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Os dez dias que abalaram o mundo PDF

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John Reed Os dez dias que abalaram o mundo Edição integral Título do original: "Ten days that shook the world" Tradução de José Octávio CIRCULO DO LIVRO S.A. Caixa postal 7413 São Paulo, Brasil É proibida a venda a quem não pertença ao Círculo Composto pela Linoart Ltda. Impresso e encadernado em oficinas próprias 2468 10 9753 ÍNDICE Prefácio de Lênin para a edição norte-americana.................................... 3 Prefácio de N. Krúpskaia para a primeira edição russa............................ 4 Prefácio do autor.......................................................................................... 5 Posfácio da edição soviética........................................................................ 10 Explicações preliminares............................................................................. 16 Capítulo I Os bastidores................................................................................................ 25 Capítulo II Aproxima-se a tempestade........................................................................... 37 Capítulo III Às vésperas.................................................................................................. 56 Capítulo IV A queda do Governo Provisório.................................................................. 80 Capítulo V Ao trabalho..................................................................................................109 Capítulo VI O Comitê de Salvação.................................................................................135 Capítulo VII A frente revolucionária................................................................................155 Capítulo VIII A contra-revolução......................................................................................171 Capítulo IX A vitória.......................................................................................................180 Capítulo X Moscou........................................................................................................207 Capítulo XI A conquista do poder...................................................................................218 Capítulo XII Congresso Camponês..................................................................................241 O autor e sua obra........................................................................................257 PREFÁCIO DE LÊNIN PARA A EDIÇÃO NORTE-AMERICANA Com imenso interesse e igual atenção li, até o fim, o livro Os dez dias que abalaram o mundo, de John Reed. Recomendo-o, sem reservas, aos trabalhadores de todos os países. É uma obra que eu gostaria de ver publicada aos milhões de exemplares e traduzida para todas as línguas, pois traça um quadro exato e extraordinariamente vivo dos acontecimentos que tão grande importância tiveram para a compreensão da Revolução Proletária e da Ditadura do Proletariado. Em nossos dias, essas questões são objeto de discussões generalizadas, mas, antes de se aceitarem ou de se repelirem as idéias que representam, torna-se necessário que se saiba a real significação do partido que se vai tomar. O livro de John Reed, indubitavelmente, ajudará a esclarecer o problema do movimento operário internacional. V. I. Lênin FINS DE 1919 PREFÁCIO DE N. KRÚPSKAIA PARA A PRIMEIRA EDIÇÃO RUSSA Os dez dias que abalaram o mundo, esse o titulo que John Reed deu à sua obra admirável. É um livro que recorda, com uma intensidade e um vigor extraordinários, os primeiros dias da Revolução de Outubro. Não se trata de uma simples enumeração de fatos, de uma coleção de documentos, mas de cenas vivas, tão típicas que não podem deixar de evocar, no espírito de todas as testemunhas da revolução, aquelas cenas idênticas, a que todos assistiram. Todos esses quadros tomados ao vivo traduzem, da melhor forma possível, o modo de sentir das massas, e permitem apanhar o verdadeiro sentido dos diferentes atos da grande revolução. Parece estranho, à primeira vista, que esse livro tenha sido escrito por um estrangeiro, um americano que não conhece a língua nem os costumes do país. Ele deveria — é o que se admite — cometer erros a cada passo, omitir fatores essenciais. Pois não é assim que os estrangeiros escrevem sobre a Rússia soviética? Ou eles não compreendem nada dos acontecimentos, ou então generalizam fatos isolados, que nem sempre são típicos. É verdade que bem poucos foram testemunhas pessoais da revolução. John Reed não foi um observador indiferente. Revolucionário na alma, comunista, ele compreendia o sentido dos acontecimentos, o sentido da grande luta. Daí sua aguda visão, sem a qual lhe teria sido impossível escrever um livro como este. Os russos não falam senão assim da Revolução de Outubro: ou fazem um '-julgamento, ou se contentam em descrever os episódios que testemunharam. O livro de Reed oferece um quadro autêntico da revolta, e é por isso que terá uma importância toda especial para a juventude, para as gerações futuras, para quem a Revolução de Outubro já será história. No seu gênero, o livro de Reed ê uma epopéia. John Reed está indissoluvelmente ligado à Revolução Russa. A Rússia soviética tornou-se-lhe cara e próxima. Foi contaminado pelo tifo e repousa na base do Muro Vermelho do Kremlin. Quem descreveu os funerais das vítimas da revolução como o fez John Reed, merece tal honra. N. Krúpskaia PREFÁCIO DO AUTOR Este livro é um pedaço da história, da história tal como eu a vi. Não pretende ser senão um relato pormenorizado da Revolução de Outubro 1, isto é, daqueles dias em que os bolcheviques, à frente dos operários e soldados da Rússia, tomaram o poder e o depuseram nas mãos dos sovietes. 1 A revolução que levou os bolcheviques ao poder ocorreu a 7 de novembro de 1917, isto é, a 25 de outubro de 1917 segundo o calendário juliano, então em uso na Rússia. Como o termo "Revolução de Outubro" se tornou clássico, é o que usaremos nesta obra, em vez de "Revolução de Novembro", como seria mais lógico. Todas as outras datas serão citadas conforme o nosso calendário. (N. do E.) Trata principalmente de Petrogrado 2, que foi o centro, o próprio coração da insurreição. Mas o leitor deve ter em mente que tudo o que se passou em Petrogrado repetiu-se, quase exatamente, com intensidade maior ou menor e a intervalos mais curtos ou mais longos, em toda a Rússia. 2 Antiga São Petersburgo, hoje Leningrado. (N. do E.) Neste volume, o primeiro de uma série que estou escrevendo, sou forçado a limitar-me a uma crônica dos acontecimentos de que fui testemunha, e nos quais me envolvi pessoalmente, ou que conheci de fontes seguras. O relato propriamente dito é precedido de dois capítulos que traçam rapidamente as origens e as causas da Revolução de Outubro. Sei perfeitamente que esses dois capítulos são de leitura difícil, mas são essenciais para a compreensão dos que se lhes seguem. Numerosas questões ocorrerão ao espírito do leitor. O que é bolchevismo? Em que consiste a forma de governo criada pelos bolcheviques? Uma vez que os bolcheviques lutaram por uma assembléia constituinte antes da Revolução de Outubro, por que a dissolveram em seguida, pela força? E por que a burguesia, hostil à Assembléia Constituinte até o aparecimento do perigo bolchevique, resolveu assumir a defesa dessa mesma assembléia? Essas questões não poderão ser respondidas aqui. Em outro volume, De Kornilov a Brest-Litovsk, onde relato os acontecimentos até a paz com a Alemanha inclusive, descrevo a origem e o papel das diferentes organizações revolucionárias, a evolução do sentimento popular, a dissolução da Assembléia Constituinte, a estrutura do Estado soviético, o desenvolvimento e a conclusão das negociações de Brest-Litovsk 3. 3 Em Brest-Litovsk foi assinada a paz com a Alemanha, em 1918. (N. do E.) Abordando o estudo da sublevação bolchevique, é preciso ter em conta que não foi em 25 de outubro (7 de novembro) de 1917, mas muito antes, que se operou a desorganização da vida econômica e do Exército russos, final lógico de um processo que remonta ao ano de 1915. Os reacionários desprovidos de escrúpulos, que dominavam a corte do czar, haviam decidido deliberadamente a ruína da Rússia, a fim de poderem concluir uma paz em separado com a Alemanha. A falta de armas nas frentes, que teve como conseqüência a grande retirada do verão de 1915, a falta de víveres nos exércitos e nas grandes cidades, a paralisação da produção e dos transportes em 1916, tudo fazia parte de um plano gigantesco de sabotagem que a Revolução de Março 1, no seu justo tempo, impediu fosse executado até o fim. 1 Segundo o calendário juliano, Revolução de Fevereiro. (N. do E.) Durante os primeiros meses do novo regime, com efeito, não obstante a confusão que se segue a um grande movimento revolucionário como este, que acabava de libertar um povo de cento e sessenta milhões de almas, o mais oprimido do mundo, a situação interior e a força combativa dos exércitos melhoraram sensivelmente. Mas essa "lua-de-mel" teve curta duração. As classes dominantes pretendiam uma revolução unicamente política que, tirando o poder do czar, o passasse às suas mãos. Queriam fazer na Rússia uma revolução constitucional, segundo o modelo da França ou dos Estados Unidos, ou então uma monarquia constitucional como a da Inglaterra. Ora, as massas populares queriam, porém, uma verdadeira democracia operária e camponesa. William English Walling, no seu livro A mensagem da Rússia, consagrado à Revolução de 1905, descreve perfeitamente o estado de espírito dos trabalhadores russos, cuja quase unanimidade apoiaria, mais tarde, o bolchevismo: "Os trabalhadores compreendiam perfeitamente que, mesmo sob um governo liberal, corriam o risco de continuar a correr de fome, se o poder ainda permanecesse nas mãos de outras classes sociais. "O operário russo era revolucionário, mas não violento, nem dogmático, nem pouco inteligente. Mas, como estava pronto para o combate de barricadas, estudou-lhe as regras e, caso único entre os operários do mundo inteiro, foi na prática que ele as aprendeu. Estava disposto a levar até o fim a luta contra seu opressor, a classe capitalista. Não ignorava que existem ainda outras classes, mas exigia que elas tomassem parte, francamente, no conflito encarniçado que se aproximava. "Os trabalhadores russos reconheciam que as instituições políticas norte-americanas eram preferíveis às deles, mas não queriam trocar um despotismo por outro (o da classe capitalista)... "Se os operários da Rússia fizeram-se matar e foram executados às centenas, em Moscou, em Riga, em Odessa, se foram presos, aos milhares, nas cadeias russas, ou exilados para os desertos ou para as regiões árticas, não foi para obterem os duvidosos privilégios dos operários de Goldfields e de Cripple-Greek... "Foi assim que se desenvolveu na Rússia, em pleno curso de uma guerra exterior, depois da revolução política, a revolução social que fez triunfar o bolchevismo." O Sr. A. J. Sack, diretor do Escritório de Informações Russas nos Estados Unidos e adversário do governo soviético, exprimiu-se da seguinte maneira, no seu livro O nascimento da democracia russa: "Os bolcheviques constituíram um gabinete, tendo Lênin como presidente do Conselho e Trotski como ministro dos Negócios Exteriores. Logo depois da Revolução de Março, sua subida ao poder parecia inevitável. A história dos bolcheviques depois da revolução é a história de sua ascensão constante... "Os estrangeiros, os norte-americanos em particular, insistem freqüentemente em falar na ignorância dos trabalhadores russos. É exato que eles não possuíam a experiência política dos povos ocidentais, mas também é fato que eles estavam perfeitamente preparados, no que concerne à organização das massas. Em 1917, as cooperativas de consumo contavam mais de doze milhões de adeptos. "O próprio sistema dos sovietes é um admirável exemplo de seu gênio organizador. Por outro lado, não há, provavelmente outro povo, neste mundo, tão familiarizado com a teoria dó socialismo e com a sua aplicação prática." William English Walling escreveu a esse respeito: "Os trabalhadores russos, na sua maioria, sabem ler e escrever. A situação extremamente confusa em que se encontrava o país durante anos fez com que eles tivessem a vantagem de ter como guias não somente os mais inteligentes entre eles, como também uma grande parte da classe culta, igualmente revolucionária, que lhes legou seu ideal de regeneração política e social da Rússia..." Numerosos autores justificaram sua hostilidade para com o governo soviético sob o pretexto de que a última fase da revolução não foi mais do que uma luta de defesa dos elementos policiais da sociedade, contra a brutalidade dos ataques bolcheviques. Ora, foram exatamente esses elementos, as classes possuidoras, que, vendo aumentar a força das organizações revolucionárias das massas, pretenderam destruí-las a qualquer custo, para deter a revolução. Para conseguir seus objetivos, essas classes lançaram mão de recursos desesperados. Para derrubar o Ministério Kerenski e destruir os sovietes, elas desorganizaram os transportes e provocaram confusões internas; para destruir os comitês de operários, fecharam as fábricas, fizeram desaparecer combustíveis e matérias-primas; para destruir os comitês do Exército, restabeleceram a pena de morte e tentaram provocar a derrota militar. Isso era, evidentemente, lançar lenha ao fogo bolchevique. Os bolcheviques responderam aguçando a luta de classes e proclamando a supremacia dos sovietes. Entre esses dois extremos, mais ou menos francamente apoiados por grupos diversos, encontravam-se os socialistas chamados "moderados", compreendendo os mencheviques, os % socialistas revolucionários e algumas outras facções de menor importância. Todos esses partidos estavam igualmente expostos aos ataques das classes possuidoras, mas sua força de resistência era quebrada pelas suas próprias teorias. Os mencheviques e os socialistas revolucionários afirmavam que a Rússia não estava preparada para a revolução social e que só uma revolução política era possível. Segundo eles, as massas russas não tinham suficiente educação para a tomada do poder; qualquer tentativa nesse sentido só poderia provocar uma reação a favor de um aventureiro sem escrúpulos, que poderia restaurar o velho regime. Por conseguinte, quando os socialistas "moderados" foram obrigados, por circunstâncias especiais, a tomar o poder, não ousaram exercê-lo. Acreditavam que a Rússia deveria atravessar, por sua própria conta, as mesmas etapas políticas e econômicas da Europa ocidental, para poder chegar, enfim, ao mesmo tempo que o resto do mundo, ao paraíso socialista. Dessa forma, estavam de acordo com as classes possuidoras no que dizia respeito a fazer da Rússia, antes de tudo, um Estado parlamentar — um pouco mais aperfeiçoado, em todo o caso, do que as democracias ocidentais — e, em conseqüência, insistiram na participação das classes possuidoras no governo. Daí a desenvolver uma política de apoio era um passo. Os socialistas "moderados" tinham necessidade da burguesia; mas a burguesia não tinha necessidade dos socialistas "moderados". Os ministros socialistas foram obrigados a ceder, pouco a pouco, a totalidade do seu programa, à medida que as classes possuidoras exerciam pressão. E, finalmente, quando os bolcheviques derrubaram todo esse edifício de compromissos, os mencheviques e os socialistas revolucionários se encontraram lutando ao lado das classes possuidoras. É mais ou menos isso que vemos acontecer de novo, hoje, em todos os países do mundo. Longe de constituírem uma força destruidora, parece-me que os bolcheviques foram, na Rússia, o único partido a possuir um programa construtivo e os únicos que se tornaram capazes de impor esse programa ao país. Se eles não tivessem triunfado no momento exato, não tenho a menor dúvida de que os exércitos da Alemanha imperial entrariam em Petrogrado e em Moscou, em dezembro, e hoje um czar cavalgaria novamente a Rússia. Hoje ainda é moda, após um ano de existência do novo regime, falar da Revolução bolchevique como de uma "aventura". Muito bem, se for uma aventura, trata-se de uma das mais* maravilhosas em que já se empenhou a humanidade, aquela que abriu às massas laboriosas o campo da história, fazendo com que hoje tudo dependa de suas vastas e naturais aspirações! Mas lembremo-nos de que desde antes de novembro o poder já havia sido tomado e que, por meio dele, as terras dos grandes proprietários puderam ser distribuídas aos camponeses; que os comitês de fábrica e os sindicatos estavam organizados e iriam realizar o controle operário da indústria; que cada cidade, cada vila, cada distrito, cada província, possuía seu soviete de deputados operários, soldados e camponeses, pronto para assegurar a administração local. Qualquer que seja a nossa opinião a respeito do bolchevismo, é inegável que a Revolução Russa foi um dos grandes acontecimentos da história da humanidade e que a subida ao poder dos bolcheviques é um fato de importância mundial. Da mesma forma que os historiadores se ocupam em reconstituir, nos seus mínimos pormenores, a história da Comuna de Paris, assim também eles desejarão conhecer o que se passou em Petrogrado, em novembro de 1917, qual era o estado de espírito do povo, a fisionomia dos seus chefes, suas palavras, seus atos. Foi pensando neles que escrevi este livro. No curso da luta, minhas simpatias não eram neutras. Mas, ao traçar a história desses grandes dias, quis considerar os acontecimentos como cronista consciencioso, esforçando-me por fixar a verdade. NOVA YORK, 1.° DE JANEIRO DE 1919

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