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Os Vikings - História de uma fascinante civilização PDF

149 Pages·2004·146.97 MB·Portuguese
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E ; s E O o i Go JOHANNES BRONDSTED OS VIKINGS HISTÓRIA DE UMA FASCINANTE CIVILIZAÇÃO E i T Tradução: Mercedes Frigolla O R e Claudete Agua de Melo e e E Revisão: Suely Bastos ÍNDICE Capa: Sérgio Ng 1. Antes dos Vikings x. so cao a PI 9 IH. Os ataques Vikings, 5.0 Em a 25 Titulo original: HI, O século LX [ocre reco o fam rol ct no Ron re SR 39 THE VIKINGS IV; O século X :.=. =. or roer Ro RR RUN RR E 59 V. O século XLS. er RR SO 75 à VI? Armas e ferramentas mt 97 VIE: Vestuário e jóias 17 emp o 105 O Copyright by The Estate of Johannes Brondsted VIII. Transportes JS Ret oe det Det ERR 115 IX. Cidades, fortificações e campos ......... COM os 125 O Copyright 2004 by Hemus X. Moedas, pesose medidas... .....ccccccccccc. 167 XL, Inscrições rúnicas H52 fe ass e Da 185 XII. Arte «isa een sra nro o o Pe RR DI 199 XIII. O modo de vida Viking... ................ RE RE209 Todos os direitos adquiridos e reservada a propriedade literária desta publicação pela XIV. Crenças religiosas e costumes referentes ao sepultamento dos mortos, «Fo Te 247 XV. A poesiaeo espírito Viking... ................. 281 Epílogo: | O lugar dos Vikings na história européia... ......... 287 Seleção bibliográfica ,........ccccccccrccr. 289 HEMUS LIVRARIA, DISTRIBUIDORA E EDITORA e r o E T Visite nosso site: Www.hemus.com.br Impresso no Brasil / Printed in Brazil = = E Tr a a t a C ; L CAPITULO | +« A - PR à CEP 80011-976 | ANTES DOS VIKINGS adm a /: o Há milhares de anos atrás, nas igrejas e conventos do norte da França ouvia-se uma prece, que dizia: “Ô Deus, livre-nos da fúria dos homens do norte!”. Esta prece era amplamente justificada. Os chamados “homens do norte” eram os Vikings, constituídos por dinamarqueses, noruegueses e suecos, cujas espoliações estendiam-se desde privados atos de pirataria e ataques litorâneos a formidáveis invasões em busca de terras para serem colonizadas. A atividade Viking teve início antes de 800 d.C. e estendeu-se por mais de dois séculos. Durante esse período, os Vikings deixaram suas marcas não só na Europa Ocidental, como também através do Mediterrâneo, desde Gibraltar até a Ásia Menor, na atual Rússia Ocidental, onde os empreendimentos comerciais escandinavos uniram Bizâncio e Arábia à Suécia. Como pôde tudo isso acontecer? Por que a Europa permitiu que dinamarqueses e noruegueses dominassem grande parte da Ingla- terra, Irlanda e França, e que os suecos formassem uma classe domi- nante na Rússia Ocidental? Por que a Escandinávia era tão forte e o resto da Europa tão fraca? Que forças internas levaram aos ataques Vikings? Para responder à primeira pergunta, é preciso examinar os séculos imediatamente precedentes à era Viking e tentar avaliar o desenvolvi- mento político, social e comercial do tempo. O mais importante exame deste período é feito pelo proeminente historiador belga Henri Pirenne. Uma de suas teorias é que a verdadeira linha divisória entre a Europa clássica e a medieval está não no período de migra- ção, por volta de 500 d.C., mas durante o reinado de Carlos Magno, por volta de 800 d.C. O rompimento com o passado, segundo ele, se aprofundou mais em 800 do que em 500 d.C. Vamos examinar mais de perto o argumento de Pirenne. As terras do último Império Romano, ou România, como era chamado no século IV, formavam uma unidade que cercava o Medi- 9 — — — — - terrâneo, o grande lago romano. O Mediterrâneo não dividia países, mesma forma que encontramos pessoas louras na África do Norte, mas os unia, e formava a rota ao “longo da qual navegavam a reli- provavelmente descendentes de habitantes pré-germânicos. gião, a filosofia e o comércio”. Os cultos do Egito e do Oriente Desta forma a România sobreviveuà ocupação de sua parte ocl- estenderam-se sobre ele, a adoração dos Miltros, do cristianismo, e, dental; suas tradições clássicas, embora em constante declínio, foram mais tarde, do monasticismo. Ao lóôngo do Mediterrâneo eram trans- conservadas. Os ostrogodos, visigodos, borgonheses, vândalos e portados tesouros e artigos luxuosos vindo do Leste, como o marfim, francos puderam governar seus novos países, o que eles fizeram a seda, especiarias, papiros, vinhos e .óleo. Em troca, o Ocidente exatamente como os romanos haviam feito antes deles. Prova disto mandava suas exportações, principalmente escravos. A moeda cor- é que, nesses novos Estados, o rei era onipotente, assim como os rente deste império era o chamado ouro solidus constantino. Este imperadores romanos o tinham sido anteriormente. Os povos germã- grande sistema comercial foi organizado e liderado principalmente nicos, ao conquistarem esses países, não destruíram a cultura clás- pelos empreendedores sírios e judeus. | sica; muito pelo contrário. Tendo, durante séculos, sido vizinhos do Qual foi o efeito sentido pela România quando das migrações que Império Romano, haviam aprendido a respeitar o que viam, não sen- aconteceram nos séculos IV e V? Os domínios ocidentais, incluindo- do uma surpresa, então, o fato de imitarem as instituições sociais e se também a Itália, foram conquistados por tribos germânicas inva- políticas romanas, mesmo que somente as formas externas. Enquan- to isso, porém, a vida intelectual e a educação declinavam. A Igreja soras, perdendo-se o controle político sobre elas, o que, de fato, foi era a única força intelectual a fazer valer seus direitos, mas, como - uma catástrofe, mas não significou, como pensaram certa vez, o fim nos tempos romanos, era servil à autoridade secular; e os funcioná- da cultura clássica na parte ocidental da România. rios civis eram recrutados na laicidade, e não no clero. Os novos ter- Primeiramente, os invasores germânicos formavam apenas uma ritórios germânicos, assim como o último Império Romano, eram pequena minoria nas terras conquistadas. Não existem números dirigidos por governos absolutistas; os cargos administrativos eram exatos, mas alguns historiadores fizeram as seguintes estimativas: ocupados por leigos, enquanto a base financeira era constituída por havia 100.000 ostrogodos na Itália; na Espanha e na França havia taxas e impostos mais arrecadados, principalmente, em moedas um número equivalente de visigodos, além de mais de 25.000 bor- de ouro. Esses Estados não eram de fato Estados nacionais, pois gonheses no sudeste da França. Diz-se que o exército vândalo, que seguiam o padrão das primeiras províncias e cidades-satélites roma- atravessou o Estreito de Gibraltar em direção à África do Norte, nas. Na verdade, aquele padrão foi renovado quando, no século XI, tinha 80.000 homens, ou provavelmente não mais que um por cento ' as tropas do imperador bizantino Justiniano reconquistaram gran- dos habitantes da próspera província norte-africana do Império des áreas do antigo Império Romano Ocidental e, sob ele, o Medi- Romano, pela qual foi absorvido. É sumamente improvável que estes terrâneo mais uma vez tornou-se um “lago romano”. Houve então exércitos germânicos recebessem reforços de suas terras nativas; uma reação germânica por parte dos lombardos, que atravessaram os pelo contrário, seus efetivos foram certamente reduzidos em conse- Alpes e se fixaram no norte da Itália, não interrompendo, porém, as quência do clima estranho. linhas gerais de desenvolvimento, por terem sido também romaniza- Está bem claro que a germanização dos territórios conquistados dos no decorrer do tempo. A vida continuou como antes, quando os aconteceu somente em uma limitada extensão. Foi presumivelmente sírios e judeus eram os principais importadores de artigos de luxo completa naquelas regiões onde os idiomas germânicos foram mais vindos do Oriente. Os países do Mediterrâneo mantinham estreito tarde encontrados, ou, em outras-palavras, somente numa pequena contato entre si de forma que, por exemplo, camelos africanos eram faixa ao norte do Império Romano. Além disso, a única manifesta- importados como animais de carga para a Espanha e a França. A ção lingiúística de influência germânica é constituída por um certo pequena cidade francesa de Narbonne constitui um exemplo típico, número de palavras, aproximadamente 300, encontradas no idioma pois, nos últimos seis séculos godos, romanos, judeus, sírios e gregos francês. Nenhuma língua românica mostra significativa influência na viveram lá lado a lado. Os soberanos germânicos da Europa Oci- fonética ou sintaxe. O que evidentemente ocorreu na Itália e na dental governavam seus países com homens de tradição, educação Europa Ocidental pouco após as migrações foi que os conquistadores e hábitos romanos. O latim e as letras continuaram, embora estives- germânicos foram virtualmente absorvidos pela população local, sem em declínio. Em resumo, a Europa Ocidental havia mudado sob Tipos germânicos são encontrados entre os habitantes da Itália, da 11 10 os novos dirigentes, mas as mudanças foram insignificantes. Assim, no século XII, veio a grande catástrofe que levaria ao acon- exigindo apenas sua rendição incondicional. Para onde quer que fos- tecimento mais importante da história européia: foi a ascensão do sem, Os gregos e latinos eram substituídos pelos árabes. Se Os povos poder árabe e o rápido e violento ataque ao Ocidente. Maomé mor- subjugados quisessem sobreviver, tinham que aceitar, progressiva- reu em 632, e, dois anos mais tarde, veio a devastação. Nesta época mente, a religião e o idioma de seus conquistadores. o Império Bizantino, cujas províncias rodeavam o Mediterrâneo Quais foram as consequências para aquela parte da Europa que Oriental, estava no auge de sua força. O Imperador Heráclio havia lutou e evitou, a invasão árabe? O Império Franco, potência que derrotado o exército persa em Nínive, no ano de 627, embora levou a ameaça árabe a uma trégua, estava no limiar de sua era dou- sofrendo grandes perdas, o que ocasionou seu enfraquecimento mili- rada. Mas por que teria o centro de gravidade da Europa Ocidental tar. Nenhum perigo imediato era aparente para o Império Romano mudado, naquela época, dos países do Mediterrâneo, com sua rica € Oriental, muito menos vindo da parte dos árabes beduínos. O ataque próspera vida comercial, para os pobres e agrários territórios francos foi bem-sucedido por ser inesperado. do norte? A primeira e mais importante causa foi a destruição do No ano de 634, os árabes atravessaram a Jordânia, conquistando comércio sulino. A invasão árabe tinha divido o Mediterrâneo em dois. Na metade oriental, onde o Império Bizantino sobreviveu sob Damasco em 635, toda a Síria em 636, Jerusalém em 637 e o Egito a proteção de uma forte e eficiente esquadra, o comércio ainda con- em 641. Nada parecia parar esse exército fanático, cujos métodos tinuava, enquanto que no lado ocidental os árabes o tinham elimi- militares eram novos e cujo desprezo pela morte era desmedido. nado. A França, o mais importante país da Europa Ocidental, pas- De um só golpe retirou de Bizâncio suas mais valiosas províncias, sou por uma revolução. Todos os artigos que até então haviam sido Posteriormente, os árabes aventuraram-se a uma guerra marítima importados pelos sírios e outros comerciantes do Oriente desapare- e somente foram repelidos através da arma secreta bizantina deno- ceram, tais como o papiro, o óleo, a seda, especiarias e ouro, Mais minada “Fogo Grego”, um tipo primitivo de lança-chamas. importante ainda, muitos comerciantes naturais do sul da França Nos sessenta aos setenta anos seguintes eliminaram a resistência estavam enfraquecidos ou arruinados, e em seus lugares surgiram ao longo da costa norte-africana, e no ano de 711 atravessaram o comerciantes oriêntais que atuavam como intermediários entre O Estreito de Gibraltar. No ano seguinte, toda a Península Ibérica mundo cristão e o árabe. Uma conseqgiiência imediata da perda do estava sob o seu domínio. Penetraram mais ao norte da França e só comércio foi o rápido declínio na renda real, deixando o rei cada foram decisivamente interrompidos vinte anos mais tarde, por Carlos vez mais nas mãos da nobreza fundiária. Esta foi a razão principal - Martel em Poitiers, e repelidos em direção aos Pirineus. Neste meio para o eclipse social e político dos merovíngios no século VII. O sul tempo, tinham estendido o seu domínio, incluindo a Sicília e o sul da França foi certamente mais afetado por essas mudanças que as da Itália. As costas do norte da Itália e sul da França foram atacadas províncias francas do norte, pois suas cidades decaíram, enquanto não havendo ali nenhuma frota para empreender uma resistência aos o norte, cuja sociedade era essencialmente baseada em propriedades atacantes. O Mediterrâneo Ocidental se tornou um oceano árabe, de terras, manteve-se. Foi, então, do norte do território franco que Há uma diferença marcante entre essas conquistas árabes e as os ancestrais da última dinastia carolíngia, de Pepino e Carlos Magno, invasões germânicas de dois ou três séculos anteriores. Os árabes não vieram. Eles eram uma família fundiária belga da área ao redor de foram absorvidos pelos povos conquistados, principalmente porque Liêge, onde ainda hoje existe a família Pepinster. sua guerra era de caráter religioso. Seu monoteísmo muçulmano era Profundas diferenças são observadas na condição da França sob totalmente irreconciliável com todas as outras religiões, e mais espe. o domínio carolíngio nos séculos VIILe IX, em comparação ao esta- cialmente com o cristianismo. As tribos germânicas, por outro lado do de coisas sob os merovíngios nos séculos VI e VII. A economia eram ou cristãs ou politeístas, tolerando .outras religiões. Mais que estava agora baseada na agricultura em vez do comércio; a prata isso, os povos germânicos eram culturalmente inferiores âqueles que tinha substituído o ouro como padrão monetário; a Igreja havia tinham conquistado, estando, portanto, aptos para adotar sua civi- expulsado a laicidade. O latim era uma língua aprendida e falada lização. Com os árabes, acontecia exatamente o contrário, pois tra- somente dentro da Igreja (singularmente como resultado das ativi- ziam consigo sua própria fé e cultura; não exigiam a conversão dos dades missionárias da Inglaterra anglo-saxônica); entre a laicidade, povos conquistados, sentindo por eles nada mais que desprezo, o latim vulgar foi substituído por dialetos regionais. A prática e 13 12 harmoniosa escrita que havia sido comumente usada para fins comer. ciais entre indivíduos, foi substituída por uma elegante e cuidadosa. décadas mais tarde os ataques Vikings recomeçaram, e pelo resto do mente estruturada minúscula, que iria tornar-se a base das próximas século o norte da França foi palco de ataques brutais, planejados em escritas medievais da Europa. A chamada Renascença Carolínpia grande escala e sempre vindos pelo mar. A Dinamarca era a fonte com sua concentração na linguagem e na literatura da Grécia e de principal de ataque. Roma era limitada aos letrados, e não chegou aos homens comuns No século VIII a Inglaterra foi dividida em pequenos reinados: Estas opiniões foram expostas por Pirenne no seu polêmico livro Mércia, Wessex, Essex, Kent, Ânglia Oriental, Nortúmbria e outros. O mais poderoso dos reis ingleses na última década do século VIH Mohammed and Charlemagne. Nem todas as suas alegações podem ser aceitas, Por exemplo ele data o começo do declínio merovíngio foi Offa de Mércia (que se denominou Rex Anglorum). Na época | por volta de 640, época em que a interferência árabe com o comér- de sua morte, em 796, ele dominava, direta ou indiretamente, todo o sul da Inglaterra. Ele foi o primeiro dirigente inglês a empreender cio do Mediterrâneo mal havia começado. Mas, de um modo geral no exterior alguma política importante. Em boas relações com suas considerações estão corretas. Sua tese principal é que não teria Carlos Magno, pelo menos por períodos intermitentes, era um havido “nenhum Carlos Magno sem Maomé”, que o desenvolvimento. homem de tão forte caráter que, se tivesse vivido por mais tempo, do Império Carolíngio só é compreensível com referência à penetra- teria sido provavelmente um baluarte contra os ataques Vikings na ção árabe na Europa Ocidental. O impulso da campanha árabe pro- Inglaterra. Mas, durante uma geração após a morte de Offa, o sul duziu uma França agrária e militarmente forte, orientada agora em da Inglaterra foi dividido por disputas internas até que, em 825, direção ao norte, Egberto, o rei de Wessex, estabeleceu controle sobre todo o sudeste O poder do Império Franco no começo do século IX certamente da Inglaterra, e por um certo período até mesmo sobre a Mércia. Seu não favoreceu os Vikings. Prevenido pelos esporádicos ataques ocor- sucessor foi seu filho Ethelwulf. Este poder real no sul da Inglaterra- ridos por volta de 790, nas costas da Inglaterra, Escócia e Irlanda, era totalmente inadequado para manter os Vikings afastados. Nem e em certo grau na França, Carlos Magno fortificou suas costas do a Nortúmbria nem a Escócia eram suficientemente fortes no século norte com uma sucessão de torres de vigia, faróis e guarnições. Como IX para organizar uma eficiente defesa contra os ataques Vikings. resultado a França ficou livre dos ataques Vikings durante o perío- A Irlanda, um país primitivo e dividido, foi outra vítima fácil, do de vida de Carlos Magno, a despeito do fato de que neste mesmo como provou a invasão norueguesa logo depois de 800. Os irlandeses - a período as relações entre França e Dinamarca estavam muito tensas, certamente resistiram, e seus anais de 807 em diante estão repletos noas vDseearvxdeõa-edssee dàol ebmeniborrraao re dset qeuu em daa CgaAurlelerormsaa .n Mhaag,n oc o| ntvienrhat enrdeop-roism,i dop elac rufoerlçmae, ntaeo : mz—õÊtãtãõíõíõíõísíáísíãíããssSsãa88a edresa sma,sb atPqaoulreh ,a st usdec oo fmoi srtmoos,o s onso crriuerrel gaunnedoseses escs r oqnnuãieos taocsso, nisonesv gauidirirlaaamnm d espaeefslao s tsamrea mrpo;sr e Vbaitkvaielnnhgcaess-, zm cristianismo, e então estendera suas fronteiras até o Elba. Assim e após uma geração de batalhas os noruegueses estavam firmemente suas terras limitayam com os eslavos ocidentais e dinamarqueses. fixados em muitos-lugares, tanto no oriente como no ocidente da O rei dinamarquês Godofredo era audacioso, ativo e pronto para ilha. | atacar ambos, os eslavos (ao longo do Báltico) e os frísios (das costas Antes de concluirmos esta revisão dos ataques na Europa Ociden- marítimas do norte). Ele não se amedrontou com o poderoso impe- tal, é preciso considerar um ponto importante, que explica me- rador franco, e estava perfeitamente preparado para atacá-lo tam- O lhor a supremacia dos Vikings: o fato de que todos os seus ataques eram feitos pelo mar: Os Vikings eram habilidosos navegadores, mais bém. Mas, no momento crítico ele morreu (em 810), e simultanea- mente a atenção de Carlos Magno voltou-se para a Itália, A paz ousados no oceano do que os anglo-saxões ou os francos, e tinham e embarcações muito melhores. Certamente eles não eram guerreiros reinou novamente, e os piratas do norte respei marítimos treinados e invencíveis; por mais de uma vez lemos sobre enquanto Carlos Magno o DNS eg a E Mas não durou muito. Quando da morte do prande suas derrotas pelas frotas anglo-saxônicas ao longo das costas ingle- mp sas. Entretanto, destacavam-se como construtores de navios. Cons- 814, seu filho Luís, o Piedoso, assumiu o Epério! PR apa mo e truíam frotas.de velozes e espaçosas embarcações, projetadas para ele começou a se desintegrar. Os francos tornaram-se mais f) EE e o transporte de seus exércitos, e as usavam com velocidade e mobili- e as defesas costeiras do país ao norte foram negligenciadas Duas e 15 q 14 e dade. Foi-esta mestria, insuperável na maior parte da Europa lhes deu decisivas vantagens em seus ataques em tão grande mibr lado, e a Suécia de outro, era que a Suécia já era um reinado organi- de costas. O desenvolvimento destas embarcações Vikings pode E zado e antigo (baseado em Uppland), suficientemente forte para acompanhado desde o período de migração. Algumas das primeiras e ocupar-se com a expansão colonial além de suas fronteiras. Estas relevantes descobertas arqueológicas, como a embarcação encontrada extensões de seus territórios eram, por uma parte, para a Letônia € em Nydam, Jutlândia do Sul, na Dinamarca, mostra um bote a Pa Estônia, e por outra, mais além em direção ao leste para as margens grande e aberto, sem mastro ou vela, e somente com uma quilha do sul dos lagos Ládoga e Onega. A base para estas operações era rudimentar. Claro que descobertas arqueológicas são fortuitas, e um Uppland (onde viviam os Svíar) e a ilha Gotlândia no mar Báltico. simples bote não prova que tais embarcações eram um padrão. Mas Se tais manobras eram consideradas como sendo ataques Vikings, outras descobertas, como as pedras pintadas e esculpidas achiadas na então obviamente os Vikings suecos estavam deixando suas marcas Gotlândia, ilustram a vagarosa evolução das velas entre os séculos VI na Europa bem antes que seus congêneres dinamarqueses é norue- e VIII, ou seja, a partir de um pequeno e não muito útil retalho de gueses. pano colocado no alto do mastro, até as magníficas velas das embar- Pouco antes da Segunda Guerra Mundial haviam sido descobertas, cações Vikings. Simultaneamente, outros desenvolvimentos, parti- perto da pequena cidade de Grobin (não muito longe de Liepaja ou cularmente o da quilha, transformaram o bote num navio. ! Libau), na costa letoniana, algumas covas pré-históricas contendo É estranho que a vela tenha demorado tanto para aparecer no objetos do tipo glotândico, que foram atribuídos a um período Norte, uma vez que ela era conhecida desde tempos imemoriais por bem anterior à Era Viking. Arqueólogos suecos e letonianos, conti- nuando as escavações locais, encontraram um extenso cemitério con- gregos e romanos no Mediterrâneo. Através de fontes literárias nós tendo pelo menos mil covas para incineração, cujos conteúdos e sabemos também que a vela apareceu na Holanda no século I d.C, classificações inquestionavelmente apontavam para à Gotlândia do pois Tácito conta do chefe batavo, Civilis, que, durante uma revista século VIII. Logo depois outro cemitério quase tão grande quanto à sua frota no ano de 70, imitou o costume romano, permitindo que o primeiro e da mesma época foi encontrado, mas desta vez os con- seus homens usassem seus mantos coloridos como velas. César, de teúdos indicavam inegavelmente serem de origem sueca e não gotlân- fato, registra que, por volta de um século antes, os vênetos, tribo de dica. Este local também tinha covas de incineração, mas com uma navegadores da costa atlântica francesa, usavam velas de couro diferença, cada cova estava coberta por um túmulo. O cemitério grosso. Sidonius Apollinaris, bispo de Clermont em 470, descreve os central sueco, além do mais, era um cemitério estritamente militar, saxões retornando ao lar com “panos inchados”. Parece estranho, ao passo que no de Gotlândia foram encontradas muitas covas de então, que as velas tenham levado tanto tempo para alcançar a mulheres, e maior número de jóias do que de armas; esses fatores Escandinávia, mais estranho ainda ter demorado ainda mais para indicam que este era um cemitério civil estabelecido em condições chegar à Inglaterra. Por volta de 560, o historiador bizantino Pro- pacíficas. Essas descobertas parecem confirmar as suposições existen- cópio escreveu a respeito dos ingleses: “Estes bárbaros não usam. tes a respeito das condições políticas na Suécia no período anterior velas, mas dependem totalmente dos remos”. Uma afirmação que aos ataques Vikings. Os gotlândicos eram comerciantes pacíficos; parece confirmar totalmente o navio real de meados do século VII os suecos (Svíar) homens de guerra. As descobertas de Grobin indi- sem mastro nem vela, encontrado em Sutton Hoo na Ânplia Oriental. cam que uma guarnição militar sueca estava estacionada lá e que os gotlândicos lá se encontravam como comerciantes. Pode-se dizer certamente então que os anglo-saxões, os francos e os irlandeses não podiam competir com os Vikings na náutica ou Se nos voltarmos agora da evidência arqueológica para a literária, navegação. É significativo que nenhum destes povos tenha se lançado encontraremos na biografia de Ansgar (escrita em 870 por Rimbert, a ataques de represália aos países Vikings. Esta supremacia no mar discípulo de Ansgar e seu sucessor como Arcebispo de Bremen) refe- explica por que os Vikings fóram capazes de assolar e conquistar tão rência ao fato de que o povo de Courland, conhecida hoje como Letônia, tinha sido atacado pelos suecos e dinamarqueses; e que O vastas áreas da Europa Ocidental, embora não explique a penetraçã na Europa Orlental, onde não havia oceano para ostentar su E rei sueco Olaf, liderando um enorme exército, atacou e incendiou uma cidade conhecida por Seeburg, defendida por não menos de macia, mas onde, apesar disso, foram bem-sucedidos. ir No século VIII a diferença entre a Dinamarca e à Noruega de um que sete mil guerreiros. A respeito desta evidência, o arqueólogo 17 16 sueco Birger Nerman, que comandou as escavações em Grobin, ley tou a questão se de fato os dois cemitérios poderiam ter pertencido à antiga Seeburg. É muito mais provável, entretanto, que Crobin seja a cidade guerreira que os suecos fundaram depois da destruição período que precedeu o avanço Viking. Das três maiores forças da de Seeburg; mas as evidências arqueológicas e literárias não satisfa. época, os francos eram poderosos demais para os ferozes nortistas, enquanto os bizantinos árabes se encontravam longe demais para - zem plenamente neste caso. Todavia, existe uma clara evidência da se envolverem com eles. Fora do domínio destas três forças havia expansão sueca ao leste no século VIII (pré-Viking), que durante fraqueza. o século IX levou à colonização das redondezas do Velho Ládopa Dos fatos que precederam a atividade Viking, o que resta para ser exatamente ao sul do lago Ládoga. Deveremos examinar o signifi- examinado é a condição interna dos três países escandinavos durante cado destes movimentos em direção à Rússia: vejamos agora o que os séculos VII e VIII. Mais uma vez temos que nos voltar para a estava acontecendo no sudeste da Europa e na Ásia Oriental. arqueologia em busca de evidências, uma vez que nos faltam fontes No século VIII duas forças estavam estabelecidas naquelas áreas, literárias. ambas tão poderosas e tão distantes da Escandinávia que parecia Não há dúvida de que a Suécia era o mais avançado desses países, excluir qualquer probabilidade de conflitos com os Vikings. A pri- como as numerosas e significativas descobertas de Uppland e Gotlân- meira delas, baseada em Constantinopla, era o Império Bizantino, dia comprovavam. Há uma clara influência estilística das tribos ger- o sucessor do antigo Império Romano Oriental; a segunda, e rela- máânicas do sudeste, e deve ter havido conexões culturais entre elas e tivamente nova, era o Califado Árabe, com sua capital em Bagdá. os suecos através do Báltico, a despeito da presença dos eslavos na A esfera bizantina de interesse pelo norte espalhou-se sobre as mar- área intermediária do norte germânico; a situação confirma os pri- gens do mar Negro, e da Criméia para as planícies da Ucrânia. Os meiros relatos semi-históricos a respeito do antigo reino Uppland. Das monarquias escandinavas, a do centro sueco era a mais forte e árabes, que já tinham dominado a Pérsia no século VII, estavam tam- antiga. Sua força é sugerida pela expansão do século VIII, mencio- bém pressionando em direção norte, para as estepes siberianas do sul nada acima, para as terras ao redor do Báltico e as regiões próximas e ocidente (a antiga Cítia). No século VIII estas regiões eram habi- ao lago Ládoga. Uppland estabeleceu contato, também, com a Fin- tadas por turcos nômades e entre eles e os bizantinos havia, ao norte lândia no oeste e com a Noruega no oeste. Descobertas arqueológicas do mar Cáspio, o vasto e independente Khaganate dos khazares, com provam concxões cruzadas suecas e norueguesas ao longo da velha sua capital, Itil, no delta dó Volga (seu governante tinha o título o... rota comercial que leva de Jamtland até Trondelag. Mais tarde, no turco-ávaro de “Khagan”), Estes khazáres fecharam a ampla brecha século VIII, a Noruega tinha conexões marítimas diretas com a entre a vertente sudeste dos Urais e a costa norte do Cáspio, impe- França merovíngia,| como mostram os objetos encontrados nas esca- dindo os turcos nômades de se espalharem pelo Ocidente, obtendo vações norueguesas. A Noruega também parece ter tido uma popula- desta forma uma fronteira pacífica com os bizantinos desde o Cáu- e ção viril e ativa, embora a terra fosse dividida entre um número de caso até a Criméia. Eles também impediram que os búlgaros fossem e tribos deficientes de uma liderança unificada. em direção norte para a Rússia, os quais lógo depois se ramificaram r Para a Dinamarca, a evidência arqueológica é insuficiente, embora p em duas direções: uma indo para os Balcãs e a outra estabelecendo-se = recentemente tenha sido estabelecido que uma cultura individual no Volga, voltaram-se para o seu próprio Khaganate, cuja capital era existiu nas áreas ao leste da região — Zealand, Skane, Bomnholm —, a Bulgária. Com o decorrer do tempo, nestes dois Khaganates, os caracterizada por sua produção de armas e seu estilo artístico. A falta khazares no sul e os búlgaros no norte, organizaram e dominaram um de descobertas arqueológicas pode ser enganosa; enquanto é razoável grandioso comércio ao longo do Volga. Pouco se sabe sobre a condi- tirar conclusões positivas de um material arqueológico rico, é peri- ção da Rússia Central e Ocidental nesta época; a probabilidade é que, goso tirar conclusões negativas da falta dele. Por que as descobertas como nos outros territórios eslavos bem acima do Elba, estas regiões arqueológicas são escassas? Não necessariamente porque a terra era eram divididas livremente entre tribos conexas sem nenhuma homo- muito pouco povoada. Talvez porque o costume ordenava somente geneidade política, enquanto as vastas e impenetráveis florestas blo- o sepultamento de pequenas (simbólicas) mercadorias esculpidas, ou queavam qualquer manifestação significativa de povos ou culturas. até mesmo nada; ou porque a religião proibia o sepultamento de Era esse então o estado peral da Europa e Ásia Ocidental no dádivas aos deuses; ou, ainda, porque os locais onde elas se encon- 18 19 tram estejam sob as cidades modernas. A ausência d € estoques de tesouros tanto pode indicar paz e prosperidade (de rem corretos, podem ajudar na explicação dos ataques Vikings. O modo que não havia necessidade de. ocultar bens na terra) como subpopula primeiro é a menção ao exílio compulsório de homens jovens, orde- nado de tempos em tempos como um resultado da superpopulação Em suma, pobreza de material arqueológico não indica ir (embora é provável que isto não seja historicamente exato). O segun- mente pobreza econômica. Na verdade, quando os primeiros ni do é o fato dos Vikings terem sido adeptos de um sistema de primo- de luz pairaram sobre a história da Dinamarca (por volta do ano genitura; e isso teria criado um excesso de homens jovens prontos 800), encontramos a figura do Rei Godofredo, um guerreiro forte o para buscar a fama e a fortuna fora de suas pátrias. Em geral, é pro- bastante para lutar contra o próprio Carlos Magno. Isto não identi. vável que a Escandinávia fosse superpovoada no princípio da Era fica um país fraco, e também mostra que a monarquia era conhecida Viking, e isso deve ter sido uma causa contribuinte para os ataques. na Dinamarca nessa época, embora não saibamos qual a extensão do território que estava sob o domínio de Godofredo. Divergências internas. As leis escandinavas de sucessão eram tais Respondemos a nossa primeira pergunta sobre a força e a fra- que toda vez que um rei, conde ou chefe dominante garantia a suces- queza da Europa dentro e fora da Escandinávia no começo da Fra são, deixava pelo menos um “pretendente” ambicioso e descontente, Viking e suas causas subjacentes. Mas, e a respeito dos fatores inter- que iria para o exterior em busca de alianças influentes ou riquezas, nos que lançaram os Vikings aos seus inúmeros e muito difundidos para que, quando voltasse, pudesse pressionar sua reivindicação com ataques por um período de mais de dois séculos? O que é imediata- mais força. Este tipo de situação não é uma causa suficiente para mente óbvio é que mais de um fator deve ter contribuído para isto. explicar as numerosas invasões Vikings. Vamos examinar algumas teorias apresentadas por historiadores e Diferenças sociais. Sob este tópico acha-se a sugestão de que cer- arqueólogos. tas classes ou elementos da população da Escandinávia eram forçados a deixar suas terras natais. Entretanto, não há nenhuma evidência de superpopulação. Esta foi a tese apresentada por Johannes que qualquer coisa do gênero tivesse acontecido. Os primeiros ata- Steenstrup. Ele se referia ao que chamava de “tradição normanda”, ques Vikings não parecem ter tido nenhuma relação com as distin- preservada em uma porção de fontes literárias, tanto pelos europeus ções sociais na Escandinávia. ocidentais quanto pelos escandinavos. Esta tradição se aplicava, pen- sava ele, primeiro e principalmente à Dinamarca, embora o restante Pressões externas. Esse argumento pode ser desprezado. Não da Escandinávia pudesse também ser incluído. Isso se devia a que, há nenhuma evidência. Os primeiros ataques Vikings não apresen- tam nenhuma semelhança aos grandes movimentos do período de no começo da Era Viking, as terras escandinavas eram superpovoa- migração. das, circunstância essa que explicaria os relatos comuns dos europeus ocidentais a respeito das enormes dimensões dos exércitos Vikings, Catástrofes climáticas. Uma causa fregiiente de migração na como, por exemplo, nuvens de tempestade, enxames de pafanhotos, História tem sido a perda das safras e a consequente fome, devido ondas do oceano, etc. Há também muitos relatos sobre os milhares às mudanças nas condições climáticas. Essa era a razão pela qual perdidos em batalha pelos Vikings. Embora devam ser feitas conces- os nômades asiáticos atacavam frequentemente seus vizinhos. Foi, sões ao exagero natural, esses relatos devem conter um tanto de vel- provavelmente, um dos fatores do ataque huno à Europa, que levou dade. a grandes migrações, e possivelmente do ataque címbrico da Jutlân- A razão tradicionalmente sugerida para esta superpopulação era dia na época da República Romana (no final do século Il a.C.). Geó- a prática comum da poligamia entre os Vikinps, que se orgulhavam logos escandinavos, trabalhando nas jazidas de turfa, descobriram muito da quantidade de filhos que pudessem gerar; era comum para evidências de muitas variações climáticas no Norte, mas nenhuma eles ter concubinas, amantes e subesposas: Steenstrup também cita datando dos princípios do século IX. Além do mais, os primeiros como outras evidências de superpopulação o hábito que havia no ataques Vikirigs não eram de forma alguma movimentos migrató- Norte, particularmente entre as classes mais baixas, de matar os rios; eles tinham todas as intenções de regressar com seus despojos recém-nascidos não desejados, expondo-os ao frio. | e glória. A tradição normanda contém mais dois pontos, que, se estive- 21 2 0

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