Palmeiras observadas na Região do Garapiá, Maquiné, RS Vladimir Stolzenberg Torres¹ ¹Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade / Prefeitura Municipal de Porto Alegre Resumo: A Mata Atlântica possui uma grande biodiversidade, merecendo estudos de toda natureza. Desta forma, o presente estudo objetivou, mediante observações in loco, realizar o levantamento das espécies de Palmae Juss. ocorrentes região do Garapiá, município de Maquiné, RS. Considerando espécies nativas e exóticas, foram registradas um total de sete, a saber: Euterpe edulis Mart., Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman, Butia catarinensis Noblick & Lorenzi, Bactris setosa Mart., Washingtonia robusta H. Wendl., Washingtonia filifera (Linden ex André) H. Wendl. e Archontophoenix cunninghamiana (H. Wendl.) H. Wendl. & Drude. Novas campanhas devem ser realizadas, para melhor caracterizar as espécies e possíveis híbridos ocorrentes na região, bem como definir a efetiva ocorrência, ou não, de Geonoma gamiova Barb. Rodr. e G. schottiana Mart. Palavras-chave: Palmeiras; Arecaceae; Maquiné. Palm trees observed in the Garapiá Region, Maquiné, RS Abstract: The Atlantic Forest has great biodiversity, deserving studies of all kinds. Thus, the present study aimed, through on-site observations, to carry out a survey of Palmae Juss species occurring in the Garapiá region, municipality of Maquiné, RS. Considering native and exotic species, a total of seven were recorded, namely: Euterpe edulis Mart., Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman, Butia catarinensis Noblick & Lorenzi, Bactris setosa Mart., Washingtonia robusta H. Wendl., Washingtonia filifera (Linden ex André) H. Wendl. and Archontophoenix cunninghamiana (H. Wendl.) H. Wendl. & Drude. New campaigns must be carried out to better characterize the species and possible hybrids occurring in the region, as well as to define the actual occurrence, or not, of Geonoma gamiova Barb. Rodr. and G. schottiana Mart. Keywords: Palm Tree; Arecaceae; Maquiné. Introdução Dentro da diversidade botânica A Mata Atlântica representa um dos existente na Mata Atlântica, têm-se as biomas terrestres mais biodiversos do palmeiras representando a terceira planeta e um dos mais ameaçados pela família botânica mais importante para o ação antrópica, com a proporção de ser humano (JOHNSON, 1998). No remanescentes estimada entre 8% e âmbito do Rio Grande do Sul elas estão 22% de sua vegetação natural potencial. sendo gradativamente eliminadas em Por isso foi incluída pela Conservation muitas regiões para dar lugar à International (Organização não atividades agrosilvopastoris diversas; Governamental) dentre as 25 áreas de mas não somente isto, haja vista que a maior prioridade para conservação da imponência e elegância de algumas biodiversidade do mundo (FRANKE et espécies as tornam plantas muito al., 2005). cobiçadas para fins ornamentais. Dentro UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 1 – 6 Página 1 da concepção de uso paisagístico, os pluviosidade é maio (média de 85mm). gêneros Geonoma Willd. e Trithrinax A distribuição pluviométrica ao longo Mart. são muitos sensíveis à troca de do ano permite verificar que a curva da ambiente, tendo, consequentemente, temperatura não ultrapassa a da pouco tempo de função paisagística. precipitação, o que significa não haver estação seca característica nesta região. Desta forma, o presente estudo A média da radiação solar (horas de sol) objetivou contribuir para o durante o ano fica em torno de conhecimento da biodiversidade 303cal/cm2. A direção predominante do botânica da Mata Atlântica através do vento é sudoeste e sua velocidade média inventário de representantes de Palmae é de 11Km/hora. Juss. observados na região noroeste do município de Maquiné, RS. Segundo Nimer (1990), o vale do Maquiné encontra-se, assim como o Material e métodos restante do estado e Santa Catarina, sob o domínio climático mesotérmico O estudo foi conduzido ao longo de brando, o subdomínio climático 2020, na área do Garapiá (Fig. 1), que superúmido, a variedade sem seca e o integra o distrito de Barra do Ouro, tipo temperado. Esta classificação, no município de Maquiné, região do litoral entanto, refere-se apenas as norte do Rio Grande do Sul (RS), características mesoclimáticas, não cobrindo uma área de aproximadamente abrangendo a existência de microclimas 30ha. específicos, os quais na região são bastante característicos. Empregando-se Do ponto de vista climático, a região o sistema de Köppen chega-se a possui um dos climas mais amenos do classificação de Cfa. Rio Grande do Sul. As temperaturas médias anuais se situam em torno de A identificação das espécies nativas foi 20°C, sendo que as máximas e as realizada com base no estudo de Soares mínimas absolutas anuais, já et al. (2014) e das exóticas tendo por registradas, alcançaram 38,8ºC e -3,4°C balizamento a obra de Lorenzi et al. respectivamente. Como média das (2004). Posteriormente a taxonomia foi máximas dos meses mais quentes as revisada empregando-se as bases de temperaturas situam-se em 24,6°C e dados do do REFLORA – Plantas do como média das mínimas dos meses Brasil <r e f l o r a . j b r j . g o v . b r > e do mais frios em 14,1°C. A temperatura Missouri Botanical Garden <h t t p s : / / w w média diária do mês mais quente é de w . t r o p i c o s . o r g / h o m e >. 28,8°C e do mês mais frio de 9,7°C. O coeficiente de semelhança A umidade relativa do ar (média anual) biogeográfica (CSB) foi calculado entre fica em trono de 79% e as precipitações os dados obtidos neste estudo e aqueles somam ao longo do ano 1.650 mm, encontrados, para a mesma região, por sendo março e abril os meses mais Soares et al. (2014). O cálculo foi úmidos. O mês com maior carga realizado conforme descrito em Torres pluviométrica é fevereiro (média de et al. (2018). 180,8 mm) e o mês com menor UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 1 – 6 Página 2 Figura 1. Localização da área do estudo delimitada aproximadamente (Fonte: modificado de <h t t p : / / w w w . o n g a n a m a . o r g . b r / i m a g e s / f o t o s / p p t / i m a g e s / M A P A _ L O C A L I Z A C A O _ U F R G S . j p g >). Resultados e discussão O registro que se realiza para a região (Tab. I e Fig. 2), retrata a presença de espécies nativas e exóticas. Tabela I. Espécies de Palmae Juss. observadas na área de estudo. No que tange ao status ambiental, foram classificadas como CR = Criticamente em perigo; EN = Em perigo; VU = Vulnerável (todos cfe. Decreto N° 52.109/2014, do estado do Rio Grande do Sul); LC = Pouco preocupante; N = Nativa; EE = Espécie exótica; # = status presumido, mas não confirmado; PI = Potencialmente invasora. Nome Nome Status Família científico popular ambiental Euterpe edulis Palmeira Juçara N / EN Mart. Syagrus romanzoffiana Jerivá N / LC (Cham.) Glassman ls Butia catarinensis e erP Noblick & Lorenzi Butiazeiro N / CR ae .J Bactris setosa ca & Tucum / Palmeira com espinhos N / LC# cerA .th WashingMtoanrita. robusta cr Palmeira da california EE e H. Wendl. B Washingtonia filifera Palmeira de saia EE (Linden ex André) H. Wendl. Archontophoenix cunninghamiana Palmeira real EE / PI1 (H. Wendl.) H. Wendl. & Drude 1 Com base em observações pessoais e no estudo de Dislich et al. (2002). UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 1 – 6 Página 3 Figura 2. Bosque de Archontophoenix cunninghamiana (H. Wendl.) H. Wendl. & Drude observado na região (Fonte: foto cedida pela Enf. Ana Maria Machado). O SFB (2018) apresenta “uma síntese Rio Grande do Sul, citando apenas dos principais resultados dos Bactris setosa Mart. e Syagrus levantamentos de dados em campo romanzoffiana (Cham.) Glassman, sobre as florestas e vegetações do enquanto o Decreto N° 52.109/2014, estado e de informações que relaciona espécies com algum grau socioambientais coletadas por meio de de vulnerabilidade cita, por exemplo, entrevistas com moradores do meio oito espécies do gênero Butia (Becc.) rural”, para o Rio Grande do Sul. Becc., duas de Geonoma Willd., duas de Considerando apenas Palmae Juss., Trithrinax Mart., além de Euterpe enquanto objetivo do presente estudo, o edulis Mart. resultando em uma SFB (2018) subestima diferença de onze espécies a maior. consideravelmente as espécies existentes, com ocorrência natural no UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 1 – 6 Página 4 O estudo de Soares et al. (2014), por sua constitui um obstáculo à colonização de vez, relata a presença de quinze espécies fragmentos florestais por esta espécie. de Palmae Juss. para o Rio Grande do Sul, destacando-se para a região do Conclusões presente estudo, Butia catarinensis Noblick & Lorenzi, Euterpe edulis A não localização de Geonoma gamiova Mart., Geonoma gamiova Barb. Rodr., Barb. Rodr. e G. schottiana Mart. Geonoma schottiana Mart., e Syagrus sugerem que os esforços de amostragem romanzoffiana (Cham.) Glassman, das não foram suficientes sugerindo que quais B. catarinenses, E. edulis, e S. novas e mais amplas campanhas devam romanzoffiana foram identificadas no ser realizadas com fins de efetivamente presente estudo. comprovar a ocorrência, ou não, de tais espécies na região. Assim, o coeficiente de semelhança biogeográfica (CSB) foi, considerando Considerando a existência de híbridos apenas as espécies nativas, de 0,67; naturais de Syagrus romanzoffiana acrescendo as espécies exóticas (Cham.) Glassman com Butia observadas neste estudo, o CSB altera- lallemantii Deble & Marchiori e com se para 0,50. O segundo valor seria Butia odorata (Barb. Rodr.) Noblick, alterado se considerados espécies deve-se considerar a possibilidade de exóticas não pesquisadas por Soares et existirem também com Butia al. (2014), apesar disto, relevante que o catarinensis Noblick & Lorenzi haja presente estudo identificou a presença vista a sobreposição de áreas de de Bactris setosa Mart., não tendo ocorrência de ambas as espécies, com identificado a presença de Geonoma isto merecendo especial atenção nos gamiova Barb. Rodr. e G. schottiana estudos que se venham a realizar no Mart., com isto se justificando a futuro. necessidade de estudos mais minuciosos região. Na revisão bibliográfica realizada, não se encontrou nenhum estudo Um dos principais indicadores da ação reportando, ou sequer cogitando, um humana sobre ecossistemas é a presença potencial invasivo para Washingtonia de espécies exóticas invasoras em áreas robusta H. Wendl. ou para W. filifera naturais (ZENNI, 2015; ZENNI et al., (Linden ex André) H. Wendl., condição 2016). Habitats florestais perturbados evidentemente não compartilhada por parecem ser muito mais suscetíveis às Archontophoenix cunninghamiana (H. invasões biológicas (DISLICH et al., Wendl.) H. Wendl. & Drude. 2002). Assim, merecendo uma discussão específica, têm-se que Dislich Referências et al. (2000) verificaram ser Archontophoenix cunninghamiana (H. CHRISTIANINI, A. V. Fecundidade, Wendl.) H. Wendl. & Drude a espécie dispersão e predação de sementes de com maior recrutamento e crescimento Archontophoenix cunninghamiana H. populacional, dentre as espécies Wendl. & Drude, uma palmeira analisadas naquele estudo. Christianini invasora da Mata Atlântica. Revista (2006) relata que as aves dispersam as Brasil. Bot., v.29, n.4, p.587-594, 2006. sementes desta espécie e 15% delas sobrevivem a predação pós-dispersão DISLICH, R.; KISSER, N.; PIVELLO, até o tempo requerido para germinação. V. R. Archontophoenix Assim, a dispersão de sementes não cunninghamiana H. Wendl. & Drude: UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 1 – 6 Página 5 uma palmeira australiana como invasora resultados: Rio Grande do Sul. (Série em um fragmento florestal em São Relatórios Técnicos – IFN). Brasília, Paulo, SP. In: XIII Congresso da DF: MMA, 2018. 83p. Disponível em Sociedade Botânica de São Paulo, 2000, <h t t p s : / / s e m a . r s . g o v . b r / u p l o a d / a r q u i v São Paulo, SP. XIII Congresso da o s / 2 0 1 9 0 2 / 1 8 1 8 0 5 0 0 – i f n – r s – 2 0 1 8 . p d Sociedade Botânica de São Paulo: f >. Resumos, 2000. SOARES, K. P., LONGHI, S. J., DISLICH, R.; KISSER, N.; PIVELLO, WITECK-NETO, L.; ASSIS, L. C. de. V. R. A invasão de um fragmento Palmeiras (Arecaceae) no Rio Grande florestal em São Paulo (SP) pela do Sul, Brasil. Rodriguésia, v.65, n.1, palmeira australiana Archontophoenix p.113-139, 2014. cunninghamiana H. Wendl. & Drude. Revista Brasil. Bot., v.25, n.1, p.55-64, TORRES, V. S.; TORRES, F. S. S.; 2002. MACHADO, A. M.; PEREIRA, K. C. 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