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obra de vida de dois quadrinistas Italianos. PDF

87 Pages·2008·6.51 MB·Portuguese
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2 1. INTRODUÇÃO Esta monografia se propõe a analisar a obra de dois artistas italianos que produziram histórias em quadrinhos com visões e estilos distintos. A análise tem por objetivo mostrar o valor dessa forma de arte através da relação entre os autores escolhidos, suas biografias e bibliografias. A escolha do tema proposto se deu, principalmente, pelo interesse pessoal sobre o assunto. Além disso, a falta de material de estudo e a pouca atenção dada ao tema dentro da universidade e também fora dela faz com que esse trabalho tenha a pretensão de se somar a outros esforços que tem o intuito de dar à nona arte algum tipo de base crítica. Os dois autores a serem estudados são Hugo Pratt (1927 – 1995) e Andrea Pazienza (1956 – 1988), o primeiro um cidadão do mundo que confunde suas obras e seus personagens com sua própria vida e o outro, o símbolo do movimento artístico da Itália nos anos 70/80. Após um apanhado histórico geral sobre as histórias em quadrinhos no mundo e em particular na Itália, farei uma breve discussão sobre o que é a história em quadrinhos e a sua importância como expressão artística nos dias de hoje. Em seguida, analisarei algumas das produções dos dois artistas escolhidos, levando em consideração a biografia de Pratt e Pazienza, e sua influência na produção artística dos dois autores. A proposta de trabalho é inspirada no método de análise utilizado por Davi Arrigucci Jr. O autor fez um estudo minucioso, apresentado e dividido em diversos ensaios, sobre as poesias de Manuel Bandeira. Nesses ensaios, Arrigucci usou, em suas análises poéticas, uma abordagem que se preocupou em levar sempre 3 em consideração o estilo de vida do autor e a importância disso dentro de suas obras. 4 2 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS 2.1 HISTÓRIA EM QUADRINHOS: LITERATURA COM PALAVRAS E IMAGENS? DISCUSSÃO E CRÍTICA. A história em quadrinhos é uma combinação de texto e imagem, dispostas de forma seqüencial, que se propõe a passar algum tipo de conteúdo, conteúdo esse que vai desde histórias infantis, dramas, comédias, histórias de super-heróis a informes educativos, publicidade, storyboards de cinema e programas de TV, entre outros. Por suas características e forma de apresentação (normalmente em revistas com papel de qualidade variável e com um número de páginas que varia desde as vinte e duas, no formato clássico do Comic Book americano1, até as mais de quinhentas páginas de alguns mangás japoneses2) é comum traçar um paralelo entre a história em quadrinhos e a literatura. Os dois são impressos em papel, em forma quase idêntica, de tamanho e espessura semelhantes e lê-se de forma parecida. A partir dessa comparação, a história em quadrinhos é normalmente entendida como uma forma literária menor, devido ao seu mais fácil acesso, conseqüência direta da leitura tanto de palavras como de imagens, 1 Versão estadunidense da história em quadrinhos que é popularmente conhecida pelo seu conteúdo freqüentemente ligado ao mundo dos super-heróis. As histórias são seriais e apresentam, normalmente, em suas vinte duas páginas coloridas, as aventuras dos super-heróis mais populares dos Estados Unidos. Esse tipo de publicação representa um padrão para os lançamentos de histórias em quadrinhos na Europa e América. 2 Versão japonesa da história em quadrinhos que apresenta um estilo de desenho caracterizado por traços mais simples para os personagens e mais detalhados para os ambientes e cenários. Além disso, sua leitura, de quadrinhos e balões, vai de cima para baixo, da direita para a esquerda. É comum, no Japão, o lançamento de diversas histórias reunidas em um único volume que varia entre 300 a 800 páginas. Esses volumes são lançados com papel jornal e, em sua maioria, com as histórias em preto e branco. A partir desses lançamentos, baseados na resposta do público, as histórias mais populares são relançadas em edições especiais, coloridas e com papel de melhor qualidade. 5 associada a idéias de conteúdo mais simples. Esse tipo de visão, pelo menos na visão brasileira a respeito da história em quadrinhos, se dá também pelo fato de que a maioria das publicações que circulam pelo território brasileiro são de histórias de editoras norte-americanas ou criações nacionais bastante influenciadas por essas edições e seus personagens. Tal tipo de publicação é em grande parte de histórias seriadas de super-heróis, que tem maior apelo ao público infantil e infanto-juvenil. Além disso, a falta de estudos críticos apropriados sobre o assunto, contribui para a marginalização dessa forma de arte. No texto ‘Andrea Pazienza e la lingua del fumetto’, o escritor MIRKO TAVOSANIS (1998) diz: Uma entre as causas (do valor recebido pela história em quadrinhos pela comunidade em geral) [...] é a falta de uma linguagem crítica adequada. [...] E, apesar das histórias em quadrinhos possam ser examinadas a partir das disciplinas que fazem parte do currículo tradicional de estudos, como por exemplo a história da arte, a crítica literária e a história da literatura, as pesquisas universitárias sobre esse meio de comunicação ainda são limitadíssimos.3 Por tudo isso, tem-se dado um valor menor à história em quadrinhos e tudo o que é relacionado aos chamados ‘gibis’. Essa concepção generalizada é, de qualquer forma, equivocada. Pensar que a história em quadrinhos é um tipo de literatura de menor qualidade ou até algum tipo de literatura para iniciantes ou de mais fácil acesso é um erro. Em primeiro lugar, a história em quadrinhos, ou ‘arte seqüencial’ como sugere um de seus primeiros e mais importantes teóricos, Will Eisner, não é, para todos os efeitos, literatura. E em segundo lugar, considerando 3 Una tra le cause di questa trascuratezza [...] è la mancanza di un linguaggio critico adeguato. [...] E nonostante il fumetto possa essere affrontato partendo da discipline che fanno parte del tradizionale curriculum di studi, come per esempio la storia dell'arte, la critica letteraria e la storia della letteratura, le ricerche universitarie su questo mezzo di comunicazione sono tuttora limitatissime [...]. 6 a história em quadrinhos como uma forma de arte, torna-se impossível determinar, ou medir, algum tipo de valor que determine que arte é considerada melhor que outra, por exemplo, literatura melhor que pintura ou teatro melhor que música. Considerar história em quadrinhos como literatura, portanto, é um erro. Existem experimentações literárias que fazem uma combinação de texto com algum tipo de informação visual e até os livros ilustrados que usam as imagens para representar o que está escrito no texto, mas isso não é história em quadrinhos. Isso é literatura. Experimental ou infantil, mas literatura. É muito difícil estabelecer um limite que determina quando acaba a literatura e começam as histórias em quadrinhos e vice-versa, mas os quadrinhos são tão literatura como o cinema é teatro ou como a fotografia é pintura. Essas artes têm pontos em comum. Diversos, isso não se pode negar. Porém, afirmar que o cinema é uma forma teatral mais pobre ou que a pintura é precária diante da fotografia é tão absurdo quanto aceitar que a história em quadrinhos seja uma forma mais pobre de literatura. Todas as formas de arte são diversas. Todas elas têm muitas características em comum e um universo de peculiaridades que as distinguem. Os quadrinhos são uma outra forma de arte, mesmo se a sua credibilidade, seriedade e valor ainda são questionados. Eles reúnem características que constituem a sua própria estrutura e o transformam em um objeto artístico por si próprio. E assim como o cinema ou o teatro, as histórias em quadrinhos possuem características em comum com a literatura, mas não são literatura. São histórias 7 em quadrinhos. Scott MCcloud (2005, p. 2), em seu livro, ‘Desvendando os Quadrinhos’, escreve: Quando criança, sabia exatamente o que era história em quadrinhos. Histórias em quadrinhos eram um monte de revistas coloridas, com arte mal-feita, aventuras estúpidas e pessoas com roupas colantes. Nesse trecho McCloud se refere especificamente à visão comum que relaciona história em quadrinhos com super-heróis e que faz confusão entre o meio artístico (histórias em quadrinhos como forma de arte) e o conteúdo desse meio artístico (obras no formato de histórias em quadrinhos que falam sobre super-heróis). McCloud (2005, p. 3) completa: Eu percebi que tinha alguma coisa escondida nos quadrinhos. Alguma coisa que nunca tinha sido pensada. Algum tipo de poder secreto. (...) Se as pessoas não entendem o que são as histórias em quadrinhos é porque possuem uma visão muito limitada. Para McCloud, a imagem que a maioria da população tem dos quadrinhos se confunde com o valor dos quadrinhos como forma de arte, ou seja, a forma de narrar. O emissor, como propõe McCloud, se confunde com a coisa narrada. McCloud (2005, p. 4-6) continua: O mundo dos quadrinhos é imenso e variado. A nossa definição (dos quadrinhos) deve abranger todos esses tipos: (de conteúdo) [...] “Quadrinhos” é um termo que merece ser definido, porque se refere ao meio em si, não a um objeto específico como “revista” ou”gibi”, [...] Note que essa definição é estritamente neutra em questão de estilo, qualidade ou o assunto. Muito já foi escrito sobre as várias escolas de quadrinhos; sobre artistas específicos, títulos, tendências... Só que, para chegar a uma definição, a gente deve fazer uma cirurgia estética e separar forma de conteúdo! A forma artística – o meio - reconhecida como quadrinhos é um recipiente que pode conter diversas idéias e imagens. O conteúdo dessas imagens e idéias dependem, é lógico, dos criadores, e todos nós temos gostos diferentes. O truque é nunca confundir a mensagem... com o mensageiro. 8 McCloud procura explicar a confusão de valores que acontece com as histórias em quadrinhos, ou seja, devido a associação entre valores infantis e juvenis (desenhos educacionais, super-heróis coloridos, etc.) e a forma artística das histórias em quadrinhos o valor se perde. Por isso, os freqüentes comentários de que história em quadrinhos é coisa de super-herói, é literatura menor ou qualquer outra idéia pré-estabelecida sobre o tema. Portanto, uma coisa não deveria anular a outra. Existem livros infantis com intuito educacional, livros que falam sobre heróis salvando donzelas em perigo. A literatura proporciona essa variação de temas. No nosso mundo não existe livros apenas policiais, músicas que só falam da dor da separação ou filmes só de comédia. Esses meios apresentam diferentes gêneros que se adequam a uma mesma forma. O valor artístico, nesse caso, é dado a partir da relação entre conteúdo e forma. As formas de arte (literatura, teatro, música, etc.) não podem ser questionadas quanto ao seu valor como forma de arte. Contudo, as histórias em quadrinhos são avaliadas como se tivessem um valor previamente fixado, que independe do conteúdo narrado, como é a relação entre obra e meio, etc. Um preconceito já estabelecido que considera as histórias em quadrinhos como coisas bobas, de criança, que falam de super-heróis e outros personagens infantis e que tem a única função de entreter, e que podem no seu máximo, servir aos jovens como introdução ao mundo da verdadeira literatura. Mas por que então, as histórias em quadrinhos, como forma de arte, deveriam ser valorizadas e limitadas a poucos gêneros? Não é possível a produção de histórias em quadrinhos de drama, comédia, filosofia, etc, já que é um meio artístico como qualquer outro? 9 O exemplo a seguir demonstra as possibilidades desse meio artístico. Esse trecho foi criado por Will Eisner4, que extraiu ‘Hamlet’, de Shakespeare. O ‘Hamlet’ de Eisner, apesar de seu vocabulário fiel a obra original, é um homem moderno (dos anos setenta), do gueto, que reflete sobre sua situação atual. Esse exemplo, usando material de suas aulas ministradas na School of Visual Arts de Nova Iorque, é uma forma de demonstrar a possibilidade de divisão entre mensagem e emissor. 4 Comic Book and Sequential Arts, Will Eisner – pag. 113 – 115. 10 FIGURA 1 – ‘Hamlet’ de Will Eisner 11 FIGURA 2 – ‘Hamlet’ de Will Eisner

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de Eisner, apesar de seu vocabulário fiel a obra original, é um homem A seguir, na página 42, Corto cita uma passagem da Bíblia, durante uma.
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