Tensões dentro de um mesmo grupo: os japoneses do pós- guerra e os antigos imigrantes∗ Célia Sakurai♣ Resumo O retorno de cerca de 5 milhões de japoneses dos territórios ocupados após a derrota na Segunda Guerra Mundial produziu um efeito impactante na sociedade japonesa sobretudo na questão do emprego. Uma das saídas para uma crise iminente foi a emigração, sendo o Brasil, por ter acolhido cerca de 200.000 imigrantes até a guerra, um dos destinos preferenciais da emigração japonesa do pós-guerra. Ao mesmo tempo, o Japão passa a investir em indústrias no Brasil aproveitando a conjuntura favorável que o nosso país apresentava no período. Dos anos 1950 até meados dos 70, o Brasil recebe cerca de 50.000 novos imigrantes japoneses. Uma pesquisa sobre essa imigração de japoneses no pós-guerra aponta um perfil diferente daquele do período anterior, já que se trata de uma imigração de pessoas com um perfil ocupacional mais qualificado, de melhor nível educacional. Esse novo contingente tem uma posição privilegiada diante daqueles que tinham vindo até a guerra porque já chegam com empregos nas novas indústrias japonesas, alguns em cargos de chefia. Esse fato criou uma forte tensão entre os novos e os antigos imigrantes. A proposta desta apresentação é refletir sobre os motivos que o antigo grupo tinham para hostilizar os recém chegados. O ponto central é a questão da ocupação, tendo como base de dados pesquisa ora em andamento, em contraste com dados similares do censo da população japonesa no Brasil realizada em 1958. ∗ Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 20 – 24 de Setembro de 2004. ♣ Pesquisadora do NEPO/UNICAMP. 1 Tensões dentro de um mesmo grupo: os japoneses do pós- guerra e os antigos imigrantes∗ Célia Sakurai♣ 1. Apresentação Este ano de 2004 coincide com os festejos dos 450 anos da fundação da cidade de São Paulo. Há pelo menos cem anos, os imigrantes fazem parte da história dessa cidade e, unanimemente são considerados como parte fundamental da sua modernização e urbanização. Os livros, exposições, mesmo desfiles de escolas de samba no Carnaval apontam para as contribuições dos imigrantes na construção da história da cidade. Pode soar estranho apresentar um trabalho sobre imigrantes japoneses numa sessão sobre marginais e estigmatizados. No entanto, ao olhar para o passado, verificamos que ao longo de mais de cem anos de história os imigrantes foram tratados como marginais àquilo que se consideraria o mainstream da sociedade brasileira vista pelas elites. E em particular, os imigrantes japoneses. Este trabalho está dividido em duas partes: na primeira faço uma síntese das discussões que envolvem a imigração com atenção especial aos japoneses até a Segunda Guerra Mundial, e na segunda parte abordo o período pós-guerra vendo novamente os japoneses. ∗ Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 20 – 24 de Setembro de 2004. ♣ Pesquisadora do NEPO/UNICAMP. 2 2. A trajetória de pressões sobre os japoneses até a segunda guerra mundial No último quarto do século XIX havia uma intensa discussão sobre a substituição da mão-de-obra escrava pela dos imigrantes em São Paulo, que não é preciso retomar. No entanto, existe uma particularidade nesse processo de discussões que se volta especialmente para os possíveis imigrantes de origem asiática. Ou dos ‘amarelos’, como se dizia na época. No passado o Brasil sempre se alinhou junto aos outros países que recebeu imigrantes na sua conduta em relação à classificação daqueles que seriam bem vindos como imigrantes. Se forem analisadas as leis imigratórias dos Estados Unidos e do Brasil, por exemplo, verifica-se uma enorme similitude. Os Estados Unidos antecipam leis que mais tarde são também adotadas pelo Brasil e modificadas conforme as circunstâncias locais. Mas, no geral, encontram-se semelhanças em ambos os países que visam adotar um padrão de nacionalidade no qual os imigrantes são também os seus gestores. Nos Estados Unidos, uma lei de 1798 já previa a expulsão de estrangeiros considerados perigosos, o Aliens Act; seguida por outras inúmeras leis restritivas a imigrantes. Os chineses (1882, 1884, 1888, 1892), e mais tarde os japoneses (1907, 1911), englobados sob a sigla de amarelos, são proibidos de entrar naquele país em 1917 e 1924. A lei de cotas norte-americana é de 1924 (a do Brasil é de 1934) estabelece, como no Brasil, uma cota de 2% de entradas calculadas pelo número de imigrantes já residentes no país. Nos Estados Unidos o parâmetro utilizado foi o censo de 1890 ao invés do de 1910, o último antes da promulgação desta lei porque reduzia bastante o número de novas entradas 1. No Brasil, antes mesmo do início da Grande Imigração iniciada por volta de 1870, a política de imigração era restritiva e classificatória para buscar a formação de um povo brasileiro com fenótipo branco, apagando as marcas da miscigenação com o negro. Desta forma, a política imigratória desde os primeiros assentamentos de alemães em 1818 tinha como alvo os imigrantes brancos, nem todos, com preferência aos alemães, italianos do norte, bascos, excluindo-se os espanhóis, portugueses e italianos do sul (Seyferth, 2002: 101). O caso sobre os amarelos no Brasil se remonta à mesma época em que chegam os primeiros imigrantes italianos, por volta dos anos 1870. A chamada ‘questão chinesa’ gera mais uma polêmica no conturbado cenário da época: abolição definitiva da escravatura, inserção de imigrantes, a discussão sobre raça e miscigenação. Dentro desse contexto, há uma corrente que defende a vinda de mais imigrantes chineses para o Brasil, tal como ocorreu em 1 Para maiores detalhes, vide Reis, Rossana Rocha, 2003: 48 e ss. 3 1855 (entraram de 368). Ela é contestada até com violência pela maioria dos pensadores da época (Lesser, 2001 e Dezem, 2003) que não aceitavam a substituição do escravo negro pelos chineses. Esses eram considerados viciados, de raça inferior. A discussão chega a um ponto que até o escritor Machado de Assis que assinava uma coluna num jornal carioca, transcreve um artigo da Gazeta de Londres de 1883 escrito pelo Vice-Rei da Índia que faz uma analogia do chimpanzé com o ‘chim’ (chinês). O escritor ironiza a discussão dizendo que o chim (chimpanzé) é mais econômico e com as mesmas aptidões do ‘outro’, mas ao contrario, receava o abastardamento da raça pois o chimpanzé não se cruzará com as raças do país: “que venha o chimpanzé” (Dezem: 65-66). Esses tipos de consideração se acirram nas reuniões do Congresso Agrícola de 1878 que reúne membros da aristocracia rural e do governo imperial que descartam de vez a vinda dos chineses. Com o advento da República, a Constituição de 1891 proíbe a entrada de asiáticos em território nacional. Em 1895, o Brasil assina o Tratado de Amizade e Comércio com o Japão, isto é, os dois países passam a manter relações diplomáticas. Esse Tratado é favorável ao Japão não apenas pela possibilidade de abrir caminhos para o seu comércio exterior, mas também para direcionar parte de sua população para outras partes do mundo além dos Estados Unidos. A imigração para os Estados Unidos tivera início por volta de 1875 quando a população japonesa era de 33 milhões em 1871. Comparativamente, a tabela abaixo aponta o problema populacional japonês e a sua opção para a emigração como saída: 4 População do Japão, Estados Unidos, Grã Bretanha e França *. 1871. País População (em milhões de habitantes) Japão 33 Estados Unidos 39 Grã Bretanha 26 França 36 *Grã Bretanha e França incluídas as suas colônias. Fonte: Grun, 1982. Sabe-se que o Japão após 1868, com a centralização do poder em torno do Imperador (antes, o modelo japonês era muito semelhante ao feudalismo europeu), passou por um período de acelerado crescimento econômico e prosseguindo a tendência do período anterior de melhoria da qualidade de vida com maior produtividade no campo, pela proibição do infanticídio. As áreas disponíveis para a prática agrícola (atividade predominante na época) não eram suficientes para sustentar a crescente população. Por isso, o Japão optou pela emigração e colonização. A explicação para as guerras Sino-Japonesa, Russo-Japonesa está na necessidade de mais terras para a agricultura e uma forma de drenar parte de sua população para outros lugares. É nesse contexto que os japoneses se dirigem para a Coréia, Formosa, Manchúria e iniciam a emigração para as Américas. O Brasil é uma opção para o governo japonês enviar imigrantes e aliviar a pressão demográfica, sobretudo em vista da política norte-americana de restrição a novas entradas. Comparativamente aos chineses, para os japoneses, o clima de animosidade é um pouco mais ameno, mas nem tanto. Ao longo de seu estudo, Dezem (Dezem, op. cit.) mostra como a imagem do japonês muda com a vinda efetiva dos imigrantes para o Brasil. Até 1908, a imagem do Japão era a do Japão idealizado através de imagens como de Madame Butterfly, do país das cerejeiras. A chegada dos imigrantes muda todo esse panorama favorável e dá lugar a um clima de apreensão sobre as possibilidades de sucesso dessa corrente imigratória. Os costumes, língua, religião totalmente desconhecidos eram alertas a um eminente fracasso. No quadro da imigração até a Segunda Guerra Mundial, os japoneses são, junto com os judeus, por razões diferentes, os grupos mais discriminados. Os judeus pelo anti-semitismo disseminado em todo o mundo; os japoneses por outras razões. É interessante notar que observando as discussões que envolveram a imigração no Brasil ao longo dos anos desde o início do século vinte, percebe-se que os japoneses estão sempre na mira dos responsáveis pela elaboração das políticas restritivas de imigração. Começa antes da vinda da primeira leva em 1908 com ressalvas tanto econômicas (o custeio da passagem imigrante japonês era o 5 dobro do europeu) como de ordem racial. No momento em que as elites brasileiras estavam preocupadas com o branqueamento da população, o japonês era o elemento estranho dentro desse contexto: nem branco nem negro. Seria um elemento a mais na discussão racial brasileira, sobretudo no receio quanto à miscigenação. Havia dúvidas sobre o resultado da miscigenação com o japonês na formação da ‘raça brasileira’ (Lesser, 2001). A vinda dos japoneses criou um outro tipo de apreensão nas elites além da racial: a concorrência. É preciso esclarecer que nem todos os japoneses chegaram ao Brasil na condição de imigrantes propriamente ditos. Uma pequena parcela, cerca de 5% veio como proprietário de glebas nas colônias adquiridas pelas Companhias de Imigração no Estado de São Paulo, depois no Norte do Paraná. A primeira colônia foi criada no Vale do Ribeira em 1913, ou seja, cinco anos depois do início da imigração. Essas colônias tinham uma organização bastante sofisticada para a época pois contavam com uma infraestrutura que tinha um sistema que previa não apenas a produção agrícola, mas o processamento dessa produção até a sua comercialização. Havia também escolas de preparo de jovens para técnicas agrícolas, havia a previsão de abertura de estradas, de portos, de armazéns. Parte desses projetos foram concretizados. As colônias de Bastos, Pereira Barreto, Sete Barras são exemplos desses empreendimentos que funcionaram e deixaram as autoridades brasileiras em alerta. São projetos até então desconhecidos que se assemelham ao que denominamos de agroindústria na atualidade (Sakurai, 1999) As famílias que vieram como imigrantes propriamente ditos, depois de sua estada nas fazendas de café para o cumprimento do contrato de imigração, passam rapidamente a ser ou arrendatários ou pequenos proprietários. Nessa etapa, passam a desenvolver a policultura em suas propriedades, o que nas décadas de 1920, 30 eram ainda novidade em São Paulo. Destaca-se também a produção intensiva do algodão nas chamadas regiões pioneiras do Estado de São Paulo nas zonas das estradas de ferro Noroeste e Alta Sorocabana. E em torno da cidade de São Paulo, iniciam a prática das cooperativas (a Cooperativa Agrícola de Cotia nasce em 1927) que produziam e comercializavam produtos como legumes, verduras, ovos. Todo esse quadro dá visibilidade ao grupo, que além do fenótipo, introduz novidades. Em 1925 há uma tentativa de seguir o modelo norte-americano de proibição definitiva de aceitar novos contingentes japoneses, um ano depois que os fazendeiros paulistas deixaram de subsidiar as viagens de até então. A contrapartida foi dada pelo governo japonês que passou a custear as viagens. Ou seja, havia um choque de interesses que foi postergado até a Constituinte de 1934 (Luizetto, 1975) que estabeleceu o sistema de cotas de 2%, tal como nos 6 Estados Unidos. Entretanto, nessa década entre 1924 e 1934 ocorrem as maiores entradas de toda a história da imigração japonesa no Brasil, tal como vê na tabela abaixo: Imigração Japonesa para o Brasil por período Total 234.636 100.0% 1908- 1923 31.414 13.4% 1924-1941 137.572 67.1% 1952-1963 45.650 19.5% Fonte: Suzuki, 1964:16 Esse período coincide também com as maiores críticas aos japoneses, desta vez com outros argumentos. O mais contundente é aquele que associa a formação das colônias (tanto as dirigidas pelo governo japonês como as mencionadas acima, como também as que se formaram espontaneamente pelos pequenos proprietários), com o avanço do ‘perigo amarelo’. É preciso lembrar que em 1932 o Japão ocupa oficialmente a Manchúria criando um governo seu naquela região da China. Avança também por outras regiões da Ásia Oriental movimentando intensamente os seus exércitos. Se no final do século XIX já havia a idéia do perigo amarelo, ela se amplia com muito mais vigor no início dos anos 1930. O militarismo japonês é visto como uma ameaça pelos norte-americanos e também no Brasil. Os deputados constituintes falam sobre a ‘fome da terra’ dos japoneses e usam esse argumento para barrar novas entradas. Segundo esses deputados, o Japão, pela pequena extensão do seu território, teria interesse em invadir a América do Sul usando os imigrantes aqui estabelecidos para facilitar essa invasão (Sakurai, 2000). Essas discussões tomam corpo quando também se acusam os japoneses de se enquistarem dentro das colônias, de não quererem se misturar aos brasileiros e portanto, não se assimilarem, tanto do ponto de vista cultural como também racial. São argumentos suficientes para que o sistema de cotas fosse aprovado. Pode-se afirmar que o estabelecimento dessa política visa diretamente os japoneses desde que as outras correntes imigratórias como a dos italianos, já estavam diminuindo desde o início do século. Ao mesmo tempo, o Brasil passa a receber refugiados que estavam fugindo dos regimes totalitários na Alemanha, Itália, Espanha além dos judeus da Europa Oriental (Paiva, Odair, 2000). A política nacionalista do Estado Novo, proibindo a circulação de jornais e do ensino de línguas estrangeiras afeta diretamente o grupo dos imigrantes japoneses. 7 Esse cerco em torno dos imigrantes japoneses se agrava com a declaração de guerra aos países do Eixo2. É o corolário de um período que se estende de antes de 1908, ano do início da imigração até o final da guerra em 1945. Há estigmas, há sempre o olhar de desconfiança sobre ‘o outro’. O final da guerra também gera problemas para os japoneses com a cisão no interior do grupo entre aqueles que não acreditaram na derrota do Japão na guerra e aqueles que aceitaram os fatos. Os primeiros empreendem perseguições que acabam em assassinatos e listas de pessoas mortas seria alto caso a polícia brasileira não interviesse3. Esse movimento durou do final de 1946 até o início de 48. Embora o Brasil ao final da guerra tivesse adotado a linha de apagar as marcas do Estado autoritário em vigor desde 1937 adotando uma nova Constituição em 1946, ainda assim, para os japoneses, o problema continuava. No próprio processo de elaboração da nova carta constitucional, a discussão sobre a continuidade do fluxo migratório de japoneses para o Brasil foi novamente alvo de muita polêmica. A decisão só ocorreu a favor porque o presidente da Constituinte deu o seu voto a favor porque houve empate na votação desta questão 4. Se por um lado havia restrições, ao mesmo tempo, o Brasil abriu as portas e continuou a receber refugiados de guerra a partir de 1947, um ano após a polêmica sobre os japoneses (Salles, 2001). 3. Imigração no pós-guerra O que denomino imigração do pós-guerra é aquela que se inicia a partir de 1947 quando chegam os primeiros refugiados da Europa e se estende o final da década de 1970. Dentro da periodização da história da imigração no Brasil seria o segundo período, entre a imigração tal como é comumente conhecida e o terceiro, do movimento de emigração para a América do Norte, Europa e Ásia. Este segundo período é muito pouco estudado no contexto das migrações, inclusive dentro da bibliografia internacional. Esta imigração do pós-guerra possui alguns traços que a diferenciam do período anterior, por isso o seu tratamento em separado. A Segunda Guerra Mundial foi um marco importante para o Brasil em diversos sentidos. Como foi assinalado acima, o Brasil procura novos caminhos depois de terminada a guerra perseguindo o seu desenvolvimento interno. Decorre daí, o movimento de industrialização como uma das vertentes para alcançar a 2 As restrições aumentam pelo estado de guerra em si, pois são cidadãos japoneses vivendo num país inimigo. 3 Sobre esse movimento, vide Nakadate, 1988, Hatanaka 1993, Moraes, 2000 e Dezem 2000. 4 A restrição à entrada de japoneses na Constituinte é anterior à eclosão do movimento de cisão dentro do grupo. 8 melhoria da qualidade de vida da população brasileira e disputar mercados no plano internacional. A imigração do período se encaixa dentro desse novo contexto e por isso, tem características que a diferenciam do período anterior à guerra cuja prioridade era a questão da mão-de-obra. O fim da guerra marca também uma nova inserção do Brasil no campo das relações internacionais com a participação em organismos como a ONU. Já nos anos imediatamente posteriores à guerra, em 1948 foi formada uma comissão mista Brasil - O I.R. (Organização Internacional de Refugiados) (decreto 25.796 de 10-11-1948) a partir da qual o governo brasileiro se comprometia a receber uma cota de refugiados de guerra, embora o país já os recebesse desde 1947. A partir de 1951, as atividades da O.I.R. foram paulatinamente reduzidas, como reflexo do fim da recolocação dos deslocados de guerra dos campos de refugiados na Alemanha e na Áustria. Não se tem o número exato de deslocados, mas estima-se que em julho de 1947 havia aproximadamente 1.000.000 de refugiados na Alemanha e Áustria ocupadas pelas forças aliadas. Destes, a grande maioria não desejava voltar para suas regiões de origem 5. Para o Brasil, em 1947 o jornal O Estado de São Paulo 6 dizia que o Brasil receberia 700.000 deslocados de guerra, mas dados de 1949 demonstram que chegaram ao país pouco mais de 19.000. A grande diferença no perfil desses novos imigrantes com o período anterior é a sua qualificação profissional. Embora os governos dos países receptores utilizassem o discurso humanitário para receber os refugiados, na realidade, o que se verificou foi uma seleção rigorosa em favor de candidatos com alguma ocupação especializada, sobretudo as de caráter urbano. O quadro abaixo é ilustrativo da escolha de candidatos com alguma qualificação profissional, de preferência, os que pudessem se engajar no ramo industrial: 5 Esta questão foi tema da exposição Destino Brasil: Refugiados da Segunda Guerra Mundial em São Paulo, organizada no Memorial do Imigrante, sob a curadoria de Odair da Cruz Paiva, aberta ao público no período de 24 de junho a 28 de agosto de 2000; também está apontada em : Refugiados de Guerra e a Imigração para O Brasil nos anos 1940 e 1950. Revista Travessia. Ano XIII, n. 37 mai/ago de 2000: 25-30. 6 Edição de 05-07-1947. Artigo intitulado A tragédia dos Deslocados, assinado por Paul Vanorden Shaw. 9 QUADRO DEMONSTRATIVO DAS PRINCIPAIS PROFISSÕES TOTAL DOS IMIGRANTES DESLOCADOS DE GUERRA, COLOCADOS NO ESTADO DE SÃO PAULO, NOS ANOS DE 1947 A 1949 Ajustadores 37 Ajustadores Mecânicos 27 Alfaiates 26 Auto-Mecânicos 32 Carpinteiros 225 Costureiros 24 Eletricistas 188 Encanadores 33 Ferramenteiros 11 Ferreiros 35 Fiandeiros 74 Fundidores 18 Marceneiros 93 Mecânicos 569 Mecânicos-Eletricistas 26 Montadores 72 Pedreiros 84 Pesponteadores 10 Pintores 116 Polidores 15 Prensistas 43 Relojoeiros 20 Salameiros 12 Sapateiros 59 Serralheiros 93 Soldadores 34 Tecelões 66 Torneiros 35 Torneiros-Mecânicos 30 Vidreiros 20 Assistentes de Engenheiros 5 Assistentes de Técnicos 14 Bacteriologista 1 Calculistas 5 Classificador de Algodão 1 Desenhistas 89 Eletro-Radiologista 1 Enfermeiros Auxiliares 19 Fotógrafos 22 Hdro-Técnicos 3 Ictiologista e Piscicultor 1 Protéticos 6 Químicos 35 Técnico em Acumuladores Elétricos 1 Técnico-Eletricistas 50 Técnicos de Rádios 36 Técnico-Hidráulicos 4 Técnico-Mecânicos 30 Técnico-Mineralogistas 4 Técnico-Construtores 37 Técnico em Cimento 1 Técnico em Fiação 1 Técnicos em Papéis 2 Técnicos em Laticínios 2 Técnicos Diversos 78 TOTAL 2575 Fonte: Boletim do Departamento de Imigração e Colonização. São Paulo. Secretaria da Agricultura, nº 5, dez. 1950. 10
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