co ^ I(O _ §S C Q 2 oo I â •oO D"isC W C •o'«g= .!2 o c g: CO O í) O CO T3 O l—• CD CO .03B W) £ •£- CD Q. etx o s .í i ?1 a O SEMINJacques ÁL ^ Ja03 O"03 31 S"03 <CD JO'O .£0 2R^ RIOaca n nd ãe o u fm o s d s eis c s u e r ms o b l aq nu te e -loS l ' sÈr^jg,St:11 " 2 '03cr CD ol'o . - ~ | — N CAMPO FREUDIANO NO BRASIL Jacques Lacan Coleção dirigida por Jacques-Alain e Judith Miller Assessoria brasileira: Angelina Harari O SEMINÁRIO livro 18 De um discurso que não fosse semblante Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller ZAHAR Rio de Janeiro P Título original: Lê Séminaire ãe Jacques Lacan Livre XVIII: D'un discours qui ne seraitpás du semblant (1971) Tradução autorizada da primeira edição francesa, publicada em 2006 por Editions du Seuil, de Paris, França livro 18 Copyright © 2007, Editions du Seuil Copyright da edição brasileira © 2009: De um discurso que Jorge Zahar Editor Ltda. rua México 31 sobreloja não fosse semblante 20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel.: (21) 2108-0808 / fax: (21) 2108-0800 e-mail: [email protected] 1971 site: www.zahar.com.br Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98) Cet ouvrage, publié dans lê cadre du Programme d'Aide à Ia Publication Carlos Drummond de Andrade de 1'Ambassade de France au Brésil, beneficie du soutien du Ministère français dês Affaires Etrangères et Européennes. Tradução: VERA RIBEIRO Este livro, publicado no âmbito do programa de participação à publicação Carlos Drummond de Andrade da Embaixada da França no Brasil, contou com o apoio do Ministério francês das Relações Exteriores e Europeias. Versão final: NORA PESSOA GONÇALVES CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ Preparação de texto: Lacan, Jacques, 1901-1981 ANDRÉ TELLES L129s Seminário, livro 18: de um discurso que não fosse semblante, (1971) / Jacques Lacan; texto estabelecido por Jacques-Alain Miller; tradução Vera Ribeiro; versão final Nora Pessoa Gonçalves; prepara- ção de texto André Telles. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. (Campo freudiano no Brasil) Tradução de: Lê Séminaire de Jacques Lacan, livre XVIII: d'un discours qui ne serait pás du semblant (1971) Anexo Inclui índice ISBN 978-85-378-0103-1 1. Prazer — Discursos, conferências etc. 2. Relações homem-mulher — Discursos, conferências etc. 3. Psicanálise e linguística — Discur- sos, conferências etc. 4. Psicanálise — Discursos, conferências etc. I. Miller, Jacques-Alain, 1944-. II. Título. III. Título: De um discurso que não fosse semblante. IV. Série. CDD: 150.195 09-1205 CDU: 159.964-2 SUMÁRIO I. Introdução ao título deste Seminário 9 II. O homem e a mulher 22 III. Contra os linguistas 37 IV. O escrito e a verdade 51 V. O escrito e a fala 71 VI. De uma função para não escrever 89 VII. Lição sobre Lituraterra 105 VIII. O homem e a mulher e a lógica 120 IX. Um homem e uma mulher e a psicanálise 135 X. Do mito forjado por Freud 152 ANEXOS Algumas referências de Lacan a Lacan e a outros... 169 índice onomástico 173 I INTRODUÇÃO AO TÍTULO DESTE SEMINÁRIO De um discurso que não fosse semblante No quadro-negro I V iii n discurso — não é do meu que se trata. Creio tê-los feito perceber bastante bem, no ano passado, o que • nuvem entendermos pelo termo discurso. Recordo o discurso do incsire e suas quatro, digamos, posições, os deslocamentos de seus I1 11 nos em relação a uma estrutura reduzida a ser tetraédrica. A quem i pusesse empenhar-se nisso, deixei a tarefa de esclarecer o que justifica esses deslizamentos, que poderiam ter sido mais diversificados. Eu os u iln/.i A quatro. O privilégio desses quatro, talvez este ano eu lhes dê i'H />assant a indicação dele, se ninguém se dedicar a tanto. Só tomei essas referências em relação ao que era meu objetivo, numciado no título O avesso da psicanálise. O discurso do mestre n.io r o avesso da psicanálise, é o lugar em que se demonstra a torção própria, eu diria, do discurso da psicanálise. (lom efeito, vocês sabem da importância que se atribuiu, desde sua emissão por Freud, à teoria da dupla inscrição, e da ênfase que recai sobiv ela. O que equivale a levantar a questão de um direito e um .ive.sso. Ora, aquilo que se trata de fazê-los alcançar é a possibilidade <le uma inscrição dupla, no direito e no avesso, sem que seja preciso 11 unspor uma borda. E a estrutura, há muito tempo conhecida, da chamada banda de Moebius. Tive apenas que fazer uso dela. INTRODUÇÃO AO TÍTULO DESTE SEMINÁRIO 11 DE UM DISCURSO QUE NÃO FOSSE SEMBLANTE miMil.ii laz a crítica [fait lapresse], seguramente levando em conta, dízimos, algumas incidências de nossa história —, esse discurso p nova a questão do que pode ocorrer com o discurso como discur- E a partir desses lugares e elementos que se designa que o que é discurso, .o «Io mestre. Só podemos interrogar-nos ao denominá-lo. Não se propriamente dito, não poderia de modo algum ter por referência um ipicsscm demais em se servir da palavra revolução. Mas está claro sujeito, embora o discurso o determine. i|iir c'' preciso discernir o que acontece com o que me permite, em Aí reside, sem dúvida, a ambiguidade daquilo pelo qual introduzi -.IIIM.I, levar adiante meus enunciados, qual seja, esta formulação: De o que julguei dever dar a entender no interior do discurso psicana- n ni discurso que não fossse semblante. lítico. ('.abe retermos aqui dois traços desse número de Scilicet. Lembrem-se de meus termos, na época em que intitulei um certo < ) primeiro é que, em resumo, ali ponho à prova meu discurso do relatório de "Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise". mo passado — quase, exceto por uma coisa a mais — numa confi- Intersubjetividade, escrevi na ocasião, e Deus sabe a que pistas falsas |-.m.icno que se caracteriza justamente pela ausência do que chamei pode dar margem o enunciado de termos como esse. Que me descul- • l.i presença [presse] em massa de vocês. Para dar plena ênfase ao que pem ter tido que fazer dessas pistas as primeiras. Eu só podia seguir r v..i presença significa, eu a destacarei com o mais-de-gozar^w.wzíwW0 adiante a partir do mal-entendido. Inter, com efeito, foi certamente o l/iirssi1}. que só a sequência me permitiu enunciar sobre uma intersignificação, l', cxatamente essa figura que podemos estimar se irá além de um in- subjetivada por sua consequência, posto que o significante é o que • ou iodo, como se costuma dizer, concernente ao excesso de aparências representa um sujeito para outro significante, no qual o sujeito não iiod iscurso em que vocês estão inscritos, o discurso universitário. É fácil está. Ali onde é representado, o sujeito está ausente. E justamente por denunciá-la como o incómodo de uma neutralidade, por exemplo, a isso que, ainda assim representado, ele se acha dividido. 1111.11 fsse discurso não pode ter a pretensão de sustentar nem por uma Não se trata apenas de que o discurso, a partir daí, já não possa ',< li\;io competitiva, visto que se trata apenas de signos dirigidos aos ser julgado senão à luz de sua instância inconsciente: é que ele já não idvertidos, nem por uma formação do sujeito, já que se trata de algo pode ser enunciado como outra coisa senão aquilo que se articula a In m diferente. O que é preciso para irmos além desse incómodo das partir de uma estrutura, em alguma parte da qual ele se acha alienado .11>.noticias, para que se espere alguma coisa que permita sair delas? de maneira irredutível. N.u Ia o permite senão afirmar que uma certa modalidade de rigor no Daí meu enunciado introdutório. De um discurso—detenho-me aí— ,iv.11 iço de um discurso cliva, numa posição dominante nesse discurso, que não é o meu. É desse enunciado do discurso como não podendo o que acontece com a triagem dos glóbulos de mais-de-gozar em nome ser o discurso de um particular, mas se fundando numa estrutura, e da dos quais vocês se vêem presos no discurso universitário. ênfase que lhe é dada pela distribuição, pelo deslizamento de alguns Isso não é novo, já falei sobre isso, mas ninguém prestou atenção: de seus termos, é daí que parto, este ano, para o que se intitula De um 0 q i K- constitui a originalidade deste ensino, e que os motiva a lhe discurso que não fosse semblante. ii.i/crcm sua presença em massa, é exatamente o fato de alguém, a Aqueles que, no ano passado, não puderam acompanhar esses 1 MI i i i cio discurso analítico, colocar-se em relação a vocês na posição enunciados, que são prévios, portanto, indico que a publicação do ilc analisando. Ao falar pelo rádio, submeti este ensino ao teste da número 2/3 da revista Scilicet, que já tem mais de um mês, lhes dará snbiração dessa presença, deste espaço em que vocês se imprensam, as referências inscritas. .n u i lado e substituído pelo existe puto da intersignificação de que falei Scilicet 2/3, por ser um escrito, é um acontecimento, se não um l i.i pouco, para que aí vacile o sujeito. Ê simplesmente um desvio para advento de discurso. E o é primeiramente porque o discurso do alguma coisa sobre cujo alcance possível o futuro dirá. qual me descubro o instrumento — sem que se possa eludir que Há um outro traço do que denominei esse acontecimento, esse ele exige a presença em massa de vocês, ou seja, que vocês estejam udvcnto de discurso. Essa coisa impressa a que se dá o nome de presentes, e muito precisamente nesse aspecto do qual alguma coisa DE UM DISCURSO QUE NÃO FOSSE SEMBLANTE INTRODUÇÃO AO TÍTULO DESTE SEMINÁRIO 13 Scilicet, como um certo número de vocês já sabe, é escrita sem assinar. ,io mesmo tempo, fato de discurso. Ê isso que designo com o termo Que quer dizer isso? Que cada um dos nomes dispostos em coluna n i(l,no e, é claro, é isso que se trata de reduzir. na última página dos três números que constituem um ano pode ser ( !om efeito, se falo de artefato, não é para promover a ideia de permutado com cada um dos outros, afirmando, por conseguinte, que .iljMima coisa que seja diferente, de uma natureza. Vocês se enganariam nenhum discurso pode ser autoral. Isso é uma aposta. Ali, isso fala. .10 enveredar por esse caminho para enfrentar as dificuldades, porque O futuro dirá se essa é a fórmula que, dentro de cinco ou seis anos, ii.io sairiam daí. A pergunta não se instaura nos termos "Isso é ou não será adotada por todas as revistas, as boas revistas, bem entendido. É . discurso?', mas como "Isso é dito ou não é dito". 1'arto do que se diz num discurso cujo artefato é suficiente, supos- urna aposta, veremos. No que eu digo, não tento sair do que é sentido, experimentado em i i mente, para que vocês estejam aqui. meus enunciados, como acentuando, como atendo-se ao artefato do Neste ponto, um corte, porque não acrescento "para que vocês discurso. Isso significa, é claro — é o mínimo —, que, dessa maneira, • i*-j.mi aqui em estado de mais-de-gozar pressionado". fica excluída a possibilidade de eu ter a pretensão de abarcar tudo. l''alei em corte porque é questionável se é enquanto mais-de-gozar Isso não pode ser um sistema e, nessa condição, não é uma filosofia. /,/ |m-ssionado que meu discurso os reúne. Não está decidido, inde- Para qualquer um que adote o ângulo pelo qual a análise nos permite l>< iidi-iitemente do que pense tal ou qual pessoa, que é esse discurso, renovar o que se passa no discurso, fica claro que isso implica nos i> d.i série dos enunciados que lhes apresento, que os coloca nessa deslocarmos, eu diria, num desuniverso. O que não é o mesmo que l " r.irão. diverso. Mesmo esse diverso, porém, não me seria repugnante, e não apenas pelo que ele implica de diversidade, mas até pelo que implica de diversão. Também fica muito claro que não falo de tudo. Aliás, isso até resis- te, no que enuncio, a que se fale de tudo. É algo de que temos provas '-. nili/iinte: o que isso quer dizer, no enunciado do título deste ano? palpáveis todos os dias. O fato de eu não falar sobre o que enuncio, no Sc isso quer dizer, por exemplo, semblante de discurso, teremos, entanto, é outra coisa, como eu já disse, e se prende a que a verdade • "mo vocês sabem, a chamada posição lógico-positivista. Trata-se de nl n ncter um significado à prova de alguma coisa que se decida por um é para ser apenas semidita. Em suma, portanto, esse discurso que se restringe a só agir no i m ou por um não. O que não se permite ser oferecido a essa prova, artefato é apenas o prolongamento da posição do analista, no que ela > i. n que é definido como não querendo dizer nada. se define por colocar o peso de seu mais-de-gozar num certo lugar. l1', com isso, julgamo-nos livres de um certo número de perguntas No entanto, essa é a posição que não posso sustentar aqui, exatamente qualificadas de metafísicas. Certamente não se trata de que eu me por não estar aqui na posição do analista. Eu afirmei há pouco, vocês 11» ]',nr a essas perguntas, mas faço questão de assinalar que a posição é que estariam nessa posição, em sua presença em massa, exceto que i li i positivismo lógico é insustentável, ao menos a partir da experiência lhes falta o saber. Dito isto, qual pode ser o alcance do que enuncio nulíiica. nessa referência, De um discurso que não fosse semblante! Sr ,\a analítica acha-se implicada, por receber seus Isso pode ser enunciado do meu lugar, e em função do que títulos de nobreza do mito edipiano, é justamente por preservar a enunciei antes. Em todo caso, é fato que eu o enuncio. Observem Contundência da enunciação do oráculo e, eu diria ainda, porque que também é um fato uma vez que eu o enuncio. Vocês podem não i iniri|>retação permanece sempre nesse mesmo nível. Ela só é ver- entender nada, isto é, achar que não há nisso nada além do fato de il.nlrira por suas consequências, tal como o oráculo. A interpretação eu o enunciar. Entretanto, se falei de artefato a propósito do discurso, 111. M M 11 >metida à prova de uma verdade que se decida por sim ou não, foi porque, para o discurso, não existe nada de fato, se assim posso m.r. desencadeia a verdade como tal. Só é verdadeira na medida em me expressar, só existe fato pelo fato de dizê-lo. O fato enunciado é, •l'i< * verdadeiramente seguida. 14 DE UM DISCURSO QUE NÃO FOSSE SEMBLANTE INTRODUÇÃO AO TÍTULO DESTE SEMINÁRIO 15 Veremos dentro em pouco que os próprios esquemas da implicação É evidente que isso caiu do céu, porque sou um idealista, de vez c'i n quando. lógica, em sua mais clássica forma, exigem o fundo dessa veracidade como pertencente à fala, mesmo que ela seja, propriamente falando, insensata. O momento em que a verdade se decide unicamente — de seu desencadeamento para aquele de uma lógica que tentará dar corpo a essa verdade — é, muito precisamente, o momento em que o discurso, como representante da representação, é dispensado, desqualificado. Mas, Artefato, disse eu no começo. se pode sê-lo, é porque, em alguma parte, ele o é desde sempre. E a isso O artefato, é claro, com absoluta certeza, é nosso destino de todo que chamamos recalque. Já não é uma representação que ele representa, dia, nós o encontramos em toda esquina, ao alcance dos menores é essa série de discurso que se caracteriza como efeito de verdade. justos de nossas mãos. Se há um discurso sustentável, ou pelo menos O efeito de verdade não é semblante. Está aí o Êdipo para nos sustentado, nominalmente chamado de discurso da ciência, talvez não ensinar, se vocês me permitem, que ele é sangue vivo. Só que, vejam, o soja inútil nos lembrarmos de que ele partiu, muito especialmente, da sangue vivo não refuta o semblante, ele o colore, torna-o re-semblante, Consideração de aparências. propaga-o. Um pouquinho de serragem e o circo recomeça. É por isso O ponto de partida do pensamento científico, digo, na história, vem mesmo que a questão de um discurso que não fosse semblante pode .1 ser o quê? A observação dos astros. E isso é o que senão a constelação, elevar-se ao nível do artefato da estrutura do discurso. Entrementes, não ou seja, a aparência típica? Os primeiros passos da física moderna gira- existe semblante de discurso, não existe metalinguagem para julgá-lo, ram em torno de quê, no início? Não dos elementos, como se acredita, não existe Outro do Outro, não existe verdade sobre a verdade. l >oique os elementos, os quatro, e até a quinta-essência, se quiserem Um dia eu me diverti fazendo a verdade falar. Que pode haver .11. lescentá-la, já constituem um discurso, discurso filosófico, e como! de mais verdadeiro do que a enunciação eu minto! Pergunto onde l;,lcs giraram em torno dos meteoros. existe um paradoxo. A clássica polémica enunciada com o termo Descartes fez um Tratado dos meteoros. O passo decisivo, um dos "paradoxo" só ganha corpo quando esse eu minto é posto no papel, a passos decisivos, disse respeito à teoria do arco-íris, e, quando falo em título de escrito. Todo mundo percebe que, de vez em quando, não meteoro, refiro-me a algo que foi definido por se qualificar como tal há nada mais verdadeiro que se possa dizer do que eu minto. Aliás, .1 partir de uma aparência. Mesmo entre as pessoas mais primitivas, com toda a certeza, essa é a única verdade que não é destruída, em ninguém jamais acreditou que o arco-íris fosse uma coisa que estava certas ocasiões. Quem não sabe que, ao dizer eu não minto, de modo lá, curva e elevada. Foi como meteoro que ele foi interrogado. algum nos resguardamos de dizer uma coisa mentirosa? Que significa O meteoro mais característico, o mais original, aquele que sem isso? A verdade de que se trata, aquela que afirmei que diz Eu, aquela sombra de dúvida está ligado à própria estrutura do que é o discurso, é que se enuncia como oráculo, quando ela fala, quem é que fala? Esse 111 rovão. Se terminei meu Discurso de Roma evocando o trovão, não foi semblante é o significante em si. absolutamente por fantasia. Não há Nome-do-Pai que seja sustentável Faço desse significante um uso que incomoda os linguistas. Já houve scin o trovão, que todos sabem muito bem que é um sinal, mesmo não quem escrevesse linhas destinadas a deixar bem claro que Ferdinand sabendo sinal de quê. Essa é a própria imagem do semblante. de Saussure sem dúvida não fazia a mínima ideia dele. Como é que E nessa medida que não há semblante de discurso. Tudo que é vamos saber? Ferdinand de Saussure fazia como eu, não dizia tudo. ilisi urso só pode dar-se como semblante, e nele não se edifica nada Prova disso é que se encontraram em seus papéis coisas que nunca que não esteja na base do que é chamado de significante. Sob a luz foram ditas em seus cursos. < MI que hoje o produzo para vocês, o significante é idêntico ao status O significante, há quem acredite que ele é essa coisinha boa que i (uno tal do semblante. foi domesticada pelo estruturalismo, que é o Outro como Outro, ora De um discurso que não fosse semblante. Para que isso seja enuncia- a bateria do significante, ora tudo o que eu explico. do, portanto, é preciso que esse semblante não possa ser completado, INTRODUÇÃO AO TÍTULO DESTE SEMINÁRIO 17 16 DE UM DISCURSO QUE NÃO FOSSE SEMBLANTE () significante-mestre só pede para começar assim, logo no início. de maneira alguma, pela referência de discurso. É de outra coisa que Infelizmente, é preciso um pouco mais. Um pouco mais e isso lhes se trata, do referente, sem dúvida. Quanto a isso, contenham-se um i l.i i ;í o cetro. Vocês logo vêem a coisa materializar-se como significante. pouquinho. Esse referente não é, de imediato, provavelmente, o obje- Mas, segundo todos os depoimentos de que dispomos, o processo da to, pois o que isso significa é justamente que o referente é aquele que história mostra-se um pouquinho mais complicado. passeia, O semblante dentro do qual o discurso é idêntico a si mesmo é um nível do termo semblante, é o semblante na natureza. l1', claro que a pequena parábola com que comecei, a do braço que é < Evolvido de um território para outro, é um esquema ainda insatisfa- Não foi à toa que lhes recordei que nenhum discurso que evoque mrio. Não é forçoso que o braço a lhe ser devolvido seja o seu, porque a natureza jamais fez outra coisa senão partir do que é semblante na os significantes não são uma coisa individual, não se sabe qual é de natureza. Porque a natureza está cheia deles. Não me refiro à natureza <|iu-in. Então, como vocês vêem, entramos aí numa espécie de outro animal, que, como é muito evidente, tem uma superabundância deles. luncionamento original quanto à função do acaso e à dos mitos. Aliás, é isso que faz com que haja doces sonhadores que pensam que l rata-se de compreender um pouco o que aconteceu. Façam um toda a natureza animal, dos peixes aos pássaros, entoa louvores divinos. Riundo. Por ora, digamos um esquema ou um suporte, dividido num Isso é óbvio. Toda vez que eles abrem uma coisa assim, uma boca, um • >• 11 o número de células territoriais. Afinal, nesse processo de expulsão — opérculo, há um semblante manifesto. Nada exige essas hiâncias. Nesse ponto, entramos em algo cuja eficácia não está decidida, pela ipii1 vocês chamaram, não se sabe por quê, deprojeção, a não ser por is.so, vocês são projetados, é claro —, vocês podem não apenas receber simples razão de que não sabemos como veio a haver, digamos, uma um braço que não seja o seu, como vários outros braços. A partir desse acumulação de significantes. É que os significantes, eu lhes digo, estão momento, já não tem importância que seja ou não seja o seu. distribuídos pelo mundo, pela natureza, estão por aí a rodo. Para que Mas, enfim, como, do interior de um território, só conhecemos mes- nascesse a linguagem — e já é alguma coisa levantar a questão —, foi mo nossas próprias fronteiras, não somos obrigados a saber que nessa fron- preciso que se estabelecesse em algum lugar esse algo que já lhes indi- ini.i há outros seis territórios. Equilibramos isso um pouquinho, como quei a propósito da aposta de Pascal, que não vamos relembrar. O chato quisermos. Assim, é possível que haja uma enxurrada de territórios. dessa suposição é que ela já pressupõe o funcionamento da linguagem, A ideia da relação que pode haver entre a rejeição de algo e o nas- porque se trata do inconsciente. O inconsciente e seu funcionamento: i iiiR-nto do que há pouco chamei de significante-mestre decerto deve isso quer dizer que, em meio aos numerosos significantes que percorrem MT preservada. Mas, para que ela adquira todo o seu valor, também é o mundo, passa a haver, ainda por cima, o corpo despedaçado. | >i (viso que tenha havido, em alguns pontos, por um processo de acaso, Apesar de tudo, há coisas de que podemos partir, pensando que nm.i acumulação de significantes. A partir daí, é concebível alguma elas já existem num certo funcionamento sem que sejamos forçados i oisa que seja o nascimento de uma linguagem. a considerar a acumulação do significante. Trata-se das histórias de O que vemos edificar-se, como primeiro modo de sustentar na território. Ml i ita aquilo que serve de linguagem, dá ao menos uma certa ideia Se o seu significante braço direito entrar no território do vizinho disso. Todos sabem que a letra A é uma cabeça de touro invertida e para fazer uma colheita — são coisas que acontecem o tempo todo —, i|in- um certo número de elementos como esse, mobiliários, ainda o vizinho, naturalmente, pegará o seu significante braço direito e o deixa vestígios. É importante não avançar depressa demais e ver onde jogará de volta por cima do muro de separação. É isso que vocês i ontiiiuam a permanecer os furos. Por exemplo, é bastante evidente chamam, curiosamente, à&projeção, não é? E uma maneira de as pes- soas se entenderem. Ê de um fenómeno assim que conviria partirmos. <|iiià o começo desse esboço já estava ligado a alguma coisa que marca 111 orpo com uma possibilidade de ectopia e de flanância, que obvia- Se o seu braço direito, na casa do vizinho, não estivesse inteiramente inrnie continua problemática. ocupado colhendo maçãs, por exemplo, se tivesse ficado quieto, é Mais uma vez, tudo reside nisso aí. Trata-se de um ponto muito bem provável que seu vizinho o tivesse adorado. Essa é a origem do sensível, que ainda podemos controlar todos os dias. Ainda esta se- significante-mestre: um braço direito, o cetro. 18 DE UM DISCURSO QUE NÃO FOSSE SEMBLANTE INTRODUÇÃO AO TÍTULO DESTE SEMINÁRIO 19 mana, umas belíssimas fotos no jornal, com as quais todo o mundo se Empreguei a forma hipotética ao enunciar "De um discurso que deleitou, mostraram que as possibilidades de exercício do recorte do não fosse semblante". Todos conhecem os desenvolvimentos obtidos ser humano sobre o ser humano são absolutamente impressionantes. pela lógica desde Aristóteles, por ela enfatizar a função hipotética, Foi daí que tudo partiu. líxiste tudo o que se articulou ao atribuir um valor verdadeiro ou falso Persiste um outro furo. Como vocês sabem, quebrou-se muito a à articulação da hipótese, e ao combinar o que resulta da implicação, cabeça com Hegel, e se comentou que Hegel é muito bonito, mas, no interior dessa hipótese, de um termo apontado como verdadeiro. apesar disso, há alguma coisa que ele não explica. Ele explica a dialé- Essa é a inauguração do que chamamos de modusponens, assim como tica do senhor e do escravo, mas não explica que haja uma sociedade de de muitos outros modos com que todos sabem o que se tem feito. senhores. O que acabo de lhes explicar é interessante no aspecto Ê impressionante que ninguém, em parte alguma, pelo menos que de que, pelo simples funcionamento da projeção, da retorção, fica claro eu saiba, jamais tenha individualizado o recurso comportado pelo uso que, ao cabo de um certo número de golpes, certamente haverá, eu diria, dessa forma hipotética na acepção negativa. É de impressionar, se nos uma média de significantes mais importante em alguns territórios do referirmos, por exemplo, ao que se colhe dela em meus Escritos. que em outros. Quando alguém, em certa época, a época heróica em que comecei Por último, ainda resta ver como o significante poderá formar nesse a capinar o terreno da análise, veio contribuir para a decifração da território uma sociedade de significantes. Convém nunca deixar na Verneinung, comentando Freud letra por letra, ele percebeu muito obscuridade aquilo que não explicamos, a pretexto de termos conse- bem — porque Freud o diz com todas as letras — que a Bejahung só guido dar um comecinho de explicação. Seja como for, o enunciado comporta um juízo de atribuição. Nesse ponto, Freud deu mostras de de nosso título deste ano, De um discurso que não fosse semblante, diz uma finura e uma competência absolutamente excepcionais na época respeito a algo que tem a ver com uma economia. em que escreveu, porque somente alguns lógicos de divulgação modesta Aqui, o semblante não é semblante de outra coisa, mas deve ser poderiam ter apontado isso na ocasião. O juízo de atribuição em nada tomado no sentido do genitivo objetivo. Trata-se do semblante como prejulga a existência, ao passo que a simples postulação de uma Ver- objeto próprio com que se regula a economia do discurso. neinung implica a existência de algo que é, precisamente, aquilo que é Diremos que se trata também de um genitivo subjetivo? Será que negado. De um discurso que não fosse semblante afirma que o discurso, o semblante também concerne àquilo que sustenta o discurso? O tal como acabo de enunciá-lo, /semblante. termo "subjetivo" deve ser repelido, pela simples razão de que o sujeito A grande vantagem de enunciá-lo dessa maneira é que não dize- só aparece depois de instaurada em algum lugar a ligação dos signifi- mos semblante de quê. Ora, é em torno disso que proponho expor cantes. Um sujeito só pode ser produto da articulação significante. O nossos enunciados, ou seja: do que se trataria ali onde isso não fosse sujeito como tal nunca domina essa articulação, de modo algum, mas semblante^ é propriamente determinado por ela. Naturalmente, o terreno foi preparado por um passo singular, embora Um discurso, por natureza, faz semblante, assim como podemos tímido, que foi o dado por Freud em Além do princípio do prazer. dizer que ele brilha, ou que é desenvolto, ou que é chique. Se o que Aqui, não posso fazer mais do que indicar o nó formado nesse se enuncia de fala é verdadeiro justamente por ela ser sempre, muito enunciado pela repetição e pelo gozo. Isso em função de que a repetição autenticamente, aquilo que é, no nível em que estamos, do objetivo contraria o princípio do prazer, o qual, eu diria, nunca se recupera disso. e da articulação, é exatamente como objeto daquilo que só se pro- A luz da experiência analítica, o hedonismo só pode reintegrar-se no duz no referido discurso que o semblante se coloca. Daí o caráter que ele é, ou seja, um mito filosófico. Refiro-me a um mito de uma propriamente insensato do que se articula. É justamente aí que se classe perfeitamente definida e clara de mitos, sobre os quais enunciei, revela o que acontece com a riqueza da linguagem. Ela detém uma no ano passado, que a ajuda trazida por eles a um certo processo do lógica que ultrapassa em muito tudo o que conseguimos cristalizar mestre permitiu ao discurso do mestre/senhor como tal edificar um ou desvincular dela. saber. Esse saber, que é um saber do mestre, pressupôs — e o discurso