CADERNOS DE INOVAÇÃO EM PEQUENOS NEGÓCIOS Vol. 2 (cid:127) Nº 2 (cid:127) Novembro de 2014 ISSN 2318-5414 Orientadores ALI 2014 ©. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae. Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei n.º 9.610/1998) Informações e Contato Pareceristas Sebrae Unidade de Acesso a Inovação e Tecnologia Aleksandra Sliwowska Bartsch SGAS 605 – Conj. A – Asa Sul – 70200-904 – Brasília/DF Alexandre Alvaro Telefone: (61) 3348-7100 Camila do Nascimento Cultri www.sebrae.com.br Carlos Alberto da Silva Presidente do Conselho Deliberativo Nacional Carlos André da Silva Müller Roberto Simões Celso Augusto Rimoli Diretor-Presidente Claudia Moreira Borges Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho Cristian Caê Seemann Stassun Diretor-Técnico Elizandra Machado Carlos Alberto dos Santos Fátima de Carvalho Rocha Diretor de Administração e Finanças José Claudio dos Santos Fernanda de Abreu Cardoso Gerente da Unidade de Acesso à Inovação e Tecnologia Flavio Augustus da Mota Pacheco Enio Duarte Pinto Gilmar dos Santos Marques Maisa de Holanda Feitosa (Gerente adjunto) Guilherme Lima Moura Gerente da Universidade Corporativa Sebrae João Candido Fernandes Alzira de Fátima Vieira José Luiz Esteves Paulo Roberto de Melo Volker (Gerente adjunto) Luciane Cleonice Durante Coordenação Nacional do Programa ALI Marcus Vinícius Lopes Bezerra MARIA ANGELA DE SOUZA FERNANDES Conselho Editorial e Coordenação Técnica Marília Flores Seixas de Oliveira Adriana Dantas Gonçalves – Sebrae Mauricio Brilhante de Mendonça Cimei Borges Teixeira – CNPq Paula Geralda Barbosa Coelho Jaciara Coelho Pinheiro de Oliveira Basilio – Sebrae Raquel Cardoso Bentes – Sebrae Raulison Alves Resende Sérgio Coutinho dos Santos Silvio Ronaldo Machado Ferreira de Souza C122 Cadernos de Inovação em Pequenos Negócios: orientadores [recurso eletrônico] / Sebrae, CNPq. v. 2, n. 2 (2014). Dados Eletrônicos Brasília, DF : Sebrae, 2014. Modo de acesso: http://www.cadernosdeinovacao.com.br Anual ISSN: 2318-5414 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. II. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CDU: 005.591.6 SUMÁRIO ARTIGOS Estudos sobre cultura como parte da estratégia empresarial: uma revisão bibliográfica antropológica sobre as contribuições de Agentes Locais de Inovação em Alagoas Coutinho, Sérgio ................................................................................................................................................................................6 Sistemas de Inovação e o desafio da inovação em pequenos negócios: a experiência do Projeto ALI no Espírito Santo 2012-2014 Dalcomuni, Sonia Maria .................................................................................................................................................................18 A inovação nas micro e pequenas empresas do comércio varejista do estado de Santa Catarina Machado, Elizandra ..........................................................................................................................................................................37 Radar Zero e Grau de Inovação: um Panorama Sobre Inovação nas Empresas Participantes do Programa Ali-Sebrae RJ Cardoso, Fernanda de Abreu. ........................................................................................................................................................55 Evolução do radar da inovação das mpe do Paraná acompanhadas pelo ciclo ALI 2012/2014 Carvalho, Hélio Gomes de ...............................................................................................................................................................74 Guia de adequação da indústria de panificação e confeitaria ao anexo VI da Norma Regulamentadora nº 12 (NR-12) Candido, João .....................................................................................................................................................................................96 Agentes Locais de Inovação: percepções e atitudes para a excelência na inovação aplicada as MPE Cultri, Camila ......................................................................................................................................................................................114 Inovação em negócios: modelos e o Radar da Inovação Borges, Claudia ..................................................................................................................................................................................128 PROGRAMA ALI Sebrae/CNPq: expectativas e realizações dos agentes locais de inovação em Ribeirão Preto/SP de 2012 a 2014 Jacob, Cristiane Bassi ...........................................................................................................................................................................................................140 Impacto do radar da inovação na percepção do design como estratégia inovadora para pequenas empresas do Rio de Janeiro: uma análise comparativa Rocha, Fatima ....................................................................................................................................................................................158 Sustentabilidade ambiental nas ações de inovação de MPE da indústria da construção civil e metalmecânica Durante, Luciane ..............................................................................................................................................................................176 Análise das soluções inovadoras propostas por bolsistas ALI-RS que utilizaram a ferramenta Radar do Sebrae Orientador: Marques, Luis ..............................................................................................................................................................197 Proposição de Ideias para Inovação: Diagnóstico dos Agentes Locais de Inovação (ALI) nas Empresas de Pequeno Porte do Rio de Janeiro Orientador: Angela, Maria ..............................................................................................................................................................211 Inovação e desenvolvimento sustentável: principais problemas ambientais em pequenas empresas da Bahia Oliveira, Marília Flores Seixas de ...........................................................................................................................................................225 O relacionamento comunicacional como ferramenta diferenciadora nas MPE: A importância do cliente interno para criação do ambiente inovador Orientadora: Silva, Graciele de Brito...........................................................................................................................................240 O Radar da Inovação de micro e pequenas indústrias visto por meio de estatísticas descritivas Brilanteo, Mauricio ...........................................................................................................................................................................253 Caracterização setorial e dimensional da pesquisa dos agentes locais de inovação no Distrito Federal: uma análise dos artigos no ciclo 1 Oliveira , Michel Angelo Constantino de ...................................................................................................................................268 No caminho da competitividade: panorama do programa ALI em Minas Gerais Coelho, Paula .....................................................................................................................................................................................280 A inovação, o conhecimento e a aprendizagem como geradores de benefícios para as empresas Munhoz, Pelayo ................................................................................................................................................................................294 Estudos sobre cultura como parte da estratégia empresarial: uma revisão bibliográfica antropológica sobre as contribuições de Agentes Locais de Inovação em Alagoas COUTINHO, SÉRGIO ORIENTADOR DO PROGRAMA ALI NO SEBRAE EM ALAGOAS RESUMO ABSTRACT O mercado carrega consigo relações com significado The market carries social relations with particular cultural cultural específico para cada sociedade, em determinado meanings in each society, considering time and space. tempo e lugar. Estuda-se neste artigo como a perspectiva It is the aim of this paper how to investigate by an antropológica pode contribuir para o trabalho de um anthropological perspective the practices in Sebrae in determinado serviço oferecido pelo Sebrae em Alagoas, Alagoas, in the work of the program Agentes Locais de o programa Agentes Locais de Inovação. Como resultado, Inovação. The result of this paper is the discovery of the constatou-se que a análise cultural foi necessária em todos relevance of cultural researches in all the ALI successes. os êxitos conquistados por ALI em Alagoas. KEYWORDS: PALAVRAS-CHAVES: Anthropology. Entrepreneurship. Innovation. Antropologia. Empreendedorismo. Inovação. 6 ESTUDOS SOBRE CULTURA COMO PARTE DA ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ANTROPOLÓGICA SOBRE AS CONTRIBUIÇÕES DE AGENTES LOCAIS DE INOVAÇÃO EM ALAGOAS AUTOR: COUTINHO, SÉRGIO 1. INTRODUÇÃO O programa Agentes Locais de Inovação tem especial relevância na estrutura do Sebrae e na mudança de pers- pectiva de empresas em Alagoas. Com práticas voltadas a inovar dentro de diferentes segmentos e por meio de distintas dimensões, sistematizam o sentido do empreendedorismo dentro de empresas de médio porte do estado. Porém, nas suas atividades, encontram características do mercado alagoano que não seriam facilmente iden- tificáveis em diferentes segmentos. Estudar setores do mercado pensando em regras gerais não seria adequado para que possam contribuir para as empresas. É preciso compreender mais do que a cultura empresarial, mas as relações culturais do mercado em diferentes cidades e, por vezes, bairros de uma mesma cidade. Para contribuir nesse sentido, será explicado como os estudos culturais resultantes da reflexão antropológica podem ser ferramentas para o programa em seu dia a dia. Em primeiro lugar, serão expostos categorias e métodos fundamentais da Antropologia. Em seguida, será a ocasião de pensar sobre a etapa atual das relações de consumo em nossa sociedade, com sua simbologia própria e gerando representações entre consumidores e empresários também perceptíveis apenas em nosso tempo. Por fim, será possível contar com estudos dos próprios Agentes Locais de Inovação do estado, para contextualizar antropologicamente as impressões que estes têm sobre suas próprias atividades. Os Agentes Locais de Inovação têm o compromisso com o Sebrae e o CNPq de produzir artigos com reflexões sobre suas atividades. Alguns entre esses artigos serão empregados neste estudo, visando sistematizar uma revisão bibliográfica sobre cultura e mercado em Alagoas. 7 2. PRESSUPOSTOS ANTROPOLÓGICOS RELEVANTES: CATEGORIAS E MÉTODO 2.1. CATEGORIAS ANTROPOLÓGICAS FUNDAMENTAIS A Antropologia é normalmente definida entre as Ciências Sociais como aquela área do conhecimento que estuda “o outro”. A alteridade, a condição de ser outro, diferente, compreensível a partir das distinções para outros grupos sociais é um aspecto fundamental da reflexão antropológica. Por esta razão, há um imaginário coletivo voltado a considerar que a Antropologia estudaria apenas estrangei- ros, indígenas, grupos distantes. Porém, com o devido afastamento do objeto, procurando descrevê-lo naquelas características que lhe são próprias, a Antropologia Urbana torna-se possível e, como consequência, uma reflexão antropológica sobre as relações de consumo também. Além da alteridade e do estranhamento (a condição de manter-se afastado para analisar o grupo estudado como não fazendo parte dele), a Antropologia depende, para suas reflexões, entre outros, dos conceitos de cultura e de identidade. Não é possível pensar em seres humanos sem cultura nem sem identidade. Todos nós estamos inseridos em relações coletivas, compartilhando representações comuns de mundo, rituais de convivência, significados, e nos identificando entre nós mesmos por meio dessas categorias1, do modo como venham a ser construídas em cada grupo social. 2.2. O MÉTODO ANTROPOLÓGICO Para estudar grupos culturais com base nas categorias mencionadas, é preciso contar com procedimentos par- ticulares dessa área do conhecimento. Por vezes, são métodos também empregados por outras ciências humanas, mas ganhando matizes próprios no campo em estudo. Aquele mais comentado é a etnografia. Por meio dela, é possível tomar certo grupo social tão somente a partir do conjunto de características que tornam possível descrevê-lo. Um estudo etnográfico encontrará entre os sujei- tos da pesquisa rotinas que dão sentido às suas práticas inerentes ao grupo. Não será preciso, nem seria possível, estudar tudo que é realizado entre aqueles investigados, mas tão somente aquilo que gera relações de identidade naquelas práticas culturais, os aspectos centrais para o pertencimento a certo grupo. Para um bom estudo etnográfico, há métodos que se complementam, tornando-o seguro em seus resultados. Um deles é a observação direta, seja ela participante ou não participante, que consiste na reflexão à medida que a 1. Um bom exemplo disso na revisão bibliográfica proposta neste artigo é o estudo de Tissiana de Sousa Silva, desde a escolha de seu título, “Nem só de pão vive o homem: como satisfazer os consumidores das pequenas padarias de Maceió” (2014). A princípio, seria óbvio que panificadoras lidam com pães e que quem usa seus serviços visaria àquele alimento, mas parte-se da incorporação de novos hábitos para os negócios como pressuposto para oferecer nova significação à prática empresarial. Ao se propor à satisfação do consumidor, identificando com a referência bíblica na primeira parte do título, que seria completada com “mas de toda a palavra”, seu artigo explora como é preciso pensar novos modelos de padarias a partir de novas rotinas, e uma nova visão sobre o que devem oferecer em novos tempos. 8 ESTUDOS SOBRE CULTURA COMO PARTE DA ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ANTROPOLÓGICA SOBRE AS CONTRIBUIÇÕES DE AGENTES LOCAIS DE INOVAÇÃO EM ALAGOAS AUTOR: COUTINHO, SÉRGIO percepção traz, pelos sentidos, informações no cotidiano dos pesquisados. Com a observação, vem a possibilidade de separar grupos menores para refletir sobre o sentido que dão às suas próprias práticas (grupo focal) ou entre- vistas individuais, quando será possível perceber os reflexos particulares daquelas práticas coletivas. Ao perceber que certo grupo possui rotinas e rituais com sentido próprio naquele grupo, eles passam a ser estudados na etnografia como rituais, em que cada simbologia adotada (por objetos, danças, cantos, como for possível alcançar o objetivo pretendido pelo grupo) terá seus significados estudados. Dominique Desjeux propõe, para as Ciências Sociais estudarem relações de consumo, o chamado “método dos itinerários”, que não se satisfaz com os desejos dos compradores, mas procura as relações sociais em que eles estão inseridos e o conjunto simbólico de significados da mercadoria: O método está fundado na busca do acontecimento gerador do itinerário de aquisição ou da ocasião de compra e não na busca das motivações. Ele procura o que na vida social impulsiona o consumidor a comprar. Busca, portanto, as condições sociais da arbitragem individual (DESJEUX, 2011, p. 144). A partir de estudos sobre Agricultura, com as etapas de plantio até a colheita do milho, o autor pôde examinar, nos anos 1970 e 1980, o que chamou de “jogo estratégico” daqueles que visavam regular as práticas de consumo de certo item alimentício (Idem, p. 145-6). Com essas impressões preliminares sobre a Antropologia, torna-se preciso partir para a reflexão sobre o papel do consumo na nossa sociedade, o que tornará mais claro o papel dos Agentes Locais de Inovação, identificando práticas culturais pertinentes ao mercado alagoano. 9 3. CONSIDERAÇÕES SOBRE A SOCIEDADE DE CONSUMO CONTEMPORÂNEA O consumo vem sendo objeto de estudo para a Antropologia desde a obra Le Distinción, de Pierre Bourdieu, em meados do século XX2. Em uma ciência jovem como a Antropologia, essa área é ainda muito mais recente, mal tendo 40 anos de estudos completos. Bourdieu examinou de modo exaustivo as práticas culturais por meio de preferências, gostos, como ele pre- fere, em diferentes condições que constituem grupos da sociedade (BOURDIEU, 2002). Sem se prender a visões tradicionais de classe, ele procura nas práticas dos grupos e nos significados que elas têm para seus praticantes como pode situar suas descobertas. Nos anos seguintes, após a Antropologia deixar de ser algo restrito a povos distantes, não há por que estranhar uma Antropologia Urbana, muito menos sobre profissões, relações de consumo, entre outros aspectos que não pertençam a estrangeiros, indígenas, presidiários ou outra forma como o “outro” seria percebido apenas em quem estivesse distante. A reflexão antropológica sobre as relações de consumo no século XXI não importa apenas às Ciências Sociais. Áreas como o Etnomarketing mostram que a Administração, o Marketing, a Economia, entre tantos campos de conhecimento, necessitam do método e das categorias antropológicas. Como observa Pedro Jaime Júnior, convencionou-se chamar de Antropologia das Sociedades Complexas o exa- me de temas como a Antropologia do Consumo, em que se reconhece nas relações econômicas uma simbologia própria, portanto, uma ordem cultural específica (JAIME JÚNIOR, 2001, p. 71). Em suas próprias palavras: “Neste sentido, nenhum objeto é ou tem movimento na sociedade humana, exceto pela significação que os homens lhe atribuem” (Idem, Ibidem). Jaime Júnior explica que o antropólogo é quem desvenda ordens culturais que aparentam estar ocultas em grupos da sociedade, enquanto os pesquisadores de mercado e publicitários querem que um “produto-símbolo” seja um êxito de vendas (Idem, Ibidem). Assim, a partir do desejo de ter e do potencial de adquirir, é possível a aproximação entre aqueles que definem estratégias de mercado e o antropólogo, pois ambos precisam conhecer os padrões culturais envolvidos entre aqueles que comprarão as mercadorias3. Como conceitua Josiane Silva de Oliveira: A antropologia do consumo enfatiza que, para a compreensão das relações de consumo na so- ciedade, é preciso o entendimento do espaço de significação em que os bens são utilizados. A 2 Bourdieu foi precursor nos debates para as Ciências Sociais, mas não foi o único. Como lembra Dominique Desjeux, é necessário considerar as obras de Thorstein Veblen, sobre a distinção social a partir do consumo, e Maurice Halbwachs em sentido oposto, como fator de integração social. São os fundamentos do debate que constrói essa área do conhecimento (2011). 3 Para isso, Jaime Júnior faz uso de vários exemplos consagrados nos estudos de mercado: a necessidade de cosméticos voltados ao público evangélico para mostrarem em sua campanha publicitária que defendiam os valores das consumidoras; o padrão de consumo de cerveja em público ser predominante no Brasil, fazendo com que as marcas invistam em cervejas em garrafas de 1 litro; sabores regionais de pizza para vender aos nordestinos na rede Pizza Hut; a Kibon intensificando as cores dos sorvetes e oferecendo sabores de frutas locais para vender mais no Nordeste, mesma região onde a Unilever passou a oferecer margarinas mais amarelas para que lembrasse a tradicional manteiga de garrafa (JAIME JÚNIOR, 2001, p. 71-2). Engana-se, pois, quem considera que o mercado tente, mesmo em grandes multinacionais, impor padrões culturais para seus consumidores. O autor possui diversos outros exemplos interessantes em seu artigo, cuja leitura é de grande relevância para um primeiro contato com o Etnomarketing. 10
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