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Os Anormais : curso no Collège de France, 1974-1975 PDF

247 Pages·2001·10.496 MB·Portuguese
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Michel Foucault Os anormais Curso no Collegede France (1974-1975) Edi,aoestabelecidasobadire,aode Fran,oisEwaldeAlessandroFontana, par ValerioMarchettieAntonellaSalomoni TradUl;:ao EDUARDOBRANDAo Martins Fontes sao Paulo 200I EsraobrafoipublieDdoor(~inolmemeemfranehcom0lirulo LESANORMAUXparEdilionsduSeuil.Pari.l. CoP)"rillht©Seui/IGallimord.2001. CopyriKhl©2001.Lil'roriaMartinsFome.1EditoraLtdo.• SUMARlO SuoPoulo.paraapresemeedi<;uo. I'edi~iio junhode2001 Tradu~iio EDUARDOBRANDAO Revisiiotecnica Maur;cioPagoltoMarsala RevisiiogrMica b'l!leBarisiadosSantos RenorodaRoehaCados Produ~iiografica Gera/doAh'es Pagin~iioJFotolitos Sradio3Desefl\'o/"imeflloEdiroriol Advertencia. XI DadosInternacionaisdeCa~naPubl~o(CIP) (camaraBrasileiradoLivro,SP,Brasil) Curso, ano 1974-1975 Foucault,Michel,1926-1984. O~anonnais:cursonoColl~gedeFrance(1974-1975)IMichel Foucaul!:Iradu~iioEduardoBrandiio.- SaoPaulo:Martin,Fon Aulade 8dejaneiro de 1975 . 3 leS.2001.- (Cole~iio16picos) Os examespsiquiatricosemmateriapenal.- A que Trtulooriginal:Lesanonnaux. genero de discurso eIes pertencem? - Discursos "Edir;iioestabelecidasobadire~iiodeFranr;oisEwaldeAlessan droFontana.perValerioMarchenicAnlonellaSalomoni" de verdade e discursos que fazem rir. - A prova ISBN85-336-1429-2 legal no direito penal do seculo XVIII. - Os refor I.Oesajustamentosocial2.Foucault.Michel.1926-1984-Con madores. - 0 principio da convic91io intima. - As Iribuir;iiesemcicnciassociais3.Foucault. Michel, 1926-1984 Ponto,devistasobredireito4.P'icologiaeliteralUra5.Psiquiatria circunstancias atenuantes. - A rela91io entre ver -Hisl6riaLTitulo.II.Serie. dade ejusti9a.- 0 grotesconamecfmicadopoder. 01-2179 COO-616.89 - 0 duplopsicol6gico-moraldo delito. - 0 exame indicesparacatAlogosisternatiw: mostra como 0 individuo ja se assemelhava a seu 1.Anonnalidadcs:Psicologia:Medicina 6\6.89 2.PsicologiadoanonnaJ:Medicina 616.89 crime antes de 0 ter cometido. - A emergenciado poderdenormaliza91io. Todososdireifosdesfaedi~'iiopara0Brasilresen'adosit LivrariaMartinsFontesEditoraLtda. Aulade 15dejaneiro de 1975 . 39 RuaConselheiroRamalho,3301340 01325-000 SiloPaulo SP Brasil Tel.(11)239.3677 Fax(11)3105,6867 Loucura e crime. - Perversidade e puerilidade. e-mail:[email protected] hlfp:/lwww.martinsfontes.com.br - 0 individuo perigoso. - 0 perito psiquiatra s6 pode ser 0 personagem Ubu. - 0 nivel epistemo Aulade5defevereirode 1975 137 16gico da psiquiatria e sua regressao no exame No pais dos bichos-pap5es. - Passagem do mons- medico-legal. - Fim do conflito entre poder me tro ao anormal. - Os tres grandes monstros fun dico e poder judiciario. - Exame e anormais. dadores da psiquiatria criminal. - Poder medico e Critica da no,ao de repressao. - Exclusao do le poder judiciario em torno da no,ao de ausencia proso e inclusao do pestifero. - Inven,ao das tec de interesse. - A institucionaliza,ao da psiquiatria nologias positivas do poder. - 0 normal e 0 pato como ramo especializadoda higiene publicae do 16gico. minio particular da prote,ao social. - Codifica- ,aoda loucura como perigo social.- 0 crime sem Aulade 22dejaneirode 1975..................................... 69 razao e as provas de entroniza,ao da psiquiatria. As tres figuras que constituem 0 dominio da ano - 0 casoHenrietteCornier.- A descobertados ins malia: 0 monstro humano; 0 individuo a sercorri- tintos. gido; a crian,a masturbadora. - 0 monstro sexual faz 0 individuomonstruosoe 0 desviante sexualse Aulade 12defevereirode 1975 173 o comunicarem. - Inversao da importiincia hist6rica instintocomogabaritode inteligibilidadedocri- dessastres figuras. - A no,aojuridicademonstro. me sem interesseenaopunivel. - Extensao do sa- - A embriologia sagrada e a teoriajuridico-bioI6- ber e do poder psiquiatricos a partir da proble gica do monstro. - Os irmaos siameses.- Os her matiza,ao do instinto. - A lei de 1838 e 0 papel rnafh>ditas: casosmenores.- 0 casoMarie Lemar- reclamado pela psiquiatria na seguran,a publica. cis.- 0 casoAnne Grandjean. - Psiquiatriaeregula,ao administrativa, demanda familiar de psiquiatria, constitui,ao de um discri Aulade 29dejaneiro de 1975 !OI minante psiquiatrico-politico entre os individuos. o monstro moral. - 0 crime no direito classico. - 0 eixo do voluntario e do involuntario, do ins tintivoedoautomatico. - Afragmenta,ao do cam- - Asgrandescenas de suplicio.- Atransforma,ao posintomatol6gico.- A psiquiatriase torna cien- dos mecanismos de poder. - Desaparecimento da ciaetecnicadosanormais. - 0 anormal: urngran- dispensa ritual do poder de punir. - Da natureza de dominiode ingerencia. pato16gicadacriminalidade.- 0 monstro politico. - 0 casal monstruoso: Luis XVI e Maria Anto Aulade 19defevereirode 1975 211 nieta. - 0 monstro na literaturajacobina (0 tira- Ocampo da anomalia e atravessado pelo proble- no) e antijacobina (0 povo revoltado). - Incesto e ma da sexualidade. - Os antigos rituais cristaos antropofagia. da revela,ao. - Da confissao tarifada ao sacra mento da penitencia. - Desenvolvimento da pas toral. - A "Pratica do sacramento de penitencia" de Louis Habert e as "Instru~oes aos confes pelo adulto: a culpa vern do exterior. - Umanova a sores" de Carlos Borromeu. - Da confissao organiza~ao do espa~o e do controle familiares: dire~ao de consciencia. - 0 duplo filtro discursi elimina~ao dos intermediarios e aplica~ao direta vo da vida na confissao. - A confissao depois do do corpo dos pais ao corpo dos filhos. - A involu concilio de Trento. - 0 sexto mandamento: os ~ao cultural da familia. - A medicaliza~ao danova modelos de interrogat6rio de Pierre Milhard e de familia eaconfissao da crian~a ao medico, herdei Louis Habert. - Aparecimento do corpo deprazer ro das tecnicas cristas da confissao. - A persegui e de desejo no amago das praticas penitenciais e ~ao medica da inf"ancia pelos meios de conten~ao espirituais. da masturba~ao. - A constitui~ao da familia celu lar, que se encarregado corpo edavidadacrian~a. Aulade 26defevereirode 1975 255 - Educa~aonaturaleeduca~ao estatal. Urn novo procedimento de exame: desqualifi ca~ao do corpo como carne e culpabiliza~ao do Aulade 12de mar,o de 1975 335 corpopelacarne.- Adire~aodeconsciencia,0 de o que torna aceilivel afamilia burguesa a teoria senvolvimento do misticismo cat6lico e 0 feno- psicanaliticado incesto (0 perigo verndo desejo da meno da possessao. - Distin~ao entre possessao crian~a). - A normaliza~ao do proletariado urbano e feiti~aria. - A possessao de Loudun. - A con e a reparti~ao 6tima da familia operiria (0 perigo vulsao como forma plastica e visivel do combate verndopaiedosirmaos).- Duasteoriasdoincesto. no corpo da possessa. - 0 problema do(a)s pos - Osantecedentesdoanormal: engrenagempsiquia sesso(a)s e de suas convulsoes nao esta inscrito trico-judiciiria e engrenagem psiquiatrico-familiar. na hist6ria da doen~a. - Os anticonvulsivos: mo - Aproblematicadasexualidadeeaanalisedesuas dula~ao estilistica da confissao e da dire~ao de irregularidades.- Ateoriagemeadoinstintoedase consciencia; apelo amedicina; recurso aos sis xualidade como tarefa epistemol6gico-politica da temas disciplinares e educativos do seculo XVII. psiquiatria. - Nas origens da psicopatologiasexual - Aconvulsao como modeloneurol6gico dadoen- (Heinrich Kaan). - Etiologia das loucuras a partir ~amental. da hist6riado instinto e da imagina~ao sexual. - 0 casodosoldadoBertrand. Aulade5de mar,ode 1975 293 o problema da masturba~ao, entre discurso cris- Aulade 19de mar,o de 1975 371 tao da carne e psicopatologia sexual. - As tres Uma figura mista: 0 monstro, 0 masturbador e 0 formas de somatiza~ao da masturba~ao. - A in inassimilil.vel ao sistema normativo da educa~ao. !ancia incriminada de responsabilidade patol6- - 0 caso Charles Jouy euma familia conectadaao gica. - A masturba~ao pre-pubere e a sedu~ao novo sistemade controle e de poder. - A in!ancia como condi9iiohist6ricadageneraliza9iiodo saber ADVERTENCIA edopoderpsiquiittricos.- A psiquiatriza9iiodain fantilidade eaconstitui9iiodeurnacienciadascon dutas normais e anormais. - As grandes constru 90es te6ricas da psiquiatria da segunda metade do seculo XIX. - Psiquiatria e racismo; psiquiatria e defesasocial. Resumo do curso . 411 ~ituar;aodo cu~so : . 421 Indice das nor;oes econceztos .. 457 lndice onomastico . 471 Michel Foucaultensinou no CollegedeFrancedejanei ro de 1971 ate a suamorteemjunhode 1984- com exce9iio doanode 1977,emquedesfrutoudeurnanasabittico.0 titu lodasuacittedraera: Historia dossistemasdepensamento. Essa cittedrafoi criadaem 30de novembro de 1969, por propostade Jules Vuillemin, pelaassembleiageraldosprofes soresdoCollegede Franceemsubstitui9iioIicittedrade hist6 ria do pensamento filosOfico, que Jean Hyppolite ocupou ate suamorte.AmesmaassembleiaelegeuMichelFoucault,nodia 12deabrilde 1970,titulardanovacittedral.Eletinha43 anos. Michel Foucault pronunciou a aula inaugural no dia 2 de dezembro de 1970'. 1.Michel Foucaultencerrou0 opusculoqueredigiuparasuacandi datura com aseguinte formula: "Serianecessaria empreenderahist6ria dossistemasdepensamento"("Titresettravaux",emDitsetecrits, 1954. 1988,ed.porD. Defert& F. Ewald,colab.1.Lagrange,Paris,Gallimard, 1994,vol. I,p. 846). 2. Ela sera publicada pelas Editions Gallimard em maio de 1971 com0 titulo: L'ordredudiscours. [Trad. bras.Aordemdodiscurso, Sao Paulo: Loyola, 1997.J !'----_.._- XII OSANORMAIS ADVERTENClA XIII o ensino no College de France obedece a regras parti alguem que pula na agua, tem depassarporcima de varios culares. Os professores tem a obriga~ao de dar 26 horas de corpos para chegar a sua cadeira, afasta os gravadores para aula por ano (metade das quais, no maximo, pode serdada pousarseus papeis, tira 0 paleto, acende urn abajur earran na forma de seminarios)3 Elesdevemexporacadaanouma ca, a cem por hora. Voz forte, eficaz, transportadaporalto pesquisa original, 0 que os obriga a sempre renovar 0 con falantes unica concessao ao modernismo de urna sala mal teudo do seuensino. A freqiiencia as aulas eaos seminarios iluminada pela luz que se eleva de umas bacias de estuque. einteiramente livre, naa requer inscri'tao nem nenhum di Hatrezentos lugares equinhentas pessoas aglutinadas, ocu ploma. E0 professortambemnao fomece certificadoalgum4 pando todo e qualquerespa<;o livre [...] Nenhum efeito ora No vocabulilrio do Collegede France, diz-se que os profes torio. Elimpido e terrivelmente eficaz. Nao faz a menor soresnaa tern alunos, mas ouvintes. concessao ao improviso. Foucault tern doze horas por ano o cursodeMichelFoucaulteradadotodasasquartas-fei para explicar, num curso publico, 0 sentido da suapesquisa ras, do come~o dejaneiro ate 0 fim de mar~o. A assistencia, durante 0 ano que acabade passaro Entiio, compacta 0 malS nurnerosissima, composta de estudantes, professores, pesqui que pode e enche as margens como esses missivistas que sadores, curiosos, muitos deles estrangeiros, mobilizava dois ainda tem muito a dizer quando chegam ao fim da folha. anfiteatrosdoCollegedeFrance. MichelFoucaultqueixou-se 19h15. Foucault para. Os estudantes seprecipitam para sua repetidas vezes da distfulcia que podia haver entre ele e seu mesa. Nao e parafalar com ele, mas para desligaros grava "publico"edopoucointercilrnbioqueaformadocursopossi dores. Nao ha perguntas. Na confusao, Foucault esta so." E bilitava5.Elesonhavacomurnseminarioqueservissedeespa Foucaultcomenta: "Seriaborn poder discutir 0 que propus. ~oparaurnverdadeirotrabalhocoletivo. Fezvariastentativas As vezes, quando a aula nao foi boa, pouca coisa bastaria, nessesentido.NosU1timos anos,nofim daaula, dedicavaurn uma pergunta, paraportudo no devido lugar. Mas essaper bommomentopararesponderasperguntas dos ouvintes. guntanuncavem. De fato, na Fran<;a, 0 efeito de grupo tor naqualquerdiscussaoreal impossive!. E,comonaohacanal Eis como, em 1975, urnjornalistadoNouvel Observa de retorno, 0 curso se teatraliza. Eu tenho com as pessoas leur, Gerard Petitjean, transcrevia a atmosfera reinante: que estao aqui umare1a<;ao de atorou de acrobata. E, quan "Quando Foucault entra na arena, rapido, decidido, como doacabo de falar, urna sensa<;aode total solidao..."6 Michel Foucaultabordava seuensinocomoumpesqui sador: explora<;oes para um livro por vir, desbravamento 3.Foi0 queMichelFoucaultfezate0 iniciodosanos 1980. tambem decamposdeproblematiza<;ao,que se formulavam 4.NoambitodoCollegedeFrance. muito mais como um convite lan<;ado a eventuais pesquisa 5.Em 1976,na(va)esperanl;adereduziraassistencia,MichelFou caultmudou0honiriodocurso,quepassollde 17h45paraas9damanha. dores. Assim os cursos do College de France nao repetem cr.0 inleiodaprimeiraaula(7dejaneirode 1976)de"II/autdejendrefa societe". Coursau CollegedeFrance, 1976,ed. sobadir.deF.Ewald& A. Fontana por M. Bertani & A. Fontana, Paris, GallimardiSeuil, 1997. 6. GerardPetitjean,"LesGrands PretresdeI'universite fran~aise", [Trad.bras.Emdefesadasociedade. SaoPaulo: MartinsFontes, 1999.1 LeNouvelObservateur,7deabrilde 1975. XV ADVERTENCIA XIV OSANORMAIS Estaedi9aotomacomoreferenciaapalavrapronuncia oslivrospublicados.Naosao0esb090desseslivros, mesmo dapublicamenteporMichelFoucault. Elafornece atranscri secertostemaspodemsercomunsalivrosecursos.Elestern 9aOmais literal possivel'. Gostariamos de poderpublica:la seu estatuto pr6prio. Originam-se de urn regime discursivo tal qual. Mas a passagemdo oral ao escrito impoe uma m especifico no conjunto dos "atos filos6ficos" efetuadospor tervenr;ao do editor: enecessaria, no minimo, introduZlf MichelFoucault. Eledesenvolve ai, emparticular,0progra umapontua9aoedefinirpanigrafos.0 principiosemprefoi rna de uma genealogia das rela90es saber/poder em fun9ao o de ficar 0 mais pr6ximo possivel da aula efellvamente doqual, apartirdo iniciodos anos 1970,refletiniseutraba pronunciada. lho - em oposi9ao ao de uma arqueologia das forma90es Quando pareciaindispensavel, as repeti90es foram su discursivas, que ate entao dominara'. primidas; as frases interrompidas foram restabelecldas e as constru90es incorretas,retificadas. Oscursostambemtinhamumafun9ao naatualidade. 0 As reticencias assinalam que a grava9ao e inaudivel. ouvinte que assistia a eles nao ficava apenas cativado pelo Quando a frase e obscura,figura entre chaves uma integra relata que se construia semana ap6s semana; nao ficava 9aO conjunturalouurn acrescimo. apenas seduzidopelorigordaexposi9ao: tambem encontra Urn asterisco no rodape indica as variantes significati va ai uma luz para a atualidade. A arte de Michel Foucault vas das notas utilizadas por Michel Foucaultem rela9ao ao estavaem diagonalizara atualidadepela hist6ria. Ele podia que foi dito. falar de Nietzsche ou de Arist6teles, do exame psiquiatrico As cita90es foram verificadas e as referencias aos tex no seculo XIX ou da pastoral crista, mas 0 ouvinte sempre tos utilizados, indicadas. 0 aparato critico se limitaa eluci tirava do que ele dizia uma luz sobre 0 presente e sobre os daros pontos obscuros, aexplicitarcertasalusoes eapreci acontecimentos seus contemporaneos. A for9a pr6pria de saros pontos criticos. MichelFoucaultemseuscursosvinhadessesutilcruzamen Para facilitar a leitura, cada aula foi precedida porurn to de uma fina erudi9ao, de urn engajamento pessoal e de breve resumo que indicasuasprincipaisarticula90es•. urntrabalho sobre0acontecimento. o texto do curso e seguido do resumo publicado no • Annuairedu College deFrance. Michel Foucaultos redigia geralmente no mes dejunho, portanto pouco tempo depois Os anos 70conheceram0desenvolvimentoe0aperfei do fim do curso. Era portanto, para ele, uma oportunldade 90amentodos gravadoresdefita cassete- amesade Michel Foucaultlogo foi tomadaporeles. Oscursos(e certossemi narios) foram conservados gra9as a esses aparelhos. 8. Forammaisespecialmenteutilizadasasgravacoesrealizadaspor GerardBurleteJacquesLagrange,depositadasnoCoIlegedeFranceeno IMEC. 9. Nofimdovolume,0 leitorencontrani,expostosna"situacaode 7. Cf. Emparticular"Nietzsche,lagenealogie, I'histoire", emDits curso",oscriterioseassolucOesadotadaspeloseditoresparaesteanode elecrits,II,p. 137.[Trad. bras."Nietzsche,agenealogiaeahist6ria". In: curso. Microfisicadopoder.RiodeJaneiro:Graa1, 1997.] ~ .. , XVI OSANORMAIS I paraextrair,retrospectivamente,aintenry3.oeasobjetivosdo curso. Econstituemamelhorapresenta,iio das suas aulas. Cada volume termina com uma "situa,iio", de respon sabilidade do editor do curso. Trata-se de dar ao leitor ele Curso mentos de contexto de ordem biografica, ideo16gica e poli tica, situando 0 curso na obrapublicadae dando indica,oes Ano 1974-1975 relativas aseu lugarno ambito do corpusutilizado, a fim de facilitar sua compreensiio e evitar os contra-sensos que po deriam sedeverao esquecimentodas circunstanciasemque cadaurn dos cursos foi elaborado eministrado. • Com esta edi,iio dos cursos no College de France, urn novo aspecto da "obra"de Michel Foucaultepublicado. Niio se trata, propriamente,de inooitos,jaque esta edi ,iio reproduz a palavra proferida em publico por Michel Foucault,comexce,iio do suporteescritoqueeleutilizavae quepodiasermuito elaborado. Daniel Defert,quepossui as notas de Michel Foucault, permitiu que os editores as con sultassem.Aele nossos mais vivos agradecimentos. Estaedi,iio doscursosno CollegedeFrancefoi autori zadapelos herdeiros de Michel Foucault, que desejaram sa tisfazer Ii forte demanda de que eram objeto, na Fran,a comono exterior. Eissoem incontestaveiscondi,oes de se riedade. Os editores procuraram estarIialtura da confian,a queneles foi depositada. FRAN<;OISEWALD eALESSANDROFONTANA L ,f I AULA DE 8 DE JANEIRO DE 1975 as exames psiquiatricos em materia penal. - A que generadediscursoelespertencem?- Discursosdeverdadee discursosquefazem rir. - Aprovalegalnodireitopenaldo seculoXVIII. - asreformadores. - 0principiadaconviq:iio intima. - As circunstdncias atenuantes. - A relariio entre verdadeejustira. - 0 grotesco namecdnicadopader. - 0 duplopsicologico-moraldodelila.- 0 examemostracomo0 individuojaseassemelhavaaseucrimeantesde0lercome lido.- Aemergenciadopaderdenormalizariio. Gostaria de come,ar 0 curso deste ano lendo-lhes dois relat6rios de exame psiquiMrico em materia penal. Vou le los diretamente. 0 primeiro data de 1955, faz exatos vinte E anos. assinado porpelo menos urn dos grandes nomes da psiquiatriapenal daqueles anos e diz respeito a urn caso de E que talvez alguns de voces se lembrem. ahist6ria deuma mulhere de seu amante, que haviam assassinado a filhinha damulher. 0 homem, 0 amante damaeportanto, tinha sido acusado decumplicidadenohomicidioou,emtodo caso, de incita,aoaohomicidio dacrian,a; porquehavia ficado pro e vado que a mulher mesma que matara a filha com suas pr6prias maos. Eis portanto 0 exame psiqui<itrico que foi feita do homem, que you chamar, digamos, de A., porque e nunca consegui determinar ate que ponto licito publicar, mantendo os nomes, os examesmedico-legais'. "Os peritos se acham evidentemente numa sima,ao in comoda para exprimirseujuizopsicol6gico sobre A., dado quenaopodemtomarpartidosobreaculpamoraldeste. To davia, raciocinaremoscomahip6tesedequeA. teriaexerci l do sobre 0 espirito damulherL., de urnamaneiraou de ou- L I 4 OSANORMAIS AULADE8DEJANEIRODE1975 5 tra, urna influencia que teria levado esta ao assassinato de que ele resistiu it influencia militar. Ele mesmo dizia que a sua filha. Nessa hipotese, portanto, eis como nos represen passagempor Saint-Cyr* formava 0 carater. Ao que parece, tariamos ascoisase os atores. A. pertenceaurnmeioPOllCD porem, afardanaonormalizoumuitoaatitude deAlgarron6. homogeneoesocialmentemal estabelecido. Filho ilegitimo, Alias, ele eslavasempre ansiosoporsairdo quartel ecairna foi criadopelamae eso bernmaistarde 0pai 0reconheceu; farra. OutracaracteristicapsicologicadeA. [portanto, alem ganhou entao meios-irmaos, mas sem que uma verdadeira dobovarismo, doerostratismoedoalcebiadismo- M.E] e0 coesao familiar pudesse se estabelecer. Tanto mais que, donjuanism07 Ele passava literalmente todas as suas horas morrendo0pai, viu-se sozinho comamae,mulherde situa de liberdade colecionando amantes, em geral faceis como ,ao duvidosa. Apesar de tudo, cobraram-lhe que fizesse 0 L. Depois, porumaverdadeira falta de gosto, ele lhes dizia secundario, e suas origens devem ter pesado urn pouco em coisasque, emgeral,pelainstru,aoprimariadelas, eramin seu orgulho natural. as seres da sua especie nunca se sen capazes de compreender. Ele se compraziaem desenvolver tern muito bern assimilados ao mundo a que chegaram; diante delas paradoxos 'henaurmes', segundo a grafia de donde 0 culto do paradoxa e de tudo 0 que cria desordem. Flaubert** que algumas ouviam boquiabertas, outras sem Nurn ambiente de ideias urn tanto quanta revoluciomlrias, prestaraten,ao. Domesmomodo queumaculturademasia [Iembro-lhes que estamos em 1955 - M.E] eles se sentem dopreecceparaseuestadomundanoeintelectualhaviaside menos desambientados do que num meio e numa filosofia poucofavoravelaA., amulherL.podeseguir-Iheospassos, regrados. Ea historia de todas as reformas intelectuais, de de modo ao mesmo tempo caricatural etragico. Trata-se de todos os cenaculos; e ahist6ria de Saint-Germain-des-Pres, urnnovo grauinferiorde bovarismo. Elaengoliuosparado do existencialismo',etc. Emtodososmovimentos,persona xos de A., que por assim dizer a intoxicaram. Parecia-lhe lidades verdadeiramente fortes podem emergir, principal que estava atingindo urnplano intelectual superior. A. fala mente se conservaram certo senso de adapta,ao. Elas tam vadanecessidade que urn casal tinhade fazerjuntos coisas bern podem alcan,ar a celebridade e fundar uma escola extraordinarias, para estabelecer entre si urn vinculo indis estavel. Mas muitos nao podem se erguer acima da medio solavel, porexemplo matarurn choferde taxi; liquidarurna cridade e procuram chamar a aten,ao com extravagancias crian,aso por liquidar ou para se provarem sua capacidade de vestmirio ou com atos extraordimirios. Encontramos ne de decisao. EamulherL. decidiumatarCatherine. Pelome les 0 alcebiadism03 e 0 erostratismo'. Claro que eles nao nos eessaatese dessamulher. SeA. nao aaceitacompleta cort!,mmais0 rabo do cachorronemateiamfogo no templo mente,tampoucoarejeitaintegralmente,pois admiteterde de Efeso, mas as vezes se deixam corromper pelo Odio a senvolvido diante dela, talvez de forma imprudente, os pa moral burguesa, a tal ponto que renegam suas leis e ate radoxos que ela, por ausencia de espirito critico, pode ter caemnocrimeparainflarsuapersonalidade, tantomaisque erigido emregra de a,ao. Assim, semtomarpartido sobre a essapersonalidadeeoriginalmentemais insignificante. Na realidade e 0 grau de culpa de A., podemos compreender0 turalmente, ha nisso tudo certa dose de bovarismo', desse poder,conferidoaohomem, deseconceberdiferentedoque e, sobretudo mais bonito emaior do que e. Foi por isso que *Escolamilitarfrancesa.(N.doT.) A. pOde se imaginar urn super-homem. a curioso, alias, e **Emvezdeimormes,enonnes.(N.doT.)

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