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O terceiro chimpanzé: A evolução e o futuro do ser humano PDF

217 Pages·2010·13.312 MB·Portuguese
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O sseres humanos compartilham mais ép rofdeegs esoorgn raUa nfiivae rdsai dade de 98% dos genes com os chimpanzés. CalifLóoArnsni gae.Il neissc.uic aoa ur reira Ainda assim. somos uma espécie dominante cienetmíf fiisciaaom lpolgisiaean.ud o no planeta - fundamos civilizações e camdpepo e squpiaasrb aais o logia religiões. desenvolvemos formas complexas evoleub tiiovgae oMgermabdfraio a . e diferentes de comunicação. construímos AcadAemmeirai dceAa rnteaCe isê nec ias cidades. ciências e produzimos arte. daS ocieFdialdoAesm óefriicrcaea cneab.e u Enquanto isso. os chimpanzés permanecem boldseea s tuddaFo usn dMaaçcãAor thur instintivamente voltados apenas para as Entorsme u iptroêsm dioao uste osrt.ã o necessidades básicas de sobrevivência. aN atiMoendoaaSfl!c ie0Tyn lcedere. O que há nesses quase 2% de diferença Realizaçã0oC oAsdmmobJo ia epenã to0a l. o no nosso DNA. que criam uma divergência LewTihso mcaosn.f peerUlinadi ov ersidade tão grande entre esses dois "primos"? RockeDfiealmlpoeunrbd lm iacidose2u 0 0 TERCEIRO Neste livro. o renomado ganhador do artniagrsoe sv irsetcaeosbP eruê Pmuiloi tzer. Pulitzer. Jared Diamond. explora como o extraordinário animal humano. em um CHIMPANZÉ curto espaço de tempo. desenvolveu capacidades que lhe permitiram dominar e. consequentemente. destruir o mundo. Este livro traça a nossa ascensão do status animal e a aceleração dos meios que podem provocar a nossa destruição. Jared Diamond não crê que este seja um risco remoto. tampouco escreve como se estivéssemos condenados. O autor. portanto. aponta os sinais promissores e maneiras de aprender com o passado para mudar o nosso comportamento. Ao fomentar a mudança contando a história de nossa espécie. Diamond explica que os nossos problemas têm profundas raízes que remeíem à nossa ancestralidade. Eles vêm aumentando há muito tempo com o nosso crescimento numérico e o nosso poder. e agora começam a se acelerar fortemente. Repleto de ideias inovadoras. aresentap uma visão realista sobre a possibilidade de destruição dos recursos que permitem a vida na Terra. JARED DIAMOND o TERCEIRO CHIMPANZÉ Tradução de CRISTINA CAVALCANTI Revisão técnica de ROSANA MAZ ZONI E D I T O R A R 'E C O R D RIO DE JANEIRO • SÃO PAULO 2010 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Diamond, Jared M., 1937- D528t O terceiro chimpanzé/ Jared Diamond; tradução Maria Cristina Torquilho Cavalcanti. -Rio de Janeiro: Record, 2010. Tradução de: The rhird chimpanzee Inclui bibliografia e índice ISBN 978-85-01-08773-7 1. Evolução humana. 2. Evolução social. 3. Homem -Influência sobre a natureza. 1. Título. Aos meus filhos Max e Joshua, CDD: 599.938 para ajudá-los a compreender de onde 10-4803 CDU: 599.89 ,,,... viemos e para onde podemos ir. Título original em inglês: THE THIRD CHIMPANZEE Copyright© 1992 by Jared Diamond Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito. Proibida a venda desta edição em Portugal e resto da Europa. Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o Brasil adquiridos pela EDITORA RECORO LTDA. Rua Argenti�a 171 -2094FJ80 ·Rio de Janeiro, RJ -Tel.: 2585-2000 que se reserva a propriedade literária desta tradução Imp.resso no B�asil ISBN 978-85-01-08773-7 ,-'1'f0RJ� lºS�\ Seja um leitor preferencial Record. Cadastre-se e receba informações sobre nossos � I> JIIE'iC. lançamentos e nossas promoções. �soc��ey "º7 ��•�os "' ºDII0:11° "' EDITORA AFIL IADA Atendimento e venda direta ao leitor: [email protected] ou (21) 2585-2002 SUMÁRIO Prólogo 9 TEMA PARTE UM APENAS OUTRA ESPÉCIE DE GRANDE MAMÍFERO 19 Como a espécie humana, que era só uma espécie de grande mamífero, transformou-se em conquistadora mundial 1. A lenda dos três chimpanzés 23 num certo espaço de tempo; e como adquirimos a capacidade 2. O grande salto para a frente 41 de reverter esse progresso de um dia para o outro. PARTE DOIS UM ANIMAL COM UM ESTRANHO CICLO VITAL 69 3. A evolução da sexualidade humana 77 4. A ciência do adultério 97 5. Como escolhemos os nossos pares e parceiros sexuais 113 6. A seleção sexual e a origem das raças humanas 125 7. Por que envelhecemos e morremos? 139 PARTE TRÊS SINGULARMENTE HUMANO 155 8. Pontes para a linguagem humana 159 9. A origem animal da arte 18 7 10. Os benefícios ambivalentes da agricultura 199 11. Por que fumamos, bebemos e consumimos drogas perigosas? 213 12. Sós em um universo superpovoado 227 8 SUMÁRIO PARTE QUATRO 239 CONQUISTADORES DO MUNDO 13. Os últimos primeiros contatos 245 14. Conquistadores acidentais 257 15. Cavalos, hititas e história 271 Pró{ogo 16. Em preto e branco 299 PARTE CINCO A 335 REVERSÃO DO Nosso PROGRESSO DA NOITE PARA o DIA í 17. A Idade de Ouro que nunca houve 341 18. Blitzkrieg e Ação de Graças no Novo Mundo 365 19. A segunda nuvem 375 É ÓBVIO QUE A ESPÉCIE HUMANA SE DISTINGUE DE TODOS OS ANIMAIS. Epílogo: Nada aprendido e tudo esquecido? 389 Também é óbvio que somos uma espécie de grande mamífero nos mais ín­ fimos detalhes da nossa anatomia e de nossas moléculas. Esta contradição é Agradecimentos 395 Outras Leituras 397 a característica mais fascinante da espécie humana. Ela é conhecida, mas Índice 415 ainda temos dificuldade em compreender como surgiu e o que significa. Por um lado, entre nós e todas as demais espécies existe um fosso aparen­ temente intransponível, que reconhecemos na definição de uma categoria denominada "animais". Ela significa que consideramos que as centopeias, os chimpanzés e os moluscos compartilham características decisivas entre si, mas não conosco, e que não possuem características restritas a nós. Dentre as nossas características únicas está o fato de falarmos, escrevermos e cons­ truirmos máquinas complexas. Para sobreviver dependemos de ferramentas, não unicamente das próprias mãos. A maioria de nós usa roupas e desfruta da arte, e muitos de nós creem numa religião. Estamos espalhados por toda a Terra, dominamos grande parte de sua energia e produção e estamos come­ çando a nos expandir pelas profundezas do mar e do espaço. Somos também singulares no que se refere a comportamentos mais obscuros, como o geno­ cídio, o prazer na tortura, o vício em drogas e o extermínio de milhares de outras espécies. Enquanto um punhado de espécies animais apresenta formas rudimentares de um ou dois desses comportamentos (como o uso de ferra­ mentas), nós ultrapassamos amplamente os animais mesmo nesses aspectos. l 10 O TERCEIRO CHIMPANZÉ PRÓLOGO 11 Assim, para fins práticos e legais, o homem não é considerado um animal. nossa história evolutiva. De fato, há apenas cem mil anos aquele zoólogo Quando, em 1859, Darwin afirmou que evoluímos dos primatas, é com­ extraterrestre teria pensado que éramos apenas mais uma espécie de gran­ preensível que inicialmente as pessoas tenham considerado a sua teoria de mamífero. É verdade que tínhamos alguns comportamentos peculiares, absurda e continuassem a crer que fomos criados separadamente por Deus. principalmente o controle do fogo e a dependência das ferramentas. Po­ Muitas pessoas, inclusive um quarto de todos os bacharéis americanos, rém, para o visitante extraterrestre esses comportamentos não teriam sido mantêm essa crença ainda hoje. mais curiosos do que o comportamento dos castores ou dos pássaros-arqui­ Mas, por outro lado, obviamente somos animais, com as habituais par­ tetos. De algum modo, no curto tempo de uma dezena de milhares de anos tes corporais, moléculas e genes. Até o tipo de animal que somos é visível. - um período quase infinitamente longo comparado com a memória de Externamente somos tão semelhantes aos chimpanzés que os anatomistas uma pessoa, mas que não passa de uma fração minúscula na história parti­ do século XVIII que acreditavam na criação divina já reconheciam as nossas cular da nossa espécie -começamos a exibir as qualidades que nos tornam afinidades. Imaginemos pegar algumas pessoas normais,-despi-las, privá-las singulares e frágeis. de todas as suas posses e da capacidade da fala e reduzi-la a grunhidos, sem Quais foram esses poucos ingredientes que nos tornaram humanos? modificar nada na sua anatomia. Nós as colocamos numa jaula no zoológico Como as nossas propriedades singulares surgiram tão recentemente e en­ ao lado das jaulas dos chimpanzés e deixamos que o resto de nós, gente volveram tão poucas mudanças, essas propriedades, ou ao menos seus pre­ vestida e falante, visite o zoológico. Aquela gente muda enjaulada seria en­ cursores, já deviam estar presentes nos animais. Quais são os precursores carada como o que verdadeiramente é: chimpanzés com poucos pelos que animais da arte e da linguagem, do genocídio e do vício em drogas? caminham eretos. Um zoólogo extraterrestre imediatamente nos classificaria como uma terceira espécie de chimpanzé, ao lado do pigmeu do Zaire e do chimpanzé comum, do resto da África tropical. As NOSSAS QUALIDADES singulares são responsáveis pelo nosso atual êxito Estudos de genética molecular demonstraram que ainda compartilhamos biológico como espécie. Nenhum outro animal de grande porte é nativo mais de 98% do nosso programa genético com os outros dois chimpanzés. em todos os continentes nem se reproduz em todos os hábitats, dos desertos A distância genética total entre nós e os chimpanzés é ainda menor do que e do Ártico à floresta tropical. Nenhum animal selvagem tem uma população a distância entre espécies de pássaros muito próximas, como as juruviaras comparável à nossa. Porém, dentre as nossas qualidades singulares há duas de olhos vermelhos e as de olhos brancos. Assim, ainda carregamos a maior que atualmente põem em risco a nossa existência: a nossa propensão a matar parte de nossa velha bgagem biológica. Desde a época de Darwin, foram os nossos semelhantes e a destruir o meio ambiente. Claro, isso também .i gescobertos ossos fossilizados de centenas de criaturas intermediárias en­ ocorre em outras espécies: os· leões e vários outros animais se matam entre tre ·os primatas e os-hu�anos-modernos, o que impede que uma pessoa si, e os elefantes e outros destroem o meio ambiente. No entanto, essas pro­ sensata negue as evidênciás.contundentes. O que alguma vez pareceu ab­ pensões são muito mais ameaçadoras em nós do que em outros animais surdó ......:. a nossa ·év.blução dos primatas - realmente ocorreu. devido ao nosso poder tecnológico e à nossa alta densidade populacional. Contudo, as descobertas de muitos elos perdidos só tornaram o proble­ Não há nada de novo nas profecias que dizem que o mundo acabará se ma mais fascinante, sem solucioná-lo totalmente. Os poucos elementos da não nos arrependermos. O novo é que esta profecia agora pode tornar-se nova bagagem que adquirimos - a diferença de 2% entre os nossos genes realidade por duas razões óbvias. Primeira, as armas nucleares nos fornecem e os dos chimpanzés - devem ter sido responsáveis por todas as nossas os meios de dar cabo de nós mesmos rapidamente; o homem nunca contou características aparentemente únicas. Passamos por algumas pequenas mu­ com esses meios antes. Segunda, já nos apropriamos de 40% da produtivida­ danças muito rápidas e recentes que tiveram grandes consequências para a de líquida da Terra (isto é, a energia captada da luz solar). Com a duplicação 12 O TERCEIRO CHIMPANZÉ PRÓLOGO 13 da população humana mundial a cada 40 anos, logo alcançaremos o limite Diversos livros excelentes apresentam propostas detalhadas de como colo­ biológico do crescimento, quando poderemos começar a lutar ferozmente car em prática essas políticas. Algumas estão sendo atualmente implemen­ uns contra os outros por uma fração dos recursos limitados do mundo. Além tadas em certos casos; precisamos "apenas" implementá-las de um modo disso, diante da velocidade com que estamos exterminando espécies, a maior consistente. Se hoje todos nos convencêssemos de que elas são essenciais, já parte das espécies mundiais estará extinta ou em risco de extinção no sécu­ saberíamos o suficiente para começar a colocá-las em prática amanhã. lo XXI,* mas dependemos de muitas delas para a nossa sobrevivência. Em vez disso, o que falta é a vontade política necessária. Neste livro pro­ Por que repisar esses fatos deprimentes e conhecidos? E por que tentar curo fomentar essa vontade ao traçar a história da nossa espécie. Os nossos traçar as origens animais das nossas qualidades destrutivas? Se elas realmente problemas têm profundas raízes que remetem à nossa ancestralidade ani­ fazem parte da nossa herança evolutiva, isso equivale a dizer que são gene­ mal. Eles vêm crescendo há muito tempo junto a nosso crescimento numérico ticamente fixadas e, portanto, imutáveis. e nosso poder, e agora começam a se acelerar fortemente. Podemos nos Na verdade, a nossa situação não é desesperadora. Talvez nosso impulso convencer do resultado inevitável das nossas atuais práticas míopes exami­ de matar estranhos ou rivais sexuais seja inato. Mas isso ainda não impediu nando as muitas sociedades do passado que se destruíram ao destruírem as sociedades humanas de tentarem conter esses instintos e evitar que muita suas próprias fontes de recursos, apesar de possuírem meios de autodes­ gente seja morta. Apesar das duas guerras mundiais, no século XX um nú­ truição menos potentes que os nossos. Os historiadores políticos explicam mero proporcionalmente menor de pessoas morreu de forma violenta nos que os estudos sobre Estados e governantes oferecem uma oportunidade de países industrializados do que nas sociedades tribais da Idade da Pedra. aprender com o passado. Essa justificativa se aplica ainda mais ao estudo da Muitas populações modernas têm uma expectativa de vida maior do que a nossa história como espécie, porque suas lições são mais simples e evidentes. dos humanos do passado. Os ambientalistas nem sempre perdem as batalhas contra os construtores civis e os destruidores. Inclusive algumas doenças genéticas, como a fenilcetonúria e o diabetes juvenil, já podem ser mitiga­ UM LIVRO QUE PERCORRE um quadro tão abrangente como esse deve ser das ou curadas. seletivo. O leitor descobrirá que alguns temas favoritos e absolutamente O meu propósito ao estudar a nossa situação é ajudar a evitar a repetição cruciais foram omitidos, ao passo que outros aspectos foram estudados em dos nossos erros -usar o conhecimento sobre o passado e as nossas propen­ detalhes insólitos. Para que você não se sinta desorientado, explicarei logo sões para mudar o nosso comportamento. Essa é a esperança subjacente à no início os meus interesses particulares e a sua origem. dedicatória deste livro. Meus filhos gêmeos nasceram em 1987 e terão a Meu pai é médico e minha mãe é musicista, com um dom para as línguas. idade que tenho hoje em 2041. O que fazemos agora está formando o Na infância, quando me perguntavam o que queria ser, eu respondia que mundo .deles. queria ser médico, como o meu pai. No meu último ano na faculdade esse Este livro não propõe soluções específicas para o nosso problema, por­ objetivo se desviara ligeiramente em direção ao campo correlato da pesqui­ que as que devemos .1dotar já foram claramente delineadas. Algumas dessas sa médica. Então me especializei em fisiologia, a disciplina que atualmente soluções incluem sustar o crescimento populacional, limitar ou eliminar as ensino e pesquiso na Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia armas nucleares, criar meios pacíficos para resolver disputas internacionais, em Los Angeles. reduzir o impacto no meio ambiente e preservar espécies e hábitats naturais. No entanto, aos sete anos eu também me interessei pela observação de pássaros e tive a sorte de frequentar uma escola que me levou a aprender sobre línguas e história. Depois que me doutorei, a perspectiva de dedicar • A primeira edição deste livro é de 1992. Trata-se, logo, de uma previsão do autor dessa época, o resto da minha vida exclusivamente à fisiologia começou a me parecer (N. da E.) 14 O TERCEIRO CHIMPANZÉ PRÓLOGO 15 cada vez mais opressiva. Então, uma feliz coincidência de acontecimentos e centrais para a evolução humana quanto os temas mais tradicionais que pessoas me deu a oportunidade de passar um verão nas terras altas da Papua­ abordam ferramentas e ossos. Nova Guiné. O objetivo declarado era mensurar o êxito da nidação dos O que a princípio pode parecer uma pletora de exemplos da Papua-Nova pássaros locais, um projeto que fracassou em poucas semanas, quando desco­ Guiné é, na verdade, pertinente. É verdade que a Papua-Nova Guiné é só bri que era incapaz de encontrar um só ninho de pássaro na floresta. No uma ilha localizada numa determinada-parte do mundo (o Pacífico tropi­ entanto, o verdadeiro propósito da viagem foi muito bem-sucedido: satis­ cal) que dificilmente oferece uma amostra aleatória da humanidade moder­ na. Mas a Papua-Nova Guiné abriga uma fatia muito maior da humanidade fazer minha sede de aventura e observar pássaros num dos lugares mais do que se pode inferir à primeira vista com base na sua área. Dentre as apro­ selvagens que ainda existia no mundo. O que observei nos fabulosos pássaros ximadamente cinco mil línguas faladas no mundo, mil são faladas unica­ da Papua-Nova Guiné, inclusive os pássaros-arquitetos e as aves-do-paraí­ mente na Papua-Nova Guiné. Grande parte da diversidade cultural que so, me levou a desenvolver uma segunda carreira paralela em ecologia das sobrevive no mundo moderno se encontra lá. Até pouco tempo atrás, todos aves, evolução e biogeografia. Desde então, regressei �Papua-Nova Guiné os povos das terras altas no interior montanhoso eram camponeses da Ida­ e às vizinhas ilhas do Pacífico uma dúzia de vezes, para prosseguir pesqui­ de da Pedra, ao passo que os grupos das terras baixas eram caçadores, cole­ sando sobre aves. -tores e pescadores nômades que praticavam uma agricultura de certa forma Mas foi difícil trabalhar na Papua-Nova Guiné em meio à rápida destrui­ casual. A xenofobia local era extrema, e, em consequência, a diversidade ção dos pássaros e florestas que eu amava sem me envolver com biologia da cultural era mínima, e aventurar-se fora do território tribal, um gesto suici­ conservação. Então passei a aliar a pesquisa acadêmica com o trabalho prá­ da. Muitos papuas que trabalharam comigo são exímios caçadores que na tico de consultor governamental, aplicando o que conhecia sobre a distri­ infância passaram pela experiência das ferramentas de pedra e da xenofo­ buição animal ao planejamento de sistemas de parques nacionais e ao bia. Então, a Papua-Nova Guiné é um modelo atual de como era uma gran- levantamento para projetos de parques nacionais. Também foi difícil traba­ de parte do mundo humano. lhar na Papua-Nova Guiné, onde as línguas mudam a cada 40 quilômetros e aprender os nomes dos pássaros em cada língua local era fundamental para explorar o conhecimento enciclopédico dos papuas sobre as aves, sem A HISTÓRIA DA NOSSA ascensão e queda divide-se em cinco partes. Na pri­ recuperar o meu antigo interesse pelas línguas. Acima de tudo, era difícil meira parte vou de muitos milhões de anos atrás até pouco antes do sur­ estudar a evolução e extinção de espécies de aves sem tentar compreender gimento da agricultura, há dez mil anos. Esses dois capítulos tratam das a evolução e a possível extinção do Homo sapiens, certamente a espécie evidências dos ossos, ferramentas e genes - as evidências preservadas nos -mais interessante de todas. Era especialmente difícil ignorar este interesse registros arqueológicos e bioquímicos que fornecem informações mais di­ na-Papua-Nova Guíné, com sua enorme diversidade humana. retas sobre como mudamos. Muitas vezes os ossos fossilizados e as ferra­ �-stes são os c�n1inhps que percorri em meu interesse pelos aspectos par­ mentas podem ser datados, o que também nos permite deduzir quando ticulares da espécie humana de que trata este livro. Diversas excelentes mudamos. Examinaremos os fundamentos da conclusão de que ainda so­ publicações de antropólogos e arqueólogos já discutiram a evolução huma­ mos 98% chimpanzés nos nossos genes e tentaremos entender qual dife­ na no quesito ferramentas e ossos, que este livro resume brevemente. En­ rença de 2% foi responsável pelo nosso grande salto para a frente. tretanto, esses outros livros dedicam muito menos espaço ao meu interesse A segunda parte trata das mudanças no ciclo vital humano, que são tão particular no ciclo vital humano, na geografia humana, no impacto do ho­ essenciais para o desenvolvimento da linguagem e da arte quanto as mu­ mem no meio ambiente e nos humanos como animais. Esses temas são tão danças no esqueleto discutidas na Parte Um; é dizer o óbvio mencionar que PRÓLOGO 17 16 O TERCEIRO CHIMPANZÉ históricos de disputas entre os grupos humanos. Depois investigaremos os alimentamos nossos filhos até depois do desmame em vez de deixá-los pro­ registros mundiais de assassinatos xenófobos em massa. Trata-se de um tema curar comida por conta própria; que a maioria dos homens e mulheres se doloroso, mas, acima de tudo, de um exemplo de como ao nos recusarmos associa em casais; que a maioria dos pais e mães cuida dos filhos; que mui­ a enfrentar a nossa história estamos condenados a repetir os erros passados tas pessoas vivem o suficiente para serem avós; e que as mulheres passam numa escala ainda mais perigosa. pela menopausa. Para nós, essas características são a norma·' no entanto ' A outra marca negativa que agora ameaça a nossa sobrevivência é o ataque segundo os padrões dos nossos parentes animais mais próximos, elas são acelerado ao meio ambiente. Esse comportamento também tem precursores esquisitas. Elas constituem importantes mudanças da nossa condição ances­ animais diretos. As populações animais que, por uma razão ou outra, esca­ tral, mas, corno não se fossilizam, não sabemos quando surgiram. Por isso param ao controle dos predadores e parasitas de alguma forma escaparam são tratadas mais brevemente nos livros de paleontologia humana do que também dos seus próprios controles numéricos internos, se multiplicaram as mudanças no tamanho do cérebro e da pelve. Contudo, foram cruciais até danificar sua fonte de recursos e, às vezes, a devoraram até extingui-la. para o nosso desenvolvimento cultural singular e merecem igual atenção. Esse risco se aplica com força especial aos humanos, porque para nós a pre­ Depois de investigar os fundamentos biológicos ddn osso florescimento dação é agora insignificante, não há hábitats fora da nossa influência e o cultural nas Partes Um e Dois, a Parte Três enfoca as características culturais nosso poder de matar animais e destruir hábitats não tem precedentes. que consideramos distintivas. As que primeiro vêm à mente são as que mais Infelizmente, muita gente ainda se aferra à fantasia rousseauniana de que nos deixam orgulhosos: linguagem, arte, tecnologia e agricultura, que mar­ esse comportamento só surgiu com a Revolução Industrial, e que antes dela cam a nossa ascensão. No entanto, nossos traços culturais distintivos tam­ vivíamos em harmonia com a natureza. Se isso fosse verdade, não teríamos bém incluem marcas negativas, como o abuso de substâncias químicas , nada a aprender com o passado, exceto que um dia fomos virtuosos e agora tóxicas. E discutível se todas essas qualidades são exclusivamente humanas nos tornamos maus. A Parte Cinco procura desmontar essa fantasia enca­ mas elas ao menos constituem enormes avanços em relação aos precursores rando nossa longa história de má administração ambiental. Nas partes Cin­ animais. Mas deve ter havido precursores animais, já que só recentemente co e Quatro ressalto que a nossa situação atual não é nova, exceto no grau. essas qualidades floresceram na escala de tempo evolutiva. Quem eram es­ A experiência de tentar gerenciar uma sociedade humana e ao mesmo tem­ ses precursores? O seu florescimento teria sido inevitável na história da vida po administrar o meio ambiente de forma equivocada já ocorreu diversas na Terra? Inevitável a ponto de suspeitarmos que existam muitos outros vezes, e o resultado aí está para nos ensinar. planetas no espaço habitados por criaturas tão avançadas quanto nós? Este livro conclui com um epílogo que traça a nossa ascensão da condi­ Além do abuso de substâncias químicas, as nossas marcas negativas in­ ção de animais. Ele também traça a aceleração dos meios para provocar a cluem outras duas tão graves que podem levar à nossa ruína. A Parte Qua- nossa destruição. Eu não o teria escrito se pensasse que esse risco é remoto, -trQ trata da primefr� delas: a n_ossa_ propensão à matança xenófoba de outros mas tampouco o teria escrito se pensasse que estamos condenados. Para que grupos humanos. Essa característica tem precursores animais diretos - isto nenhum leitor se desalente com esses antecedentes a ponto de passar por é, as disputas entre indivíduos e grupos que, em muitas espécies além da alto esta mensagem, aponto os sinais promissores e maneiras de aprender nossa, podem ser resolvidas por meio do assassinato. Nós usamos o nosso com o passado. avanço tecnológico para aperfeiçoar o nosso poder de matar. Na Parte Cinco trataremos da xenofobia e do extremo isolamento que marcaram a condição humana antes que o surgimento dos Estados políticos começasse a nos tor­ nar culturalmente mais homogêneos. Veremos como a tecnologia, a cultura e a geografia afetaram o resultado de dois dos mais familiares conjuntos

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