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O seminário : livro 1 - os escritos técnicos de Freud, 1953-1954 PDF

167 Pages·1996·140.219 MB·Portuguese
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Jacques Lacan o mestre interrompe 0 sil€mcio com qUell' , quer coisa, um sarcasmo, um pontape. OSEMINARIO E assim que procede, na procu rado sentid um mestre budista, segundo a tecnica zen: 0' MI A livro 1 Cabe aos alunos, eles mesmos, procurar os escritos tecnicos resposta as suas proprias questoes. 0 mes- tre nao ensina ex-cathedra uma ci€mcia ja de Freud pronta, da a resposta quando os alunos estao a ponto de encontra-Ia. Texto estabelecida par Essa forma de ensino e uma recusa de todo Jacques-Alain Miller sistema. ~escobre um pensamento em mo- vimento ~ serve entretanto ao sistema, por- que apresenta necessariamente uma face e dogmatica. 0 pensamento de Freud 0 mais perpetuamente aberto a revisao. E um erro reduzi-Io a palavras gastas. Nele, cada no<;:aopossui vida propria. E 0 que se chama precisamente a dialetica. (Abertura do Seminario) Z .I~ .k)rge Zahar Editor [ J• Jacques Lacan CAMPO FREUDIANO NO BRASIL OSEMINARIO Colec;aodirigida por Jacques-Alain eJudith Miller Assessoria·brasilein: Angelina Harari Jacques Lacan AlainJuranviUe Iivro1 o Se:m.inario Lacan 'e a Filosofia Livro I: Os escritos tecnicos de Freud Eric Laurent escritos tecnicos de Freud OS Livro 2: 0 eu na teoria de Freud e na Versoes da Clinica Psicanalitica tecnica dapsicaruilise Livro 3: Aspsicoses oSerge Leclaire Pais do Outro Livro 4: Arela~ii.odeobjeto Livro 7: Aetica da psicaruilise Rosinee Robert Lefort Livro .8: Atransferencia Marisa (em.preparaf}iio) Texto estabelecido por Livro II: Os quatro conceitos Dominique e Gerard Miller Jacques-Alain Miller fundamentais dapsicaruilise Psica,nalise as I8:I5h Livro 17: 0 avessoda psicamilise Gerard Miller (org.) Livro 20: Mais,ainda Lacan Os Co:m.plexos Fa:m.iliares Jacques-Alain Miller na For:m.a~iio do Individno Percurso de Lacan Televisiio Mate:m.as I Jacques Lacanet at. Judith Miller (org.) A Querela dos Diagnosticos A Crian!ta no Discurso Analitico AMP Catherine Millot Co:m.o Ter:m.ina:m. as Analises Freud Antipedagogo Os Poderes da Palavra Antonio Quinet Serge Andre As 4+ 1Condi~oes da Analise A I:m.postura Perversa Stuart Schneiderman o que Quer u:m.a Mulher? Jacques Lacan - a :m.orte de u:m. heroi intelectual Paul Bercherie Os Funda:m.entos da Cliniea MichelSilvestre A:m.an~ a Psicanalise Serge Cottet Freud e 0 Desejo do Patrick Valas Psicanalista Freud e a Perversiio IRMA{Funda~ii.odo CampoFreudiano.~ Roger Wartele outros Clinica Lacaniaua Psicosso:m.atica e Psicanalise Jorge Zahar Ed-itor Rio deJaneiro Titulo original: LeSeminaire deJacques Lacan. Livre I:LesBcfits techniques deFreud (1953-1954) Traducao autorizada daprimeira edicao francesa publicada em 1975por Editions du Seuil, de Paris, Franca, nacolecao LeChamp.Freudien, atualmente dirigida porJacques-Alain eJudith Miller Copyright ©1975, Editions duSeuil Copyright ©1986daedicao brasileira: os escritos tecnicos de Freud Jorge lahar Editor L1da. ruaMexico 31sobreloja 1953-1954 20031-144 RiodeJ.,!neiro,RJ tel.: (021)240-0226 /fax: (021) 262-5123 Todososdireitos reservados. Areproducao nao-autorizada desta publicacao, notodo ouemparte,constitu; violacao docopyright. (Lei5.988) Versao brasileira de Betty Milan Primeira edicao brasileira: 1979 Reimpressoes: 1983, 1986, 1987, 1989, 1993, 1994, 1996 CIP-Brasil. Catalogacao-na-fonte ' Sindicato Nacional dos Editores de Livros, R~. Lacan, Jacques, 1901-1981 L129s 0Seminario: Livro1:osescritostecnicosdeFreud, 1953- 1954/ Jacques Lacan;texto estabelecido porJacques-Alain Miller; versao brasileira de Betty Milan. - Riode Janeiro: Jorge lahar Editor Traduca'o de:Leseminaire, livre I. Primeira edicao pelalahar Editores. ISBN85-7110-367-4 1.Freud, Sigmund, 1856:1"939- Critica einterpretacao. 2. Psicanalise. I. Miller, Jacques-Alain. II. Milan, Betty. III. Titulo. IV.Titulo: Osescritos tecnicos de Freud. Introducao aos comentarios sobre os -escritos tecnicos de Freud .............................................. 15 II Primeiras intervenc6es sobre a questao da resistencia 29 III A-resistencia e as defesas ..............................• 40 IV 0 eu e 0 outro 50 V Introducao e resposta a uma exposicao de' Jean Hyppolite sobre a Verneinung de Freud 66 VI Analise do discurso e analise do eu 77 V11 A t6pica do imaginlirio ................................• 89 VIII 0 lobo! 0 lobo! .........•............................. : 107 IX Sobre 0 narcisismo ..............•....................... 128 X Os dois narcisismos _............ 140 XI Ideal do eu e eu-ideal ..........•....................... 152 -XlI Zeit/ich-Entwickelungsgeschich/e ...........•...........• 168 XIII A biiscula do desejo·.................................... 189 XIV As f1utuacoes da libido :....... 204 XV 0 nucleodo recalque 217 XVI Primeiras intervencoes sobre Balint 233 XVII Rela~ao de objeto e rela~ao intersubjetiva ~:...... 238 XVIII A ordem simbOlica ..........•.......................... 251 XIX A fun9iio criativa da palavra 269 XX De locutionis significatione ..............•............... 280 XXI A verdade surge da equivoca9iio 297 XXII 0 conceito da analise 311 o mestre interrompe 0 silencio com qualquer coisa, urn sar- casmo, um pontape. E assim que procede, na procura do sentido, um mestre- budista, segundo a tecnica zen. Cabe aos alunos, eles mesmos, pro- curar a resposta as suas proprias qnest6es. 0 mestre nao ensina ex-cathedra uma ciencia ja pronta, da a resposta quando os alu- nos estao a ponto de encontra-Ia. Essa forma de ensino e uma recusa de todo sistema. Desco- bre urn pensamento em movimentci - serve entretanto ao siste- ma, porqne apresenta necessariamente uma face dogmatica. 0 a pensamento de Freud e 0 mais perpetuamente aberto revis3oo. E um erro reduzi-Io a palavras gastas. Nele, cada 110<;30p0ossui vida propria. E 0 que se chama precisamente a dialetica. Algumas dessas no<;6es foram, l1um dado momento, indispen- saveis a Freud, porque respondiam a uma quest300 que ele havia formulado, antes, 'em outros termos. So se apreende, pois, 0 valor delas, ressituando-as no seu contexto. Mas n300basta fazer historia, historia do pensamento, e dizer que Freud apareceu num seculo cientista. Com a Interpreta(iio dos Sonhos, efetivamente, algo de uma essencia diferente, de uma densidade psicologica concreta, e reintroduzido, a saber, 0 sentido. Do ponto de vista cientista, Freud pareceu ligar-se entao ao pensamento mais arcaico - ler alguma coisa nos sonhos. Ele volta em seguida a explica<;ao, caus~I. Mas, quando interpretamos urn sonho, sempre estamos em cheio no sentido. 0 que esta em quest300 e a subjetividade do sujeito, nos seus desejos, na sua rela<;3oocom seu meio, com os out:r:os, com a propria vida. Nossa tarefa, aqui, e reintrodtizir 0 registro do sentido, regis- troque e preciso reintegrar ao seu nivel proprio. Brucke, Ludwig, Helmholtz, Du Bois-Reymond, tinham constituido uma especie de fe jurada - tudo se reenvia a £or- c;as fisicas, as da atra<;ao e da repulsao.' Quando nos damos essas Fenomenolo icamente, a situa ao analitica e uma estrutura; premissas, nao ha nenhuma razao para sail' delas. Se Freud saiu, c ~dize1:...que So atraves dela certos fenomenos sac ISOav~, ..,-. que de se deu outras. Ousou dar importancia aquilo que lhe separaveis. tLuma- outra_es.truJur~, a d~_subjetividade, que da aos acontecia, as antinomias da sua infancia, as suas 'perturbac;6es J...oJ!1enjls ideia de que slio compreensiveis para si mesmos. -_. neuroticas, aos seus sonhos. Dai ser Freud para todos nos urn Ser neur6tico pode, portanto, servir para se tornar born psi. homem que, como cada urn, esta colocado no meio de todas as contingencias - a morte, a mulher, 0 pai. canalista, e no inicio isso serviu a Freud. Como 0 Sr. Jourdain Isso constitui uma' 'Volta as fontes, e mal merece 0 titulo de com a sua prosa, nos fabricamos sentido, contra-senso, nao-Jsen- ciencia. 0 mesmo se da para a Psicanalise e para a arte do born so. E ainda seria prt;ciso encontrar ai linhas de estrutura. ung cozinheiro, que sabe cortar bem 0 animal, destacar a articulac;ao tambem, maravilhando-se, redescobre nos simbolos dos sonhos e com a menor resistencia. Sabemos que ha, para cada estrutura, das religi6es certos arquetipos proprios a especie humana. Tam- urn modo de conceptualizac;ao que Ihe e proprio. Mas, como se bem isso e uma estrutura --J mas diversa da estrutura analitica. a · d' ,..","'"•...e. i" •u...;,.9 . entra pOl' ai na via das complicac;6es, preferimos nos ateI' noc;ao Freud mtro UZlU0 determmlsmo propno a essa estrutura. monista de uma dedu<;ao do mundo. Assim, nos perdemos. Dai a ambigiiidade que se encontra em todo lugar na sua obra. POI' Temos de nos aperceber de que nao e com a fac'a que disse- exemplo, 0 sonho e desejoou reconhecimento de desejo? Ou ain- camos, mas com conceitos. Os conceitos tern sua ordem de reali- cla, 0 ego e pOl' urn lado como urn ovo vazio, diferenciado na sua dade original. Nao surgem da experiencia humana - senao' superficie pelo contato com 0 mundo da percepc;ao, mas e tambern, seriam bem feitos. As primeiras denominac;6es surgem das pro- cada vez que 0 encontramos, aquele que diz nao ou eu, que diz a prias palavras, sac instrumentos para delinear as coisas. Toda gente, que fala dos outros, que se exprime nos diferentes registros. ciencia permanece, pois, muito tempo nas trevas, entravada na Vamos seguir as tecnicas de uma arte do dialogo. Com9 0 linguagem. born cozinheiro, devemos saber que juntas, que resistencias encon- Ha, de inicio, uma linguagem ja toda formada, de que nos ser- tramos. vimos como de urn mau instrumento. De tempos em tempos, efe- o superego e uma lei clesprovida de sentido, mas que, entre- tuam-se invers6es - do flogistico ao oxigenio, pOl' exemplo. Por- tanto, so se sustenta da linguagem. Se eu digo viraras a direita., -que Lavois°ier, ao mesmo tempo que 0 seu flogistico, traz 0 born e para permitir ao ontro ajustar a sua linguagem it minha. Pen- conceito, oxigenio. A raiz da dificuldade, e gue s6 se podem so no que se passa na cabe<;a dele no momenta em que the falo. introduzir simbolos nlatematicos ou outros, com finlillagemcor- Esse esforc;o para chegar a urn acordoconstitui a comunicac;ao !:e!!!ec....R0rl~ e preciso exphcar em 0 u~vai, fazeL-del~. propria a linguagem. Esse tu e taa fundamental que intervem Estamos entao a urn certo mve a troca humana, ao nivel do e antes cia conscie'ncia. A censura, pOl' exemplo, que intencional, terapeuta no caso. Freud tambem esta ai, apesar da sua denega- age contudo antes cia consciencia" funciollq com vigilancia. Tu <;ao1.1Ias, como mostrou Jones, ele se iaipos, desde 0 comec;o, a ilao e urn sinal, mas uma referencia ao outro, e ordeme amor. ascese de nao se expandir no dominio especulativo, para ondesua 11ati.Jreza0 levava. Submeteu-se a disciplina dos fatos, do labora- Igualmf;nte, 0 ideal do en e urn organismo de defesa perpe- tuado peloeu2 para prolongar a satisfac;ao do sujeito. Mas e tam- torio. Afastou-se da ma linguagem. bem a func;ao mais deprirnente, no sentido psiquiatrico do terrno. Consideremos agora a noc;ao de sUJelto. Quando se a intro- o e id nao redutivel a urn puro dado objetivo, as puIs6esdo duz, introduz-se a si mesmo. 0 homem que lhes fala e urn homem sujeito. Nunca uma analise chegou a determinar uma taxa de como os outros - serve-se da ma linguagem. Si-mesmo esta, pois, em causa. agressividade° ou de erotismo. 0 ponto a que conduz 0 progresso \ da. analise, ponto extrema da dialt~tica do reconhecimento exis- Assim, c1esdea·origem,Freud sabe que s6 fani progressos na <J.- e - es tencial, Tu ista. Esse ideal nunca e de fato atingido. analise das neuroses se se analisar. A importancia crescente hoje atribuida a contratransferencia Q ideal da analise nao e 0 dominiQ..£.Q!!}J2letode....§i,a au~- ......v significa 0 reconhecimento do fato de que na analise nao hel.80- cia .<i~Raixao. E tamar 0 sujeito' capaz de su~t~ 0 dialQgo .a. mente 0 paciente. Se e dois - e nao apenas dois. ~litico, de nao falar nero muito cedo-;-nemmuito tarde. E a issa qi1e visa uma analise didatica. A i:ltrodu<;ao de uma ordem de determina<;oes na existencia human"" no dominio do sentido, se chama a razao. A descoberta e de Freud a redescoberta, num terreno nao-cultivado, da razao. Falta a continua"iio desta aula, as.nm como todas as aulas do fim do ano de 1953. INTRODUc;A<J AOS COMENTARIOS SOBRE OS ESCRITOS TECNICOS DE FREUD o seminario. A confusilO na arniJise. e A hisloria niio 0 passado. Teorias do ego. Este ana novo, para 0 qual lhes apresento os meus bons votos, eu 0 introduzirei, nao sem gosto, dizendo-lhes: - Chega de rir! Durante 0 tlltimo trimestre, voces nao tiveram outra coisa a fazer senao me ouvir. Anuncio-lhes, solenemente, que neste trimes- tre que come<;a, conto, espero, ouso esperar que, eu tambem, os ouvirei urn pouco. E lei mesrilO e tradi<;ao do semimirio que aqueles que dele participem, tragam mais do que urn esforc:;o pessoal - uma cola- bora<;ao por comunica<;6es efetivas. Esta so pode vir daqueles que estao interessados da maneira mais direta neste trabalho, daque- les para quem estes semimirios de textos tern 0 seu pleno sentido, daqueles que estao engajados, a titulos diversos, na nossa pd.tica. Isso nao excluira que voces obtenham de mim as respostas que estiver em condic:;6es de lhes dar. Ser-me-ia particularmente .apreciavel que todos e todas, na medida dos seus meios, dessem, para contribuir com este novo estadio do seminario, 0 seu maximo. Seu maximo, isto consiste em que, quando eu interpelar um de voces para encarrega-Io de uma se<;ao precisa da nossa tarefa comurn, nao se responda com urn ar cnfastiado que, justamente nessa semana, se tern encargos par- Ha ai uma ~tapa intermediaria. Ela segue 0 primeiro desen- ticlllarmente pesados. volvimento daquilo a que alguem - urn analista cuja pena ne'm Eu me cnderec;o aqui aqueles que fazem parte do grupo de sempre e cia melhor veia, mas que fez nesta ocasiao urn achado Psic:uddise que represeritamos. Gostari.a que voces se dessem con- bastante feliz, e, ate bonito - chamou a experiencia germinal de ta de que, se ele esta constituido como tal, no estado cle grupo Freud. Ela preqede a elaboraC;ao cia teoria estrutural. . e autonomo, para uma tnrefa que nao comporta riada menos para 9 comeco dessa etapa interme ·fu:.ia....d~e ser situado entre cada lIl11.de nos, do que o"futuro - 0 sentido de tudo 0 que faze- 1904 e 1909. mos e teremos de fa~er na continuac;ao da nossa existencia. Se ~ 9Oi, aparece 0 artigo sobre 0 metodo psicanalitico, de VOCl~S nao vem para colocar em causa toda a sua atividade, nao que alguns dizem que e onde, pela primeira vez, emerge a pala- vejo por que estao aqui. Os que nao sentiriam 0 sentido desta vra psicallitlise - 0 que e falso, porque foi empregada por Freud tarera, por que permancceriam ligados a nos, ao inves de se jun- bem antes, mas enfim, ali ela e empregada de maneira formal, tarem a uma forma qualquer de burocracia? e no proprio titulo do artigo. 1909 e 0 ana das conferencias da a Clark University, da viagein de Freud America, acompanhado J do seu filho, ung. Se retomamos as coisas no ano de 1920, vemos elaborar-se a teoria das instancias, a teoria estrutural, ou ainda metapsicol6gica, Estas reflex6es sao, a meu ver, particularmente pertinentes, como Freud a chamou. Ai esta urn outro desenvolvimento que ele no momenta em que vamos abordar 0 que comumente se chamam nos legou de sua experiencia e' de sua descoberta. os Escritos Tecllicos de Freud. Como voces veem, os escritos ditos tecnicos escalonarn-se Escritos Tecnicos e urn termo ja fixado por mila certa tradi- entre esses dois desenvolvimentos. E 0 que lhes da seu sentido. C;ao. Durante a vida de freud, apareceu, sob 0 titulo de Kleine Acreditar que tiram sua unidade do fato de que neles Freud fala NClIrOjCn Schrifte, urn pequeno volume in-oitavo, que isolava urn . da tecnica e uma concep<;ao errada. certo l1umero de escritos de Freud que iam de 19()4 a 1919, e Em certo senti do, Freud nunca cessou de falar da tecnica. cujo titulo, apresentac;ao e conteudo indicavam que 0 seu tema S6 preciso evocar perante voces os Studien iiber Hysterie, que erao~p~ nao passam de uma Ionga exposic;ao da descoberta da tecnica o que motiva e justifica esta forma e que cabe alertar algum analitica. Ali, vemo-Ia em formac;ao, e e 0 que constitui 0 valor pratico inexperiente que gostaria de se lan<;ar na analise, e que desses estudos. Se se quisesse fazer uma exposiC;ao completa, sis- e precise the evitar urn certo numero de confus6es quanta aE.i- tica do m' MO, quanta a sua essencia, tambem. tematica, do desenvolvimento da tecnica em Freud, e por eles que se deveria comec;ar. A razao pela qual nao tomei os Studien Encontramos nesses escritos passagens' extremamente impor- 1'iberHysterie esta apenas no fato de que nao sac facilmente aces- tantes ~ a~n~I.:.m£s __o progresso que teve, no curso destes siveis porque nem todos voces leem 0 alemao, nem mesmo 0 ingles anos, a~~q.c;aD_da J!ra.ti~~. ~k£,-.YemQs_apareceLgradualm<;nte - sem duvida, hit outras razoes alem dessas de oportunidade, que noc;6es~lliJ1damentai~ Rara fQ..mp.re~l1der 0 modo de a ao ~ ~era- fazem com que eu tenha escolhido os Escritos Tecnicos. p~utiZa analitica ~~..2c;ao de;.J:.~s-i~teriCia\S2 Jl!?~~~ ~,tfmsfer.en- Na propria Interpreta~iio dos Sonhos, trata-se 0 tempo todo, Cl~{ 0 modo de. ac;ao e-SJ.ejD.t~nre-n<;ao.J.1 transfer~mJ .a., ~ mes- perpetuamente, de tecnica. Posto de lade 0 que ele escreveu sobre mo,_ute- -um-certo""""ponto,-o papel _essencial da neur..Q.2ede_tE~sfe- temas mitol6gicos, etnograficos, culturais, nao ha obra em que rencia. In6til, pois, sublinhar ainda mais que esse pequeno grupo Freud nao nos traga alguma coisa sobre a tecnica. Inutil ainda su- aees-critos tern urn interesse todo particular. blinhar que urn artigo como Analise terminavel e intermimivel, e E certo que esse agrupamento nao completamente satisfa- aparecido por volta do ana de 1934, e urn dos artigos mais im- torio; e 0 termo escritos tecnicos nao e talvez 0 que Ihe de a sua portantes quanto a tecnica. unidade. Essa unidade naoe menos efetiva. 0 conjunto testemu- Gostaria de acentuar agora em que espirito me parece dese- nha .uma etapa no pensamento de Freud. E sob esse iingulo que Javel que prossigamos, neste trimestre, 0 comentirio desses escri- o estudaremos. tos. E necessario fixi-Io desde hoje. imperativo mi maneira pela qual deixou orgatiizar-se em volta dele a transmissao do seu ensino. Isso nao e mais do que urn apanhado do que nos pode ser Sc considerarJlll;ro>:s(l!I.ll!ile'eSitaml])"Sal)ltlll:i ;pa"[",<iI1ll1))S (i!t:clhm1lllt(aoJorm reveIado por esta leitura sobre, 0 aspecto historico da a<;ao e da admiraC;ao sobre o,s ttelQtos !f'l1el!1'Jft~a'lel.w1.IsIl'OmOar,alViilllbraIOr:OUR elles, presenc;a de Freud, Sera a esse registro que nos vamos limitar? tercmos evidente.1ililente tocla :saJlisifa'.ga.0,. E certo que nao, ainda que pela razao de que seria hastante ino- Estes escrito,s 'san ,d'e'\Jlill l!I'iesco,r.,dieuma 'V1v,a;cidatdeqtllleWro perante apesar do interesse, do estimulo, do entretenimento, do relaxamento que podemos esperar dele. pcrdem em nada para \Qsou-lms esrnmos ,li!e!FJr,el1d.As iVez:es.JIilele:s se descobre sua perronalidade de uma mnallcira laO dJiJrda, qtllle E sempre em func;ao da questao ~.llil.ndo faze- mas amilise! que esse comentario de Freud foi tra'zido aqui pol' nao se pode deixar de encofitra-la. A simp'licidaode e a fraaqueza r;:;im. 0 exame desses pequenos escritos continuara no mes- do tom, por si s6s, ja sac uma especi.e de lic;ao. e mo estilo. Partirei, pois, da atualidade da tecnica, do que se diz, Em particular, 0 desembar,ac;o 'com 0 quai tratada a qu;es- se escreve e se pratica quanta it tecnica analitica. tao das regras praticas a ohservar, faz-nos ve,r 0 quanto se t~ata~ Nao sei se a maioria de voces - uma parte pelo menos, eu va ali, para Freud, de, uma ferramenta, no sentido em que se diz espero - tomou conscienciado seguinte. Quando, neste instante que se tern urn martelo na mao. Benz. segura 1l<L minha maa, diz - eu falo de agora, @ este ana novo em folha, novinho - se lI"? ele em suma e ai esta como castumo segurt:i-to. Outros talvez observa a maneira peIa qual os diversos praticantes da analise s'''',,,:" pr~ferissent illstrumento bocadinho diferente, mais afeito 1:m 11111 pensam, exprimem, concebem a sua tecnica, dizemo-nos que as >(;r Ii nw deles. Voces' VaG ver passagens que lhes exprimirao isso coisas estao num ponto a que nao e exagerado chamar a~- mais nitidamente ainda do que 0 fa<;o nestae forma metaforica. sac mais radical. Coloco Vl!>cesa par de que, atuahnente, entre os A formalizac;ao das regras tecnicas assim tratada nestes analistas, e dos que pensam - 0 que ja diminui 0 circulo - nao escritos com uma ~ que, por si so, e urn ensinamento que existe talvez urn unico que, tenha, no fundo,' a mesma ideia que poderia bastar, e que, ja a uma primeira leitura, da seu fruto e qualquer outro dos seus contemporfmeos ou vizinhos a respeito da- sua recompensa. Nada que seja mais saudavel e mais libertador. quilo que se faz, daquilo a que se' visa, daquilo que se ohtem, Nada que mostre melhor que a verdadeira questao esta em outro daquilo de que se trata na analise. lugar. E mesmo a ponto de podermos nos divertir com este jogui- Isso nao e tudo. Ha, na maneira pela qual Freud nos trans- nho, que seria comparar as mais extremas concep<;6es - veria- mite 0 que se poderia chaillar as vias da verdade do seu pensa- mas que elas chegam a formula<;6es rigorosamente' contradit6rias. mento, ainda uma outra face, que se descobre em passagens que E isso, sem procurar amantes de paradoxos - alias eles nao sao talvez venham em segundo plano, mas que, nao obstante, sac mui- tao numerosos. A materia e suficientemente seria para que diver- to sensiveis. E 0 carMer sofredor da sua personalidade, 0 senti- sos teoricos aabordem sem desejo de fantasia, e 0 humor Asta, mento que ele tern da necessidade da autoridade, 0 que ne1enao em geml, ausente das suas e1ucubrac;6es sohre os resultados tera- vai sem uma certa depreciac;ao fundamental do que aquele que tern peuticos, suas formas, seus procedimentos e as vias pelas quais os alguma coisa a transmitir ou a ensinar pode esperar dos que obtemos. Fica-se contente em se segurar no balaustre, no para- o escutam ou 0 seguem. Uma certa desconfianc;a profunda da peito de algum pedac;o de elaborac;ao teorica de Freud. E so isso maneira pela qual as coisas sac aplicadas e compreendidas apare- que da a cada urn a garantia de que ainda esta em comunica<;ao ce em muitos lugares. Acredito mesmo, voces verao, que se com os que sac seus confrades e colegas. E pOl' intermedio da encontra nele uma deprecia<;ao toda particular da materia huma- linguagem freudiana que uma troca e mantida entre praticantes na que Ihe e oferecida no mundo contempora.neo. E seguramente que manifestamente tern concepc;6es bastante diferentes da sua o que nos permite entrever por que Freud, ao contrario do que aC;ao terapeutica, e, aIem do mais, da forma geral dessa rela<;ao ocorre nos seus escritos, colocou concretamente em exercicio 0 inter-humana que s5-;-chQrriaa PsicaI!.~lise. peso da sua autoridade para assegurar, acreditava ele, 0 futuro Quando digo ~iio inter-humatlf!;:, voces ja. veem que colo-' da analise. Foi ao mesmo tempo exclusivo em re1ac;ao a toda sorte co as coisas no ponto a que chegaram atualmente. Com efeito,..ekl- de desvios - efetivamente desvios - que se manifestaram, e borar a no ao da relac;ao do analista e do analisado e a~via--na - .

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