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O retorno do bom selvagem: Uma perspectiva filosófico-africana do problema ecológico PDF

66 Pages·1994·43.701 MB·Portuguese
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_]'{"'-"'."/'· ... .. ) J _) ~·· ) ·; j ) _) i.'· ·_) O RETORNO ) DO J . ) . BOM SELVAGEM ;/ ') ) _j __>, ····················-············· .. ················ .. ············· .. ············· t .J ) J ' J _) !J J . :; t ...../ ..................................................................................................................... __ ,,\ .. .. .. . .. . .. . ... .. ... . .. .. . . . .. .. .. .. . .. . . .. ... .. . . ...... ..... ·.:: .:.:: ::·.: ·:: :··.: :·:;:: :·.·:::::·;:;::::: :: :;:::::.·.·.·:;·::::::::;· ·::.·:::;;:;. ::~·.:: ·::: ·: .. . . __;, - y ·]~r _) _,( '/ Y· \ _; i". - .. . _) .i;·t~·fy-,., •· :;.<;-:;:; ~§.~;~";,,f,)t~.~f.,;.j,, (·,,,, ·. -·'"-"~u.':.i::.:·.~, ·~:. .. ' ,.,. SEVERINO ELIAS NGOENHA O RETORNO DO .·eo·M···· sELVAGEM ................................... .................. .......... .......... Uma ·..-. P ~r?P~Ç~~Yª filq?9f.içª~ªfr~çªpª ···· . · do problema ecológico .. .·· . . ........................................................ ,.,,. ............................. •······ ······"~ Eor.çõE~ ·S ALESIAN~s Jqqbf P O H T O ... ! _) ) j ') ) DEDICATÓRIA ) ,,..) APRESENTAÇÃO ' ) j À ·minha esposa j Moira Laffranchini-Ngoenha • A filosofia ocupa-se dos problemas gerais, j nos quais está implicada a humanidade inteira. J Traduzido em problemas de "hoje• a filosofia ocupa-se da ecologia, do desemprego e da ) divisão norte-sul~ Contudo, estes problemas são tratados como um todo. De facto, o aumento do desemprego no norte provocou o nascimento de partidos de extrema-direita, o que acentuou a divisão norte-sul. ················ ·············· · ····· ················· ·· As terapias sociais prospectadas - acordos do Gatt - não compreendem os problemas e as i J preocupações dos países do sul; mQs quando se _) .... trata de problemas ecológicos, os pobres são os J mais solicitados a carregarem sobre si os J desequilíbrios provocados pelos países ricos. ) Se a África e o .terceim mundo tiverem de ·I aceitar todas as d_escargas tóxicas e. nudeares, } ........................................ . tiverem quer manter florestas e animais em ) 1 ! nome de um equilíbrio ecológico; ao mesmo _1,) ·yÍ tempo que diminui o seu orçamento da educação f ' 1 e da saúde - que são as mais baixas do mundo i }- ............................·- ····· ........ .! ... . .. .. . . . . =para ,sçit,isfiazer DS RIQg_ramas dó FMI e d.o .B_M,_ _____ os no:Ssos Jifüos .estão .çc:mdenad,os a serem os .,.) futunn ·11,farzciii:s~i, . a ,sr€nem .os · Ju.tur.os .:bons i ) 1 selvagens. 1· j . .) J ., - 1 . __} '_} . 1 A Segunda Natureza O sofista Protágoras pretendia formar bons cidadãos. Sócrates interroga-se quanto à verdadeira possibilidade de ensinar a virtude~ Protágoras responde com uma fábula: · . Depois de terem criado as espécies mortais, os deuses. . en'carregaram Prometeu e Epimeteu de distribuir por todas as ( espécies, as características necessárias à própria sobrivência. Epiineteu ficou encarregue de faier a distribuição. Este deu a S · -Cada ..e spécie·. os meios necessários à própria sobrevivência: a l .... . '-,.~t.. '.\ . JJ.TDª$ a força, a outras· as . asas para fugirem ou os abrigos ~-s' subterrâneos para se esconderem; protegeu-as das intempéries 0 por meio de carapaças, de coiros e de cascos. Deu a cada § .. espécie, umas carnívoras e outras herbívoras, as alimentações respectivas. . ~..~. - Infelizmente,· Epimeteu esqueceu:.:se dá espêde· Hümaná: ~ Quando mais tarde, chegou Prometeu, constatou que todos os animais estavam equipados com .as condições necessárias à própria sobrevivência, .enquanto o Homem permanecia nu e § sem defesa. Des~sperado, Prometeu rouboü aos ôeuses o·:fogo .~.-..- ....- ...-. ...-.. .. -. ----~~..- ....-. ...~ :::g~çqpf:igc:!rngntq J~çniçg ~ pglJ::P~ .aQ~.Homens.. Então· os ······· Homens honraram os deuses, adquirindo o uso :da pala- ···········~ -~ vra, .aprendend() a construir casas; a confeccionar vestuário ·e . ~ a cultivar a terra. Mas como viViam .isolados :e afastados uns ~-- dos outros, fiçavam à mercê. dos animais selvagens. Raltava --~---------·------------------~---~"""'~--~-lt.i.es-airicla-o--saber ~político.---'que fües ~teria permitido Cl:}flS'..-... --~~ ,-----·----------.. ----·-----~ ~ - trttmem-se em cidade~(polis)7Zeus preocupado .com a csbbr·evivênda d~ ~~~s~p~ç1e,,-:en~arregou·. l}e-rmes ·~q~. ô.ar ;p.os Homens o ·sentido do res;J?.~ito 1p,ela justiça .. J ~- 9 J J ) A Fábula de Protágoras mostra de uma maneira eloquente, Os biólogos concordam que sem a construção· de habitações, ) que o Homem é, por natureza, desprovido de qualidades sem a confecção do vestuário, sem cozinhar os alimentos e : _) naturais. Enquanto os outros animais estão, naturalmente, sem uma organização social conscientemente constituída, a . ) equipados para sobreviver, -e vivem aquilo que hoje se chama espécie humana não poderia sobreviver, pois não tem quais- uequilíbrio ecológieo» - , o Homem deve a sua sobrevivência quer instintos conservadores que lhe regulem a vida. J ao saber empírico', técnico e moral que adquire por etapas. Até há . relativamente pouco tempo, a «segunda natu- ' ) "A descqntinuidade entre o reino da cultura-e da natureza reza» existia em todos os.. países do mundo, entre limites _J J é universalm~t;lte reconhecid~ Não existe nenhuma sociedade, muito restritos. Em todas as esferas. culturais e em todo o por mais popre que seja; que não dê grande valor às artes da mundo, a «segunda natureza» limitava-se a rectificar os defei- _) civilização, cujá descoberta e uso, permitiram à humanidade tos mais evidentes do ambiente natural, mas no essencial _) libertar-se da animalidade. · & imitava~o. A agricultura, isto é, a ocupação principal da maio- , ;;J"--· ) "E próprio do Homem afastar-se do "domínio natural~8 ria dos Homens, respeitava o ritmo da terra e das estações. ·_) Contrariamente aos animais, o Homem tem uma relação com t:'l Alternando as colheitas, apliçando o repouso bianual ou o Mundo através de mediações simbólicas e técnicas. Por assim ci trianual, usando fertilizantes naturais, a agricultura conser- dizer, á característica da Humanidade, é de não estar sempre -;:; vava a força regeneradora· da. terra. A força motriz era '_) ~resente nela própria, - para utilizar uma expressão par- ~ fornecida pelos Homens e animais, pelo verito e pelas tlcularmente feliz de Rousseau, mas que este utiliza errada- correntes de ágÜa. . · ·· .............................. . .) ~ mente para distinguir o Homem civilizado do Homem sel- ~ · :-. ~O progresso cientifico e ·a tecnologia moderna, -·. que J vagem. ~ ~ atingiram certas civilizações __::: ·, rompeu este equilíbrio De _) Para se afirmar completamente, o homem produz uten- ~ ~ certa maneira, o Homem ocidental libertou-se ·das forças da 1) 'j · sílios e instn.iffientos, que são de certa maneira.um prolon- ·.s:; :-- ~:2 naturez~ Mas· ao mesmo tempo, não .só está a consumir o . _) . gªf.11~D~9 sepan;tclQ clQ se.u próprio corpo. ~ ----=-~::" património. natural a· um ritmo vertiginoso, mas também est~ .............. . A Humanização do Mundo passa, portanto, pela media- · ·.. ... a modificar de uma maneira irreversível . a composição do simbólicos: ou .. <. ) ção de objectos materiais e de objectos ai~da -~ ambiente. As fábricas, os carr.os e as casas, · utilizando o J através de uma combinação infinitamente diversificada. de g â ..,...:? petróleo e o metano. de carbono, como fontes de energia .e S --.. J «gestos e de palavras», - utilizando o título do livro magistral ~ de aquecimento,· expelem-todos os dias para a atmosfera j de LAer ovi-iGvêonucrihaa nH. u(1m) ana consiste no distanciamento pro- -$d. ···ç·~; · ··························· .. . · cmhiúlhmõbeso , dceó tmo nceolaridsaesq udêer idanaisd rfirdicoa lccaúrlbbvóeníisc';o p, adrea e nntxlo,o ffarela er ndoe ......; ) gressivo e acentuado do ambiente natural e social Nesta ~- ~ problema das descargas industriais. J perspectiva, toda a evolução Humana tende a colocar o v·~ : ~ . · Nos países tecnicamente avançados, a «segunda natureza», J"; ) Homem fora do Home:n (o h?m:m fora dele _mesmo). . § já não se Hmita ap~n~s a imi~ar a 11pri1:1ei:a natureza», ~on~trói l -~:= .,Para. .. o Homem a 1mportanc1a da cu.ltura .: tal,_gue faz~~-~-. __ -~g~nd~ as sua_s i_?e1a~ ª. f1n:1 d<: ating~r. os _seus obJect1vos dela a·s ua segunda natureza, sem a qua'I,, aliás, nao pode viver,. '-'-< " ~ arbitrários. A cnaçao tecrnca )_án ao irectifica :;1mpl~srnente as ·--::J ~ lacunas da primeir,à, mas substittti,,-se a .ela, d:;iegand-o .. mesmo ·) (1) L.eroi·üouran, 1.9~5, p. 222. ~; a constituir uma «segunda natur:eza>> oposta à primelr.a.,, _) C'' lO .·....-..~.._ ·) J.. 11 -< ...... --~ 'J ) ..._g .l ''1'. . --'X ~~ ~' 1 contrário, num regime onde prevalece a «segunda natureza», · ·.Enquanto ~ «primeira natureza» é única e só a concebemos·~ .::~ este princípio deve ser reformulado. como exclusiva, as i<segundas naturezas», que dependem da -~ ~ Contudo, se é fácil falar de auto-regulamentação, é muito ,J capacidade inventiva do homem, são m~tas, di~ersas, ~uase ---~°"'0~'' difícil realizá-la, não unicamente porque a razão Humana é ilimitadas~ sucederam-se no tempo e coexistem amda hoje em "'" .._.~ limitada, mas também porque não é omnisciente nem omni diversas áreas cultµ.r ais. AI iás, outras «segun d as nat urezas» sa-o ~<:.:._ ..~...:. '-.>- potente. Essencialmente porque a «segunda natureza», perma- possíveis e concebíveis, talvez até ao infinito, mas não arbi- ~-~ nece sempre uma natureza, isto é, algo que nos aparece como trariament~. Por conseguinte, como homens,. não podemos dado adquirido, algo que se subtrai largamente à influência do negligenciai as consequências do nosso comportamento social, Homem e portánto algo que nos transcende. Não basta, económicc{;,,_cultural e político. De facto cada tipo de «segunda portanto, um postulado da razão para ordenar aquela natureza, natureza» éh ustentado por uma série de acções, de reacções, que a própria razão produziu, é necessária como que uma espé de correlaÇões e de interdependências entre as diferentes par- cie de «astúcia tecnolpgica da razão» para vencer as resistências tes determfnantes. Devido à sua pluralidade, as «segundas da natureza e domar os seus mecanismos.. naturezas» estão desprovidas daqueles mecanismos reguladores A «segunda natureza», que a · actividade racional fez que mantêm o equilíbrio e asseguram a sobrevivência do emergir da primeira, revela o seu carácter de verdadeira género Humano. Eis a razão pela qual o género Humano i:ião ·natureza, opondo-se à actividade racional e condicionando-a, pode continuar a confiar simplesmente na providência da mãe ,'-.) no momento em que tem necessidade da sua intervenção -natureza para·sobreviver: · ··· ·· Um reguladora. .. ... ............ . me0c anismoolhsa.r d sau p«eprfriicmiaeli rpao dneartiuar elezvaa»r -nfoorsa ma cosnimclpulier sqmuee notes As •r esistências aa·« següridá riafureza~ pooem ser'de' três ·-" tipos: substituidos pela razão Humana, que através da ciência, prevê 6) A «segunda natureza» é constituída sobre a base da .e constrói para fins decididos pelo Homem. Porém, racio ·· ... primeira. Todo o material, isto ·é, os recursos energéticos, nalidade científica· e· racionalidade Humana não coincidem respectivas,··· . . .... .. ..... . -como as matérias-primas, provêm da «primeira natureza». Por necessariamente. Apesar das·· sua,s ·ràdoriaHdades .. .i sso, as possibilidades da <tprimeira natureza» condicionam as a ciência e a técnica não dão nenhuma garantia do seu uso possibilidades da «segunda natureza». Eis os limites de desen"' . .· ,__, ·.racional. A razão instrumental do «homo faber» pode ser volvimento de que fala o relatório do Clube de Roma.· terrivelmente irracional. B~sta p~nsar que a par das grandes ~ Os produtos da «primeira natureza» ~o reciclávei~, ~ . · conquistas da ciência e dos progressos inaudíveis da técnica, ,enquanto os da segunda - pensemos nas .. escónas. e.napo~wcc ..... . Vivernosnumplanetacheio"de bombas, de guerras: de desas ção não o são, e produzem, portanto, uma autêntica ·· tres ecológicos, de famintos, de miséria, etc. A regulação da natureza morta, que ameaça asfixiar-nos. «segunda natureza», parcialmente <Oposta·~ prirrieir.él, tem, por ~ Como na «primeira natureza», também na «segunda isso mesmo, a funçao e o dever de substituir-se aos ·mecanismos natureza» tudo é interdependente. A <~primeira n~tureza» ~um ____· ' reguladores-da mesma. - - - -· . ,_ .......... ; .................. ,. ........ . ·· ········~············~=- siStemO:..de-dei;)eiid.ê-r-1G.Ias.,-Oe~G0-r-i:e-la~0e-5.,.-aEla13t~ée-5-foo-·- ~ ----· -.-isto-stgnifroa~rre a razao tecno]õg1c;a ôeve d1sc1phnar-se. ' procas, que em filosofia ieorética se chama finalidade ;e .que . Num regime condicionado ,pela i<pricrneira natureza», n princípio compreende a finalidade externa unida a um ,cosmos total. Na supremo da moralidade podia. $€ r u~git seçundo natura»• Pelo 13 () () , J · «segunda natureza» os fins são impostos pela vontade calcula II dora do Homem. e A interdependência que . carecteriza a «segunda natureza» resulta de uma· inter{ erência entre os Primeira Natureza ( ) determinismos naturais e os determinismos histórico-sociais~ ,' ) 0 Se na primeira natureza o Homem é idêntico aos outros e Segunda Natureza (Cultura) seres naturais, na segunda-afasta-Se deles, ao mesmo tempo que se diferencia dos outros homens através de uma cultura 4-- · 1 J específica& ' ) A este nível, poderíamos interrogar-nos quanto à atitude o r) das culturas {segunda natureza) em relação às outras cultu debate sobre a primeira e segunda natureza {cultura), , _) ras {segundas naturezas). Contudo. interrogamo-nos prioritaria- fez reaparecer uma série de questões, que ficaram ainda sem mente sobi:e. as diferentes atitudes das «segundas naturezaS» resposta. Duas merecem .u ma atenção particular. ,' j (culturas)-para com a «primeira naturezawp A primeira, respêitante aos «primitivos», assinalada por r ) . Existem «segundas naturezas» {culturas}, como é ·o ca5o da Claude Lévi-Strauss em último lugar por ordem cronológico no J cultura indiana, que de tal maneira sacraliza a natureza, que texto reeditado na <<Antropologia Estrutural Dois», pode ser i não come. carne de vaca, não bebe o seu leite, nem sequer assim formulada: :J . utiliza os se~ .~~~".é.l:9~~, !9:!~. . C::.<:?.!:!.1:9 .9 iogurte. Além disso, a A concepção que muitas sociedades primitivas têm da _) sacralidade da vaca impede que ela seja tocada, lavada, o que relação entre a natureza e a cultura exprime também, algumas : J faz dela . um meio impoi:tante de transmissão de doenças. resistências ao··desenvolvimento. Com ... efeito, ... elaimplica o .. . Perante o que sabemos, por um lado, da capacidade nutri- reconhecimento de uma prioridade incondícionai da natureza r _) . tiva da carne da vaca, do leite e dos seus derivados, e por outro, sobre a cultura. · · '_) . da fome de que padecem. milhões de indianos, podemos per . \· 'à • Segundo Lévi-Strauss, .nos povos «primitivos», a noção de j gµntar-nos,· se esta .. cultura .. não.terá uma atitude demasiado .. i .... .. ..... Jl~1:t.lr.~za tem sempre um carácter ambíguo. A natureza é pré- c<sacralizante» da natureza... . -cultural e sobre-cultural; mas é sobretudo o lugar no qual o 1 ) l . ~ Existem outras culturas, como é o caso da cultura Ociden Homem pode esperàr erifrár em cóiitacfü com os antepassa- tal_, que baniram da natureza toda a sacralidade, que vêe~ nela ! dos, os espíritos e os deuses,,Existe~portanto, na natureza uma simplesmente um meio para fins utilitários decididos pelo 1 componente sobrenatural, e .e-sta sobrenaturalidade está acíma l ! ' ·········â8~!g?o~~~~f~~~'4ü~~~%êl~=f~~t:S~ª~ ~~~r~~j~~~~~sr:~~= ~:ia~~'!:~~ ~~:~mq~~~0o 5~~~~: s~~r=~~~~'.·~;t~r~du~~~ J ········· ···· ·· ····· ········· _) ras, como a fome,.· a mortalidade ínfanti~ muitas dom€ ças e técnicos .e ·os objectos manufacturados são desvalorizados. (2) · : J epidemias, não é menos verdade que .a sua atitude piiorita- Daqui resulta que a concepção das culturas primitivas resiste ... ) . riamente utilitarista arrisca a perdição de todos. nós ri urna ao desenvolvimento. J catástrofe ecológica. . . . r Qual é ent~o à boa atitude cultur,al p.ar_a_c_o_m_a_n·-,a- t-u-re_z_a_, ------.,,.--- (~ C. Lévi-Srau~s, J\ntrop.oJog.ie ·structu.relle deux, Par:is, :Plon, 1973, .:) .a c1super .sacralidaqB» GU 'O <cSUper utilitarismo»? . p.p .. '.°iT3-:375. . . . - , _) _) 14 15 . .... , .'. ... ........ _ ~- .. :_) A segunda questão (respeitante ao mundo industrializado) natureza cultura, do lugar do Homem na natureza, não refere-se à técnica. Mediação indispensável nas trocas entre a depende simplesmente da política, da técnica, do social ou da natUreza e o Homem, a técnica moderna parece impor às biologia• Uma simples mudança de comportamento; se bem transformações- um progresso incontrolável. Esta mutação que necessária, não é suficiente para fazer face ao perigo que afe cta igu~lmente as relações humanas com os outros orga ameaça a vida do Homem, desde crenças supersticiosas que nismos vivos e com a natureza. provocam fome, má nutrição e doenças, até às catástrofes Segunpo Serge Moscovici, assiste-se hoje, no Ocidente, gerais que os problemas ecológicos ameaçam provocar. O nível ao fim de ~~_sociedade baseada sobre na acumulação interna de compreensão., de análise e de decisão deve descer até às ( e sobre cotjflitos de classe; assiste-se ao fim de uma civilização. raízes profundas da crise, isto é, às 'dimensões simbólicas e -lAs soêiedacles ocidentais estão rigidamente submetidas às espirituais das culturas. relações entre a colectividade e o seu habitat (ambiente), à e Isto implica que, se as atitudes culturais em relação à acumulação do poder e da riqueza. Por isso, estas inventaram natureza são perniciosas, seria ainda mais pernicioso continuar um antagonismQ-! entre a sociedade e a natureza, entre o o mesmo processo de relacionamento com a natureza sem um a. pensamento nobre e o trabalho servil, entre a civili_zação e a momento de reflexão Mas o debate· das culturas sobre 8 técnica.l As sociedades que estão . a nascer, basea1TI-Se, pelo natureza, à imagem desta, deve necessariamente ir para além . - contrário, na ciência e na técnica; e nelas a questão natural das fronteiras geo-económicas e abrir-se a. um diálogo entre. --------- substitui a questão social. (3 todos os habitantes desta terra ... · ) - Estas razões fazem com que os problemas sociais de hoje se tenharn tomado em problemas naturais. Por conseguinte, o problema capital é o lugar do Homem na natureza, contr nuamente transformado pela sua prática~ • Quer para as sociedades, ditas primitivas, quer para ·as sociedades industrilizadas;···a relação-·entre··a · ccprimeira>i"· e ·a ccsegunda natureza» está no ceritro do debate Uma atitude 0 demasiado m:istica, ou uma atitude radicalmente instrumenta lista resultam perniciosas pàra a natureza, e por consequência, 1 ' para o próprio Homem. · -- 1 -De facto, quando se fala de ambiente, faz-se referência 1 a_o ambiente humano, e todos os argumentos para a defesa 1 de tal ou tal parcela da natureza, têm uma razão de ser, no 1 quadro de uma teleqlogia humana e de uma vontade de sobre- . j vivência. PQ! consegUinte, o problema_d o ambiente, da rel~ção_ __. ---------~------------··------;- '(~ -IS. Mçiscoviq,~J:_eimandsme .et 'la~ql!l~~ti0n ·natUrelle, ir:i Ho{Tlmes êomestiques et horiímes sa\)V~e5; :Raris, 1 o;.ra; PP· 14Sc232. ;· .. 2 17 ') ' ) III ) ) Visão Africana ') da Relação Natureza-Cultura ) ·) fJ --· '.) A diversidade que está no centro da investigação antro .0 ') pológica, interessa-se doravante pelos problemas do desen (J 1. volvimento A «África Fantasma» de Michel Leiris, ccOs Tristes ') Trópicos» de Claude Lévi-Strauss ou ccA África Ambígua» de Georges Balanaier, encontram-se depositadas nas prateleiras { _) das bibliotecas. Uma nova questão alimenta a curiosidade dos tj antigos antropólogos, perturba o sono desses novos técnicos (_) do social e da economia - os peritos de cooperação. Ela já ) não se identifica com pessoas, com grupos, com objectos ou éom costumes irredutivelmente diferentes; abandona o terreno de uma pretensa objectividade (o que se chamava e se chama ainda cultura material) para mergulhar no terreno da relação. O desenvolvimento como relação, eis no que se torna cada ······ vez· mais; ·o objecto de··estudoda·antropologia·modema;·Tal. é a nova configuração; confusa e multiforme da diversidade J antropológica. !_) A diversidade já não se identifica com o exótico, ela 1'j reaparece juntamente 'Com a percepção do sentido, que as sociedades· produzem, com a finalidade de inscrever es seus ) valores e as suas instituições, numa ordem que ultrapassa as .) contingências .das pr~ticas quotidianas. Assim, o desenvolvi (j mento como relação supõe, necessariamente, o aparecimento ') de situações confütuosas entre tradições diferentes, muitas -----------~---r-----·!lezes3'.iíf1ci\.ttien:t~cômp:atlueis::==~..-..- --- ) ----- o pensamento afric.ano a partir da segunda guerra mun ,~. dia'l, afasta~se de uma Vi·são mística da natureza, e orienta-se _) '_) 19 ·) , -· - '.I J J em direcção a uma visão instrumentalista. Por sua vez, o Senghor definiu a cultura como a «Constituição psíquica», pensamento ocidental a partir dos. an.os tri~ta-quarenta •. influen que em cada povo explica a sua civilização. Por outras palavras, ciado pelas catástrofes que a sua atitude mstrumen~ahsta pro- é uma certa maneira própria de cada povo sentir ou pensar, vocou vê-se obrigado a repensat ~-xio de relacionamento exprimir-se ou agir. E esta certa maneira, este carácter é a do H~mem Ocidental com a n g B :o -..,.ha por teorizar simbiose das influências, da geografia e da história, da raça a passagem de uma visão instrv ff ff f f. IS-g .l> .., "' mística. e da e.tnia. i1-:{t7 .§Q.' ""' ' JoJ ÕJ" J::_/:; )b · A análise senghoriana da psicologia negra funda-se sobre ...) cursoA s opbarrtei r< <dOo se sapníroitso cdm• aq eu;·f 1 f &À~ J~,,~,: ~ e k. > [&-iPC~;l> Q 5gOJ '" f:f'8. ·nr,. O; on e-essetu sdoob rdeotu dcoca mnab ieonptoe sniçaãtuor aàl »p sqiucoe loag icao dnod icHioonmae, mm absr adnecfoi , ) -africana» (4)'-, que a l 3 : ; ~ ..õ J tJ ii e resume-se no famoso paradoxo: «A emoção é negra como iJ OJ4! O~Cllm 1f> preliminar para a liberta? g ff_·~ ~li j a razão é helénica». (5) osescr e a Af ~ : g ~ti'!§.·~ ~ Para Senghor, -o Branco europeu, é o Homem de von ~ Qj• ~a.fig· ~ e Abril de 195~. Sengl)' : '§ .rr ;;; tS-g; :r: . tade guerreira, que utiliia :as coisas para os seus fins utilitários, Congresso precedente., ' ;e; :~""''º .CrtJJ Qa:tl O;;J: th:l 1:~(1i 1 . eco Africano é um homem da Natureza». «Vive tradicionalmente ·" _ ;.,. . Pntpi elrue-crsseaems,m seáennrntia-eoto e us damobe c 1eºa idU.s e msp1oe7.~ ,bc '1 / t ,r' i~ ,f,i,~ : .{~i . t ,~S,' 8 "-R tJ-J'JB" !~ o ;'2:~ Õ:B1, ·' 'ã gr f f!lml !lflê."1."f '§ ! :!'Q$J .fJf .;f&r i 'SJ= }§- J" f· J:. s J: ~~,b-J ,,~, f!. f 1§~ ,: ! ·~: c :.·f:,,:,; f,.: ~0 ~.i; •&roo;'0~;:f ··f ",n''E!"'i''': ~. ;-.f,lt&c , . J .; ,f. J. . . 1a.~... ..· :\dnsnu.aãnj get .;ei·stéroe ra aref , íc ofoac§gmojeom cnot.j:oass.t atsA;ee ré nrr atasiz,id mãonospo d·á dotcie cosnaspe.me g«~roAoos s rn,aeã z oãasoet érm a ndv eiésignscr tuaedr resnmliãeve»oad. 1 ié áéÉmr isopsine.o .t.n.b éestrnuiectacralee,; ás negritude. . ~ gi.: :.i?o t"i"' !-;" ' ~;:,.; s~. ~0ii·< RIJ/! coisas, não as modela·em esquemas rígidos·, mas insta- Nesta persp· g ;:_-$- ~ i f i -e.·· :t:~ em la-se no coração vivo do real». A razão europeia é analítica Da arekuanr,i ro o sp raimfrier i' ~;;a-; .i ti '. tJ""'-f ('6 i(ºja: J sr · &"t-~~':'t§' i o "~ '&I S -"·' · ~~i.i~, ,! ,. :..f, .d l !J.i..'l ~i~ 'lilT~ º"8I! : ~ .un·n a ddoo • para EaS utati ltiezoarçiãao· ,s o«af·r reauz ãmo ondeifgircaa,ç õinetsU ieti.v rae cptaifriac aaç õpearst iimcippaoçãrota~>n. .... JJ . .num .ampl O .. t h.. . _ rn cs! 8] . R~ õJ. Ílif~ ;::ot" ~' o:. .ícional . tes. Contudo, quer . o Negro se associe ao objecto, quer o ...J africana, com vista a - ; iftf $~. !~~ ··ç ão no objecto se associe a ele, o Negro é. sempre caracterizado pela contexto da vida moderna .... "~ ff; ,;ai. Este · .faculdade emotiva, que não é negação da. razão, mas sim uma festival cultural, ql}e .s e r:ea li ~av? pb..... .. . ~9 f ~f !!J 1nu.m so.l o outra forma de conhecimento. O que comove o Negro, não independente da Africa, era uma homena~..... . . .J~mo cn~- J'\"' · .é o aspecto exterior do objecto, ~ _af~~liçf9qg ~Qq\,;@JJQ..Jªl,., ···0u foeihor;·: a·s üá surrealidade:······················ - ~~:::if~i:,;e~·ia~~~~o~~!~ :~~~~~~a:;~i;aç~~1~~~~~~~;:~:~·· ..... ··················· ·-·· .J Através da .emoção, o conhecedor e o conhecido sintoni Do passado era-nos desvela~o, :-im mundo u~itário e fech~a~o - . .zam-se naquilo que Senghor definiu ·Como «a dança do amor 11• em si mesmo, .como Dubo1s tmha pressagiado numa visao Segundo o sistema 'filosófico de Senghor, o universo é com- fantástica. bosto· tle energia, ou melhor ·de · for<&L vitãis,_J.stp_e...,,.de. ___. _.) 1(4) Senghor, L. S., G·espfoit0 da·d11ilizaÇão .ou .as l?is;da -cultura ;hJ?gr:0,africana, .(S) Senghor, L:S. in •Présem:e Africaine., êspecial 'XXl·XV, T.L, P,aris, 1959, :pp .. 1'23. p, ,2;35. 20 21

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