,-1 ARMANDO MANGO r OS BRAMES DA GUINÉ-BISSAU (SÉCULOS XVIII-XX) IDSTÓRIA E ANTROPOLOGIA . , . . .:. PORTO 2001 j ARMANDO MANGO OS BRAMES DA GUINÉ-BISSAU (SÉCULOS XVIII-XX) HISTÓRIA E ANTROPOLOGIA UNIVERSIDADE DO PORTO Faculdade de Letras N.2 812\\0i3~A Data 20.QL__;:QEL:ló: Dissertação de l\'Iestrado em Estudos Africanos apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto PORTO 2001 À Mãe Cecília Ao Pai Fernando Agradecimentos Muito embora se tenha realizado este trabalho a título individual, ele contou com indispensáveis apoios de diversas pessoas e instituições que, desta feita, tornaram possível a sua concretização. A todas quero manifestar o meu reconhecimento, visto que se não fossem os inúmeros contributos e estímulos recebidos ao longo de todo o proces so, não teria atingido o objectivo principal de abordagem da realidade que propus estu dar. Não posso, pois, deixar de expressar um agradecimento muito especial ás pessoas que deram um apoio mais próximo e intenso. À Doutora Elvira Mea estou reconhecido pelas orientações dadas, bem co mo pela amabilidade e disponibilidade com que sempre me recebeu. Ao Dr. Maciel Morais Santos, exprimo a minha profunda gratidão pela hon ra que me deu de dirigir esta tese desde os seus primeiro passos, assim como o incondi cional apoio para a realização de trabalho de campo e tratamento de dados de investiga ção, levantamento dos dados bibliográficos, etc.. Se não fossem os seus conselhos, os seus encorajamentos generosos em momentos dificeis, e as suas orientações, este traba lho não poderia ser concluído. Um obrigado muito especial para os meus informantes e entrevistados que, apesar do clima político vivido na altura, disponibilizaram os seus tempos para assim compartilharem os seus conhecimentos e experiências. Estendo ainda os agradecimentos a pessoas muito especiais, Silva Mango, Domingos da Fonseca, Pedro Caetano (Régulo de Có) , Manguine. Espero que encontrem os seus relatos expressos neste trabalho. 3 Quero ainda agradecer à Comissão Nacional dos Descobrimentos Portugue ses (C.N.D.P.) pela atribuição da Bolsa de Estudos com vista à materialização do traba lho em causa. Gostaria de explicitar o meu agradecimento a todos os professores envolvi dos na vertente curricular do Mestrado, pelos conhecimentos ministrados que me pro porcionaram efectuar todo um cruzamento do quadro teórico com a realidade da Guiné -Bissau. Agradeço também aos professores que ofereceram a sua inesgotável colabo ração no quadro teórico da investigação. De destacar a ajuda dada pelos Doutores Inês Amorim, Amélia Polónia, Jorge Ribeiro e João Carlos Garcia. Um agradecimento extensivo à Direcção da Faculdade de Letras da Univer sidade do Porto e ao seu Centro de Estudos Africanos, a todos os funcionários pelo ca loroso acolhimento que me concederam e que, de certa maneira, contribuíram para os re sultados hoje evidenciados. À Reitoria da Universidade do Porto, na pessoa do Doutor Nuno Grande, pelo contributo dado. Aos Serviços de Acção Social da Universidade do Porto, na pessoa do Eng. Neves Bouças. Aos meus primos, amigos e colegas: Orlando Santos Costa, Basílio J. dos Santos Mendonça, Gabriel Mendonça, Duarte Bassanguê, Pedro Alfredo Dias, Rosalina Cunha, Jordão J. Imbundé, Faustino Mango, Patrão Sanca, Eng. Avelino Tavares, Luís Sanca, Augusto António, Germano Silva, Adão Djata e Eng. Henrique Cabral. E, para finalizar, solicito ainda que me seja permitido também, neste caso, que os últimos sejam os primeiros. Acima de tudo, devo a mais profunda gratidão ao Dr. Luís Carlos Amaral, à Dtt. Helena Osswald e ao Francisco Amaral, bem como à Maria Laura Amaral. Desejo também agradecer a minha família, sobretudo a meus pais e a minhas irmãs, e a Humbelina W. Costa Lopes Rodrigues e Quedmil Quintino Fângio Salvador. 4 INTRODUÇÃO IDENTIFICAÇÃO DO OBJECTO E METODOLOGIA 5 1. Identificação do objecto Este trabalho realizado na perspectiva lústórica antropológica pretende aproximar as duas ciências, na sequência do desiderato enunciado aliás por muitos estu diosos. Todavia, a razão principal desta minha investigação nestes campos tem a ver com a própria natureza do que é uma aprendizagem no domínio científico. Trata-se de com preender, de modo global, a sociedade e a lústória daqueles que chegaram ao território hoje denominada Guiné, mais particularmente daqueles que habitam as zonas de Cachéu, (Brames/Mancanha, Manjacos e Papéis, etc.) e que aí são considerados "donos do chão". Com estas reflexões e neste contexto, sem dúvida procuro especificar a rea lidade Brames, uma etnia cujo centro lústórico é a região de Cachéu, na margem do mes mo rio e do rio S. Domingos. Julgo que não será comprometer-me demasiado com a adjectivação se acrescentar que se trata de um povo decerto muito especial, que apesar de uma longa exposição a muitos contactos culturais, mantém ainda características cultu rais próprias. É da importância desta cultura dos Brames/Mancanha, certamente grandio sa, que pretendemos retirar o nosso objecto de estudo, cuja especificidade é a única justi ficação para esta investigação. Apesar das tentativas de assimilação que os portugueses e outras etnias lhes impuseram, tiveram capacidade para resistir à destruição dos seus valo- res. Este estudo tem uma carga de subjectividade evidente dada a proxi.midade do sujeito com o seu objecto. Nesta perspectiva seria óptimo comprovar que a com preensão que o indígena tem do seu valor, reflecte mais a sua realidade do que a do exte rior, isto é, a do ocidental perante a sua realidade. No universo animista o membro da so ciedade mantém uma relação consigo mesmo mas que é sempre estendida a tudo o que o rodeia. Por isso, pode-se considerar que na sociedade mancanha o homem não só perten- 6 ce ao mundo à sua volta mas também pertence ao mundo cósmico. Esta realidade é vivi da, sentida, e interpretada de uma forma não funcional com a natureza, por vezes dificil de compatibilizar com a de uma cultura escrita. Para a sociedade mancanha, a sua tradi ção testemunha as gerações antecedentes, impulsionadas e dirigidas pelos seus mitos, festas religiosas, etc .. Em alguns desses rituais, o de p 'netcha e não só, os valores são expressos ao seu nível mais profundo. Partindo deste pressuposto, tomou-se necessário desenvolver um quadro conceptual através do qual tentei retirar as minhas conclusões, dentro de um universo teórico dificilmente redutível a denominadores comuns a outras realidades culturais. Evi dentemente que, ao congregar estes· pilares, julgo que o povo Brames pertence a uma cultura distinta, com uma mentalidade e cosmovisão própria. É nesta circunstância que julgo também que estudar o povo Brames é estudar a sua região visto que, de certa ma neira, esta se toma uma das chaves para a compreensão dele. Quando se fala de cultura distinta, quero com isto dizer que é uma sociedade única que em seu desenvolvimento vai superando etapas numa escala progressiva. Como já referi, a etnia Brames não se po deria tornar o centro do meu estudo se nada nos oferecesse de específico sob o ponto de vista cultural. Em função dos objectivos propostos e da coerência argumentativa, a exposi ção que se segue apresenta duas partes estruturais: a primeira pretende situar historica mente a população enquanto a segunda a pretende caracterizar estruturalmente. Na primeira parte deste trabalho farei ou tentarei delimitar uma perspectiva de abordagem de contextos geo-históricos. Tento associar interdisciplinarmente as pro blemáticas antropológicas na sua verdadeira perspectiva - a histórica. Trata-se de po tenciar uma associação que não só tem fundamentos teóricos globais, uma vez que as duas ciências evidenciadas constituem também maneiras de pensar as ciências sociais e humanas, como de aproveitar ao máximo as ciências da relatividade cultural. Na segunda tentarei a adaptação de metodologias consagradas a um objecto cuja especificidade pen so ter demonstrado, de modo a evidenciar o carácter totalizante dessa especificidade. Neste âmbito, permito-me reivindicar, ao longo desta caracterização, uma grande liber dade na aplicação de fontes de naturezas diversas e na sua articulação numa arquitectura viável e apelativa, se possível. Assim, o estudo desta sociedade só ganha sentido dentro 7 da ideia de que diferentes manifestações culturais se desenvolvem em formas diversas, respeitando as condições sociais e culturais dominantes de cada povo. Esta ideia foi de fendida por Mauss, Lévi-Strauss eLe Breton, entre outros, e este trabalho insere-se nes ta perspectiva. Na medida em que estamos hoje perante um processo de globalização que tende a transformar diversas coisas numa só, dizimando claramente as suas diferenças e implementando a homogeneidade, devemos tratar a diversidade das culturas e evidenciar o mais possível a sua irredutibilidade a um único comportamento. 8
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