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O Sul Mais Distante - os Estados Unidos, o Brasil e o Tráfico de Escravos Africanos PDF

486 Pages·2010·8.97 MB·Portuguese
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Preview O Sul Mais Distante - os Estados Unidos, o Brasil e o Tráfico de Escravos Africanos

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A partir do exame dos projetos norte- -americanos para a ocupação da Amazônia com o em­ prego de mão de obra negra e de capitais sulistas, a reabertura do tráfico transatlântico negreiro para o Brasil após sua proibição definitiva em 1850 e o es­ tabelecimento de uma aliança internacional pró-escra- vista entre os estados do Sul norte-americano e o Im­ pério do Brasil, Gerald Horne nos oferece um livro profundamente original e perturbador, que muito ilu­ mina as trajetórias históricas dos dois países. Nas décadas de 1840 e 1850, era voz corrente entre os senhores de escra­ vos norte-americanos que a próxima fronteira de expansão escravista para além do Deep South — como eram chamadas as terras algodoeiras e açu- careiras do M ississippi, da Louisiana e do Alabania — seria o Brasil, sobre­ tudo o imenso e ainda pouco explora­ do vale amazônico. As bases para tal crença eram concretas. Os barcos, os marinheiros, os capitais e a bandeira dos Estados Unidos ocupavam lugar central no tráfico transatlântico de es­ cravos para o Brasil, ilegal desde 1831. 0 principal mercado para o café brasi­ leiro, cultivado com esses mesmos bra­ ços cativos, encontrava-se nas cidades norte-americanas. Finalmente, o Brasil contava com uma enorme população escravizada, cuja única equivalente em termos numéricos estava no Sul dos Es­ tados Unidos. Neste livro original e perturbador, descortinam-se as profundas relações políticas e econômicas dos dois grandes impérios escravistas do século XIX. Ba­ seado em uma vasta pesquisa realizada em diversos arquivos norte-americanos, brasileiros, britânicos e espanhóis, Ge- rald Home explora as percepções que os ideólogos da escravidão no Sul dos Estados Unidos tinham do Brasil, os projetos que delinearam a partir delas, seu papel nas polêmicas seccionais que conduziram, em 1861, ã eclosão da Guerra Civil e o impacto do conflito norte-americano sobre os destinos da escravidão brasileira. Diante da aguda pressão antiescra- vista britânica e da crescente polariza­ ção entre os estados do Sul e os do Norte, políticos e diplomatas pró-es- cravistas da República norte-america­ na se esforçaram para construir uma aliança hemisférica com o Império do Brasil. Suas ações, contudo, esbarra­ ram nas reticências dos líderes brasi­ leiros diante dos projetos sulistas de ex­ ploração da Amazônia e dos temores de um novo enfrentamento com a Grã-Bre­ tanha após a grave crise diplomática e militar de 1850. 0 livro de Gerald Horne, além de conter implicações de relevo para o pre­ sente, abre perspectivas bastante pro­ missoras para um novo entendimento da história do Brasil. Sua leitura indica as dificuldades para se compreender devi­ damente a trajetória de nossa sociedade escravista caso isolemos do quadro de análise as forças históricas mais amplas que moldaram os destinos da escravi­ dão negra no hemisfério ocidental. Rafael de Bivar Marquese Gerald Horne é professor da Univer­ sidade de Houston,Texas. Autor de mais duas dezenas de livros, publicou recen­ temente uma abrangente biografia de W.E.B.Du Bois. 0 Sul mais distante é seu primeiro livro publicado no Brasil. GERALD HORNE O Sul mais distante O Brasil, os Estados Unidos e o tráfico de escravos africanos Tradução Berilo Vargas _ s E jy * _ Companhia Das Letras Copyright © 2007 by New York University Press Grafia atualizada segundo 0 Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009. Título original The Deepest South: The United States, Brazil and the African Slave Trade Capa Rita da Costa Aguiar Fotos de capa Courtesy Everett Collection/ LatinStock Preparação Sérgio Marcondes índice remissivo Luciano Marchiori Revisão Márcia Moura Marise Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil Home, Gerald O Sul mais distante : o Brasil, os Estados Unidos e o tráfico de escravos africanos / Gerald Horne ; tradução Berilo Vargas. — São Paulo : Companhia das Letras, 2010. Título original: The Deepest South: The United States, Brazil and the African Slave Trade isbn 978-85-359-1680-5 1. Tráfico de escravos - América - História - Século 19 2. Trá­ fico de escravos - Brasil - História - Século 19 3. Tráfico de escra­ vos - Estados Unidos - História - Século 191. Título. 10-04750 CDD-900 índice para catálogo sistemático: 1. Tráfico de escravos : História social 900 [2010] Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA SCHWARCZ LTDA. Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32 04532-002 — São Paulo — SP Telefone: (11) 3707-3500 Fax: (11) 3707-3501 www.companhiadasletras.com.br Sumário Introdução......................................................................................... 7 1. Rumo ao Império do Brasil.................................................... 31 2. Na África...................................................................................... 53 3. Comprando e seqüestrando africanos................................. 80 4. Wise, o sábio? ............................................................................. 99 5. Crise.............................................................................................. 125 6. Os Estados Unidos vão tomar a Amazônia? ....................... 155 7. Legalizar o tráfico de escravos?.............................................. 184 8. A Guerra Civil começa, o tráfico de escravos continua .... 217 9. Deportar negros americanos para o Brasil?........................247 10. Confederados no Brasil............................................................ 283 11. O fim da escravidão e do tráfico de escravos? .................... 316 Epílogo................................................................................................ 347 Notas................................................................................................... 361 índice remissivo ............................................................................... 463 Introdução Este livro trata das relações entre os dois grandes impérios escravistas do século xix — os Estados Unidos e o Brasil — no contexto do tráfico de escravos africanos, com ênfase decidida­ mente na América do Norte. Não é um livro sobre escravidão no Brasil; apesar de abranger quatro continentes, a narrativa tem por foco primário os Estados Unidos, mais especificamente o papel de cidadãos americanos como traficantes de escravos e residen­ tes temporários no Brasil; ou seja, é também um livro de história social sobre o impacto do Brasil nos Estados Unidos. Em grande parte, a história envolve o Brasil (e a África) tal como era visto pelos Estados Unidos — e não o contrário — 1 e a participação americana no tráfico de escravos africanos; mas esta é também uma história da contínua rivalidade entre Londres e Washington, que explodiu na guerra de 1812, e azedou de vez quando o Reino Unido aboliu a escravidão em seus domínios imperiais, na década de 1830. Um de meus argumentos centrais é que a escravidão nos Es­ tados Unidos é mais fácil de ser compreendida em termos hemis­ 7 féricos. O Sul escravista via em uma aliança com o Brasil uma formidável proteção contra um futuro embate com o Norte e, também, contra as contínuas pressões de Londres para abolir a escravidão — proteção essa que poderia significar a vitória numa Guerra Civil, caso se chegasse a tal ponto. Dois importantes personagens nestas páginas são o ex-go­ vernador da Virginia Henry Wise — carrasco de John Brown — e Matthew Fontaine Maury, virginiano de estatura comparável à de Robert E. Lee e Stonewall Jackson. Como diplomata servindo no Brasil, Wise fez uma campanha vigorosa contra o comércio ilícito de escravos para o país, enquanto Maury defendeu com veemência a deportação de negros americanos escravizados para a Amazônia, a fim de desenvolver a região; este último também fazia parte de um grupo de conspiradores que pretendia tomar do Brasil a Amazônia. As iniciativas de ambos, orquestradas de forma ostensivamente apartada, são mais fáceis de ser compreen­ didas simultaneamente: por um lado, se o Brasil pudesse usar a mão de obra de escravos americanos, não precisaria recorrer ao comércio ilícito, que era dominado por forças do Nordeste dos Estados Unidos; por outro, a cobiça por território brasileiro com­ binava com o ímpeto expansionista sem limites para o Oeste da América do Norte. Esses foram motivos importantes da tensão regional que explodiria na Guerra Civil. Mas a história não para por aí: os cidadãos americanos que inundaram o Brasil em seu trajeto para as minas de ouro da Califórnia tiveram vislumbres de uma escravidão brutal, o que fortaleceu o sentimento abolicio­ nista e exacerbou a animosidade entre o Sul e o Norte. Essa relação com o Brasil é só um dos lados de um fenômeno maior: a desaparição das fronteiras entre cidadanias, marcada por navios negreiros mudando de bandeira rotineiramente no meio do oceano; os que buscavam lucro no tráfico de escravos geral­ 8 mente achavam que a nacionalidade americana lhes dava prote­ ção, e mudavam de cidadania de acordo com sua conveniência; diplomatas em capitais estrangeiras costumavam agir em defesa dos interesses de mais de um país; às vezes parecia que o tráfico de escravos era a principal preocupação de certos diplomatas, nota­ velmente — embora não exclusivamente — os portugueses que serviam em Nova York, defensores do seqüestro de africanos e de sua americanização forçada, acompanhada, no entanto, de sua escravização. Essa ideia esfarrapada de cidadania contribuiu para um determinado jeito de pensar no Sul escravista, que se distan­ ciava da lealdade a Washington e buscava relações mais firmes com o Brasil. CONTORNOS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS Entre 1500 e 1800, mais africanos do que europeus chega­ ram às Américas,2 e pesquisas recentes sugerem que de 12 a 20 milhões de africanos foram embarcados em navios, contra sua vontade, por europeus e colonizadores europeus, e levados para o Novo Mundo, até quase o fim do século xix.3 Segundo uma esti­ mativa, 100 milhões de africanos morreram em conseqüência do tráfico marítimo de escravos.4 Entre 1600 e 1850, “aproximada­ mente 4,5 milhões de africanos escravizados foram para o Brasil, dez vezes mais do que os africanos levados para a América do Norte, e mais do que o número total de africanos que foram para o Caribe e a América do Norte combinados”.5 Luanda, em Ango­ la, possibilitava uma travessia marítima para os portos brasileiros mais curta do que as que partiam da maior parte das outras re­ giões de caça de escravos — 35 dias para Pernambuco; por isso, depois de 1575, a população negra brasileira passou a ser predo­ minantemente angolana.6 9

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Em meados do seculo XIX, os Estados Unidos da America e o Imperio do Brasil estavam profundamente atados pelo envolvimento com a escravidao negra e o trafico transatlantico de escravos. Entao os maiores produtores mundiais de algodao e de cafe, os senhores de escravos de ambas as nacoes enfrentavam
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