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O Saber e o Poder na Universidade: Dominção ou Serviço? PDF

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COLEÇÃ0 POLÊMiCAg DO NOSSOT EMPO Estou reunindo textos redigidos em ocasiões diferentes. Pareceu-meo portuno publica-los agora, por vários motivos. Primeiramente, por causa do contextoc riado pela tentativa de ANTONIO MUNIZ DE REZENDE democratização de nossas universidades, a começar pela minha, a UNICAMP, e das resistências que Ihe opuseram aqueles que não perceberam as mudanças ocorridas no País. Neste sentido, meu livro é antes de tudo um protesto: um protesto contra a intervenção da UNICAMP e os desmandos da administração universitária. t Em segundo lugar, a preocupação çom o desenvolvimento económico e industrial do País tem-se manifestado em detrimentod e nosso desenvolvimentoc ultural. E as escolas, a começar pela Universidade, têm sido utilizadas de maneira equívoca, sem condições de enfrentarem corajosamente o problema de nosso subdesenvolvimento cultural. E, na escola, a administração tem sido um dos principais lugares de manutenção do equívoco. Em terceiro lugar, acenaram-nos com uma abertura política e a redemocratização do País. Simultaneamente passou-se a insistir na dimensão política da educação, ao mesmo tempo que se começou a questionar a ênfase anterior(a partir da lei 5692) na profissionalização. Resta ainda insistir na dimensãoc ultural tanto da política como da educação. Neste contexto, aparece este terceiro volume da coleção Polêmlcas do posso tempo. São quatro as principais idéias que O SABER E O PODER NA defendo: UNIVERSIDADE: 1? ) a dimensão pedagógica da atividade administrativa: administrar é sempre uma forma de educar ou de deseducat; .1 DOMINAÇÃO OU SERVIÇO? 29) a ênfase na administração da educação em oposição a uma administração empresarial da instituição escolar; 3:) o reconhecimento da dimensão política da educação bem como o reconhecimentod a dimensãoc ultura!, tanto da atividade política e administrativa como da educacional; 4?) a restituição da escola -- da educaçãoe da cultura -- à sociedade civil, num processo de desestatização efetiva da instituição educacional. Reconheço que estes são temas polêmicos, principalmente se confrontados às posições defendidas pelos tecnocratas da administração empresarial, engenheiros sistemáticos, industriais da cultura, economistasd a educação capitalistae outros. Minha experiência à testa da Faculdade de Educação, minha participação no Conselho Dirctor da UNICAMP, meu convívio com os integrantesd o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, minhas visitas a algumas Universidades e Secretarias de Educação por este Brasil afora, mostraram-me que o tema deste volume -- o saber e o poder na Universidade -- esta longe de ser esgotado. E vale apenas continuar o debate. Campinas, outubro-no\lembro de 1981 AS Conselho editorial Antonio Joaquim Severino, Casemiro dos Reis Filho, Dermeval Saviani, Gilberta S. de Martino Jannuzi. Joel Martins, Maurício Tragtenberg, Moacir Gadotti, Miguel de La Puente, Milton de Miranda e Walter E. Garcia. Copidesque: Glória Coelho SUMÁRIO Produção editorial: Helen Diniz Revisão: Sõnia Scoss Nicolai Quem sabe pode?, 5 Dominação ou serviço na universidade, 9 Liderança e administração, 12 Administrar a escola ou a educação?, 20 Administrar é educar ou deseducar?, 31 O contexto institucional da educação brasileira. 46 Desenvolvimento da educação no futuro, 54 Educação e política, 71 Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida Administração: formas atuais, suas ou duplicada sem a autorização expressa implicações e tendências, 81 do Autor e dos editores. Copyright (e) do Autor Direitos para esta edição EDITORA AUTORES ASSOCIADOS/CORTEZ EDITORA Rua Bartira. 387 -- Tela.: (O11) 864-0111e 864-6783 05009 -- São Paulo -- SP Impresso no Brasil 1982 CIP -- Brasil. Catalogação-na-Fonte Câmara Bus:ileira do Livro, SP QUZM SABE PODE * Resende. Antõnio Moniz de. R341s O saber e o poder na universidade:d ominação ou No dia quatro de maio de 1980, a /'or/zad e S. PauZo serviço?/ Antonio Muniz de Rezende.- - São Paulo: Cortez: noticiava que o Ministério da Educação ia dar início Autores Associados, 1982. a uma discussão nacional sobre a autonomia universi- (Coleção polêmicas do nosso tempo) tária, o mandato dos reitores, etc. A discussão seria 1. Educação - Brasil 2. Política e educação 3. Universidadee escolass uperiores- Brasil - Administração iniciada naturalmente,s em nenhum ato formal de 1. Título. convocação. Isto porque fatos polêmicos na área do ensino superior vinham se repetindo, provocando dentro do próprio MEC grandes discussões sobre o assunto. Alguns desses fatos se relacionam com a maneira ''como os I'estoreasd ministramsu as universidadedse, forma centralizada e ditatorial" 17. e 18. CDD-378.100981 Aparentemente, o ministro Eduardo Portela estava 17. e 18. -370.981 17. ' ' -379 preocupado com os aspectos legais da . questão, que 81-1614 18. -379.201 Ihe permitissem resolver problemas urgentes, sem con- tudo ferir a autonomia da universidade. A reforma Índices para catalogo sistemático: da legislaçãop,o r outrol ado, deverias er ''feitaa l Brasil: Educação 370.981 (17. e l&.) 2 Brasil: Escolas superiores: Administração 378.100981 médio e longo prazos, com um trabalho intenso de (17. e 18.) conscientização" 3 Brasil: Universidades: Administração: Ensino superior Neste contexto é que venho participar da discussão. 378.100981 (17. e 18.) 4 Educação e política 379 (17.) 379.201 (18.) Quer-me parecer que além e antes dos aspectos legais, 5 Polític4r Influência na educação 379 (17.) 379.201 (18.) h.á outros, mais propriamente filosóficos e científicos, implicados no discurso a respeito da questão universi- tária e de sua administração. E gostaria de levantar o problema da relação que se estabelece entre o saber e o poder na universidade. É evidente que, em se tratando da universidade, não podemos de forma alguma abrir mão da competência, por ser esta um fator de qualidade da vida univérsi- $ Artigo publicadon a Fo/ãa de S. rali/o no dia 11 -05-81 5 um bom administrador.S e o for, não será em nome pária. Mais ainda, a competência deve ser exigida em de sua competênciam édica, mas por outros motivos, todos os setores:t anto na pesquisa'comon a docência, na administração como . no serviço à comunidade. por outras qualidades, que só acidentalmentes e encon- tram na mesma pessoa. Há, porém,s ériose quívocons a medidae m que se Do ponto de vista lógico, dizer que "saber é poder" pretende que a competência num setor significa auto- maticamentceo mpetêncinao s outros.C omo se o é parcialmentec orreto, mas não em todos os sentidos. É'correto dizer que quem sabe "pode", isto é, tem o pesquisador competente fosse, só por isso, igualmente competente na docência e na administração. poder de ensinar o que sabe, de pronunciar-sec om autoridade sobre assuntos de sua competência. Como Semelhante raciocínio tem certamente muito a ver com tal, tem o direito de ser ouvido. Mas é ilógico dizer a tendência mercantilista, que considera um valor em que quem sabe "pode", isto é, tem o direito de adminis- si mesmo (reificado), independentemente de outras trar ou mesmo de ensinar autoritariamente. circunstâncias, a começar pelas pessoas, o que permitiria sua livre circulação em todas as áreas. Nem é suficiente dizer que a comunidade universitária é uma comunidade científica, com critérios igualmente Cientificamente,n ão se pode admitir que a competência científicos. Isto é verdade somente em parte. Ou melhor, do médico, por exemplo, possa ser invocada quando isto é verdade se soubermosl evar em conta a comple- o assunto é física, geografia, política, economia, lógica xidade característica da comunidade universitária. ou história. Donde a qualidade da vida universit.ária Particularmente,s endo universitária, ela não deixa -de ter muito a ver com a prática da interdisciplinaridade ser uma comunidade,u ma forma particulard e expe- e a complementaridaddea s competênciaQs. uando se trata de física, o médico deve ouvir o físico. Quando riência social e política. se trata de história, ambos devem ouvir o historiador. A primeira conseqüência é que, se pretendemos. que conserve suas exigências científicas, a universidade E assim por diante. deverá exigir de seus administradores uma preparação O maior inconveniente do comportamento mercanti- pelo menti proporci(mal à que se exige.dos docentes e lista, no caso da universidade,c onsistee m pensar que o físico, por exemplo,t em livre trânsito em todas as pesquisadores. Ora, o que tem ocorrido, na imens.a maioria dos casos, é que os administradoresu niversi- áreas. tários, por força das circunstância.ss,ã o semprem ais Na verdade,t al procedimentoé difícil de ser adotado ou menos improvisados. Tanto mais qçe ocupam.seus ao nível da pesquisae da docência. Ninguém, em sã cargos por rodízio, e não há, felizmente, administradores consciência,p ensaria em confiar a um médico muito vitalícios. competente a responsabilidade por um curso de história ou a orientação de uma tese de filosofia. A segunda conseqüência é que sendo uma comunidade, a Universidade tem muito a ver com as diversas formas Ora, o mesmon ão ocorre quando ó assuntoé a admi- possíveis de governo: democracia, autoritarismo? totali- nistração universitária. Com muita freqüência, temos tarismo, aristocracia, gerontocracia, etc. Uma determi- visto engenheiros, físicos, advogados competentes serem nada postura científica e mesmo epistemglógiça poderá propostos como reitores, diretores, chefes, coordena- sugerir tim modelo eÚ detríãento de outros. Quer-me dores de outros setores, com o argumentod e que parecer qye o princípio da interdisciÊlinaridade sugere demonstraram grande competência em suas áreas pró- muito mais o comportamentod emocrático do que qual- prias de atuação. Não demora muito e os equívocos quer outro. O dogmatismo científico,. ao .contrario, aparecem,. com conseqüências negativas no plano relacionado que está com certas concepções da verdade prático. Um médico competente não é necessariamente 7 6 e da certeza, está, evidentementem, uito mais próximo do autoritarismo e do totalitarismo. Finalmente, quando estudamos o tema da análise do discurso, aprendemos que nunca se pode deixar de levar em conta o contextog lobal no qual nos situamos e relativamentea o qual o que dizemos tem sentido. DOMINAÇÃO OU SERVIÇO NA É em relação a este problema que se fala de ideologiza- UNIVERSIDADE ' ção da universidade, do discurso universitário, especial- mente do discurso administrativo universitário. Na verdade, as tomadas de posição a respeito da universi- A questão do poder na universidade deve ser discutida dade, do saber e do poder dentro da comunidade não só a partir de suas relaçõesc om o saber, mas universitária são, na grande maioria dos casos, inspira- ainda com o serviço à comunidade. Muitas discussões das não em razões intrínsecas, mas extrínsecas, prove- já foram provocadas a respeito do serviço que a nientes da contexto social. universidade poderia e deveria prestar à sociedade, sem É evidente que, vivendo nós, no Brasil, num .contexto que o assunto tenha sido esgotado. No entanto,n ão não democrático, ou, quando muito, em vias de redemo- é sobre isso que gastaria de refletir agora, mas sobre cratização, este contexto influa semanticamente em as relações entre o poder e o serviço à comunidade nosso discurso universitário e em nossos comporta- universitária propriamente dita. mentos dentro e fora da universidade. Especialmente O contexto centralizador e autoritário em .que temos quando, por outros motivos, temos de nos relacionar vivido influi ideologicamentnea universidadef, avore- com os detentoresd o poder, políticoe económico,d o cendo uma concepção do poder como dominação. qual dependemos. Donde a tentação de fazer conces- Na terminologia de Hegel, semelhante concepção do sões ao poder estabelecidoi,n clusivec om a ilusão poder faz-nos correr o risco inevitável da dialética do (ideológica) de se beneficiara própria universidadee m senhore do escravo,c om a conseqüentael ienaçãod e termos financeiros e de outras vantagens. ambos. Esta diabética só tem chances de desaparecer Como se vê, o ministroE duardo Portela tinha razão se a relação que a constituim udar de natureza, propi- ao se preocupar com a autonomia da universidade. ciando a desalienaçãot anto dos senhoresc omo dos Havia e .há motivo de preocupação porque, mesmo escravos. dentro dela, são muitos os equívocos teóricos e práticos Uma mudanças ignificativae, specialmentneo caso da que, se cultivados como estão sendo, acabarão por universidade, poderia ocorrer se considerássemos o criar o ambiente propício à capitulação da comunidade poder como serviço e não mais como dominação. universitária -- do saber face ao poder. Evidentemente, não se trata de um posicionamento O piar é que semelhante capitulação se prepara meramentet eórico, mas prático, na adoção de atitudes com argumentos pretensamentec ientíficos e até inspi- e comportamentos correspondentes. Ora, a grande rados na boa intenção. Na verdade, trata-sed e uma característica do serviço é a atenção aos outros, às intenção pervertida pela falsidade lógica, epistemológica suas necessidades,b em como às suas aspirações, apelos e ideológica de sua inspiração e de seu contexto. e desejos. Neste sentido, o exercício do poder-serviço t só pode ocorrer se houver a presença e a participação + Artigo publicadon a Fo/Aa de S. rali/o, no dia 18-05-81 8 9 de todos os membros,d a comunidade,d e forma demo- que podem ter aqueles que, dentro da universidade, crática. A democracia é condição essencial do serviço lutam Pelo poder e por sua permanêncian ele. Por e, portanto, da desalienação dos chefes e dos subordi- que é que alguéms e lança candidatoà reitoria de nados. . Ao contrário, o autoritarismo e a centralização uma universidadeà, direção de um instituto,à chefia do poder dificultam e mesmo impossibilitam uma mais de um departamento? Será que continuariama buscar autêntica prestação de serviços. tais postos de direção se a perspectiva não fosse mais Sabemos todos que na história da universidade brasi- a do poder-dominaçmãoa,s a do poder-serviçEom? leira houve sempre uma tendência nítida ao autorita- qualquer hipótese, porém, parece muito mais legítimo rismo centralizador. Se agora queremosf azer mudanças que a iniciativa não seja dos próprios candidatos,m as importantes, uma delas diz certamente respeito à ruptura parta sempre da comunidade detentora do poder e com. semelhante tradição, sempre presente no passado conhecedora de seus membros. e mais. acentuada durante os anos 60. A redemocra- A propositura dos candidatos poderia então ocorrer tização da universidade não pode ser esquecida quando em razão do reconhecimenton ão só da liderança mas se pensa na redemocratização do País. das características dessa mesma liderança exercida por É claro que a participação democrática de todos os pessoas e grupos, a começar por sua disponibilidade membros de uma comunidade supõe a existência de para com o bem comum e os reais problemas da critérios. Na perspectiva do serviço à comunidade comunidade. Isto mesmo poderia ser testado a partir universitária, o critério central bem poderia ser o bem da hierarquia de valores de que se servem para o comum. Ora, na medida em que não se perde de vista estabelecimento das prioridades programáticas e dos a dimensão desse bem comum toda a comunidade uni- meios de realiza-las. Uma e outra bolsa dizem direta- versitária acha-se implicada, e não apenas aqueles que mente respeito à situação, às necessidades, aspirações detêm o poder. Aliás, em situação democrática, esse e desejos da comunidade como um todo, face aos poder pertence à comunidade, que o delega aos seus objetivos que se propõe. chefes para que executam as deliberações relativas à Não está excluída, antes pelo contrário, a possibilidade promoção do bem de todos. A questão passa então a de conflitos na determinação dos objetivos, das priori- ser a desseb em comum. E isto supõe uma idéia de dades e dos critéri(» invocados. Mas esta é precisar universidade, um prometo- comum, ou mesmo uma mente uma das características da experiência democrá- utopia da universidade brasileira. Ora, como já foi tica. E, tratando-se de uma universidade, fica como assinalado, uma das características da fase atual na pressuposto o reconhecimento de competências dife- história de nossa instituição é a ausência de uma utopia rentes, inclusive a nível científico, social, político, ético, universitária. ecoiiâmico, etc., para uma solução dinâmica e fecunda, Não só os chefes, mas toda a comunidade deveria eü proveito de todos. refletir mais seriamentes obre a universidadei deal, O exercício do poder dentro da universidade certamente possível é necessária. Na ausência de um pensamento mudaria de feição se, ao invés de preocupar-se com a comum a este respeito, toma-se inevitável a improvi- dominação, se interessassep rincipalmente pelo serviço sação e a imposição, ;pelos que decidem e executam, à comunidade universitária e à promoção de seu bem de um modelo empíricc} qualquer, na maioria dàs vezes comum. Mais uma vez, não seí se com semelhante não explicitado ao nível de um discurso crítico, mas mudança os atuais candidatos ou detentores do poder tão-somente implícito nos comportamentos e atitudes. ainda continuariama lutar por ele. É normal que em Neste sentido, clbelia perguntar acerca.d as, motivações outro contexto apareçam também outras pessoas. 10 11 4.fetivamenteo, líder não deixa de concentrare m sua pessoa uma determinada carga emotiva que muito possivelmenter epercutirá sobre outras pessoas, forman- do com elas uma sorte de corrente afetiva. Semelhante corrente afetiva, juntando-se à dimensão intelectual de discernimento, vem aumentar as condições favoráveis ao exercício da liderança em termos práticos. Aliás, LIDERANÇA E ADMINISTRAÇÃO ' é ao nível prático, ao nível da ação, que existe liderança propriamented ita, a tal ponto que a ação vem a ser o grande teste dos líderes. O tema que vamos apresentar tem a ver com a evolução havida, nestes últimos anos, no tratamento do assunto Como se pode ver, os aspectos psicológicos da liderança são indissociáveis de seus aspectos propriamente sociais a partir do reconhecimento da complexidade do fenó- ou mesmo sociológicos. Desse ponto de vista, o primeiro meno da liderança, especialmentes e posto em relação problema que se coloca é saber se o líder é realmente com a experiênciaa dministrativaE. m resumo,p ode- ríamos dizer que a liderança vem sendo tratada numa líder dêste grupo Mais do que o simples fato de um líder ser originariamentuem a pessoad o grupo, o que perspectiva, cada vez menos psicológica e mais social, com ênfasen o seu relacionamentcoo m a ação, em está em questão é o reconhecimento,p elo grupo, da situações históricas concretas, especialmente no con- liderança exercida ou a ser exercida por uma determi- nada pessoa. Este reconhecimentoc,o mo fato social, texto do exercício do poder e da autoridade. pode estare normalmentees tá em relaçãoc om o De um ponto de vista principalmente psicológico, o conhecimentdoa líder pelo grupo, atravésd e uma tema da liderança é estudado a partir das características convivência anterior, durante a qual, precisamente, se próprias da personalidade do líder. Neste sentido, manifestaram as qualidades psicológicas da persona- pode-sed izer que algumasp essoasm ais que outras lidade do líder. são dotadasd e qualidadesq ue, espontâneoau mais Pode-sed izer que um líder não se improvisa,n em facilmente, as . predispõem a desempenhar o papel psicológica nem sociologicamente falando. Os líderes daquele que vai à frente, não apenas abrindo caminho, improvisados, na maioria dos casos, carecem da con- mas conduzindo outras pessoas que Ihe seguem o$ fiança prévia, fundada num .conhecimento anterior por passos. parte do grupo, e, literalmente,f icam na dependência Psicologicamente, essas qualidades poderiam ser descri- de um posterior reconhecimento, a partir . da maneira tas em termos intelectuais, afetivos e práticos. Do como, eventualmente, venham a desempenhar seu papel. ponto de vista intelectualo, líder parece ter uma Mas, se o reconhecimendtoo líder pressupõsee u capacidade especial de discemimento, de percepção conhecimento anterior por parte do grupo, supõe tam- do sentido das situações,d e maneira a discemir também bém, e até principalmente,s ua aceitação afetiva pelo o caminho a ser seguido em função das mesmas situa- mesmo grupo. Ser líder, neste sentido, é ser reconhe- ções .e dos objetivos que ele próprio e seu grupo se cido como investido da mesma carga afetiva que propõem. dinamiza o grupo todo e nele se concentrac omo um potencial de ação. Dessa forma, o processo de reconhecimento de um # Texto preparado para os alunos do curso de admi. nistraçao. líder por seu grupo pode conotar um contexto demo- 12 13 prático ou massificante, na medida em que o próprio o líder .vai aparecer diretamente relacionado com o grupo privilegia aspectos meramente afetivos e emocio- conjunto de atitudes e atividades que se desenvolvem nais ou então adota uma atitude crítica e consciente na prática deste esporte.S e se trata de uma associação relativamenàtes razõese motivosd a aceitaçãod e de amigos de bairro, a situação passa a ser outra e seu líder. seu líder não será necessariamentoe mesmo que no A maneira como aparecem os líderes no seio de um caso precedente. Se se trata de uma empresa, de yma grupo pode ser um indicador precioso do nível de indústria, de uma universidade, etc., outros líderes desenvolvimento da consciência social, não só do. líder, poderão aparecer em relação direta com. a ,situação mas de todo o grupo. Se este se comportac omo concreta a ser vivida e a ação a ser desenvolvida. Deste massa, poderá reconhecer e aceitar um líder massifi- ponto de vista, um dos principais equívocos que podem cante; se, ao contrário, o grupo é socialmente desenvol- Z)correr diz respeito à tentação das pessoas e grupos vido, poderá também escolher seu líder de maneira a considerarem como líder de uma situação aquêle conscientee livre. Em outras palavras, há uma interde- que apareceu em outra muito diferente. pendência entre as características sociais do líder e Em segundo lugar, devemos acrescentar que as situações as de seu próprio grupo. concretas podem mudar através da história. A conse- Em'terceiro lugar, devemosl embrar que, nos dias de quência é que os líderes de uma época não serão hoje, o problema da liderança vem sendo colocado com necessariamente os de outra. O saudosismo dos movi- ênfase especial em sua dimensão prática. Poderíamos mentos sociais e políticos pode ter como manifestação quase dizer que os aspectos psicológicos e sociais são uma defasagem importante entre a situação histórica, condiçõesp révias ao exercício da liderança em termos a vida dos grupos e suas lideranças. O fenómenod o práticos, em termos de ação, .e, finalmente, é isso que getulismo saudosista poderia ter como. conseqüência interessa.I Jm líder que não age nem interagec om desastrosa na hora presente uma inevitável frustração seu grupo é um falso líder. ocasionada pela exagerada expectativa »m tomo da Como dissemosa nteriormente,a ação é o grande teste volta de um Brizola, por exemplo, quando, efetiva- da liderança, pois é o verdadeiro lugar de seu exercício. mente, outras lideranças já surgiram entre os open.anos, E a ação tem exigências próprias, tanto ao nível do face a situações inteiramented iferentesd as precedentes. planejamento, das decisões, como da execução e da Tudo quanto dissemosa té agora, bem como a simples avaliação. Parece oportuno lembrar que poderia haver reflexão)s obre nossa própria experiência,l eva-nos a planejamento sem execução, execução sem avaliação. reconheceru ma íntima relação entre o tema da lide- As qualidades psicológicas e sociais do líder e de seu rança e o da autoridadee o exercíciod o poder. grupo vão necessariamente manifestar-se no âmbito da Embora os dois assuntosn ão se identifiqueme m todos ação e em relação a ela. As exigênciasd a praxis dizem os pontos, eles não .deixam de apresentar muitos outros diretamente respeito à liderança e ao seu exercício. em comum. Nossa hipótese é que a pessoa que exerce Finalmente, como a ação ocorre em situação concreta, a autoridade pode também ser um líder e vice-versa. a liderança pode ser considerada a partir da maneira Não só as questões que levantamos a respeito do líder como o grupo e seu líder se colocam face à realidade. podem ser colocadas a respeito da autoridade -- tais Queremosc om isso dizer, em primeirol ugar, que é como suas qualidadesp sicológicass, ociais, práticas e diante das situações concretas e das ações que Ihe históricas --, mas a.questão que se levanta é de saber se & autoridade está sendo exercida como uma autêntica dizem respeito que também poderemos distinguir os diversos tipos de liderança. Se se trata de jogar futebo!, liderança: trata-se de uma autoridade reconhecida pelo 14 15 l grupo, ou tão-somentei mposta a ele; trata-se de uma do fenómeno da liderança, mas para o seu melhor autoridade competente relativamente às tarefas que tem de executarà frente de seu grupo; trata-se de desempenho no interior do grupo social. Sem descer aos detalhes das distinções introduzidas uma autoridade que planeja, decide, executa e avalia com verdadeira liderança? É ela prática, objetivamente pelas ciências da comunicação ao falarem de emissor, situada diante da realidade e historicamente relacionada receptor, mensagem, canais, código, descodificação com o momento presente? Como se vê, muitas são interpretativa, etc., poderíamos insistir na relação que as questões a serem abordadas em função da autoridade se estabelecee ntre a comunicação,.o exercício da lide- rança e da autoridade. e de sua liderança. Diríamos, ]'esumidamenteq, ue a comunicação entendida À luz destas considerações é que podemos evocar como encontro de pessoas e circulação de mensagqls a distinção conhecida de todos entre três tipos de líderes a partir da maneira como exercem seu papel: aparece como condição de exercício de uma liderança autêntica, especialmente de uma liderança democrática. líderes democráticos, autocráticos ou /aísier-/eira. ' Os Uma das formas frequentementea ssumidas pela lide- democráticos são aqueles que mais perfeitamente se rança autocráticae pelo autor'itarismoé sem dúvida entrosam com o grupo, sabendo manter um equilíbrio entre os aspectos pessoais e os sociais, entre a emoção, a- centralização das informações, sua manipulação ou sonegação. Que as informaçõesd evam circular no a inteligência e a praxis, entre a consulta, a decisão interior do grupo parece ser uma verdade reconhecida e a execução. O líder autocrático reforça sua liderança em detrimentod a participaçãog rupal nos três níveis por todos.a queles que esperam do líder um desempenho que acabamos de mencionar. Ao contrário, o líder democrático e eficaz de suas funções. E entendemos Zaisser'/gire permite o aumento da pressão do grupo a circulação das mensagens e informações em ambos sobre ele, em detrimentod e suâ função de liderança os sentidos: tanto do líder para o grupo como deste para aquele. e de suas qualidades próprias. Um líder que não fosse informado a respeitod a situa- Embora os três tipos de liderançar aramentes e apre- ção, das etapas, do desempenho, das dificuldades e sentem inteiramente puros, podemos reconhecer que, nas pessoas, umas características poderão aparecer de êxitos .dificilmentep oderia cumprir seu papel, pois preferência a outras. Por outro lado, também os grupos acabaria alienando-se da realidade de seu proprio grupo. Por outro lado, um líder que não fornecessea s infor- se caracterizam a partir da liderança que aceitam ou mações a serem discutidas e conscientemente assumidas provocam. Um líder com tendências autocráticas pode- estaria criando uma situação de exercício autocrático rá tornar-se ainda mais autocrático por causa do próprio do poder, em detrimentod a verdadee da justiça, de grupo que Ihe reforça as tendências -- como é o caso forma a alienar as pessoas que com ele se relacionam. em regimesm ilitarizados.l gualmeàte,u m grupo com Uma das principais críticas atualmente feitas às diversas preferência para o clima do /disser-/gire poderá tomar formas de autoridadee m nosso País é de não porem quase inevitável um comportamento correspondente por a comunidaden acionala par da situaçãor eal em que parte de seu líder. Em outras palavras, há sempre uma relaçãom útua entre o comportamentdoo líder nos encontramos, e de tomarem decisões sem que os e o de seu grupo. cidadãos possam discuti-las e assumi-las. Nesse sentido é.que as diversas formas de censura podem ter :como Poderíamos acrescentar algumas observações a mais a efeito uma deterioração das lideranças, pela ausência partir do que a ciência da comunicaçãon os traz de de comunicação, circulação deficiente das mensagens, mais positivo não só para uma melhor compreensão impossibilidade de uma descodificação conscientizadora. 16 17 T Uma autoridade ]ega] nem sempre é uma liderança O segundo aspecto da comunicação, evidenciado pelo legítima. pj'iméiro, é que a informação supõe e gera um encontro Para terminar, gostaríamos de levantar, e apenas levan- entre as pessoas, uma coisa aumentando ou diminuindo tar, algumas questões relativas à formação de líderes em função da outra Um líder, principalmenteq uando e/ou à sua educaçãoA. questãof undamentéa l a exerce também u;na função de autoridade, pode acabar seguinte: alguém pode aprender a ser líder? por isolar-se de seu grupo e das pessoas.q ue o consti- Acreditamosq ue isso não pode acontecers em gue a tuem. Nesse exato momento, deixa de ser líder daquelas pessoa tenha as condições 'psicológicas e sociais que pessoas, tornando-se, quem sabe, membro de um outro grupo com cujos membros se comunica de maneira ]he possibilitem a tarefa. Neste sentido, é legítimo falarmos de líderes naturais. Por outro lado, porém, mais efetiva. supostas aquelas condições, não está excluída a possi- Neste contexto, podemos evocar o que chamaríamos bilidade de uma formação para a liderançae mesmo de dificuldadeisn erentesa o exercíciod a liderançae uma educação daqueles que já se encontram em situação da autoridade.N ão é fácil ser líder e permanecenr a de exercício da autoridade. liderança durante muito tempo. Os conflitos não demo- Mas isto mesmo fica na dependência da existência de ram a surgir, principalmentqeu ando surgemo utros autênticosf ormadores ou educadores. Na medida em líderes dentro do mesmo grupo, com pontos de vista que nossas consideraçõesp odem ser de alguma utili- diferentes ou com a pretensão de disputar a autoridade dade, gostaríamosq ue elas fossem tomadas como do primeiro. Tanto mais que a disputa do poder pode testemunho de nosso próprio interesse na formação ter 'as mais diversasm otivaçõesd: esde a busca de de líderes para os diversos setores da vida nacional, melhores caminhos para o grupo até a recusa de e muito especialmenten a formação de administradores lideranças anteriores, por motivos de competição, ideo- da educação. lógicos e outros. De novo, a solução dos conflitos só se apresentac omo possíveln a medida em que existe um suficiente grau'de comunicação entre todos, de maneira que tanto as motivações como as razoes possam ser confrontadas e a situação aclarada. Dessa forma, não está excluída a possibilidaded e que um determinado líder reconheça que sua missão termi- nou e um outro deve ocupar seu lugar, para o bem de todos. Não h.á líderes imortais. O exercício de uma autêntical iderança democráticai nclui a consciên- cia do tempo adequadop ara sua prestaçãod e serviços e sua conclusão. Um líder que se aterrasseà situação de liderança, principalmente quando se transformou em mera situaçãod e poder, estaria deixandod e ser líder para se transformar num prepotente. Isto poderia transformar sua posição de liderança numa posição ilegítima, de líder não reconhecido, muito embora, em alguns casos, ela pudesse continuar legal, isto é, apoiada em textos legais, estatutários ou regimentais. 19 18

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