci- encontrar-me de novo com Patrice Lumumba, agora um simbolo do de boa vontade a independencia ao povo congoles. 0 primeiro e bandeira que ostentam os seus antigos companheiros de armas a responder aos colonizadores foi o Chefe do Governo Nacional que lutaram pela libertacao nacional, simples africanos, que co- Patrice Lumumba no Dia da Proclamacao da Independencia. nhecem, recordam e amam Patrice Lumumba como dantes. Ao usar da palavra no parlamento da Republica, ele disse Viajei por cidades, vilas e aldeias de Angola, Botswana, abertamente na presenca do Rei, do Primeiro-Ministro e dos Zimbabwe, Zambia. Estive na Namibia e na RAS e por toda a ministros da Belgica: parte vi ruas, escolas, granjas e fabricas com o seu nome. Ouvi «Nenhum dos habitantes do Congo jamais esquecera opinioes sobre ele. que a independencia foi por nos conquistada atraves da Nas ruas Patrice Lumumba de Lusaka, Harare e de outras capi- luta diaria, renhida e dificil, numa luta em que nao nos tais dos paises da Frente surgiu a ideia de entrevistar pessoas e detinham nem as privacoes, nem os sofrimentos, nem as perguntar-lhes a opiniao sobre este notavel lutador pela indepen imensas vitimas, nem o sangue derramado pelos nossos povos.» dencia da Africa, preparar uma serie de materiais com o tema: «Entrevista na rua Patrice Lumumba», falar com eminentes figuras Em 30 de Junho de 1960, no dia solene da proclamacao da politicas da Africa Austral e de toda a Africa sobre ele, e posterior- mente langar-me a escrever uma brochura... A s s im n a s c em os herois Sabe-se que as origens das facanhas estao na terra natal, no seu proprio povo. Patrice Lumumba nasceu a 2 de Julho de 1925 na provincia de Kassai, situada no coracao do Congo. Era filho de gente pobre e de origem camponesa. Patrice sabia bem o que era o trabalho extenuante do agricultor congoles. Nao era mais facil a vida dos operarios que de manha a noite dobravam a espinha nas minas de diamantes da provincia para a Companhia Forminiere. 0 agoite do capataz, os vergoes nas costas dos negros... Isto ficou provavelmente para sempre registado na memoria de Patrice Lumumba... Patrice tornar-se-ia um dos escravos negros da Forminiere ou da Union Miniere se nao fossem as suas notaveis capacidades. Este futuro heroi da Africa conseguiu acabar uma das pouco numerosas escolas medias missionarias que existiam no Congo Belga. Ele sentiu uma grande paixao pelos livros, uma imensa vontade de saber, a aspiracao a justiga. 0 acesso ao ensino superior estava vedado a Lumumba. Dentre os congoleses contavam-se pelos dedos os que eram escolhidos pelas autoridades belgas e enviados para a Europa estudar. Em abono da verdade, os missionaries catolicos repara- ram nas aptidoes invulgares desse rapaz e tentaram mete-lo num seminario. 0 Vaticano comegou nessa altura a formar «sacerdotes africanos» nos quais os colonizadores se poderiam apoiar mais tarde. Mas em breve dar-se-iam conta do erro cometido, pois Lumumba expressava ja nessa altura ideias que nao agradavam aos seus superiores. Passado algum tempo ele foi expulso do seminario. As «universidades» de Lumumba viriam a ser as empre Patrice Lumumba foi um dos primeiros nota- sas e escritorios onde trabalhara para sustentar a familia — a veis democratas nacionalistas africanos. A sua esposa Opanga Pauline Lumumba e quatro filhos. mundrvidencia nao estava livre de um certo Na mocidade, Lumumba foi empregado de escritorio nas eclectismo e influencia pequeno-burguesa. re flect ia uma cert a actuacao propria de instituigoes da administragao colonial, empregado dos correios, socialistas-utopistas, ideologos da sociedade trabalhou numa fabrica de cerveja. Viajando de cidade em cidade, africana pre-burguesa. Todavia, deve-se reco- contactava com os altos funcionarios belgas e com os operarios nhecer que ele foi um revolucionario honesto e congoleses, com os famintos intelectuais africanos e com os coerente, um democrata e um anti-racista. Lutou contra o neocolonialismo. politicas da Africa Austral e de toda a Africa sobre ele, e posterior- mente langar-me a escrever uma brochura... A s s im n a s c em os herois Sabe-se que as origens das facanhas estao na terra natal, no seu proprio povo. Patrice Lumumba nasceu a 2 de Julho de 1925 na provincia de Kassai, situada no coracao do Congo. Era filho de gente pobre e de origem camponesa. Patrice sabia bem o que era o trabalho extenuante do agricultor congoles. Nao era mais facil a vida dos operarios que de manha a noite dobravam a espinha nas minas de diamantes da provincia para a Companhia Forminiere. 0 agoite do capataz, os vergoes nas costas dos negros... Isto ficou provavelmente para sempre registado na memoria de Patrice Lumumba... Patrice tornar-se-ia um dos escravos negros da Forminiere ou da Union Miniere se nao fossem as suas notaveis capacidades. Este futuro heroi da Africa conseguiu acabar uma das pouco numerosas escolas medias missionarias que existiam no Congo Belga. Ele sentiu uma grande paixao pelos livros, uma imensa vontade de saber, a aspiracao a justiga. 0 acesso ao ensino superior estava vedado a Lumumba. Dentre os congoleses contavam-se pelos dedos os que eram escolhidos pelas autoridades belgas e enviados para a Europa estudar. Em abono da verdade, os missionaries catolicos repara- ram nas aptidoes invulgares desse rapaz e tentaram mete-lo num seminario. 0 Vaticano comegou nessa altura a formar «sacerdotes africanos» nos quais os colonizadores se poderiam apoiar mais tarde. Mas em breve dar-se-iam conta do erro cometido, pois Lumumba expressava ja nessa altura ideias que nao agradavam aos seus superiores. Passado algum tempo ele foi expulso do seminario. As «universidades» de Lumumba viriam a ser as empre Patrice Lumumba foi um dos primeiros nota- sas e escritorios onde trabalhara para sustentar a familia — a veis democratas nacionalistas africanos. A sua esposa Opanga Pauline Lumumba e quatro filhos. mundrvidencia nao estava livre de um certo Na mocidade, Lumumba foi empregado de escritorio nas eclectismo e influencia pequeno-burguesa. re flect ia uma cert a actuacao propria de instituigoes da administragao colonial, empregado dos correios, socialistas-utopistas, ideologos da sociedade trabalhou numa fabrica de cerveja. Viajando de cidade em cidade, africana pre-burguesa. Todavia, deve-se reco- contactava com os altos funcionarios belgas e com os operarios nhecer que ele foi um revolucionario honesto e congoleses, com os famintos intelectuais africanos e com os coerente, um democrata e um anti-racista. Lutou contra o neocolonialismo. negociantes americanos que, num relampago, despendiam vulta- sentido de formar um partido politico, capaz de unir as amplas das somas, tais que nem um africano formado poderia ganhar massas. Nessa altura, no Congo existiam ja alguns partidos, que durante toda a sua vida. tinham sido constituidos segundo o principio da representativida- de das etnias e tribos. Assim, o mais antigo dos partidos Lumumba comeca a sua actividade politica inserindo-se na congoleses — a Alianga do Povo Bakongo (ABACO), encabegada luta contra os colonizadores. A ligacao estreita ao povo ajudou por Kassavubu — compunha-se exclusivamente de representantes Lumumba a definir o principal objectivo do Congo — libertar o desta grande tribo e estava relacionado com a aristocracia tribal, pais da dominacao estrangeira. Patriota inabalavel, Lumumba subornada pelas autoridades coloniais. acreditava no povo do Congo e na forga deste. A sua mundivi- dencia estava impregnada de democratismo e profundo 0 surgimento de novos partidos era um trago caracteristico da humanismo. vida politica do Congo de entao. Segundo dados de diversos especialistas, nessa altura As ideias patrioticas alimentaram a criacao literaria de contavam-se no pais 40 a 100 organizagoes politicas designadas Lumumba. Ainda era adolescente e ja escrevia versos que Ihe como partidos mais por tradigao. No entanto, e evidente que os viriam a dar a fama de grande poeta africano. Os versos de novos partidos, melhor dizendo grupos, nao estavam em Lumumba, publicados no jornal «lndependence» e noutras edi- condigoes de exercer uma influencia seria na vida politica do pais goes, chegam a todos os recantos do pais. e por vezes dissolviam-se logo a seguir a publicagao do primeiro Chora, meu querido irmao negro, manifesto. Nos milenios da noite brutal! Tive oportunidade de observar uma situagao analoga na Namibia em Abril de 1989. 0 departamento de informagao do Que evaporem nos raios solares «governo provisorio de unidade nacional» nao cessava de anotar As lagrimas que teu bisavo derramou o aparecimento de novos partidos. Alguns deles, mal anunciavam Martirizado nestes campos de dor! o seu nascimento, desapareciam em seguida sem deixar rasto. A Que o nosso povo, livre e feliz, estatistica de Abril registava mais de 100 formagoes politicas. Viva e triunfe no nosso Congo, Certo dia, em conversa com o dirigente dos servigos locais de Aqui, no proprio coracao da Africa grande! informagao E. Hofmann, perguntei-lhe o que era necessario para formar um partido na Namibia? Estas linhas sensibilizaram milhares e milhares de congoleses. Lumumba tambem se dedicou intensamente a actividade jornalis- Ele sorriu e disse: tica e publicistica. Publicou varios artigos nos quais desmas- — Voce, eu e a pasta, que esta posta na mesa, bastamos para carava os vicios do regime colonial. Na cidade de Stanleyville, criar um partido. centro de provincia oriental, Lumumba organizou o jornal Nos recordamos a situagao do Congo naquela altura. De facto, «Uhuru» (Liberdade) que se tornara a voz dos combatentes pela diz E. Hofmann, havia muitos partidos, mas so uns dez ou quinze liberdade do Congo. e que possuiam poder real. Foi nesta mesma grande cidade, bastiao dos adeptos de Os grandes partidos eram por excelencia de origem tribal ou Lumumba, que comecou a sua carreira politica. correspondiam a organizagoes regionais, nao gozando portanto Lumumba intervinha frequentemente em comicios e assem de igual influencia por todo o pais. Apenas tres — o Movimento bleias sindicais. 0 congoles comum ouvia atenciosamente as suas Nacional do Congo (Partido de Lumumba), a Uniao Congolesa e intervencoes. o Partido do Progresso Nacional, procolonialista, formado em Ele falava calmamente, mas com uma grande forga de convic- 1959 — tentavam actuar a escala nacional. gao. Nas suas palavras sentia-se a profunda dor pelo seu proprio Em Janeiro de 1959, em Leopoldville foi criada a Uniao povo, a compreensao das aspiragoes e necessidades dele. 0 Interfederal, sem programa politico definido e que integrava «Nosso Patrice» — assim comegariam em breve a chamar oriundos do Alto Congo (bangalas, bassongues, bateques, etc.). Lumumba no seio do povo. A sua direcgao compunha-se essencialmente de representantes No inicio de 1958, Lumumba empreendeu alguns passos no dos escaloes medios do funcionalismo, o que conferia certa 8