O TRABALHO ARTESANAL EM MACRAMÊ PARA REALIZAÇÃO COM ADOLESCENTES INTERNOS EM CENTROS DE SÓCIO-EDUCAÇÃO COMO FORMA DE SOCIALIZAÇÃO: A VISÃO DE UMA NECESSIDADE. WORK ARTESANAL MACRAME FOR MAKING WITH TEENS IN INTERNAL CENTRES OF SOCIAL AND EDUCATION AS SOCIALISATION DESIGN: THE VISION OF A NEED. Marcelo Marcio Sorace1 Tatyla Marques Barreto2 Resumo: O presente artigo é composto de um breve histórico sobre um trabalho já realizado em unidade de internação provisória e a comparação para que possa ser realizado em uma unidade maior. São as novas unidades padrão e essas possuem internação provisória de meninos e internação de meninos e meninas, sendo todos adolescentes em conflito com a lei, sob um novo olhar pedagógico a realização desse trabalho nos da um novo paradigma, atraindo a atenção para as múltiplas utilidades e possibilidades que esse programa traz,inclusive possibilidades de avaliações diagnósticas dos adolescentes sobre suas capacidades e superações.Com a participação, além dos educadores, dos técnicos responsáveis avaliando o adolescente em seu desenvolvimento, comparando ele a si mesmo em seu aprendizado e verificando seus avanços na socialização, verificando se ele vai de encontro as pessoas com quem se relaciona de maneira menos agressiva e de encontro das expectativas criadas para sua socialização, tendo em conta que o que o leva até o internamento, são comportamentos anti-sociais, como roubo, agressão, tráfico e outros crimes do qual protagonizam e o próprio nome nos da uma idéia do trabalho realizado na unidade, CENSE (centro de socioeducação), trabalhamos com pessoas com dificuldades de relacionamento social, sendo o objetivo principal sua inserção como cidadão, indo além, promovendo a integração do trabalho realizado pelos diversos seguimentos profissionais da unidade e a integração do adolescente com o educador em uma atividade prazerosa, fugindo da mesmice. Palavras-chave: Adolescente, Socialização, Avaliação Abstract 1 Graduado em Pedagogia (UEPG); Pós-graduado em Psicopedagogia (Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco) 2Graduada em Serviço Social (UEPG); Pós-graduada em Arteterapia e Educação do Ser (UFRN). 2 This paper consists of a brief history about a work already held in a provisional detention unit and a comparison so it can be held in a larger unit, which are the new standard units and these have provisional admissionfor boys and admission for boys and girls, all of them, adolescents in conflict with the law. Under a new pedagogical look at the performance of this work gives us a new paradigm, drawing attention to the multiple utilities and possibilities that this program brings, even possible diagnostic evaluations of the adolescents about their capabilities and overruns, if it happens to participation, in addition to educators, from the technical evaluating team of the teenager in their development, comparing themselves tothem in their learning process and checking their progress in socialization, making sure that the teenager treats people less aggressively and the expectations created for their socialization. Given that what leads to the admission, are anti-social behavior such as theft, assault, drugdealing and other crimes whichtheyperform.The name itself gives us a clue work in a unity, CENSE (center of social-education), we work with people with difficulties in social relations, the main objective is their integration as citizens and beyond, promoting the integration of the work done by the many professional areas of the unit and the adolescent integration with the educator in a pleasurable activity, taking them out of the same routine. Keywords: Teenager,socialization, Evaluation 1. INTRODUÇÃO Para justificar a necessidade desse tipo de trabalho de apoio sócio- educacional dentro da unidade de risco, levaremos em conta o que diz o SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), que é o parâmetro para o atendimento do adolescente em conflito com a lei, teremos uma visão diferenciada do cotidiano dos adolescentes internados. A partir da prática no trabalho se tem a notoriedade, da necessidade de se ter atividades em seus quartos, pois como diz a máxima, “cabeça vazia é a oficina do mal feito”, essas atividades realizadas nos quartos ajudam no comportamento do adolescente e podem ir além. Tendo como premissa básica a necessidade de se construir parâmetros mais objetivos e procedimentos mais justos que evitem ou limitem a discricionariedade, o SINASE reafirma a diretriz do Estatuto sobre a natureza pedagógica da medida socioeducativa. (SINASE, 2012, p. 12). A implementação do SINASE objetiva primordialmente o desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos. Defende, ainda, a idéia dos alinhamentos conceitual, estratégico e operacional, estruturada, principalmente, em bases éticas e pedagógicas. (SINASE, 2012, p. 16). A mudança de paradigma e a consolidação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ampliaram o compromisso e a responsabilidade do Estado e da Sociedade Civil por soluções eficientes, eficazes e efetivas para o sistema socioeducativo e asseguram aos adolescentes que infracionaram oportunidade de desenvolvimento e uma autêntica experiência de reconstrução de seu projeto de vida. (SINASE, 2012, p. 17) 3 A necessidade de um trabalho que envolva os adolescentes e que possa ser realizado na unidade de internamento Cense Ponta Grossa, procurando os momentos de tempo ocioso que esses adolescentes têm enquanto estão em seus quartos e que possa realizar o trabalho de tecelagem sozinho, é aí que, estes meninos começarão a entender que são capazes de realizar algo, é um caminho muito simples e pode ser trilhado por qualquer pessoa, pois aprendi com um amigo e este aprendeu com um menino cego, a desenvolver essa arte, sim macramê é uma arte e das mais apreciadas pelos jovens. O fato é que esse tipo de trabalho realizado dentro da unidade de internamento de adolescentes em situação de risco ou em conflito com a lei, em alinhamento com os educadores faz diferença desde o relacionamento entre adolescentes, tanto como no relacionamento entre educador e adolescente, pois esse trabalho faz do entrosamento uma premissa, podendo esses laços criados serem usados, até mesmo, para contornar situações de crise. 2. AS UNIDADES DE INTERNAÇÃO E O PÚBLICO ATENDIDO 2.1. AS UNIDADES Percebe-se aumento da criminalidade e da violência desencadeada por esta, notadamente, em todo o Paraná, mas comparando as casas, a que atendia os jovens em Ponta Grossa há alguns anos e a que atende hoje, temos a noção de que esse aumento é evidente, o número de adolescentes atendidos desde 1996, até hoje, a certeza é que apenas teve aumento nesse quesito, pois de 12 adolescentes em internamento provisório e sendo o internamento em Curitiba quando necessário, passando para 88 adolescentes sendo, 10 vagas para meninas, 20 vagas para internamentos provisórios e 58 vagas para internamentos. Devido ao significativo aumento, o estado criou a central de vagas, passando a unidade em questão, a atender adolescente de todo o estado, por necessidade de que se tenha onde cuidar deles, nos casos específicos da lei, o mais próximo a sua comarca e família, o possível. A unidade em questão possui 88 vagas dispostas em 8 casas, sendo uma casa com 8 quartos e as demais com 10 quartos, 4 isso em dois corredores, um com 6 e outro com 4 quartos, além de área de convivência , sala de entrevista, sala do educador e um solário.Temos em algumas casas alojamento duplo, sendo a grande maioria dos alojamentos individuais. A unidade conta ainda na área de segurança, que é onde se encontram os adolescentes, centro ecumênico, ginásio de esportes, escola, oficina, refeitório dos funcionários, horta, enfermaria, campo de futebol e uma cobertura central usada para reuniões e apresentações. 2.2. O PÚBLICO ATENDIDO A apresentação do grupo atendido e das condições de realização do trabalho faz se necessária, para que haja a compreensão e visualização da necessidade dessa atividade junto aos adolescentes em questão. Este grupo é composto por adolescentes, em regime de internação para cumprimento de medida socioeducativa de privação de liberdade ou semi- internação, enquanto o Poder Judiciário (Vara da Infância e Juventude) define qual será o destino destes adolescentes alojados em unidade de socioeducação, estas existentes pelo Estado do Paraná, devendo estes, permanecer até o entendimento com a justiça. Segundo oEstatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8069/90, a idade que se configura a adolescência está entre 12 anos completos e um dia antes de completar 18 anos, em alguns casos particulares pessoas entre 18 e 21 anos tem esse direito. Observando-se que nosso público é composto apenas por adolescentes com alguma dificuldade em relação à postura de convívio social, sendo a violência uma constante no seu dia a dia. Na grande maioria as dificuldades passam pela família que se encontra com dificuldades, pelo uso de álcool e drogas, pelos pais e, também, pelos adolescentes, deixando claro que exceções existem e que toda pessoa pode vir a cometer um delito e nem por isso à índole está comprometida. Não nos atrevemos a escrever sobre os delitos cometidos, porque esses não vêm ao caso, o atendimento aos adolescentes deve ser uníssono. Vamos nos limitar nesse trabalho a descrever o que já foi feito na antiga unidade, a qual possuía um formato diferente devido as proporções do atendimento desenvolvido (menor 5 número de adolescentes e funcionários), aprimorando a atividade para que possa ser realizada nessas novas unidades, especificamente no CENSE Ponta Grossa. Os adolescentes ficam a maior parte do tempo recolhidos em seus quartos, que são todos de concreto e sem nada que se movimente, tendo sua composição de uma cama, uma mesa com banqueta e um banheiro, fechado com uma porta de ferro de onde só podem sair sendo acompanhados por um educador, é nesse espaço físico onde passam a maior parte do seu tempo, tendo posse de um colchão, travesseiro, cobertores, toalha e um livro. Na unidade em geral os adolescentes só podem andar acompanhados e existem muitas regras, que devem ser seguidas para a segurança não ser comprometida, tanto pelos adolescentes, quanto pelos educadores e outras pessoas que circulem pela área de segurança. DO FLUXO DE MATERIAIS E EQUIPAMENTOS PELA ÁREA DE SEGURANÇA O fluxo de materiais e equipamentos pela área de segurança sempre constitui fator de risco à integridade dos membros da comunidade educativa. Por essa razão, requer-se o máximo controle possível sobre todos os materiais e equipamentos que circulam pela área de segurança. Todo e qualquer material ou equipamento que for ingressar na área de segurança será obrigatoriamente, submetido à revista, contagem e conferência pelo referência de plantão antes de ser autorizado o acesso.(Manual de Segurança CENSE Ponta Grossa, 2011, p.19) Nos quadros abaixo temos uma idéia geral sobre a capacidade das unidades: QUADRO DE PESSOAL 6 s o d id n e ta s e tn edadin ecseloda ed edadicapa atsiroto lanoicarepO railixu oãçnetunaM ed railixu laicoS rodacud ovitartsinimdA ocincé megamrefnE ed ocincé meegda rmairleixfunE rodartsinimd laicoS etnetsiss ogolócis ogogade ocidé oriemrefn ogolótnod lanoicapucO atuepare lato U C M A A E T T A A A P P M E O T T Cense 88 2 3 1 71 6 1 2 1 2 3 1 1 1 1 1 97 PG 2015 Cense 88 2 5 1 69 7 1 2 1 3 5 1 1 0 1 1 100 PG20 14 SAS 12 19 PG 1998 SAS 12 19 PG 1999 SAS 12 25 PG 2000 SAS 12 25 PG 2001 7 SAS 12 27 PG 2002 SAS 12 18 PG 2003 Fonte DRH DEASE Governo do Paraná POPULAÇÃO ATENDIDA SAS PG Em média 16 entradas ao mês: 192 ao ano 1998 até 2003 CENSE PG Provisória: 175 Internação: 131 Total: 306 2013 CENSE PG Provisória: 201 Internação: 95 Total: 296 2014 Fonte DRH DEASE Governo do Paraná Anterior a inauguração do CENSE, havia uma unidade denominada “Casa do Irmão do Futuro, era uma casa pequena, para atendimento máximo de doze adolescentes em regime de internação provisória, nesta unidade o trabalho com artesanato em macramê já havia sido realizado. O referido regime é estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 8069/90, sendo de um prazo máximo de 45 dias para que a esfera do judiciário possa encaminhar o adolescente para onde ache ser o melhor para sua proteção, em acordo com o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Esta unidade foi fechada quando uma nova unidade foi inaugurada, que e o CENSE PG, pois a demanda de vagas para o atendimento de adolescentes em conflito com a lei teve um aumento na região, entrando no plano do governo estadual o atendimento com qualidade e de acordo com o estatuto é um dever. Nessa nova etapa, a unidade é bem maior, possui capacidade para 88 adolescentes, sendodividida em casas menores, como já mencionado anteriormente, o que possibilita um atendimento mais similar ao já realizado na antiga unidade. 8 Há separação entre os internos,de acordo com a fase que estão no atendimento, constituindo-se da seguinte forma: duas casas de internamento provisório, sendo feito o atendimento de chegada e triagem com o adolescente eo internamento (o qual consiste em uma medida aplicada por seis meses e podendo ser prorrogada por até três anos, previsto pelo estatuto da criança e do adolescente) realizado em cinco casas, além de uma casa destinada ao atendimento de meninas, sendo este atendimento realizado com uma pequena diferenciação de clientela, mas em nada altera o como e a necessidade de realização do trabalho. 3. O ARTESANATO EM MACRAMÊ E AS POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO DO TRABALHO COM ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA 3.1 O MACRAMÊ O Macramê é a arte de tecer fios sem a utilização de máquinas, uma tecelagem manual que tem múltiplas aplicabilidades. No caso proposto, trabalhar-se-á com a tecelagem de pulseiras em macramê, devido ao fato de ser um objeto de mais fácil aprendizado, sendo este apenas o começo para entender a produção de algo mais elaborado, podendo com o desenvolvimento do programa, acontecer, uma vez que existem casas do internamento que abrem a possibilidade de tecelagem de bolsas, peças de roupas entre outros. Outro aspecto a ser considerado, é o fato deste tipo de artesanato fazer parte de sua cultura adolescente. Sendo que a maioria das novas tribos com suas tendências gostam desse tipo de arte. Havendo assim o interesse e esse é a motivação para o aprendizado, constituindo-se de um potencial caminho para a construção da auto-estima e ressocialização dos adolescentes, pois aarte transcende e une as pessoas já a milhares de anos, se tornando cultura. 3.2 A APLICAÇÃO 9 A segurança, neste contexto, deve ser levada em primeiro lugar sempre, sendo que o desenvolvimento do trabalho deve ser para a melhoria das relações sociais dentro do possível. Levando em conta que as relações não são apenas entre adolescentes e educadores, bem como: entre adolescentes e adolescentes, adolescentes e família, adolescentes e equipe técnica, adolescentes e professores, adolescentes e outros funcionários. Como já observado em outras ocasiões em que se trabalha com artesanato na unidade, este ultrapassa as paredes da mesma, quando levado às famílias.Quando produzem algo significativo, os adolescentes fazem questão de compartilhar com a família e com outras pessoas. Ressaltando-se que a unidade trabalha com a socioeducação, privilegiando aspectos necessários à segurança e as regras da unidade, percebe-se que quando possível, presenteiam as pessoas da unidade com a qual criam vínculos. Portanto, há necessidade de criar mecanismos para que seja possível demonstrações de afetividade com o material produzido pelo adolescente,uma vez que sendo flexíveis conseguimos progressos relevantes, pois quem da um presente entra em uma situação de abrir mão de algo e agradar alguém, o que é um princípio de boa convivência. O desenvolvimento do trabalho é dos mais simples e de baixo custo, podendo ser realizado por um responsável, ou integrar um grupo de educadores, devendo apenas ser observado com rigor, o controle do material, que sendo feito, em nada afeta a segurança da unidade. Mesmo que fios se transformem em muitas coisas, com um bom controle esse material não traz riscos a segurança por que o fio que deve ser usado nesse caso é o fio comum de algodão utilizado para tricô, são coloridos, dando vida às pulseiras, e não são tão reforçados que possam oferecer perigo em pequenas quantidades Além do melhor aproveitamento do material para que o gasto financeiro seja justificado, mesmo sendo mínimo, em comparação, a certos programas de atendimento, devemos sempre pensar em segurança. A linha de algodão (nº5), usada para tricô é um material barato, é a sugerida para esse caso, que se encontra facilmente em bazares, lojas, mercados, portanto, 10 sendo fácil de encontrar, o material não é um problema nesse caso, com um investimento mínimo a atividade pode ser realizada a contento. Ressaltado as vantagens deste programa, percebe-se que ele faz com que com que as pessoas envolvidas estreitem relações humanizadas, o que é de extrema importância no caso dos nossos adolescentes, pois muitos perderam laços afetivos e até mesmo um referencial de vida social, deixando de estudar e produzir para seu progresso como pessoa,se envolvendo com ilícitos que o levaram até a unidade. Deste modoum programa como este, propicia além do aprendizado da confecção do artesanato, um momento em que podemos, como educadores, estreitar os laços socioafetivos com o adolescente e ajudá-lo a retomar seu caminho passando a enxergar o mundo, os outros e a si mesmo de forma diferenciada, reativando laços. Para Costa (2001, p.41), “Os laços que se desenvolvem só são verdadeiros, contribuindo construtivamente para o existir, quando são fruto de um dar e receber, de um liberar e de um restringir acolhidos livremente.” Um bom trabalho lúdico transformao adolescente em um artesão, indo além de suas fronteiras, se organizando e adaptando os materiais que encontra para a realização do seu trabalho, criando métodos próprios. Com o aprendizado ocorre o desenvolvimento humano, sendo parte integrante do trabalho a ser desenvolvido por educadores. Cabendo assim, incentivar nos adolescentes atendidos para que levem isso além das fronteiras da unidade, alocando esses princípios ao seu dia a dia. VOLI considera que “[...] reconhecer e apreciar o próprio valor e importância significa ser consciente, não apenas da própria forma de agir em determinado momento, mas também dos próprios potenciais e possibilidades.” (VOLI, 2002, p.54) Promovendo deste modo, o estreitamento das relações,devido ao fato do educador ser responsável pelo material e pela realização do trabalho, vendo dentro desse contexto como deve ser aplicado e como deve ser o atendimento ao adolescente. Deste modo, torna-se deveras interessante a realização da proposta, pois cada ser é único e sua trajetória é própria. Ressaltando o fato de que quem está na situação de internamento possui no mínimo dificuldades sociais
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