Os Pensadores - História das Grandes Idéias do Mundo Ocidental - Volume 3

265 Pages·1972·171.647 MB·Portuguese

by  Os Pensadores

OS
JPJEN§ADO~lE§
HISTÓRIA DAS GRANDES IDÉIAS DO MUNDO OCIDENTAL
III
HISTORIA DAS GRANDES IDÉIAS
DO MUNDO OCIDENTAL
EDITOR: VICTOR CIVITA
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do Nora Peirce
Jefferson
Federalistas
Paine
Tocqueville
~ · Cchoa Freud
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Bachelard
.\rthur Gianotti Com te
Durkheim
Stuart Mill
Marx
:;; Henrique dos Santos Frege
· ena Chauí Berlinck La Mettrie
Condillac
Helvétius
Degérando
Kierkegaard
Nietzsche
Weber
Hegel
Adam Smith
Ricardo
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'l.Al~[)()l'"BÇào (pesquisa):
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Federalistas
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OS PENSADORES
U ma das principais caracterís se articularam às dos primeiros. Todos
ticas da filosofia francesa do sé formavam., assim., um ·•mdivíduo filoso
culo XVIII é sua oposição ao fante único,,., na expressão do his_to
racionalismo do século anterior. O ra riador Wilhelm Windelhand. Reunidos
cionalismo do século XVII acreditava na em Paris., em relação de amizade cons
possibilidade de se resolverem os pro tante., uma nova idéia que surgisse na
blemas através do uso da razão, mas mente de um deles imediatamente deita
esta era concebida como uma faculdade va raízes no espírito dos demais e ~are­
analítica a operar dedutivamente; a par cia em suas obras., em diferentes linhas
tir de idéias inatas, isto é, inerentes ao de desenvolvimento e aplicação.
próprio intelecto humano, os filósofos Por essas razões., não se pode ter idéia
racionalistas construíram então siste completa do Iluminismo francês sem o
mas abstratos de explicação da realida conhecimento da filosofia materialista
de. Os filósofos franceses do século elaborada por La Mettrie e Holbach., da
XVIII, ao contrário, embora também sistematização da teoria sensualista do
"racionalistas,,, concebiam a razão conhecimento realizada por Condillac.,
como uma força que parte da expe do comportamentismo de Helvétius e., já
riência sensível e desenvolve-se junta nos fins do século XVIII., dos trabalhos
mente com ela. Desse modo, o Ilumi realizados pela ·escola dos ""ideólogos"".,
nismo francês sintetizou as duas que teve à &ente Destutt de Tracy e na
vertentes da filosofia moderna, o empi qual se destacaram os trabalhos de
rismo e o racionalismo, e tirou de suas Degérando.
premissas as conseqüências mais extre
madas. O homem-máquina
Por outro lado, a filosofia iluminista
francesa manteve-se em estreita relação J ulien-Offroy de la Mettrie nasceu em
com os problemas da vida pública e, 1709., estudou no Colégio de Harcourt e
quanto mais agudos estes se tornavam, na Universidade de Paris. Transferiu-se
mais as teorias se faziam radicais. Ao depois para a Faculdade de Reims., onde
lado disso, os pensadores franceses do se doutorou em medicina no ano de
século XVIII, com raras exceções, não 1733. Completou sua formação de médi
consideravam o conhecimento científico co em Leyden (Holanda).
como privilégio de poucos; ao contrário, De volta à França., La Mettrie puhli
predicavam suas idéias ao povo, empre 'Cou, em 1745., sua primeira obra., Histó
gando linguagem relativamente simples. ria Natural da Alma, que causou vio
Nesse sentido, foram as mais legítimas lenta reação da censura em virtude das
expressões do Iluminismo. idéias materialistas que expunha. Exi
Segundo o historiador Wilhelm Win lou-se então na Holanda., onde publica
delband, essa vinculação íntima entre a ria, em 174 7., o mais conhecido de seus
teoria e a prática teria sido a principal trabalhos., O Homem-Máquina.
razão que impediu a construção de um Na Holanda., La Mettrie também foi
sistema completo e original de filosofia. alvo de violentos ataques por causa de
Apesar disso, o século XVIII na França suas críticas às concepções reli~iosas.
representou uma das épocas de mais Novamente obrigado a fugir., exilou-se
intensa vida intelectual de toda a histó na corte de Frederico II da Pníssia
ria do Ocidente. ( 1712-1786). Em Berlim., La Mettrie
Montesquieu, Voltaire, Diderot, torRou-se membro da recém-fundada
D'Alembert e Rousseau são conside Academia Real de Ciências e pôde escre
rados os mais importantes pensadores ver tranqüilamente vários livros: O
desse período. Outros, menos conheci Homem-Planta ( 17 48)., O Sistema de
dos, fizeram contribuições significa Epicuro (1750) e Discurso sobre a Feli
tivas, formulando idéias que, em geral, cidade (1750). Antes de falecer.,• em
1751., La Mettrie escreveu ainda vários
trabalhos sobre medicina e uma série de
Na p_ágúw anterior: retrato de panfletos polêmicos e irônicos.
Etienne Bonnot de Condillac. Em A História Natural da Alma, La
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LAMETTRIE
Os iluministas franceses do século X Vlll Ligavam-se por relações de
amizade;juntos, em Paris, faziam de seus escritos instrumentos de
propaganda de novas idéias sociais e políticas. (Tela de J. B. Raguenet:
Competição de marinheiros em comemoração ao nascimento do Duque de Borgonha,
realizada em 17.51, sob aponte de Notre-Dame; Museu Camavalet, Paris.)
Mettrie ataca o dualismo metafisico de namicamente inter-relacionadas, e orga
Descartes (1596-1650), Malebranche nizada para cumprir fins por ela mesma
(1638-1715), Espinosa (1632-1677), propostos.
Leibniz ( 16 46-1 716) e outros, susten Ligada a essa visão materialista do
tando a tese de que a alma deriva de for homem, a ética defendida por La Mettrie
mas orgânicas específicas, produzidas coloca como finalidade das ações huma
por uma força motriz inerente à matéria, nas o gozo do prazer. Este, contudo, não
da qual dependem as faculdades e opera é considerado como incompatível com a
ções mentais. A ""história da alma" tor virtude, especialmente com o amor ao
na-se, assim, assunto do cientista da próximo a serviço da humanidade; pelo
natureza e não do teólogo ou metafisico. contrário, La Mettrie sustenta que o ver
Nessa ordem de idéias, La Mettrie pro dadeiro prazer inclui o amor. Este, no
cura mostrar como todas as funções inte entanto, deveria ser totalmente desvin
lectuais dependem essencialmente do culado da crença no sobrenatural. A
sistema nervoso, sobretudo do cérebro. ética de La Mettrie é humanista .e as reli
Em O Homem-Máquina, sustenta que giões são consideradas por ele como
não existe diferença essencial entre as contrárias à busca da felicidade.
atividades involuntárias ou instintivas, e
as conscientes ou voltmtárias. Por que temer a Deus?
Os dois tipos de atividades explicar
se-iam pela relativa complexidade das As teses materialistas de La Mettrie
estruturas mecânicas responsáveis por também foram defendidas, em linhas
sua produção. O homem seria, assim, gerais, por Paul Heinrich Thiry, Barão
uma máquina orgânica, entendida como de Holbach. Nascido em Heidesheim,
sistema auto-suficiente, com partes di- Alemanha, em 172 3, Holbach mudou-se
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OS PENSADORES
reza e possuidora por si mesma do movi
mento sem causa extranatural. Todos os
D E L L A acontecimentos seriam rigorosamente
Z O .E determinados pela própria estrutura da
matéria, não existindo providência divi
na. Os diferentes tipos de movimento e
E I
transformação observados na natureza
1U -L L1
não seriam mais do que diferentes
modos de ser da matéria, encadeados em
SCRITTO IN LINqUA INGLES.l!.
sucessão rigorosa de causas e efeitos. Os
DAoL animais e vegetais estariam compostos
''
de elementos inorgânicos, organizados
Iarn1 TtADOT ro ur L1lllGUA Pa..&lfC&IE de maneira diferente dos seres inanima
DAL SIGNOR dos. A natureza não apresentaria qual
E," quer tipo de finalidade, não estando ani
.,,.. ,,V
mada por qualquer inteligência ou razão
E fuialmcntc Tradotto ín Língua Italia:ia
dali' Edizionc Fra!Y-CÍ.: farta ia superior. A natureza, contudo, seria
A:nficdam fanno l7H· inteligível e racional, no sentido de que
pode ser compreendida e explicada pelo
1
homem. A compreensão e explicação da
natureza deveria ser feita, segundo Hol
bach, dentro dos quadros das ciências
naturais.
Compreendendo a natureza, o homem
poderia compreender também os meca
NEZlA , nismos do temor aos deuses, aos sacer
dotes, aos reis e aos tiranos, emancipan
<l.'f'( O f RAt'iCI.:: Cu p 'f ·~;r.:(. do-se e atingindo a libertação, e,
In Mcrcera all'Iiúegn:t ;\clla. Fortuna Trloafante •
M >CC XX V. 1.1 ~ conseqüentemente, a felicidade.
C#n U1:e114il ie· s11;,riwi, ~ -Priwl-c!1. ' m De acordo com Holbach, a felicidade
~ do indivíduo vincula-se à da sociedade
na qual sua vida está inserida. Impõe-se,
Locke exerceu grande influência em
portanto, como dever ético, a participa
toda a Europa do século XVIII. Acima,
o frontispício da tradução italiana ção de cada indivíduo na luta para que
da Educação das Crianças, editada em todos os homens se libertem dos temores
e da superstição. Somente quando os ho
1735. (Bibl. Nac. Braidense, Milão.)
mens estivessem persuadidos da necessi
aos doze anos de idade para a capital dade de eliminar todos os fantasmas que
francesa, onde viveu até sua morte, ocor os perseguem, conseguiriam ser justos,
rida em 1789. Muito rico, Holbach reu bondosos e pacíficos.
nia em sua casa, em Paris, a maior parte
Um bondoso materialista
dos grandes pensadores e cientistas da
época, formando com eles o grupo que
redigiria a Enciclopédia, sob direção de As qualidades morais que Holbach
Diderot ( 1713-1784), e para a qual con sempre desejou para todos os homens -
tr.jbuiu com vários artigos. espírito de justiça, temperamento pací
Além· dos artigos escritos para a fico e, sobretudo, a bondade - encon
Enciclopédia, Holbach redigiu diversos tram-se como traços essenciais da perso
trabalhos, sobressaindo-se entre eles O nalidade de Claude-Adrien H e1véti11 s.
Sistema da Natureza ou as Leis do Paradoxalmente, as autoridades ecle
Mundo Físico e do Mundo Moral, publi siásticas e políticas o consideravam um
cado em 1770, sob o pseudônimo de dos pensadores mais perigosos e subver
jean-Baptiste Mirabaud, pois se tratava sivos da época.
de exposição do mais radical materia Helvétius nasceu em Paris, a 26 de
lismo e ateísmo. janeiro de 1 715, filho do médico parti
Para Holbach, existe apenas uma rea cular da rainha Maria Leszczynska, es
iidade: a matéria, organizada na natu- posa de Luís XV. Helvétius estudou no
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HOLBACH
O empirismo de Locke deu orÍJJ..em ao imaterialismo de George Berkeley e ao
ceticismo de David·H ume. Os filósofos do Iluminismo francês aproximaram-se
mais do segundo, pois nele encontravam armas para combater as concepções
religiosas e metafisicas às quais se opunham. (Retratos de Berkeley e Hume.
O primeiro pertence ao acervo da Cívica Raccolta Stampe Bertarelli, Milão.)
Colégio Louis-le-Grand, por cujos ban mente ao trabalho filosófico e literário.
cos passara Voltaire no começo do sécu Em 1758, publicou sua principal
lo. Com apenas 2 3 anos de idade, foi obra, Sobre o Espírito, causando celeu
nomeado para o cargo de ""fermier gene ma em todos os setores. O livro aparecia
rál", função que lhe dava o direito de co numa época de grande repressão às
brar impostos, mediante o pagamento de tendências renovadoras e fo1 imediata
uma quantia fixa ao Tesouro Real. Com mente condenado pelas autoridades polí
isso ficou muito rico. Helvétius sempre ticas e eclesiásticas,_ como perigosa-
foi, no entanto, um homem caridoso, mente herético e por conter opiniões
tornando-se conhecido de seus contem consideradas subversivas. Apesar das
porâneos pelo espírito filantrópico e retratações do autor, a obra foi ~uei­
pelo uso esclarecido que fazia da fortuna mada em praça pública. Além disso,
pessoal. desagradou também a muitos dos seus
A primeira obra escrita por Helvétius amigos. Voltaire criticou Sobre o Espíri
foi um poema intitulado A Felicidade, to, um livro cheio de lugares comuns, em
em que celebra os prazeres da vida inte sua opinião. O mesmo fez Rousseau,
lectual. Pouco depois, em 1751, renun afirmando que a personalidade bondosa
ciou ao cargo de ""fermier general", ·do autor entrava em contradição com os
casou-se e foi morar em sua propriedade princípios expostos na obra.
rural, passando a dedicar-se exclusiva- Como conseqüência do escândalo cau-
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