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O significado cultural do uso de plantas da caatinga pelos quilombolas do Raso da Catarina, município de Jeremoabo, Bahia, Brasil / The cultural significance of use of caatinga plants by Quilombolas of the Raso Catarina, Jeremoabo district, Bahia, Brazil PDF

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Rodríguésia 61(2): 195-209.2010 httpV/rodriguesia.jbij.gov.br O significado cultural do uso de plantas da caatinga pelos quilombolas do Raso da Catarina, município de Jeremoabo, Bahia, Brasil TheculturalsignificanceofuseofcaatingaplantsbyQuilombolas oftheRasoCatarina,Jeremoabodistrict,Bahia,Brazil Vanusa SousaAlmeida',z&FábioPedroSouzadeFerreira Bandeira1 Resumo Uma das fornias que os negros no Brasil criaram para enfrentar o regime escravocrata foi a formação de quilombos,dosquaiscentenasestão localizadosnoestadodaBahia, evêmmantendoaolongodos séculos conhecimentosepráticasdemanejosobreafloralocal,aindapoucoestudados.Estapesquisavisoudeterminar o valor local das espécies vegetais utilizadas pelos quilombolas do município de Jeremoabo, na região nordestedaBahia,principalmenteaquelasdacaatinga.Acoletadedadossedeuatravésdeentrevistassemi- estruturadaselistalivre.Osentrevistadoscitaram86espéciesqueestãodistribuídasemdezcategoriasdeuso: medicinal, ritual ou religioso, construção, alimentação, combustível, veterinário, melífera, forrageira, comercialização e artesanato. As cinco espécies que tiveram o maior valor local, em ordem decrescente, foram: Gochnatiaoligocephala (candeia),Myrcia sp. (araçá),Schinusterebinthifolius (aroeira),Hymenaea courbaril (jatobá). Mimosa tenuiflora (jurema-preta). Os resultados dessa pesquisa, sobretudo as espécies vegetais de maior valor local identificadas, podem ser aplicados em programas de recuperação de áreas degradadas,desenhodesistemasagroflorestaiseeducaçãoambientalnasescolaslocais. Palavras-chave: conservação, etnobotànica, quilombos, significado cultural. Abstract OneofthewaysthatblacksinBrazilcreatedtoconfronttheregimeofslaverywastheformationof“quilombos”. Thisstudyaimedtodeterminethevalueoflocalplantspeciesusedintire“quilombolas”ofJeremoabodistrict locatedinnortheastemBahia,especiallytheBrazilianspeciesfromthecaatingaenvironment.Datacollection wasmadethroughsemi-structuredinterviewsandfreelists.Thepeopleinterviewedcited86speciesthatare distributed in ten use categories: medicinal, ritual or religious, building, food, fuel, veterinarian, honey, fodder,marketingandhandicrafts.Thefiveespeciesthathadthelargestlocalvalueindescendingorderwere: Gochnatiaoligocephala(candeia),Myrciasp.(araçá),Schinusterebinthifolius(aroeira),Hymenaeacourbaril (jatobá).Mimosatenuiflora(jurema-preta).Theresultsofthisresearch,especiallytheplantspeciesofhighest localvalueidentified,canbeappliedinenvironmentalrestorationprogramsofdegradedareas,agroforestry designand environmental educationinthe local schools. Key words: conservation, cultural meaning, elhnobotany, “quilombos”. Introdução cultural oferece possibilidade de fazerinferências O temio significado cultural é definido por sobre sistemas de nomenclatura tradicionais, Berlin et al. (1973) como o valor prático que o utilização,apropriaçãoeimportânciadosrecursos conhecimentobiológicotemparaumadeterminada naturais (Garibay-Orijel et al. 2007). Alguns cultura,enquantoHunn(1982)utilizouotermopara pesquisadores, em diversas partes do mundo, têm designar a importância ou papel que um táxon avaliado o significado cultural do uso de plantas. apresenta dentro de uma cultura. O significado Por exemplo, Berlin et al. (1973) relacionaram o 'UniversidadeEstadualdeFeiradeSantana,Depto.CiênciasBiológicasProgramadePós-GraduaçàoemBotânica,Av.Universitárias'n,44031-460,Feira-de-Santana.BA.Brasil. ‘Autorparacorrespondência:vansoaPSyahoo.com.br SciELO/JBRJ cm 13 14 15 16 17 18 19 .. ) 196 Almeida, V.S. & Bandeira, F.P.S.F. significadoculturaldeplantascomaretençãoléxica degradaçãoambiental e mudanças socioculturais e entre os Tzeltal-Tzotzil; Stoffle et al. (1990) econômicas por que vem passando o semi-árido calcularam o significado cultural das plantas em nordestino, onde se encontraesse Bioma. comunidadesindígenasamericanas;ePieroni(2001 Aregiãodosemi-áridopossuiumapopulação avaliouosignificadoculturaldeplantasalimentícias que expressa uma grande diversidade cultural, naToscana, Itália. formada por grupos étnicos diferenciados, Seguindo o desenvolvimento desse campo principalmentc indígenas, quilombolas e da Etnobiologia, diversos métodos quantitativos campesinos, com costumes e modo de vida vêm sendo criados e testados para avaliar a tradicionais, detentores de conhecimento sobre a importânciaculturaldasplantaseseususos.Muitos biodiversidade que precisam ser conhecidos e dessesmétodostêmutilizadoíndices,comooíndice valorizados. Entretanto, devido à grande de significado cultural (ISC), criado por Turner concentração de terra e prática extrativista (1988).Estefoiformuladoparacalcularovalorou (madeireira,agrícolaepastoril),acaatingaconfigura nportância das espécies vegetais dentro de um umcenáriodeenormedesigualdadeaoacessodos i grupo humano, que posteriormente foi adaptado recursos pelas diversas populações rurais. porStoffleetal.(1990)emodificadoporLajones& Associa-se assim negativamente; a um quadro de Lemas(2001 queodenominaramdeíndicedevalor aumento da pobreza; uma forte modificação da ) deimportânciactnobotânica(1VIE).EntretantoSilva cobertura vegetal, conduzindo à degradação etal.(2006),apartirdacríticafeitaporPhillips(1996) ambiental, à perdas irrecuperáveis para a aoíndiceISCdeTurner(1988).propõemumnovo diversidade da flora e da fauna, ao aumento do índiceparacalcularosignificadoculturaldeplantas processodeerosão,declíniodafertilidadedosolo acrescentam outros elementos como o consenso e qualidade da água, bem como a desigualdade do informante, tentando desta forma eliminar o socialeperdacultural(Sampaio& Batista 2004). caráter subjetivo das técnicas anteriores que O conhecimento local sobre os recursos privilegiavamavisãodopesquisadoremdetrimento vegetaisquequilombolas,indígenasecampesinostêm a do informante. Colaço (2006) adaptou o índice produzidoemantidoporgerações;vemchamando desenvolvido por Pieroni (2001) para plantas muito a atenção dos pesquisadores brasileiros alimentíciasparacriaroISCPF-índicedosignificado Monteies & Pinheiro (2007), que investigaram os cultural de plantas forrageiras. Além desses índices, recursos vegetais relacionados às práticas Lawrenceetal.(2005)desenvolveramummétodoque terapêuticasnoQuilomboSangradornoMaranhão; calcula índices quantitativos utilizando interpretação Franco & Barros (2006) determinaram o valorde deinformaçãoqualitativa,denominado“ValorLocal", usodasplantasmedicinaisemcomunidadesnegras que é utilizado para medir o significado cultural de OlhosD’águadosPiresnoPiauí;Nascimentoetal. plantas. Este métodoé muito utilizadoparaexplorar (2007) estudaram as formas de uso e manejo de diferençasde valoresentrehomense mulheres,entre espéciesvegetaisdestinadasàconstruçãodecercas índioseimigranteseoefeitodocontextogeográficoe emcomunidadesruraisno Pernambuco; Moraiset econômicosobreainformação. al. (2005) trabalharam com os índios Tapebas no A utilização crescente desses índices em Ceará,identificandooacervodeplantasmedicinais estudos etnobotânicos quantitativos possibilita a usado na cura das doenças; Rufino et al. (2008) realizaçãodeestudoscomparativosentresdiferentes investigaramaimportânciadaspalmeiras Syagnis ( culturas bem como tipos de vegetação, ampliando coronata e Orbignya phalerata) em uma também as bases para o desenvolvimento teórico comunidadequevivepróximaaoParqueNacional desse campo do conhecimento a partir da ValedoCatimbau,cmPernambuco;Colaço(2006)e descoberta de padrões gerais no uso, manejo e Bandeira (1996) trabalharam com os índios valoraçãocultural das plantas. PankararédoRasodaCatarina/Bahia,abordandoo Apesar da importância do bioma Caatinga, significado cultural dos recursos vegetais, sua onde se concentra uma parte da biodiversidade etnopedologia e etno-ecografia. respectivamente; brasileira,comaltosíndicesdeendemismo(Giulietti Albuquerque & Andrade (2002a) investigaram o et al. 2004), e do crescente número de estudos conhecimento botânico tradicional, enfocando etnobotânicosrealizadosnosúltimosdezanos,ainda aspectos da percepção e manejo desses recursos se faz necessário ampliaros esforços nesse campo no biomadacaatinga, em umacomunidade rural de pesquisa, tendo em vista as tendências de situadanomunicípiode Alagoinha/Pemambuco. Rodríguéiiá 61(21: 195-209.2010 -SciELO/ JBRJ cm 13 14 15 16 17 18 19 .. Osignificadoculturaldo usodeplantasda caatinga 197 Muitas dessas pesquisas têm demonstrado a deJeremoabo(10°04'29”S; 38°21’02”W)eficam importância da etnobotânica para conservação de aproximadamentea35kme24km,respectivamente, recursosegestãodavegetaçãonasregiõestropicais da sede municipal. Jeremoabo situa-se na região (Albuquerque etcil. 2009). Nesse contexto, ainda nordeste do estado da Bahia, distante de Salvador são escassos os estudos sobre etnobotânica em 371 km. Faz limite com os seguintes municípios: comunidades quilombolas no nordeste, sobretudo Canudos,Macururé,PedroAlexandre,SantaBrígida, na Bahia, estado que apresenta o maior número PauloAfonso,Rodelas,NovoTriunfo,CoronelJoão dessascomunidadesemtodoopaís(Anjos2000). deSá,PedroAlexandreeSítiodoQuinto. A formaçãodequilombos no Brasil foi uma Esta região é uma das mais inóspitas do das frentes de resistência contra o regime estado, estando inserida no chamado “Polígono escravocrata,definidoestecomoosítiogeográfico dasSecas”ouSemi-árido,definidocomoregiãoque ondeseagrupavampovosnegrosqueserebelavam apresentaíndicepluviométricoanualabaixode800 contra o sistema escravista da época, lormando mm (PDRS 2000). O clima da região, portanto, é comunidadeslivres(Anjos2000).Emboraotermo caracterizadocomosemi-árido,predominantemente quilombo tenha sido uma manifestação de seco,comtemperaturamedialanualde24°C,máxima contrariedadeaoregimeescravista(Carvalho 1995), de28°Cemínimade20,2°C.Apluviosidademédia é a partir do texto do artigo 68 da Constituição anualéde654mm,máximade2273mmemínimade Federal de 1988 que o termo assumiu um novo 276 mm. As chuvas ocorrem nos meses de maio a significado, poisomesmoéusadoparadesignara julho(SEBRAE1995). situação dos segmentos negros em diferentes A área é coberta por uma vegetação do tipo regiões e contextos do Brasil, que ocupam terras caatingaquenãoseapresentahomogênea,masem que resultaram da compra por negros libertos; da um mosaico descontínuo, com predominância da posse pacífica por ex-escravos de terras vegetaçãodeaspectoarbóreoaberto,àsvezesmais abandonadaspelosproprietáriosemépocasdecrise denso ou mais rarefeito e de menor porte (PDRS econômica;daocupaçãoeadministraçãodasterras 2000). Apresenta também áreas de contato entre doadas aos santos padroeiros ou de terras cerrado-caatinga-fioresta estacionai; cerrado- entregues ou adquiridas por antigos escravos caatingaalém de caatingaarbórea sem palmeiras, organizadosemquilombos. caatinga arbórea densa sem palmeiras, caatinga Muitos estudiosos propõem uma arbóreaabertacompalmeiras(CEI 1994). ressemantização do termo. Conforme assinalado pela Associação Brasileira de Antropólogos Caracterização das comunidades (ABA),quilomboseriaqualquercomunidaderural As comunidades quilombolas estudadas, eurbanadeafro-descendentescommanifestações CasinhaseBaixadosQuelés,têmrespectivamente culturais ligadas ao passado e que, ao se 35 e 104 famílias. São formadas por pequenos autodefinir como quilombo, passa a constituir e agricultoresrurais,queparasustentarsuasfamílias serreconhecidocomotal(Fiabani2005). vivemdoscultivosdesubsistência,principalmente De modo a contribuir com a ampliação do daManihotesculentaCrantz(mandioca),Phaseolus conhecimentodaetnobotânicadecomunidadesde vulgarisL.(feijão),ZeamaysL.(milho)e Mangifera quilombosnoBrasil,estapesquisavisoudeterminar indica L. (manga). Cada família possui sua própria ovalorlocal,combasenoíndicedesenvolvidopor áreadecultivoouroças.Paracompletararendafamiliar, Lawrence et al. (2005), das espécies vegetais algumasfamíliascriamanimaiscomogado,galinhase utilizadaspelosquilombolasdopovoadodeBaixa porcos em unidades afastadas de suas casas, dos Quclés e Casinhas, em uma região altamente enquanto outros utilizam os quintais. No povoado prioritária para a conservação da biodiversidade Baixa dos Quelés há um grupo de pequenos do Bioma Caatinga (MMA 2002), o Raso da apicultoresqueutilizamamataparaproduçãodemel. Catarina, bemcomoavaliarasdiferençasdevalor O artesanatoserestringeàconfecçãodeesteiras, localentreasduascomunidadeseentreosgêneros. vassourase panelade barro parausodoméstico. As vassouraseesteirassãofeitascompalhasdeSyagrus Material e Métodos coronata(Mart.)Becc(Licurioupindoba),atividade Área de estudo estarealizadaprincipalmentepelasmulheres. Asduascomunidadesquilombolasestudadas. As comunidades mantêm algumas práticas CasinhaseBaixadosQuelés.pertencemaomunicípio tradicionais de manejo dos recursos naturais. Os fíodriguésia61(2): 195-209.2010 SciELO/JBRJ 13 14 15 16 17 18 19 198 Almeida, V.S.& Bandeira. F.P.S.F. quilombolas da Baixa dos Quelés, por exemplo, realizadas oito visitas às comunidades durante o fazem uso de adubação orgânica (principalmente ano de 2008, com duração de 15 dias para cada esterco de gado), enquanto que na comunidade visita.Inicialmente,aplicou-seumquestionáriocom Casinhasháumacombinaçãodeadubaçãoquímica as lideranças locais para a caracterização sócio- e orgânica. Durante a coleta de madeira para económica das comunidades. A obtenção das produçãodelenha,osgalhosmortossãopreferidos. informações etnobotânicas foi feita através de O feijão e milho são conservados sob uma forma entrevistas semi-estruturadas, nas quais se bastante peculiarchamado “ariá”, que consiste em interrogava sobre o uso e restrições de uso das misturaressesgrãosaumbarro,retiradopróximoao plantas, parte usada, c os fatores culturais, povoado, chamado localmente de “toá”. Segundo geográficos e históricos relacionados à escolha osquilombolas,essatécnicapermiteaconservação dessas espécies como recursos vegetais. Também dos grãos por um período de quase dez anos. O se utilizou a lista livre, pormeiode uma pergunta plantiodealgumasespéciesfrutíferasébaseadona chave sobre as dez espécies mais importantes passagem da lua, com base na crença local de que utilizadas nos últimos dez anos, em ordem de essapráticagarantiráaprodução naquele ano. preferência(Lawrenceetul. 2005).Estatécnicavisa Nas comunidades há presença de buscarinformaçõesespecíficassobre umdomínio manifestaçõesreligiosasdeorigemcatólica,matriz cultural da comunidade estudada, ou seja, um afro-brasileira e evangélica. As principais elemento culturalmente relevante seja delineado festividades de Casinhas são a festa de São pelopróprioinformante,emsualinguagem,dando Jerônimo,queéopadroeirodopovoado,realizado possibilidadedefazerinferênciassobreaestrutura nodia28desetembro,eocarurudeSantaBárbara cognitiva do mesmo a partir da ordem em que queocorre nodia4dedezembro. Estas festas são recorda e coloca os elementos na lista envolvidas porcânticosedanças, comoadococo (Albuquerque & Lucena 2004). Desta forma foi e o principá, que acompanhadas pelos ritmos dos possívelobservarositensmaissalientes,melhores instrumentos musicais (gaita, flauta, zabumba e conhecidosoumaisimportantes,atravésdaposição bandeiro), os participantes vivenciam momentos emqueaparecemnaslistasde citações.Apartirda lúdicos e de devoção aos seus santos. Baixa dos ordenação realizada pelos informantes, os dados Quelés tem como padroeiro Santo Antônio e sua foramconvertidosem um rcink. Desse modo, uma festividade ocorre nodiado santo 13 dejunho. planta que foi colocada na primeira posição pelo Nos dois povoados existem escolas de informanterecebescoreiguala 10.aplantadentnk primeira a quarta séries, enquanto as séries 2 recebe score igual a 9, e assim sucessivamente: seguintes são cursadas na sede município de os táxonsnãomencionadosrecebemscore igual a Jeremoabo. Muitos adultos foram alfabetizados zero.Osdadoscalculadosapartirdalistalivreforam nos últimos anos, diminuindo o índice de sistematizados,tabuladoseanalisadoscomrelação analfabetismo no povoado. aosignificadoculturaldeusodasplantas.Paraisso Oacessoaospostosdesaúdeédifícil,muitas aplicou-se o índice de significado cultural (valor pessoas quando não fazem uso de remédios local) segundoLawrenceetai (2005), levando-se alopáticos utilizam as plantas para curar suas em conta as diferenças de gênero. doenças, ou associam as duas práticas médicas. Para participar da pesquisa, os seguintes As principais doenças listadas pelas lideranças critérios de inclusão foram considerados: ser locais foram: problemas gastrointestinais, quilombola, maior de dezoito anos e viver no sobretudoaltosíndicesdedoençasparasitáriasnas quilombo pelo menos há dez anos. As casas crianças,poisnãoháesgotamentosanitárioemuma dos moradores foram enumeradas e a partir de dascomunidades,problemasrespiratórios,cefaléia, uma tabela numérica aleatória os entrevistados diabetes, pressão alta, infecção no aparelho foram selecionados conforme o número que urogenital e depressão. correspondesse à numeração das casas. Quarenta e seis colaboradores participaram dapesquisa (23 Coleta de dados na comunidade de Casinhas e 23 em Baixa dos Antes de iniciar a pesquisa houve a leitura, Quelés), sendo 16 mulheres e 7 homens em cada paraoscolaboradores,doTermodeConsentimento comunidade.SegundoWellcr&Romney(1988),de Livre e Esclarecido e só após a aprovação dos 20a30informantessãosuficientesparadefinirum envolvidos a coleta de dados foi iniciada. Foram domíniocultural e,apartirdisto,asinformaçõesse Rodriguésiá 61(2): 195-209.2010 -SciELO/JBRJ cm 13 14 15 16 17 18 19 .. Osignificado culturaldo usodeplantasda caatinga 199 repetem, ou seja, os itens pouco mudam e as listas combustível (9,3%), veterinário (5,8%), melífera tomam-se estáveis. A saturação de respostas bem (5,8%), forrageira (4,6%), artesanato (1,2%) e comoaaceitaçãoemparticipardapesquisaforamos comercialização (1,1%). No geral, a maioria das critériosparadefinironúmerototaldeentrevistados. espécies possui de umaacinco categorias de uso. Com auxílio dos colaboradores locais, o Cunha & Albuquerque (2006) encontraram seis a material botânico citado foi coletado, depositado dez usos para quinze espécies. no HerbáriodaUniversidade Estadual de Feirade Acategoriamelíferaestáassociadaàsplantas Santana (HUEFS) e identificado com ajuda de percebidas pelos entrevistados com potencial especialistas ou por meio de comparação com melífero, tais como: Gochnatia oligocephala exsicatas. O sistema adotado para a classificação (candeia), Pityrocarpa moniliformis (quipé), defamíliasfoiodeCronquist(1988). Byrsonima vacciniifolia (murici). Mimosa tenuiflora(jurema-preta),Anacurdiumoccidentale Análise dos dados (cajueirobranco),Crotontricolor(sacatinga),etc; Afórmuladovalorlocal(Mulher/Homem)é eque sãovisitadaspelasabelhasApismellifera L. dadapelaequação:VTxc=ETx/nx,ondeparacada (Italianasou“Oropa”)duranteoperíododafloração táxon (T), é calculado o valor local das plantas sendo associadas pelos entrevistados com a atribuídas pelas mulheres ou pelos homens (x) de produçãodomel, fatoregistradoporum grupo de cada uma das comunidades (c), dividido pelo apicultoresdacomunidadeBaixadosQuelés. númerototaldemulheresouhomens(nx). Essas plantas são retiradas da matapróxima Afórmuladovalorlocaldecadacomunidadeé ao povoado ou cultivadas nos quintais ou nos dadapelaequação:VTc= 1/2(ETm/nm+ETf/nf), camposdecultivo(roças).Osquintaisapresentam ondeparacadatáxon(T)écalculadoovalorlocaldas umadiversidadedeelementosmanejados,quevão plantasatribuídopeloshomens(m),somadoaovalor desde espécies de plantas nativas e cultivadas até localdasmulheres(0decada comunidade(c). a criação de animais de pequeno porte, como Os resultados obtidos pelo valor local foram galinhas e porcos. testados através do teste normalidade Shapiro-Wilk. Paracurarasdoenças que “afligem àalma”, Posteriormente, aplicou-se o teste t (Student) para categoria própria do sistema etnomédico local, avaliarsehouvediferençassignificativasdovalorlocal algumaspessoasprocuramrezadoresebenzedeiras dasplantas,entreosgêneroseentreascomunidades. quealémdasrezas,usamdiversasplantasemseus procedimentos de cura. As principais plantas Resultados e Discussão utilizadas para estes fins são: Gochnatia oligocephala (candeia), Commiphora Osquilombolasdasduascomunidadescitaram 86espéciesdeusolocal,queestãodistribuídasentre leptophloeos (imburana), Jatropha sp. (pinhão- 34famíliase60gêneros (Tab. 1). As famíliascom manso),Jatropharibifolia(pinhão-roxo),Capparis númeromaiorderepresentantesforam:Leguminosae, sp. (quebra-mandinga), Vanilla sp. (bonia), Euphorbiaceae, Myrtaceac, Lamiaceae e Protiumheptaphyllum(amesca).Lippiathymoides Anacardiaceae. Resultado bem próximo foi (alecrim),Scopariadideis(vassourinha),Petiveria encontradoporFranco&Barros(2006)aopesquisar alliacea (cambabá). o uso e diversidade de plantas medicinais em uma Emboraovalorlocalparaamaioriadasplantas comunidadequilomboladoPiauí,naáreadetransição relacionadasaosrituaistenhasidobaixo,àexceção entre cerrado e floresta decidual mista (Mata de da candeia e do alecrim, a quantidade de plantas Babaçu),ondeforamidentificadas85espécies.Para utilizadas nos rituais para a cura dos “males área de caatinga Albuquerque et cil. (2002b) espirituais” é alto (22,1%), em comparação, por encontraram 75 espécies, sendo dessas, 14 exemplo,aoresultadoencontradoemcomunidades introduzidaseColaço(2006)64plantas. negras do Mato Grosso do Sul, onde apenas 9% As plantas ou "paus-do-mato”, termo das 189 espécies citadas foram usadas com esta utilizado pelos quilombolas estudados para finalidade, através de banhos de descarrego e designar os vegetais de uma forma geral, estão benzeduras(Schardong&Cervi2000).Emumadas distribuídas em dez categorias de uso, sendo que comunidades até pouco tempo atrás existia uma asplantasparafinsmedicinaisforamasmaiscitadas: casadecandomblé(religiãodematrizafrobrasileira), medicinal (75,6%), ritual ou religioso (22,1%), noentanto,comofalecimentodamãedesanto,os construção (19,8%), alimentação (15,1%), rituais cessaram, e possivelmente, muitos dos Rodríguésia 61(2): 195-209.2010 SciELO/JBRJ cm 13 14 15 16 17 18 19 t t 200 Almeida. V.S.& Bandeira. F.P.S.F. conhecimentos etnobotânicos disseminados pelo o conhecimento sobre o uso desta planta como culto ficaram sedimentados no interior das veterinário não se encontra completamente comunidades. Camargo (2007) cita o cambabá disseminado na comunidade. Por outro lado, Peliveria alliacea), uma das espécies usadas candeia é referida pelos quilombolas como uma ( ritualmentenascomunidadesestudadas,comouma plantadeusomúltiplo.Comolenha,porexemplo, plantaligadaaouniversomístico-religiosoafricano essaespécieéidentificadajuntamentecomMyrcia no Brasil. No período escravagista essa planta, sp. (araçá) e Eremanthus capitatus (Spreng.) tambémchamada“amansa-senhor",erapreparada MacLeish (come-cherem), como sendode grande numa porção mágica e usada pelos escravos para importância. E bastante comum as três espécies deixar os seus senhores em estado de debilidade serem utilizadas para combustão de maneira como uma forma de defesa das mulheres negras combinada, na comunidade de Baixa dos Quelés, aos assédios dos seus patrões. principalmenteduranteoverãoquandoseencontram maissecas. Outroaspectodacandeiaéaqualidade Valor local de plantas da caatinga damadeiraparaconstruçãode“poços"(cercas)das O valor local total dos táxons nas duas roças e casas. Segundo os entrevistados, sua comunidades variou de 0,03 a 5,49 (Tab. 2). As durabilidade permite um tempo maiorde duração, dezespéciesque tiveramomaiorvalorlocal,por interferindo naescolhadestaplantaemdetrimento comunidade, em ordem decrescente foram: das outras. Embora sendo uma espécie importante Casinhas — Gochnalia oligocephala (candeia - com grande espectro de uso e preferência, se 5,49), Hymenaea courbaril (jatobá - 3,87), observou que sua disponibilidade ainda é alta no Poincianella microphylla (catingueira - 2,88), local,poisaformadecoletaemanejodaplantapelos Lippia thymoides (alecrim - 2,70), Schinus quilombolas se dá de forma aparentemente terebinthifolius (aroeira - 2,23), Maytenus sp. sustentável. Porexemplo, não sãoretirados galhos (pau-de-colher- 2,13),Anacardiumoccidentale jovensapenas“galhosmortos”e,quandoexisteuma (cajueirobranco-2,06),Myrciasp.(araçá- 1,89), maiorquantidadedoaraçánoambiente,essaespécie Mimosa tcnuiflora (jurema-preta - 1,61), éapreferida. Contudo,essaobservaçãoprecisa ser Libidibiaferrea (pau-ferro 1,54) e Cordia sp. avaliadaporestudosdeecologiadepopulações da (pau-santo - 0,03) planta de menor valor local. espécienaárea. Para Baixa dos Quelés tem-se: G. oligocephala Nãohouvediferençassignificativasdovalor (candeia - 4,83). Myrcia sp. (araçá - 4,07), S. local de espécies entre mulheres de comunidades terebinthifolius (aroeira - 3.09), M. tenuiflora diferentes ( =0,29, p=0,76), bem comoentreos (jurema-preta - 2,66), Cordia curassavica homens(/=0,18,p=0,85)ofatodequeparaalgumas (caatinga-dc-cheiro- 2.59),Miconiaferruginata espécies, o número de citações acompanhou a DC. (babatenão-2,48). Crotonsp.(quebra-fação magnitudedovalorlocal,issoédevidoàinfluência - 2,30),A. occidentale (cajueiro branco - 2,02), do mesmo no cálculo desse índice. Plantas que Pisonia laxa (bandola - 1,63), L. thymoides forammaiscitadas,geralmente,têmmaiorvalorlocal, (alecrim - 1,55). Nesta area os menores valores entretanto,aordemdecitaçãonalistalivretambém locaisforamde0,03paraGossypiumsp.(algodão- influencianocálculodovalorlocal(Tab.2). criolo), Scoparia ditlcís (vassourinha), e As dez plantas, em ordem decrescente de Plectranthus sp. (malva grossa). valor local, citadas pelas mulheres foram: Mesmonãohavendodiferençassignificativas Gochnalia oligocephala (candeia - 4,81), Myrcia entreascomunidades( =0,26, p=0,79)eentreos sp. (araçá-3,53),Schinusterebinthifolius(aroeira gêneros(t=0,27,p=0,78)paraosdiferentestáxons - 3,25), Miconiaferruginata (babatenão - 2,88), (resultadosemelhanteencontradoporColaço,2006). Lippia thymoides (alecrim - 2,53), Anacardium verifica-se que G. oligocephala (candeia) é a occidentale(cajueirobranco- 2,44),Poincianella espécie de maior valor local dentro de cada microphylla(catingueira-2,19),Maytenussp.(pau- comunidade, tantoparaos homensquantoparaas de-colher- 1,84), Hyptispectinata (sambacathá - mulheres. Gochnalia oligocephala (candeia) e 1,63) e Cordia curassavica (caalinga-de-cheiro - Pityrocarpamoniliformis(quipé)foramasplantas 1,38).Protiumheptaphyllum(amesca),Gossypium queapresentaramomaiornúmerodeusos(5).Quipé sp. (algodão-criolo), Plectranthus sp. (malva diferedacandeiapelo usoveterinário, entretanto, grossa) e Cordia sp. (pau-santo) tiveram o menor apenasumapessoaoindicou,oquefazinferirque valorlocal(0,03). Rodriguésia 61(2): 195-209.2010 SciELO/JBRJ cm 13 14 15 16 17 18 19 .. O Tabela I -EspéciescitadasnalistalivreusadanocálculodoVL(valorlocal)pelosQuilombolasdeBaixadosQueléseCasinhas.Categoriascformasdcuso:A-Alimento; Rodríguésià M-Medicinal;Me-Mclifcra;C-Combustível;R-Ritual/rcligioso;CT-Construção;Cm-Comercialização;F-Forrageira;V-Vcterinário;Ar-Artesanato. Tablc l - EspéciescitedinthefreelistusedinthccalculationofVL(localvalue)bytheQuilombolasfromBaixadosQuelésandCasinhas.Categoricsandtypesofuse:A- significado cdiblc,M-medicinal;Me-melliferous;C-fuel;R-ritual/religion;CT-construction;Cm-commcrcc,F-foragc;V-vetcrinary;Ar-handicraft. 61(2): cultural Nome vernáculo Nome científico Família Uso Formadepreparo do 195-209. M uso Acançu Pericindramediterrânea(Vcll.)Taub. Leguminosac Xaropeouchá de Alecrim/alccrinho LippiathymoidesMart. &Schercr Verbenaceae M, R Chá,lambcdor,banho,defumador 2010 Algodão-criolo Gossypium sp. Malvaceae M Sumo plantas Amesca ProtiumheptaphyllumMarch. Burseraceae M, R Defumador,torrar da M Angico Anadenantheracolubrinavar.Ccbil(Griseb.)Altschul Leguminosac C, Chá,usodireto,lambedor caatinga Araçá Myrcia sp. Myrtaceae C, Me, M, CT Chá,usodireto Araçá-de-moça Eugenia sp. Myrtaceac A Uso direto Araticum Annona sp. Annonaceae M, A Infusão Aroeira SchimtsterebinthifoliusRaddi. Anacardiaceae M, R Chã,infusão,banho Babatenão/babatenã MiconiaferruginataDC. Mclastomataceae M Infusão,banho Bambão/melancia-da-praia Solanum sp. Solanaceae M Lambedor Bandola/pandola PisonialaxaNetto Nyctaginaceae M, V Infusão Bom-pra-tudo Indeterminada M Chá 1 Bonia Vanilla sp. Orchidaceac M, R Chá,cheiro Braúna SchinopsisbrasiliensisEngl. Anacardiaceae M, CT Lambedor,chá Catinga-de-cheiro Cordiacurassavica(Jacq.)Roem. &Schult. Boraginaceac M Chá,banho Café-bravo/cafeze ro Erythroxylum sp. Erythroxylaceae CT, C Usodireto i Caibeiro Indeterminada2 Myrtaceae CT Usodireto Cajueirobranco AnacardiumoccidentaleL. Anacardiaceae Cm, M, A, Me Doce,suco,chá Cambabá/guinczinho PetiveriaalliaceaL. Phytolacaceae M, R Chá,banho M Camboatá Cupaniaoblongifolia Mart. Sapindaceae Infusão Cambucá Myrcia sp. Myrtaceae A,C Uso direto Cambuí MyrciarostrataDC. Myrtaceae A, M, C Usodireto,chá Candeia Gochnatiaoligocephala(Gardner)Cabrera Asteraceae C, M, Me, CT, R Chá M Canudinho Hypeniasalzmannii(Benth.)Harlcy Lamiaceae Chá SciELO/ JBRJ 10 17 18 ] Nome vernáculo Nome científico Família Uso Formadepreparo 202 Capim-faixa-branca Indeterminada3 Poaceae F Usodireto Catingucira Poincianellamicrophylla(Mart.exG. Don)L.P.Queiroz Leguminosae M, C, CT Chá,Infusão Cedro CedrellafissilisVell. Meliaceae M, CT, R Banho,defumador Chacuretá Indeterminada4 C, CT Uso direto Cipó-de-grajaú IndeterminadaS M Chá Come-cherem Eremanthuscapitatus(Spreng.)MacLeish Asteraceae C Uso direto Corona Cestrwn sp. Solanaccae R Banho Fedegoso Sennaoccidenlalis(L.)Link. Leguminosae R Chá,Banho Imburana Commiphora leptophloeos (Mart.)J.B. Gillett Burseraceae M. R Chá,xarope,infusão,decocção M Icó-preto CapparisjacobinaeMoric. Capparaceae Torrar Jarrenha AristolochiairilobataL. Aristolochiaceae M Chá M Jatobá HymenaeacourbarilL. Leguminosae R, Defumação,xarope,banho,infusão,chá Jiquirizciro Indeterminada6 Leguminosae M, A Infusão M Juazeiro Ziziphusjoazeiro Mart. Rhamnaccae Banho,infusão Jurema-preta Mimosatenuiflora(Willd)Poir. Leguminosae CT, C, M, Me Banho,chá,xarope M Jurubeba SolanumpaniculatumL. Solanaceae Lambedor,chá Laranjinha-do-mato Zanthoxylum spl. Rutaceac M, R Maceração,banho Licuri/nicuri Syagruscoronata (Mart.) Becc. Arecaceae M, A,Ar, F Uso direto Macambira Indeterminada7 CT Uso direto Maçaranduba Manilhara sp. Sapotaccac M, CT Uso direto Macela HyptismartiusiiBenth. Lamiaceae R Banho M Malva-de-jeguc SidacordifoliaL. Malvaceae Chá M Malva-grossa Plectranthussp. Lamiaceae Lambedor Mamonia Indeterminada8 CT Uso direto Rodriguésia Mandacaru Cereusjamacaru DC. Cactaceae M, A Usodireto Almeida, (61 Mangaba HancomiaspeciosaGomes Apocynaceae M. A Extraçãodolátex V.S. 2 M & ): Marmeleiro CrotonblanchetianusBaill. Euphorbiaceae Infusão M 195 Maracujá prá pouco PassiflorafoetidaL. Passifloraceae Chá - Mastruz ChenopodiumambrosioidesL. Chenopodiaceae M Maceração Bandeira, 209 M . Mororó/grão-de-boi Banhiniasubclavata Benth.in Mart. Leguminosae Chá 2010 Muriciverdadeiro Byrsonimacrassifolia(L.) Kunth. Malpighiaceae A Uso direto F.P.S.F. BciELO/JBRJ 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 1 O Nome vernáculo Nome científico Família Uso Formadepreparo Rodríguésia Murici-peba ByrsonimatríopterifoliaA.Juss. Malpighiaceac A Suco significado M (61 Murta Campomanesiaeugenioidesvar.desertorwn(DC.)Landrum Myrtaceac Infusão 2 Palma Opunliaficus-indicaMill. Cactaceae F Uso direto cultural ): M 195 Pau-darco Tabebuiaimpetiginosa (Mart.) Standley Bignoniaceae Chá,infusão do M - Pau-de-colher Maytenus sp. Celastraceae Infusão,chá uso 2.09 Pau-de-rato Indeterminada9 M Chá de M 2010 Pau-ferro Libidibiaferrea (Mart. cxTul.) L.P. Queiroz Leguminosae Chá, infusão, pó M plantas Pau-pra-tudo Zanthoxylum sp2. Rutaceae Infusão,chá M da Pau-santo Cordia sp. Boraginaceae R. Banho,chá Pega-pinto Boerhavia sp. Nyctaginaceac M, V Chá caatinga Pereiro Aspidospermapyrifolium Mart. Apocynaceac V,CT Maceração Pindaíba Indeterminada 10 M Chá Pinhão-manso Jatropba sp. Euphorbiaceae M, R Defumador,torrado Pinhão-roxo Jatropharibifolia(Pohl.)Baill. Euphorbiaceae M, R Banho,maceração Pulsar Indeterminada 1 Myrtaceae A Uso direto Quebra-facão Croton sp. Euphorbiaceae M, R Banho,infusão,chá Quebra-mandinga Capparis sp. Capparaceae R Banho Quina-quina ChiococcabrachialaRuiz&Pav. Rubiaceae V, M Infusão,chá Quipé Pityrocarpamoniliformis(Benth)LuckoweR.W.Jobson Leguminosae M, C, Me, V, CT Infusão,chá M Quixabeira Sideroxylumobtusifolium(Roem. Et.Sch.) Sapotaceae Chá,infusão M Sacatinga Crotontricolor(L.)Mull.Arg. Euphorbiaceae Banho,chá Sambacaitá Hyptispectinata(L.)PoiL Lamiaceae M , CT Banho,chá M Sucupira BowdichiavirgilioidesKunth Leguminosae Infusão Susuara Indeterminada 12 CT Uso direto Tuturubaca Pouteria sp. Sapotaceae A, F Uso direto M Umbudeameixa XimeniaamericanaL. Olacaceae Chá M Umbuzeiro SpondiastuberosaL. Anacardiaceae A, Infusão Vassourinha ScopariadulcisL. Scrophulariaceae R, M Banho,sumo M Velame Croton heliotropiifoliusKunth Euphorbiaceae Torrado,chá M Velandinho CrotonpulegioidesMull.Arg. Euphorbiaceae Chá SciELO/JBRJ 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 Tabela 2-Valorlocal enúmerodecitaçõesdeplantasparahomensemulheresnas comunidadesCasinhasc BaixadosQuelés,do municípiodeJeremoabo/BA. VLBQ -ValorlocalBaixadosQuelés;VLMQ-Valorlocalmulheresb. dosQuelés;VLHQ-Valorlocalhomensb.dosQuelés;CMQ-Númerodecitaçõesfeitaspormulheres de B.dosQuelés; CHQ-Númerode citações feitas porhomens de B.dos Quelés; CQT-Número total de citações; VLC- Valor local Casinhas; VLMC - Valorlocal mulheresdeCasinhas;VLHC-Valorlocal homensdeCasinhas;CMC-NúmerodecitaçõesfeitaspormulheresdeCasinhas;CHC-Númerodecitaçõesfeitaspor homens deCasinhas;CCT NúmerototaldecitaçõesdeCasinhas;VL(H+H)-Valorlocal paraoshomensdasduascomunidades;VL(M+M)-Valorlocalparaasmulheresdas duas comunidades. Table2-LocalValucandnumberofcitationsofplantsformenandwomenofthccommunitiesCasinhasandBaixadosQuelésofthemunicipalityofJeremoabo/BA.VLBQ -LocalValueBaixadosQuelés; VLMQ- LocalValuc forwomenin BaixadosQuelés; VLHQ-LocalValuc formenin BaixadosQuelés;CQM-Numbcrofcitationsby 204 womenofBaixadosQuelés;CQH-NumberofcitationsbymenofBaixadosQuelés;CQT-Totalnumberofcitations;VLC-LocalValueinCasinhas;VLMC-LocalValue forwomeninCasinhas;VLI1C-Local Valueformen inCasinhas,CMC-ThcnumberofcitationsbywomeninCasinhas;CHC-NumberofcitationsbymeninCasinhas; CCT-Totalnumberofcitations inCasinhas;VL(H+H)- Localvalueformenofthetwocommunities,VL(M+M)-Localvalueforwomenofthetwocommunities. Nome vernáculo VLBQ VLMQ VLHQ CMQ CHQ CQT VLC VLMC VLHC CMC CHC CCT VL<H+H) VL(M+M) Acançu 0.30 0,31 0,29 1 1 2 0,59 0,75 0,43 3 1 4 0,36 0,53 Alecriin/alecrinho 1,55 1.81 1,29 4 1 5 2,70 3,25 2,14 10 2 12 1,72 2,53 Algodão-criolo 0,03 0,06 0.00 1 0 1 0.00 0,00 0,00 0 0 0 0.0 0,03 Amesca 0,00 0,00 0,00 0 0 0 0,53 0,06 1,00 1 1 2 0,5 0,03 Angico 0,00 0,00 0.00 0 0 0 0.81 1,63 0.00 3 0 3 0,0 0,82 Araçá 4,07 4,00 4,14 10 4 14 1,89 3,06 0,71 6 1 7 2,43 3,53 Araçá-de-moça 0,00 0,00 0,00 0 0 0 0.10 0,19 0,00 1 n 1 0.0 0,09 Araticum 0,00 0.00 0,00 0 0 0 0,71 0,00 1,43 0 i 1 0.72 0,0 Aroeira 3,09 2,75 3,43 7 3 10 2,23 3,75 0,71 9 l 10 2.07 3,25 Babatenão/babatenã 2,48 2.81 2.14 7 2 9 1,47 2,94 0,00 7 0 7 1,07 2,88 Bambão/melancia-da-praia 0,00 0.00 0,00 0 0 0 0,09 0,19 0,00 1 0 1 0.0 0.10 Bandola/pandola 1,63 1.69 1,57 5 2 7 1,03 0,63 1,43 2 2 4 1,5 1,16 Bom-pra-tudo 0,(X) 0,00 0,(X) 0 0 0 0,36 0,00 0,71 0 i 1 0,36 0,0 Bonia 0.00 0,00 0.00 0 0 0 0,71 0,56 0,86 1 i 2 0,43 0,28 Rodriguésla Braúna 0,00 0,00 0.CX) 0 0 0 0,46 0.63 0,29 2 i 3 0,15 0.32 Almeida. Cafébravo/cafezeiro 0.16 0,31 0.(X) 1 0 1 0,07 0,00 0,14 0 i 1 0,07 0,16 61(2): Caibeiro 0.00 0.00 0,00 0 0 0 0,57 0,00 1.14 0 i 1 0.57 0,0 V&.S. Cajueirobranco 2,02 3.19 0,86 7 1 8 2,06 1,69 2,43 5 2 7 1,64 2,44 Cambabá/guinezinho 0,98 0,81 1.14 2 1 3 0,00 0,00 0,00 0 0 0 0,57 0,41 Camboatá 0,21 0,00 0,43 0 1 1 0,00 0,00 0,00 0 0 0 0,22 0.0 Bandeira, 195-209.2010 Cambucá 0,14 0,00 0,29 0 1 1 0,00 0,00 0,00 0 0 0 0,15 0,0 Cambuí 0,50 0,00 1,00 0 1 1 0,28 0,56 0,00 2 0 2 0,50 0,28 F.P.S.F. BciELO/JBRJ 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

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