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Os Marxistas e as Artes: Princípios de metodologia crítica marxista PDF

265 Pages·2019·1.685 MB·Portuguese
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Guido Oldrini os marxistas e as artes princípios de metodologia crítica marxista Diagramação: Atahualpa Sarmento Revisão: Sidney Wanderley Capa: Fernanda Beltrão Catalogação na Fonte Departamento de Tratamento Técnico Coletivo Veredas Bibliotecária responsável: Fernanda Lins de Lima – CRB – 4/1717 ____________________________________________________________ O44m Oldrini, Guido. Os marxistas e as artes : princípios de metodologia crítica marxista / Guido Oldrini ; tradução de Mariana Andrade. – Maceió : Coletivo Veredas, 2019. 282 p. Inclui bibliografia e índice. ISBN: 978-85-92836-34-4 1. Lukács. 2. Arte. 3. Estética marxista. 4. Princípios da me- todologia marxista. 5. Crítica das artes. I. Título. CDU: 7.074 ____________________________________________________________ Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. Para ver uma cópia desta licença, visite http://creativecom- mons.org/licenses/by/4.0/. Esta licença permite cópia (total ou parcial), distri- buição, e ainda, que outros remixem, adaptem, e criem a partir deste trabalho, desde que atribuam o devido crédito ao autor(a) pela criação original. 1ª Edição 2019 Coletivo Veredas www.coletivoveredas.com Guido Oldrini Os marxistas e as artes princípios de metodologia crítica marxista Tradução: Mariana Andrade 1ª Edição Coletivo Veredas Maceió 2019 Sumário Introdução ��������������������������������������������������������������������������������������������������7 I - Explicações sumárias sobre o marxismo como teoria geral ����������������13 1. O pano de fundo histórico-conceitual do marxismo como teoria ....................15 2. A teoria marxista no contexto do desenvolvimento social ................................28 3. Os problemas da herança cultural ..........................................................................33 II – A sistematização teórica da estética segundo o marxismo ����������������41 1. A estética como “parte orgânica” da teoria marxista .......................................42 2. A especificidade do campo da estética ..................................................................51 3. O para-si próprio da arte na sua estrutura e na sua referência aos gêneros ....64 4. Sobre o papel da historicidade, da nacionalidade e da popularidade da arte ...74 III – Princípios de metodologia marxista no campo estético �������������������89 1. O pano de fundo ideológico da metodologia .......................................................89 2. Critérios de operacionalidade do instrumental metodológico marxista em estética ..........................................................................................................................................97 3. Deduções complementares das premissas do método ....................................105 IV - Princípios marxistas de história e crítica das artes ��������������������������121 1. O crítico diante da obra: seleção da qualidade de arte e juízo de valor .........121 2. Dialética crítica entre cultura e militância .........................................................134 3. Fenomenologia dos casos controvertidos .........................................................143 4. O modelo do “realismo” na crítica de Lukács ..................................................162 5. Crítica em função histórica, história em função crítica ....................................177 6. Sobre o complexo problemático da arte de vanguarda ....................................189 V - Da receptividade da arte à responsabilidade cultural e social da crítica ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������206 1. A esfera da incidência da receptividade da arte .................................................206 2. O caso do cinema: a derivação parasitária da crítica fílmica ...........................218 3. Responsabilidade social e deveres da crítica ......................................................234 Nota da tradução �������������������������������������������������������������������������������������245 Índice de assunto ������������������������������������������������������������������������������������247 Índice de nomes ��������������������������������������������������������������������������������������253 Introdução Se todo trabalho histórico e crítico tem a obrigação de justi- ficar as razões do seu próprio vir a ser, isto vale ainda mais quando, como no presente caso, as necessidades do tema (arte e marxismo) são pouco ou nada reconhecidas. Qualquer um sabe das dúvidas tradicionais, difíceis de silenciar, que circulam a este respeito sobre o marxismo: o que o marxismo tem a ver com as artes? Como pode uma doutrina, nascida sob o terreno econômico, se interessar pela arte, expressar-se acerca dos problemas da arte, principalmente para fins políticos? Estas não são, note-se, dúvidas que dizem respeito apenas ao senso comum ou à esfera do profano; não, acontece que frequentemente esbarramos – inesperadamente – até mesmo em es- pecialistas renomados. Ao marxismo recomenda-se, na maioria das vezes, não se debruçar sobre questões que não conhece e de que não pode tratar, ou, se nos deparamos com exposições marxistas do argumento, as rejeitamos sem discuti-las, com zombeteiros olhares desdenhosos. Há, portanto, diante dos teóricos do marxismo, todo um trabalho preliminar de comprovação da viabilidade do empreen- dimento a ser posto em prática. Em primeiro lugar, trataremos de justificar a coisa historica- mente. Por uma ou outra razão, a estética, a teoria da arte, a crítica artística em todos os campos (literário, teatral, musical, figurativo etc.) sempre desempenharam um papel importante no amadureci- mento dos povos e nas lutas de classes de seu tempo. Este papel – que emergiu na Antiguidade clássica e se tornou socialmente sig- nificativo já no Renascimento – foi ainda mais intensificado à me- dida que, com o Iluminismo, o romantismo, o florescimento da era moderna, a relação entre a criatividade do ser humano com a sua vida social adquiriu um profundo significado, e as divisões, as con- tradições, os choques internos da sociedade burguesa em desenvol- vimento passam cada vez mais ao centro do mundo da criatividade artística. Exemplos notáveis de programas e organogramas de traba- lho projetados para levar esse conjunto de problemas para dentro da cultura chegam até nós especialmente graças à cultura clássica alemã (de Lessing a Schelling e Hegel), após cujos exploits nada neste campo permanece como antes. Já que o marxismo é em si um dos frutos desse processo, já que sua teoria encarna, no mais alto grau, o esfor- ço de conscientizar os seres humanos sobre o caráter social de suas produções, a coisa deveria ser ainda mais verdadeira e válida para ele. No entanto, este não é o caso. Em toda a esfera dos proble- mas que dizem respeito à arte, não só subsistem os grandes vazios provocados por conventio ad excludendum que mencionei anteriormente, mas por uma certa indiferença, por uma certa subestimação; a ideia de que, afinal, se trata de problemas de segundo plano continua a dominar amplamente mesmo entre as fileiras dos marxistas. Só de forma progressiva, e em casos isolados, os teóricos marxistas che- garam ao ponto de superar suas hesitações. A passagem foi levada a cabo, não faz muito tempo, em virtude da qual foram reconhecidos os fundamentos e elaborados os lineamentos de uma estética marxista qua talis. Indispensável e insubstituível para o progresso neste cam- po, bem como no campo da crítica (crítica literária), é a contribuição do filósofo marxista húngaro György Lukács; todavia, mesmo o tão grande e influente corpus de seus ensaios críticos é utilizado com cau- tela, se pensarmos em como isso vem se processando desigualmente ao longo do tempo e se levarmos em conta a gênese e a evolução de- les. Através da sua contribuição crítica, Lukács traz à existência algo que pela quantidade, qualidade e consideração, no marxismo, jamais se viu antes; mas o faz pouco a pouco, em etapas sucessivas e diferen- tes umas das outras, ou seja, mesmo quando, no início, ele ainda não domina bem todo o campo ou se distrai e se desvia por razões polê- micas; ou quando, na velhice, com o domínio agora seguro da teoria estética marxista, e com seus interesses se dirigindo principalmente para outros campos, de ordem ético-ontológica, e aos problemas da metodologia da crítica, ele já não tem mais tempo ou modo de retor- nar, porém, não de forma programática. Creio que, hoje, do que mais fortemente se sente a necessidade é de uma generalização dessa exigência metodológica que ficou para trás. Por favor, não exiba ante mim a circunstância da crise que faz época em nosso tempo; não me diga que falo de coisas superadas, de doutrinas ignoradas e definitivamente varridas pelos acontecimentos de 1989-1991 (a dissolução dos países socialistas, a chamada “queda 8 dos muros”, a dominação mundial indiscutível da “nova ordem”, isto é, do imperialismo americano) e da virada ideológica que, sob a onda do proclamado “fim das ideologias”, vem se impondo na teoria e na historiografia crítica (desconstrucionismo, pós-moder- nismo, formas de pseudo-heideggerianismo entre os mais variados), como se se tratasse de algo pacífico e de uma vez por todas estabele- cido. Isto nem sequer é assim. Mesmo depois do que se passou, não considero que haja nada a ser mudado na investigação, historiográfi- ca e criticamente falando. Que, como é habitual, os pontos de vista mudem no tempo não significa de fato que deva mudar o conceito do objeto. É regra geral – se não queremos árbitros – que seja a his- toriografia a se ajustar ao seu objeto, e não o objeto às fantasias da historiografia. Os problemas são e permanecem, em essência, exa- tamente os mesmos de antes, e apenas em relação a eles, portanto, será abordada, de acordo com o quadro geral que virá irrompendo, também a questão da exigência metodológica mencionada. A intenção do autor deste livro, bem consciente dos limites dentro dos quais o livro se move e sem pretensão alguma de ino- vações sofisticadas, é precisamente aquela de iniciar, acionar, apon- tando não para outra coisa, senão para uma reorganização funcional dos princípios da estética e da crítica marxista. Uma vez estabele- cidos, reconhecidos e reordenados estes princípios, a clarificação, me parece, deve ser feita, sobretudo, a partir do ponto de vista da metodologia, ou seja, sob o plano dos critérios de sua utilização no campo crítico. Digamos assim: o marxismo tem algo a dizer no âm- bito das artes, mas o modo como quer dizê-lo e o diz não se reduz certamente a um agrupamento de julgamentos formulados ao acaso. Se todo julgamento estético (marxista) funda-se em princípios (mar- xistas), os princípios, por sua vez, requerem critérios apropriados de aplicação. Neste momento, as engrenagens sobre as quais esse me- canismo funciona, tomadas uma a uma, são ou deveriam ser já parte do patrimônio cultural de todo marxista consciente; no entanto, já que não me parece que alguma vez foram unidas em uma exposição comum, acredito e espero que uma síntese ordenada delas possa ser de alguma utilidade: possa atender às necessidades dos marxistas eventualmente duvidosos ou incertos; possa, no caso, servir para protegê-los melhor de qualquer contestação, quer de princípio quer de método. Em conformidade com a correta observação crítica feita por Gramsci a Croce, aqui as tarefas da estética e da crítica se manterão o mais distintas possível, reconhecendo como pertencente à primei- ra “aquela de elaborar uma teoria da arte e da beleza”, e pertencente 9 à segunda, de “crítica contínua”, a de “criar a história da arte concre- tamente, das ‘expressões artísticas individuais’”. Razoavelmente, no título do presente trabalho não há a menor limitação e encerramento do campo de problemas, por si sem limites, que dizem respeito à arte. Para aquela “relação objetivamente subsistente entre arte e realida- de”, que a crítica marxista, desde o início, coloca no centro de suas considerações, aqui olhamos apenas como tal “relação é o ponto de partida e a linha de chegada” de todos os possíveis “tipos de críticas fecundas” (Lukács), a prescindir do gênero da arte, das temáticas, das orientações estilísticas à vez em questão, já que a autonomia da criação artística em geral, assim como a das obras de arte individu- ais, permanece para o marxismo um dado de fato e um pressuposto fundamental. Bastante rigorosa será, do lado crítico, a disputa com os adver- sários. Impõem-na as circunstâncias de hoje, mais deprimentes que nunca, de modo que não poderia ser mais. Quando hoje, ao abrir as revistas culturais e os livros históricos e críticos de maior sucesso, nos vemos imediatamente esmagados por uma orgia de insinuações em modelos hermenêuticos como aqueles do pós-estruturalismo e do pós-modernismo, não pode deixar de surgir certa dúvida sobre o status de sanidade da investigação. Até mesmo estudiosos abertos ao novo provam um sentimento profundo de frustração, de desa- gregação. É possível que o século 21 avance tão cegamente a esses tão indeterminados “post”, que a cultura possa, tanto quanto possí- vel, se entregar toda, sem reservas, a um relativismo sem princípios? Este não é geralmente o modelo segundo o qual a cultura prossegue. Mesmo as rupturas, os revolvimentos revolucionários mais extremos, costumam assumir nela um caráter dialético, de revolvimentos que destroem conservando e elevando as aquisições do passado. Acon- tece que há aquisições passadas elevadas prepotentemente a patri- mônio do método; em todo caso, os princípios metodológicos já reconhecidamente válidos não têm a transitoriedade das roupas de passeio, não vão e vêm com a moda. Nem a ocorrência da subversão histórica de uma ideologia, a passagem de uma ideologia dominan- te a outra (não existem, claro, culturas sem ideologias), faz por si a limpeza de todas as aquisições anteriores. Os marxistas estão assim seguros de que, devido ao seu método, não têm a menor intenção de levantar as mãos como sinal de rendição. Se, no decorrer do presente trabalho, são invocadas orientações de pensamento hostis ou alheias ao marxismo, é – compreende-se – porque isso é indispensável para a comparação. No entanto, nunca nenhuma comparação significa aqui cedência, concessão. Os muitos esforços realizados por pretensos 10

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