BALDUINIA. n.14, p. I-IS, 15-IX-2üüS o USO DA MADEIRA NAS REDUÇÕES JESUÍTICO-GUARANI DO RIO GRANDE DO SUL 1- VEGETAÇÃO REGIONAL E SUBSÍDIOS DENDROLÓGICOSl JOSÉNEWTON CARDOSO MARCHIORF CRISTINA SCHULZE-HOFER3 RESUMO Aliteratura sobre asMissões Jesuítico-Guarani noRio Grande doSulcarece deinformações confiáveis sobre aidentidade das madeiras utilizadas em construções epeças artísticas. No presente trabalho, que dá início a uma série deartigos sobre otema, são analisadas asmadeiras eavegetação regional, com base emrelatos de antigos cronistas. Palavras-chave: Madeira, Dendrologia, Missões Jesuíticas, Rio Grande doSul. SUMMARY [Utilizationofwood intheJesuitic-Guarani Missions fromRioGrandedoSulstate,Brazil. 1-Regional vegetationanddendrological contributions]. Literature conceming toJesuitic-Guarani Missions inRioGrande doSulstate,Brazil,lacksonsureidentification ofthe woods inboth constructions and artistic pieces. First paper ofaseries onthis theme, the present article intends tostudy theregional vegetation and available woods, with theaidofancient chroniclers descriptions. Key words: Wood, Dendrology, Jesuitic Missions, Rio Grande do Sul State. INTRODUÇÃO culados à Província Jesuítica do Paraguai - e sob a chancela da coroa espanhola -, o projeto "Não receio dizerqueaosmissionários sedeve incluía outros 23 povos, distribuídos em terras a quase totalidade das descobertas da geo- da atual Argentina e Paraguai. grafia moderna, porque ébem raro que omais Convém salientar que esta experiência sin- afoito viajante possa vangloriar-se de não ter gular da Humanidade pertence à segunda fase sido precedido por estes pioneiros da civili- jesuítica em terras do atual Rio Grande do Sul. zação evangélica: primeiro opadre, depois o A anterior, de vida curta, teve início em 1626, naturalista". (Francis de la Porte, conde de com avinda pioneira doPe. Roque González ao Castelnau, século XIX) Tape eaprimeira fundação de SãoNicolau. Nos dez anos seguintes, outras 18 reduções foram Iniciativa dos padres da Companhia de Je- fundadas a leste do rio Uruguai, nas regiões sus, os Sete Povos das Missões representam o fisiográficas das Missões, Planalto Médio, De- apogeu deum projeto deevangelização dopovo pressão Central evale do Ibicuí. Acossados pe- guarani noTape, atual Rio Grande do Sul. Vin- los Bandeirantes, que visavam a escravizar os índios, esta fase encerrou-se em tomo de 1640, 1 Recebido em 10-8-2008 e aceito para publicação em com o êxodo completo dos padres e índios re- 30-8-2008. 2 Engenheiro Florestal, Dr.,bolsista deProdutividade em manescentes para amargem direita do rio Uru- Pesquisa do CNPq, Professor Titular do Departamen- guai, em terras da atual Argentina. Pouco teste- todeCiências Florestais, Universidade Federal deSan- munho material resta desta experiência aborta- ta Maria, CEP 97105-900, Santa Maria (RS). da. De grande importância, certamente, foi o [email protected] 3 Arquiteta, Dra., IPHAN - Instituto doPatrimônio His- abandono das terras até então sob cultivo, pro- tórico eArtístico Nacional. [email protected] piciando arecomposição davegetação florestal noMonte Grande4 ,bem como aproliferação do tores e mestres das mais variadas artes e ofíci- gado introduzido pelos jesuítas nos campos da os. Mobilizados para a Província Jesuítica do margem oriental dorioUruguai, dois eventos de Paraguai, vieram para dirigir os trabalhos pro- magnos efeitos para a vegetação regional. fissionais daestatura deumJoão Batista Prírnoli, Passados 40 anos, os índios e padres da JoséBrasanelli eAntônio Sepp, apenas para lem- Companhia começaram a voltar para as terras brar trêsdosmais conhecidos, responsáveis pelo do atual Rio Grande do Sul. Era oinício da se- planejamento e construção das Reduções em gunda fase jesuítica, período de florescimento seus mais variados aspectos, obra que ainda as- da atividade apostólica e das artes, com acria- sombra pela complexidade e nível artístico al- ção dos Sete Povos das Missões Orientais: São cançado. Francisco deBorja (1682), São Nicolau (1687), A literatura produzida sobre os Sete Povos, São Luiz Gonzaga (1687), São Miguel Arcanjo embora substanciosa, não esconde flagrantes (1687), São Lourenço Mártir (1690), São João lacunas. No caso da madeira, por exemplo, ma- Batista (1697) eSanto Ângelo Custódio (1706). téria-prima largamente utilizada, asinformações No século XVIII acirrou-se a questão de disponíveis baseiam-se, tão simplesmente, no limites entre duas cortes ibéricas na América. exame visual, não tendo passado pelo crivo da Sem levar em conta o interesse dos índios eje- ciência. Urge, portanto, arealização de estudos suítas, o Tratado de Madrid (1750) acordou a anatômicos sobre amadeira utilizada nas Redu- permuta dos Sete Povos das Missões pela Co- ções, seja em construções ou nos lavores de ta- lônia do Sacramento, base portuguesa fundada lha e escultura, com vistas à identificação cor- na embocadura doPrata, frente aBuenos Aires. reta das espécies eàmelhor apreciação das téc- Verdadeiro esbulho sobre os Sete Povos, pois nicas utilizadas. não previa nenhuma forma de indenização, o No presente trabalho, que dá início a toda impasse levou, em 1754, àGuerra Guaranítica, uma série dedicada ao tema, éomomento de se que durou dois anos. Sem resolver aquestão -e analisar o espaço regional sob o ponto de vista desgastados na Europa pela acusação de lide- da vegetação edouniverso dendrológico dispo- rança na Guerra -, osjesuítas acabaram expul- nível para aempreitada, levada acabo, com téc- sosdaAmérica em 1768,encerrando definitiva- nica e arte, pelos padres e índios dos Sete Po- mente o ciclo das reduções. vos das Missões Orientais. Entregues àadministração civil espanhola e sob apoio espiritual de outras congregações re- VEGETAÇÃO REGIONAL ligiosas, sobreveio a decadência dos Sete Po- Na região fisiográfica das Missões, berço vos, que foram finalmente destruídos esaquea- dos Sete Povos Jesuítico-Guarani no Rio Gran- dos no período de batalhas entre portugueses e dedoSul,avegetação original, denatureza cam- espanhóis. pestre, era entremeada de capões e matas A obra realizada nos Sete Povos foi real- ciliares. Embora profundamente alterada pela mente admirável, sobretudo selevado em conta mão do Homem eanimais domésticos, este tra- oisolamento da região, anatureza agreste aser ço geral da paisagem ainda hoje pode ser reco- moldada eomaterial humano disponível para a nhecido, sem qualquer margem adúvidas, ape- sua execução. Para coordenar a tarefa, a Com- sar da severa transformação produzida ao lon- panhia de Jesus dispunha de quadro altamente go dos séculos de colonização. capacitado, incluindo arquitetos, escultores, pin- Separada doPlanalto daCampanha pelo rio Ibicuí, a região missioneira constitui-se, sob o 4 Antiga denominação da Serra Geral nocentro do atual ponto de vista fitogeográfico, numa unidade de Rio Grande do Sul, constante na literatura jesuítica do transição entre os campos limpos do sudoeste século XVII. 2 gaúcho e aFloresta do Alto Uruguai, predomi- missioneira. Com suapeculiar clareza, obotâni- nante na vegetação original da região de mes- co francês anotou, a 15 de fevereiro de 1821, mo nome, ao norte do rio Ijuí. Se restasse algu- que de Montevidéu ao Ibicuí somente encon- trou: ma dúvida sobre esse ponto, aliteratura dos sé- culos XVIII e XIX elucida definitivamente a "(00') matas àsmargens dosrios eriachos, mas questão. aqui começo a encontrar esses bosquetes, Félix deAzara5 , naturalista eminente eco- chamados capões. Perto, como por toda par- missário espanhol encarregado pela execução te, ocupam asterras baixas eos lugares úmi- do Tratado de Santo Ildefonso, deixou-nos co- dos eabrigados. Oseuverde já não mostra as tonalidades alegres e suaves dos bosques de mentário esclarecedor, colhido desuas andanças Montevidéu, nem sãosóbrios como oscapões pela região na segunda metade doséculo XVIII: 8 dos campos gerais , mas a sua folhagem já apresenta o verde-escuro característico da "Desde elriodelaPlata hasta lasmisiones no vegetação das matas da zona tórrida".9 se encuentra bosque mas que aorillas de los arroyos y los ríos; pero estos bosques se Como visto, asreferências deAzara eSaint- destruyen amedida que elpaís sepuebla. En Hilaire coincidem ao salientar a alternância de las Misiones jesuíticas, y a medida que se campos com capões e matas ciliares na paisa- avanza hacia elnorte, seencuentran ya gran- gem missioneira. des bosques, no sólo ai borde dei água, sino aun por todas partes donde el terreno es un A respeito dos capões, resta informar que a poco desigual".6 palavra, deorigem indígena, aplica-se nosuldo Brasil às ilhas de vegetação silvática dispersas Em sua Viagem ao Rio Grande do Sul, em áreas campestres, constando sua definição Auguste de Saint-Hilaire7 também comentou no famoso Diário Resumido e Histórico de 10, sobre o caráter transicional da vegetação Janeiro, SãoPaulo, Minas Gerais, Goiás, Espírito San- 5 Almirante espanhol, Félix de Azara nasceu em to,Paraná, Santa Catarina eRioGrande doSul,além da Barbuíiales (Huesca, Espanha), a 18-5-1746, efaleceu Província Cisplatina (atual República Oriental doUru- namesma cidade,a17-10-1821. Fundador deSãoGabriel guai). Findas asviagens, retomou àEuropa em 1822, (doBatovi), noRio Grande doSul,foiumdosencarre- dedicando-se ao estudo taxonômico das espécies por gados, do lado espanhol, pela execução do Tratado de ele coletadas. Autor de importantes artigos científicos Santo I1defonso (1777), com vistas aestabelecer olimi- nas "Memórias" do Museu de História Natural de Pa- te entre as duas cortes ibéricas na América. Os vinte ris, Saint-Hilaire destaca-se pela publicação da Flora anos consumidos nesta tarefa forneceram aAzara mate- Brasilica Meridionalis, obra vinda alume em 1825 e rialpara obras basilares dahistoriografia platina eciên- que lhe abriu as portas da Academia de Ciências da cias naturais, salientando-se: Apuntamientos para la França. Suas coletas deplantas brasileiras estimam-se Historia Natural delosPáxaros delParaguay yRio de em 30.000 exemplares, pertencentes a mais de 7.000 LaPlata,Descripción éHistoria delParaguay ydelRio espécies, das quais, cerca de4.500 foram por eles des- de la Plata, Memória Rural del Rio de la Plata, La critas para aciência. Além dedestacado botânico, Saint- demarcación de límites entre elParaguay yelBrasil e Hilaire é um dos mais importantes autores da estante Viajespor laAmérica Meridional. brasileira de viajantes. Obra póstuma, sua Viagem ao 6 AZARA, F. de. Viajes por la América Meridional. Rio Grande do Sul éreferência fundamental nabiblio- Madrid: Calpe, 1923. p. 125-126. grafia sulina. 7 Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire, S Oautor refere-se aoscampos visitados, anteriormente, mais conhecido por Auguste de Saint-Hilaire, nasceu nas províncias de SãoPaulo eParaná. em Orléans (França), em4/10/1779. Integrante daem- 9 SAlNT-HILAlRE, A. de. Viagem ao Rio Grande do baixada francesa doConde deLuxemburgo, elechegou Sul. Porto Alegre: ERUS, 1987. p.261. ao Brasil em 1/6/1816, percorrendo, apartir de então, 10 Firmado a 10-11-1787, no "Acampamento Geral do cerca de 2.500 léguas pelos atuais estados do Rio de Monte Grande" (atual Santa Maria), trata-se de docu- 3 Sebastião Xavier da Veiga Cabral da Câmara e igrejasdetodasasaldeiasestãovoltadaspara José de Saldanha: "Palavra uzada pelos onorte,enquantoadeSantoÂngelo,parao Portuguezes neste Paiz, e com a qual explicão su1".17 os pequenos Bosques ou ajuntamento de arvo- Ocorre que, noRio Grande do Sul, aexplica- redos". Em outro ponto do mesmo documen- II ção para a coexistência e o limite brusco entre to, otêrmo édefinido como "bosques de pouca florestas e campos deve ser buscada na biolo- extensão, e separados",12 salientando que "aos gia das plantas representativas dos respectivos grandes Capoens de mato, como nas costas dos biomas eem suas vinculações com orelevo: flo- rios, lagoas ou pantanais, lhe chamão restas em áreas de relevo mais movimentado, restingas" .13 O grande botânico Martius, campos em locais mais planos oude relevo sua- organizador da Flora Brasiliensis, também se vemente ondulado. 18 valeu da palavra autóctone, informando que Com seu relevo movimentado, a região "caa-apoam" significa "mata convexa oucircu- fisiográfica do Alto Uruguai era originalmente lar", na língua dos tupinambásl4• recoberta por densa floresta aonorte dorio Ijuí, Ao norte da região missioneira, apaisagem contrastando com a paisagem campestre, com variada de campos ematas cedia originalmente matas ciliares e capões, típica da região mis- lugar auma floresta densa, na altura dorio Ijuí, sioneira. Definidos os traços gerais da paisa- compondo uma faixa de mais 150Km delargu- gem, pode-se passar à análise mais detalhada ra. Sempre atento àFitogeografia, Saint-Hilaire da vegetação lenhosa e de algumas de suas es- assinalou que: pécies representativas. "SantoÂngeloéaúltimadasaldeiasdasMis- CAPÕES E MATAS CILIARES sõesdoladolestel5 Maisadianteseelevam . Amplamente dominantes em todo o sul do grandesflorestas que seligam àsdo Sertão deLages,servindodeasiloaosíndiosselva- Brasil aofinal doPleistocenol9, asflorestas che- garam a ocupar cerca de 40% do espaço sul- gens.Essa aldeiaé amaisescondidade to- rio-grandense em período imediatamente ante- das,poisestásituadanumaregiãoflorestale montanhosacujoacessoexigeatravessiade rior àchegada dosjesuítas, favorecidas pela vi- doisriosperigosos Osjesuítasparecemter gência de um clima mais quente e úmido no 16. queridoindicar,demaneirasimbólica,quenão Holocen02o. Em seu avanço de norte a sul, a tencionavamseestendermaislonge,poisas vegetação florestal, como visto anteriormente, logrou instalar-se em sítios derelevo movimen- tado - caso típico da margem de rios eencostas de montanhas -, explicando aformação deuma menta etnográfico ehistórico demagna importância para extensa região florestal noAlto Uruguai, aonorte oRio Grande doSul. do rio Ijuí, bem como na fralda da Serra Geral CÂMARA, S. X. da V. C. da, SALDANHA, J. de. Ii Diário Resumido eHistórico. laDivisão dademarcação d'América Meridional. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v.51,p. 206,1938. 16 Rios Ijuizinho eIjui. 12 CAMARA, S. X. da V. C. da, SALDANHA, 1.de, 17 SAINT-HILAIRE, A. de, 1987. Op. cit., p. 313. 1938, Op. cit., p. 194. 18 MARCHIORl, J. N. C. Fitogeografia do Rio Grande 13 CAMARA, S. X. da V. C. da, SALDANHA, J. de, do Sul: Campos Sulinos. Porto Alegre: EST, 2004. 1938, Op. cit., p. 206. p. 18-20. 14 MARTIUS, C.F.Von.Aviagem de VonMartius. Flora 19 Época inicial do Período Quaternário, que se estende, Brasiliensis. RiodeJaneiro: Editora Index, 1996.p.26. naEscala Geológica doTempo, entre 1,6milhões elO 15 Saint-Hilaire refere-se aosSetePovos dasMissões Ori- mil anos A.P. entais, implantadas em terras do atual Rio Grande do 20 Época recente doPeríodo Quaternário, correspondente Sul. aos últimos 10.000 anos. 4 (Monte Grande), que separa os campos do Pla- Benth.). Relativamente escasso, neste estrato, nalto das Missões e Planalto Médio, dos cam- ocontingente perenifólio inclui, entre outras ár- pos do vale do Ibicuí eDepressão Central. vores: o guabiju (Myrcianthes pungens (O. Tanto os capões como as matas ciliares da Berg) D.Legrand), oguapuriti (Plinia rivularis região missioneira baseiam-se em espécies imi- (Camb.) Rotman), a figueira (Ficus citrifolia gradas da Floresta EstacionaI doAlto Uruguai, Mill.) e o gerivá (Syagrus romanzoffiana constituindo "pontas-de-Iança" no avanço da (Cham.) Glassman). vegetação silvática sobre áreas campestres. No estrato médio predominam Lauráceas e Vinculados, floristicamente, àvegetação do regenerações das espécies acima relacionadas, Alto Uruguai, os fragmentos da região mis- salientando-se a canela-amarela (Nectandra sioneira são de caráter estacionaI, marcados, lanceolata Nees), a canela-guaicá (Ocotea fisionomicamente, por uma expressiva caduci- puberula (Rich.) Nees) e a canela-louro dade foliar no estrato superior durante o inver- (Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez). no, período dorepouso vegetativo. Notável pela homogeneidade, o estrato das Composto de árvores que podem ultrapas- arvoretas reúne três espécies de catiguás sar 30mde altura, oestrato superior dos capões (Trichilia claussenii C. DC., Trichilia catigua e matas ciliares reúne, entre outras espécies: o A. Juss., Trichilia elegans A. Juss.), alaranjei- angico vermelho (Parapiptadenia rigida ra-do-mato (Gymnanthes concolor Spreng.), (Benth.) Brenan), o cedro (Cedrela fissilis o cincho (Sorocea bonplandii (Baill.) W.C. VelI.),olouro (Cordia trichotoma (Vell.)Arráb. Burger, Lanjouw & Boer), o carvalhinho (Ca- ex Steud.), aguajuvira (Cordia americana (L.) searia silvestris Sw.) eaprimavera (Brunfelsia Gottschling &J.E. Mill.), oipê-roxo (Tabebuia australis Benth.). heptaphylla (Vell.) Toledo), o ipê-amarelo No estrato arbustivo, pouco denso devido ao (Tabebuia pulcherrima Sandwith), os angicos- sombreamento, não sãoraros ourtigão-do-mato brancos (Albizia niopoides (Spruce ex Benth.) (Urera baccifera (L.) Gaudich.) e Rubiáceas Burkart, Albizia edwallii (Hoehne) Barneby & do gênero Psychotria. J. Grimes), a timbaúva (Enterolobium contor- Na sinúsia das lianas, destacam-se asunhas- tisiliquum (Vell.) Morong), a canela-do-brejo de-gato (Acaeia tucumanensis Griseb., Acaeia (Machaerium stipitatum (DC.) Vogel), a nitidifolia Speg., Acaeia velutina DC.), o cipó- cabriúva (Myrocarpus frondosus AlIem.), o escada-de-macaco (Bauhinia microstachya açoita-cavalo (Luehea divaricata Mart. & (Raddi) Macbr.) eomofungo-gigante (Chamis- Zucc.), acorticeira-do-mato (Erythrynafalcata soa altissima (Jacq.) H.B.K.), além de algu- Benth.), a coronilha (Gleditsia amorphoides mas Sapindáceas (dos gêneros Paullinia, (Griseb.) Taub.), o alecrim (Holocalyx balan- Serjania, Thinouia) e Bignoniáceas (dos gê- sae Micheli), o marmeleiro (Ruprechtia neros Cuspidaria, Macfadyena, Pithecocte- laxiflora Meisner), atajuva (Maclura tinctoria nium e Pyrostegia). (L.) Don ex Steud.), a guavirova (Campo- Junto aos cursos d'água, adaptadas para su- manesia xanthocarpa O. Berg), o pesseguei- portar a força da correnteza ou eventual sub- ro-do-mato (Prunus myrtifolia (L.) Urb.), os mersão por ocasião de enchentes, as reófitas camboatás (Cupania vernalis Cambess., compõem uma comunidade singular de arbus- Matayba elaeagnoides Radlk.), otarumã (Vitex tos e árvores pequenas, geralmente conhecidas megapotamica (Spreng.) Moldenke), oariticum pelos nomes desarandi ouamarilho: Sebastiania (Annona neosalicifolia (Schlecht.) Rainer), a schottiana (MülI.Arg.) MülI.Arg. (amarilho ou pitangueira (Eugenia uniflora L.), e o rabo- branquilho), Terminalia australis Cambess. de-bugio (Lonchocarpus campestris Mart. ex (amarilho ou sarandi-amarelo), Cephalantus 5 glabratus (Spreng.) K. Schum. (sarandi-bran- sua diversidade florística, reunindo espécies da co ou sarandi-mole), Phyllanthus sellowianus Floresta EstacionaI e elementos chaquenhos. (Klotzsch) Müll. Arg. (sarandi ou sarandi-ver- Cabe salientar, todavia, que opinheiro-brasileiro melho) e Pouteria salieifolia (Spreng.) Radlk. (Arauearia angustifolia (BertoI.) Kuntze), in- (sarandi-mata-olho). A lista de reófitas tende a tegrante daFloresta Ombrófila Mista, não éna- completar-se quando seincluem osangiquinhos tivo na região em foco. Sobre este ponto, pode- ou quebra-foices (Calliandra brevipes Benth., se valer das palavras de Félix de Azara: Calliandra parvifolia (Hook. & Am.) Speg., Calliandra tweediei Benth.) e o salso-crioulo "Los jesuítas habían sembrado algunos de (Salix humboldtiana Willd.). estos árboles en sus misiones yson ya gran- Em sítios pedregosos ou de solos rasos, do- des. (...).Sedebía igualmente llevar lasemilla de este árbol a Europa; con este objeto yo minam a canela-de-veado (Helietta apieulata traje conmigo doce conos; pero losportugue- Benth.), a cutia (Piloearpus pennatifolius sesmelosquitaron, conotrasmuchas semillas, Lem.), os sucarás (Xylosma eiliatifolia (CIos) así como todo mi equipaje. He visto uno en Eichler, Xylosma pseudosalzmanii Sleumer) e Buenos Aires enunjardín, yprosperaba muy o mamoeiro-do-mato (Vaseoneella quereifolia bl.en.,,2\ A. St.-HiI.). Em contato com ocampo, naorla dos capões SUBSÍDIOS DENDROLÓGICOS e da mata ciliar, se destacam: o gravatá OS capões e matas ciliares da região (Bramelia antiaeantha BertoI.) e Rubiáceas, missioneira incluem algumas espécies valiosas como o veludinho (Guettarda uruguensis demadeira, reconhecidas, inclusive, naliteratu- Chamo & Schlecht.) e a viuvinha (Chomelia ra de antigos cronistas eviajantes. As mais im- obtusa Chamo & Schlecht.). Igualmente cons- portantes são a seguir descritas sob os pontos pícuo e numeroso nesta situação ecológica é devista botânico eda anatomia damadeira, jun- contingente chaquenho, principal responsável tamente cominformações sobre asinonímia, dis- pela fisionomia de savana na transição floresta- tribuição geográfica eutilização. campo, salientando-se, neste caso: o espinilho (Aeacia eaven (MoI.) MoI.), o esporão-de-galo o pinheiro-brasileiro ou araucária (Celtis brasiliensis (Gardner) Planch.), ataleira Uma das referências mais antigas aopinhei- (Celtis ehrenbergiana (Klotzsch) Liebm.), as ro-brasileiro, incluída nas Cartas Ânuas22 de aroeiras (Sehinus molle L., Sehinus polygamus 1632-1634, deve-se ao Pe. Diogo de Boroa23• (Cav.) Cabrera), a aroeira-brava (Lithraea Emviagem apostólica peloPlanalto Médio, rumo molleoides (Vell.) Engl.), a tuna (Cereus àredução de "Santa Teresa deI Ivitiruno", esse hildmannianus K. Schum.), a arumbeva jesuíta anotou que o trajeto, em direção leste, (Opuntia elata Salm-Dick) e diversos juquiris seguia por um campo raso adornado de peque- (Mimosa sp.). Restrito a solos pedregosos do sudoeste missioneiro - e compondo um arco que passa 21 AZARA, F., 1923. Op. cit., p. 130. por SantoAntônio dasMissões, Unistalda eSan- 22 BOROA, D.de.Cartas Ânuas delaProvíncia Jesuítica dei Paraguay: 1632 a 1634. Buenos Aires: Academia tiago -, o pau-ferro (Myraerodruon balansae Nacional delaHistoria, 1990.229 p. (Engler) Santin) éoutroelemento chaquenho que 23 Natural deTrujillo (Cáceres, Espanha), Diego deBoroa chama atenção, por sua folhagem verde-clara e nasceu em 25-7-1585, ingressou na Companhia de Je- extraordinária durabilidade natural damadeira. sus na província de Toledo (4-4-1605) e ordenou-se sacerdote emSantiago deIEstero (Argentina), em 15-9- Os capões e matas ciliares da região mis- 1610.Provincial doParaguai noperíodo de 1634a1640, sioneira, como exposto acima, distinguem-se por elefaleceu nopovo deSão Miguel, em 19-4-1657. 6 nos capões e que a paisagem cedia lugar a uma cor vermelha, que trabalhados em torno compe- grande e densa floresta de pinheiros na região tem com omarfim indiano em brilho elisura".28 do Ivityro, próximo àatual cidade de Passo Fun- Ao cronista não escapou nem mesmo a manei- do. Ao informar o significado desta palavra (Ser- ra habilidosa dos índios para escalar as grandes ra Negra), o religioso comentou que se devia, árvores em busca das pinhas, valendo-se de provavelmente, ao verde-escuro das árvores amaras na cintura, método ainda hoje utilizado.29 quando observadas de longe24 , demonstrando Os comentários acima expostos justificam- que o epíteto "mata-preta", registrada por se pela importância dessa espécie de madeira, Balduíno Rambo para as florestas com que chegou a sustentar todo um ciclo econômi- araucária, já era utilizado pelos indígenas do sé- co nos três estados sulinos, nas primeiras déca- culo XVII. das do século XX. De todo o modo, cabe infor- As referências de Boroa ao pinheiro-brasi- mar que seu nome científico válido éArauearia leiro também merecem destaque por sua prima- angustifolia (Berto!.) Kuntze, sendo o único zia, pois antecedem em quase 200 anos a pri- representante da farrulia Araucariaceae na flo- meira descrição científica da espécie, realizada ra brasileira. A respeito da etimologia do nome pelo florentino Antonio Bertoloni (1820), sob o genérico, a palavra Arauearia, hoje tão utiliza- binômio Colymbea angustifolia. Mesmo des- da, era absolutamente desconhecida na região, provida da terminologia preconizada pela botâ- à época dos jesuítas, tendo sido introduzida na nica pós-lineana, não resta a menor dúvida so- ciência botânica por Antoine Laurent de bre a identidade da araucária na descrição do Jussieu30, em 1789. Voz mapuche, apalavra alu- jesuíta: uma árvore mais alta do que os pinhei- ros da Europa, com troncos retos de 34-36 va- ras25, que sobem "redondos e parelhos" como que losdientes deajos, ysondemucho sustento, yque se fossem feitos em tornos26 .Boroa ainda ano- arma bien aiestomago" (BOROA, D.de, 1990.Op. cito p. 178). tou aregularidade quase geométrica dos ramos 28 "Las ramas que sevan desgajando dejan todo eltronco nos verticilos, a copa em forma de taça, as pi- como tachonado con arte, deunos nudos tersos yduros nhas "maiores do que a cabeça de um homem", de color encendido que despues labrados ai torno os pinhões grandes e nutritivos27 e os nós de compiten con elIndiano marftl enresplandor ylisura" (BOROA, D. de, 1990. Op. cit., p. 178). 29 "Aunque prevalece con todo esso laindustria humana 24 As acículas do pinheiro-brasileiro distinguem-se das amaestrada delahambre que lesenseiia aestos Indios a folhas das demais árvores nativas por sua tonalidade subir sin advertir en su peHgro, aunque lo tienen bien verde-escura, quando vista de longe. A esse respeito, grande, trepando abráçanse con el tronco que no lo Balduíno Rambo aftnnou que "o verde-escuro quase pueden comunmente abarcar dos y tres hombres, y preto dafolhagem éabsolutamente peculiar aopinhei- ciiiense pegados con el por la cintura con una fuerte ro" (RAMBO, B.AFisionomia doRio Grande do Sul. amarra, dejando el cuerpo holgado de industria, tiran Porto Alegre: Selbach, 1956. p.265). luego quanto pueden alcanzar aquella rnisma vuelta por 25 Antiga unidade decomprimento, corresponde aI, 10m. elarbol arriba hasta quedar elcuerpo en elpor aquella 26 "( ...) Ycoronado deherrnosissimos pinos que vencen a ventaja fuertemente apretado y tirante, y sustentando todos los que conocemos en Europa yparecen de otro delarnisma amarra quelesirvecomo deftador paraque linage descuellan sesgos yderechos 34 y36 varas que estribando con manos y pies, le de alcance, y dessa parecen empinarse alasnuves ytanredondos yparejos suerte se levanta yva ganando deIliso tronco quanto como selosuvieran dado altomo suhechura, enselvas tiene de largo, hasta Ilegar a despojarle deI fruto" inmensas que ay de ellos no se hallará uno que tenga (BOROA, D. de, 1990. Op. cit., p. 178). alguna exorvitancia otorcedura (BOROA, D.de, 1990. 30 Botânico francês (1748-1836), Jussieu éautor devasta Op. cit., p. 177). bibHografta, saHentando-se Genera Plantarum, obratida 27 "( •.•)sonunas piiias parecidas alasque sevenenEuro- como ponto departida para alistadenomes defanulias pa, pero mayores que la cabeza de un hombre y los botânicas adotada pelo Código Internacional de No- piiiones aunque mucho mas desabridos, mas crecidos menclatura Botânica. 7 de a Arauc031, região no centro-sul do Chile, esculturas, cabe citar o registro do Padre José pátria da espécie-tipo do gênero: Araucaria Guevara33 : araucana (MoI.) K. Koch. Fisionomicamentedominantenasporçõesmais "Su madera es de las mejores que puede elevadasdoPlanaltoSul-Brasileiro,opinheirocom- desear laescultura por sulucimiento ydelica- deza.Esdócil alosinstrumentos, sedejalabrar põepovoamentos gregários, ditospinhais,pinhei- fácilmente, ysinresistencia admite cualquiera rais, florestas com araucária ou mata-preta. Sua figura algusto deIdiestro maestro ydelicado distribuição geográfica, todavia, estende-se da estatuario. Como el corazón está penetrado SerradoSudeste (RioGrande doSul)aonortede de humor colorad034, con sólo exponer la Minas Gerais, alcançando, em direção oeste, as estatua aIcalor deI fuego, transpira eljugo a terrasaltasdointerflúvio Paraná-Uruguai, napro- laexterior superficie, ylabarniza depurpúreo víncia argentina deMisiones. encendido con un esmalte natural quejamás Como lembrado porBalduíno Rambo eDiego pierde, y conserva la pieza con lustre de Boroa, a folhagem da araucária é verde-es- agradable y vistosO".35 cura, quase negra, no que contrasta com as de- mais árvores nativas. Outros aspectos dignos Sob o ponto de vista anatômico, a madeira de nota são ainserção dos ramos em verticilos distingue-se por sua extrema simplicidade es- regulares easfolhas helicoidais, lanceoladas ou trutural, composta apenas de traqueídeos, na ovadas, coriáceas ede ápice pungente. Espécie estruturalongitudinal, edecélulasdeparênquima, dióica, os indivíduos apresentam os sexos em nos raios. Os traqueídeos, desprovidos de árvores separadas. Osestróbilos masculinos, de espessamentos espiralados, apresentam forma cilíndrica, variam de 8 a 20 cm de com- pontoações hexagonais e em arranjo alterno, primento por 1,5a3cm delargura, contendo de compondo umpadrão dito "araucarióide", muito 4 a 20 sacos polínicos em cada escama. Os peculiar à família botânica a que pertence. A estróbilos femininos, ditos pinhas, variam de 10 estrutura anatômica carece de canais resiníferos a 20 cm de diâmetro, apresentando um único etraqueídeos radiais eoparênquima axial épra- rudimento seminal (óvulo) por escama. ticamente ausente. Traqueídeos preenchidos de A madeira, macia eleve, tem peso específi- resina (traqueídeos resinosos) sãofreqüentes em co em torno de 0,50 g/cm3 ecor branca-amare- veioslongitudinais, epredominantes nolenhodos lada, escurecendo um pouco com o tempo. Os troncos, retos e de fuste longo, prestam-se ad- miravelmente para madeira serrada, servindo 33 Padre jesuíta, José Guevara nasceu em Recas (Toledo, Espanha), em 1720. Ingressou ainda adolescente na para as mais variadas finalidades; como óbice, Companhia de Jesus (1732), sendo enviado, no ano cabe salientar a sua baixa durabilidade natural, seguinte, para aAmérica doSul.EmCórdoba (Argenti- principalmente quando exposta às intempéries na), ocupou a cátedra de Filosofia e, com a morte de ou em contato com o solo. Pedro Lozano, foinomeado historiador oficial daCom- Com suacostumeira precisão eacerto, Félix panhia, cargo que desempenhou até aexpulsão dosje- de Azara registrou que a madeira é "escelente suítas, em 1768. Asilado na Itália, faleceu em Sapelli, para tablazon, ypara paIos, vergas ymasteleros em 1806. de navio".32 A respeito de sua indicação para 34 OPe.Guevara refere-se àresina contida nostraqueídeos resinosos, em veios da madeira. Éessa substância que, por ação do fogo, exuda à superfície, produzindo o 31 HOFFMANN l,A. E. Flora silvestre de Chile: zona "verniz avermelhado", referido pelojesuíta. araucana. Santiago: Ediciones Fundacion Cláudio Gay, 35 GUEVARA, P.Historia deiParaguay, Rio deLaPlata y 1991. p. 48. Tucumán. In: ANGELIS, P. de. Colección de obras y 32 AZARA, F.de.Descripcion éHistoria deiParaguay y documentos relativos alaHistoria antigua ymoderna deiRíodelAPlata.Madrid: Imprenta deSanchiz, 1847. de lasprovíncias dei Río de lA Plata. Buenos Aires: Tomo 1.p. 65 Editorial Plus Ultra, 1969. Tomo 1,p. 570. 8 ramos que seinserem no tronco (nós da madei- por fissuras longitudinais profundas e largas. ra). Por seu valor, a madeira mereceu diversas Espécie caducifólia, ocedro tem folhas alternas publicações anatômicas, salientando-se Mainieri imparipinadas de40-60cmdecomprimento, com & Chimelo (1979), Greguss (1955), Paula & folíolos em 25-37 pares opostos, sésseis ou Alves (1997) eTortorelli (1956). subsésseis, de 5-15 cm de comprimento por 3-5 Espécie reconhecidamente valiosa, inclusive cm de largura, recobertos de pêlos na face infe- pelos pinhões que serviram de alimento aos ín- rior. Os frutos, muito característicos, sãocápsu- dios eaos primeiros imigrantes, opinheiro-bra- las lenhosasde5-9 cmdecomprimento por 2,5- sileiro figura naliteratura sobuma rica sinonímia 4cm de largura, que seabrem em 5fendas lon- popular, destacando-se, neste sentido, osnomes gitudinais, deixando uma estrutura central depino misionero (naArgentina) ecuriy, étimo lenhosa. As sementes, aladas, são facilmente guarani encontrado nas obras de antigos cronis- dispersadas pelo vento. tas, como Félix de Azara36 , bem como na raiz A madeira, leve a moderadamente pesada do nome da capital paranaense (Curitiba). (0,55 g/cm3), tem alburno branco ou rosado e cerne castanho-rosado até castanho-averme- o Cedro lhado. Macia ao corte e notavelmente durável Nobre porexcelência, ocedro deve seunome em ambiente seco, apresenta alta estabilidade ao odor agradável da madeira, que lembra o dimensional, fácil trabalhabilidade eboa reten- cedro-do- Líbano, madeira renomada desde a ção de pregos eparafusos, produzindo superfí- Antiguidade Clássica, constando referências, cie lisa e uniforme, com boa absorção de pig- inclusive, na própria Bíblia Sagrada. Ao contrá- mentos epolimento. rio dessa árvore famosa, ocedro sul-americano A estrutura anatômica da madeira apresenta não éum pinheiro (Pinaceae, Pinophyta, Gym- anéis de crescimento distintos e porosidade nospermae), mas uma Meliácea (Magnoliophyta difusa, com vasos pouco numerosos e de diâ- ou Angiospermae): Cedrela fissilis Vell. metro pequeno até grande, arredondados ou O próprio nome científico da espécie, aliás, elípticos, solitários ouemmúltiplos radiais de3- alude ao Cedrus libani A. Rich.: diminutivo la- 4 poros. Os elementos vasculares, com placas tino de Cedrus, Cedrella deriva do grego deperfuração simples, tem pontoações alternas Kedrus, nome da referida árvore na antiguida- com aréola poligonal eabertura elíptica inclusa. de. Oepíteto específico fissilis, por suavez, sig- No interior dos vasos, a presença de conteúdo nifica suavemente fendido, devendo-se àquali- resinoso, de valor diagnóstico, é também res- dade da madeira, que é dura, embora de fácil ponsável pelo odor característico da madeira. fendilhamento. Muito importante, sob o ponto de vista tecno- De ampla distribuição natural, ocedro ocor- lógico, são as fibras de paredes finas, a ocor- re desde asAntilhas eMéxico até oRio Grande rência deraios pouco freqüentes (4-7/mm), bi a do Sul e norte da Argentina (província de tetrasseriados, e o parênquima axial em faixas Misiones). Árvore de grande porte, integrante marginais com 3-10 células delargura, além dos do dossel da floresta, pode alcançar 35 m de padrões apotraqueais difuso e paratraqueal es- altura, produzindo tronco usualmente reto, cilín- casso. drico, de até 1,3 m de diâmetro, revestido por Pela excelência de suas propriedades físico- espessa casca castanho-acinzentada, marcada mecânicas, ocedro éamadeira mais versátil do sul do Brasil, sendo indicada para compensa- dos, mobiliário, instrumentos musicais, escultu- 36 Entre outras obras, apalavra pode ser encontrada em: ras e obras de talha, bem como na construção AZARA, F. de, 1847. Op. cit., p. 64-65; AZARA, F. civil, naval eaeronáutica. de, 1923. Op. cit., p. 129-130. 9 Sobre a diversidade de usos, vale citar as igualmente de cedro inúmeras estátuas palavras do Pe. Antônio Sepp37, fundador de missioneiras, salientando-se as de São Borja e São João Batista, um dos Sete Povos das Mis- São Luiz Gonzaga, obras de José Brasanelli.42 sões Orientais. Em manuscrito inédito, conser- Autor de importante bibliografia sobre are- vado noarquivo de Alberto Lameg038,ojesuíta gião platina, Félix deAzara também deixou re- refere que "los Cedros se usan para todas las ferências sobre ocedro, madeira que esclarece, cosas que han de tener oro y plata y para todo de início, ser "muy diverso deI deILíbano"43,e genero de tablas y canoas". 39Foi com esta que "sirve para hacer una infinidad deplanchas, madeira que se construiu o tabernáculo, uma para toda suerte de usos, baos, remos, etc, por- capela octogonal e os altares do templo de São que es muy cómodo de aserrar y trabajar".44 Joã040, segundo informe do próprio Padre Como óbice, todavia, lembra que essa madeira Sepp41.Madeira preferida para esculturas, são está sujeita afender-se eque émuito sensível à variação de umidade, motivo pelo qual aspran- chas "se separan espontaneamente pormuy bien Natural de Kaltem, Tirol austríaco, Antônio Sepp von juntas que estén".45 37 Rechegg nasceu a 22-11-1655, de nobre estirpe. Em Arespeito do cedro, convém lembrar, ainda, 1764,com apenas 19anos deidade, entrou para aCom- que foi a madeira escolhida para aestrutura da panhia de Jesus, partindo de Cádiz (Espanha) para a cúpula edoteto em abóboda deberço daIglesia América em 1691.Nas reduções rnissioneiras, oPadre Sepp trabalhou durante 41 anos, tendo falecido aos 78 de la Compaiiía46, em Córdoba, a mais rele- anos deidade, em 1733.Fundador deSãoJoão Batista, vante obra da arquitetura religiosa barroca do oPe. Sepp era tão habilidoso na música, como napin- período colonial na Argentina. Apesar da dis- tura, naescultura enaarquitetura, sendo umverdadeiro tância, a importação de cedro do Paraguai foi assombro, um dos gênios das Missões. Foi também solução encontrada, na ausência de madeiras pioneiro na fundição de ferro, usando como matéria- prima o itacuru (cupim), empregado, igualmente, na com dimensões e características adequadas na cantaria do templo de São João Batista. região do Chaco. 38 Autor de OsSete Povos das Missões, artigo que mere- Madeira de lei, por excelência, assim reco- ceu duas publicações na "Revista do Serviço do nhecida desde os primeiros cronistas, o cedro Patrimônio Histórico eArtístico Nacional" (Rio deJa- dispõe de escassa sinonímia popular, fato que neiro): aprimeira, de 1940,saiu nonúmero 4dareferi- darevista, entre aspáginas 55e81;asegunda, de 1997, aponta para uma valorização relativamente re- integrou aedição comemorativa dos60anos doIPHAN cente da espécie, posterior à chegada do "ho- (número 26), constando entre aspáginas 74 e86. mem branco". Em todas as partes a árvore é 39 LAMEGO, A. Os Sete Povos das Missões. Revista do conhecida pelo mesmo nome, variando apenas Serviço do Patrimônio Histórico eArtístico Nacional, Rio deJaneiro, n.4,p.75, 1940. oepíteto; na literatura, deste modo, ela éreferi- 40 SEPP,A.ViagemàsMissões Jesuíticas etrabalhos apos- da como cedro misionero, na Argentina, como tólicos. SãoPaulo: Martins, Ed.daUniversidade deSão cedro colorado, no Peru, e por diversas vari- Paulo, 1972. p. 175-176. No capítulo introdutório àedição daobra doPe. Sepp, 41 indicada nanotaanterior, Wolfgang Hoffmann Harnisch p. 161). Para esta fInalidade, a madeira preferida nas afIrma, sembasedocumental, queotelhado daigreja de reduções jesuíticas era oipê (ver nota 63). SãoJoão Batista "repousava sobre 24colunas decedro HARNISCH, W.H. Introdução. In: SEPP, A. Op. cit., [mcadas naterranuma profundidade de2metros emeio, 42 p. LVII. elevando-se aumaaltura de 16metros". Aidentidade da 43 AZARA, R. 1847. Op. cit., p. 63. madeira, nestecaso,émeraespeculação doviajante ale- 44 AZARA, F., 1923. Op. cit., p. 128-129. mão, pois oPe. Sepp nada diz arespeito: "No que toca àscolunas, cuidei queprimeiro fossem enterradas numa 45 AZARA, F., 1923. Op cit., p. 129. profundidade de oito pés ebem calçadas com pedras, 46 KRONFUSS, J. Manzana Jesuítica. Historia de su construcción. Córdoba, Editorial Nuevo Siglo, 2005. p. de sorte que depois podiam ser levadas sem susto à 12-15. altura deuns cinqüenta pés" (SEPP, A., 1972. Op. cit., 10