Imagem Daniel Neves da Costa O Touro que nos puseram na Arena. Ou: O Desdobrar das Fronteiras nos Interstícios da Palavra Gaguez, Ciência e Comunidades de Responsabilidades Tese de doutoramento Governação, Conhecimento e Inovação, orientada pelo Professor Doutor João Arriscado Nunes e apresentada à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Fevereiro de 2017 Daniel Neves da Costa O Touro que nos puseram na Arena. Ou: O Desdobrar das Fronteiras nos Interstícios da Palavra Gaguez, Ciência e Comunidades de Responsabilidades Tese de Doutoramento em Governação, Conhecimento e Inovação, apresentada à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra para obtenção do grau de Doutor Orientador: Prof. Doutor João Arriscado Nunes Fevereiro, 2017 O Touro que nos puseram na Arena. Ou: O Desdobrar das Fronteiras nos Interstícios da Palavra Gaguez, Ciência e Comunidades de Responsabilidades ______________________________________________________________________________________________________________ Agradecimentos Um trabalho de doutoramento e a escrita de uma tese é um caminho muitas vezes descrito como solitário, mas que em verdade nunca se trilha sozinho. Olhando com atenção é um percurso feito sempre na companhia de parceiros, familiares, amigos que, em diferentes momentos, nos vão dando o alento, o apoio e a ajuda sem os quais, todo o esforço e dedicação colocados em cada etapa deste longo processo, nunca seriam suficientes para conduzirem com sucesso à sua conclusão. Assim, o meu primeiro e mais sentido agradecimento é para a minha família, o meu porto seguro de estabilidade e incentivo, o chão que me situa no mundo e as minhas asas para traçar novos horizontes. Sem o seu apoio incondicional, dedicado, incansável, tantas vezes invisível mas sempre indispensável, nada do que foi feito teria sido possível. Em particular, quero agradecer à Sónia Oliveira, minha esposa, companheira, confidente e melhor amiga, pelo ombro, pelas palavras de incentivo, pela disponibilidade paciente, constante e incondicional para escutar e compreender as vicissitudes e dificuldades, os momentos de receio e dúvida. Acima de tudo, por acreditar sempre. Ao meu filho, por me ter dado um imenso novo sentido, por ter acrescentado vida à minha vida de formas inimagináveis para mim até tão pouco tempo. Fez-me querer ser melhor homem, e essa missão aceito de bom grado. Ao meu pai, pilar sempre presente, exemplo de superação e resiliência. A minha mãe, cuja memória procuro honrar todos os dias, desafiando-me a fazer mais e melhor, a nunca desistir, a ser o que em sonhos se acredita possível e que no quotidiano se constrói arduamente. A Sociologia é para mim um compromisso com o mundo que envolve não apenas o cientista social, mas todos aqueles com quem no terreno se coproduz os fenómenos sobre os quais se trabalha. Quero agradecer aos companheiros que encontrei na Associação Portuguesa de Gagos nestes anos de trabalho dedicado a uma causa em que se quer fazer uma diferença, pelo exemplo de sentido de missão e de serviço para com os outros que depois de nós virão, por terem confiado em mim, acreditado num projeto que desafiava, dado do vosso tempo e disponibilidade para ousar um rumo novo. Obrigado Cesário Neves, Leonel Mendes, Luís Rocha, José Carlos Pedrosa, João Baptista, António Martins, António Querido, Carlos Ferreira, Hermínio Loureiro, Anabela Silva. Agradeço ainda ao Brito Largo o ter-me dado a conhecer a APG, a camaradagem e amizade, as conversas intensas e desafiantes que marcaram as nossas viagens na gaguez, a dedicação à causa e à APG, o conselho nos momentos mais difíceis. À Rosa Paula Neves, a amizade e dedicação incansável à causa e ao projeto APG, o exemplo de superação e resiliência. Ao José Carlos Domingues, a inteligência e atenção minuciosa ao detalhe na dedicação constante à causa. À Vera Jorge, pela presença serena e inspiradora em momentos de crise, i O Touro que nos puseram na Arena. Ou: O Desdobrar das Fronteiras nos Interstícios da Palavra Gaguez, Ciência e Comunidades de Responsabilidades ______________________________________________________________________________________________________________ por participar neste desafio de querer fazer a diferença. À Elisa Behringer, pelas palavras de sabedoria e por instigar e desafiar a fazer mais e melhor. Com a gaguez encontrei um grupo de Terapeutas da Fala a quem devo um sentido agradecimento por terem aceitado o desafio de fazer da gaguez um tópico de intensa reflexão, por me terem aceitado entre eles e dado o benefício da dúvida. Assim sendo, agradeço à Helena Germano, à Elsa Soares, à Joana Caldas, ao Pedro Aires de Sousa, à Mónica Rocha, à Elsa Margarido, À Maria Cunha, à Rita Valente, à Maria João Morgado, à Margarida Grilo, ao Ricardo Santos, à Assunção Matos, entre muitos outros, pela disponibilidade para a partilha de conhecimento e dedicação a um projeto que vos instigou muitas vezes a sair da segurança vossa zona de conforto e desafiou, em jeito de provocação, a pensar para além dos vossos lugares comuns, e ao qual ainda assim deram o vosso precioso contributo. À Jaqueline Carmona, agradeço em especial a dedicação à causa, o empenho para fazer a diferença, a amizade e o profissionalismo constante. Ao Gonçalo Leal, agradeço a determinação inspiradora, a cortesia, o empenho na causa e o profissionalismo. Aos companheiros André Caiado, Hélder Silva, Bruno Neves, André Gomes, Ana Duque, Jorge Santos Silva, Patrícia Oliveira, Paulo Guerra, Tiago Almeida, André Carmo, António Azevedo, Pedro Merino, Emanuel Freire, Anabela Miranda, Catarina Vieira, Sérgio Barbosa, Daniel Pinho, Óscar Gomes, António Pipocas, Porfírio Canilho, entre tantos outros, agradeço o aceitarem este enorme desafio de querer fazer a diferença, embarcando nesta aventura colocando a céu aberto para a partilha o que até então permanecia escondido e em silêncio. Agradeço a cada um o terem-me deixado entrar nas suas vidas, o que convosco aprendi é impagável. Sois guerreiros imensos e uma fonte incansável de inspiração e alento, exemplos serenos de vida que guardarei comigo na memória para sempre. Um sentido agradecimento é ainda devido ao meu orientador de tese e coordenador de trabalho, Professor Doutor João Arriscado Nunes, mentor académico e figura de referência constante, por ter estado na origem deste percurso iniciado no CES há 10 anos, recheado de aprendizagens, reflexões e descobertas, e que neste trabalho culmina uma etapa decisiva e inimaginável no passado. Estou grato pelo amadurecimento propiciado por tão construtivas partilhas, pelo exemplo de humanidade e de humildade no conhecimento, essencial para uma verdadeira grandeza. Neste percurso tive o privilégio de trabalhar integrado no CES em vários projetos de investigação que envolveram equipas de vários países. Agradeço o ambiente de estímulo intelectual e de constante oportunidade de aprendizagem a que tive acesso ao partilhar conversas e trabalho com pessoas tão interessadas e engajadas na busca laboriosa, dedicada e humilde de conhecimento. Relevo apenas algumas cujo contacto pessoal me marcou particularmente. Estou grato ao Peter Taylor, Michel Callon, Marcelo Firpo Porto, Vololona Rabeharisoa e Juan Antonio Rodríguez Sánchez pelo reconhecimento e pelo desafio intelectual proporcionado. No CES, agradeço a todos os que fazem e fizerem parte da família dos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia: Marisa Matias, Tiago Santos Pereira, Laura Centemeri, Rita Serra, António Carvalho, Ângela Marques Filipe, Raquel Siqueira, Ana Raquel Matos, Oriana Brás, Susana Costa, Andrea Gaspar, Irina Castro, ii O Touro que nos puseram na Arena. Ou: O Desdobrar das Fronteiras nos Interstícios da Palavra Gaguez, Ciência e Comunidades de Responsabilidades ______________________________________________________________________________________________________________ Patrícia Ferreira, Mayren Alavez, Filipa Queirós, Carlos Barradas, Marta Roriz e Nelson Matos. O empenho, a dedicação, o profissionalismo, a paciência e a paixão com que diariamente se entregam ao trabalho foram e são uma constante fonte de inspiração e alento. Em 2011 participei num workshop em Groningen sobre Oficinas de Ciência e entrei em contacto com a Living Knowledge, a Rede Internacional de Oficinas de Ciência. Participei ainda em 3 Conferências da Living Knowledge, em Bonn em 2012, Copenhaga em 2014 e Dublin em 2016. Cada um destes eventos foi fundamental ao propiciar momentos de partilha, reflexão e aprendizagem que foram marcantes na prossecução desta investigação. A compreensão do que seria verdadeiramente um envolvimento consequente e democrático com as comunidades e as Organizações da Sociedade Civil foi ganhando forma nestes contextos ricos em partilha de experiências, reflexões e exemplos vivos de investigadores, agentes comunitários e estudantes comprometidos em colaborações entre Universidades e Comunidades. Agradeço em especial ao Henk Mulder, ao Norbert Steinhaus, à Michaela Shields, ao Michael Jørgensen, o terem-me dado a conhecer esta fantástica comunidade internacional. Marcaram de forma positiva a minha vida profissional e académica. Agradeço ainda ao Pedro Miranda, por ser o irmão com quem atravessei um oceano e com quem atravessarei a vida. Ao Paulo Miguel Viegas e Cláudia Oliveira, pela presença e amizade incondicional nestes anos de tantos desafios. À Mónica Adro, pela partilha das dores num desafio que nos exige a superação e por uma amizade que nunca se esgota. À Lucia Carrasqueiro, pela amizade constante e por ser sempre capaz de me fazer ver o lado non sense da vida. Aos companheiros da Fundación Española de Tartamudez, Yolanda Sala Pastor, Adolfo Sanchez Garcia, Amparo Desco Agulló, Helena Sáenz, Miguel Majuelos, Dafne Lavilla, entre outros, pelo exemplo de luta e ativismo e o cuidado com que me receberam de braços abertos em Madrid e Barcelona. Ao Thomas Albers, Sybren Bouwsma, Zineb El Youssfi, Satu Tuulia Nygren e Elena Mura e a todos os participantes no Encontro Europeu de Jovens com Gaguez, pelos momentos mágicos e inesquecíveis de auto-descoberta vividos em Sale San Giovanni. Por fim, um agradecimento à Fundação para a Ciência e Tecnologia pelo apoio financeiro que tornou este projeto possível. iii O Touro que nos puseram na Arena. Ou: O Desdobrar das Fronteiras nos Interstícios da Palavra Gaguez, Ciência e Comunidades de Responsabilidades ______________________________________________________________________________________________________________ Investigação realizada com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (SFRH/BD/74000/2010) v O Touro que nos puseram na Arena. Ou: O Desdobrar das Fronteiras nos Interstícios da Palavra Gaguez, Ciência e Comunidades de Responsabilidades ______________________________________________________________________________________________________________ Resumo As últimas décadas assistiram a uma intensa transformação das relações entre a ciência e a sociedade, entre a ciência e a política. O papel da ciência nas sociedades democráticas contemporâneas tem sido alvo de uma extensa problematização. Este trabalho visa refletir sobre o papel da ciência e seus conhecimentos não apenas na relação com as instituições políticas de tomada de decisão, mas na composição do mundo comum, da sociedade e suas instituições, no quotidiano dos cidadãos, na construção identitária de indivíduos e coletivos sociais ou na construção de narrativas políticas de interpelação social, seja no combate das desigualdades, na desconstrução de estigmas sociais ou na definição de ativismos terapêuticos associados a condições de saúde. Numa parceria levada a cabo com a Associação Portuguesa de Gagos esta investigação faz uma problematização das condições que permitam desenvolver colaborações entre cidadãos, comunidades e organizações da sociedade civil e cientistas, centros de investigação e universidades, numa lógica democrática de coprodução de conhecimento que fomente o empoderamento de indivíduos, comunidades e organizações da sociedade civil através de um envolvimento participado com a tecnociência e inspirado no conceito de “Investigação e Inovação Responsáveis” (von Schomberg, 2011). Nesse sentido, problematizamos o desenho e implementação de dispositivos de indagação (Dewey, 1938) que se constituem como os espaços de fronteira onde a ciência e a sociedade se interpenetram na produção dos fenómenos que compõem o mundo, e dos públicos a eles associados. Recorremos às metáforas da fronteira e da cartografia. A metáfora da fronteira procura dar conta dos espaços e objetos de intersecção entre conhecimentos, indivíduos, coletivos e instituições que se constituem em dinâmicas de indagação coletiva onde a multiplicidade dos fenómenos é alvo de experimentação. A vii
Description: