O Retábulo no Espaço Ibero-Americano Forma, função e iconografia Ana Celeste Glória (coord.) Volume 2 O Retábulo no espaço Ibero-Americano: forma, função e iconografia Coordenação Ana Celeste Glória Volume 2 Instituto de História da Arte Título:O Retábulo no Espaço Ibero-Americano:Forma, função e iconografia Coordenaçãoeditorial:Ana Celeste Glória Coordenação científica:Carlos Alberto Moura, Carlos Pena Bujan, Fernando AntónioBaptista Pereira, Fernando Quiles, Irina Sandu, Maria João Pereira Coutinho, Myriam Ribeiro, Pedro Flor, Pilar Diez del Corral Corredoira, Sandra Costa Saldanha, Sílvia Ferreira, Susana Varela Flor, Vítor Serrão Assistência à edição:Ana Francisca Bernardo,Ricardo Naito Paginação &design:Ana Celeste Glória Imagem da capa: José António Landi–Pormenor de retábulo para o altar-mor da Sé de Belém. Desenho à pena, aguarelado, 300x170 mm. Rio de Janeiro, Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - Brasil, Colecção Alexandre Rodrigues Ferreira – Prospectos de cidades, villas, povoações, edeficios…, da Expedição Philosophica do Para, Rio Negro, Mato Grosso e Cuyaba, 1784-1792, VII. Disponível inhttp://www.forumlandi.ufpa.br/biblioteca-digital/desenho/retabulo-para-o-altar-mor-da- se-de-belemhttp://www.forumlandi.ufpa.br/biblioteca-digital/desenho/retabulo-para-o-altar-mor-da-se- de-belem Edição:Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / NOVA ISBN:978-989-99192-6-6 Lisboa,7 de Fevereirode2016 Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT–Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto estratégico do IHA [UID/PAM/00417/2013]. © Autores e Instituto de Históriada Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/NOVA. Os artigos, imagens e norma ortográfica utilizada são da responsabilidade dos autores. Instituto de História da Arte Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Universidade Nova de Lisboa Av. de Berna,26-C 1069-061 Lisboa www.iha.fcsh.unl.pt Índice Volume 2 Parte III -O Retábulo e a iconografia: interpretação, significado e função.......................7 Torre de Moncorvo-O retábulo flamengo de Santa Ana........................................................9 Adília Fernandes Laretablística novohispana en el debate estético de signo ilustrado.....................................15 Álvaro Cabezas García O Retábulo da Estigmatização de S. Francisco na igrejade Santa Clara-a-Nova em Coimbra...........................................................................................27 Ana Rita Carvalho Dos retablos para Felipe V de Borbón en la catedral de Oviedo (Asturias)..........................41 Bárbara García Menéndez Sine labe concepta. La exaltación de la Inmaculada Concepción en Portugal a través de sus retablos...........................................................................................................51 Carme López Calderón La Ermita de los Santos Mártires en Cuevas de Soria. Dos retablos-relicarios, dos estilos artísticos.........................................................................67 Elena Sainz Magaña y Joaquina Gutiérrez Peña La iconografía de los Siete Arcángeles en el retablohispanoamericano. Heterodoxia, censura ydevoción publica..............................................................................79 Escardiel González Estévez Tota pulchra es Maria:os artifícios da linguagem logo-icónica na representação imaculista do Barroco Iberoamericano e o retábulo da Misericórdia de Anadia...................91 Filipa Araújo O programa iconográfico jesuíta: aplicações em retábulos nas missões Guarani................105 Flávio António Cardoso Gil Uma “obra de artetotal”: a talha da capela particular de Nossa Senhora da Nazaré, em Cravaz–Tarouca...........................................................................................................115 Pedro Vasconcelos Cardoso Lo profano visita lo sacro:Lachinoiserieen los retablos canarios del siglo XVIII............127 DavidMartín López 5 Parte IV - Património retabular: Conservação, restauro, defesa e valorização ............139 La intervención en retablos lígneos problemática y pautas de actuación............................141 María José González López Conservação e restauro das pinturas do retábulo da capela-mor da Sé do Funchal –Contributo, no contexto contemporâneo da preservação, defesa e valorização do património cultural......................................................................................155 Carolina Ferreira, Sofia Gomes, Glória Nascimento, Mercês Lorena,António Candeias O retábulo de Santa Catarina da Carnota: prelúdios para a identificação de uma tipologia franciscana...............................................167 André Varela Remígio, Anísio Franco, Maria João Vilhena de Carvalho Retábulo de Santa Teresa na Igreja de Santo Alberto: Forma,função, conservação e restauro................................................................................181 Elsa Murta Gilt-Teller: uma abordagem inovadora e ferramenta multimédia para o estudo interdisciplinar dos retábulos em talha dourada em Portugal..............................................195 I. C. A. Sandu Conhecimento do retábulo-mor da igreja de Santa Maria de Pombeiro pelo estudo do seu reverso...................................................................................................205 José Vieira Gomes Retablo ilusionista de la Capilla de San Bernardino en Izúcar de Matamoros,Puebla: México...........................................................................................215 Sarahy Fernández García, Perla Téllez Cruz Argentatum. Folha de prata na retabulística em Portugal....................................................227 Tiago Dias, Elsa Murta, Cristina Barrocas Dias, Vítor Serrão Proceso vital de los retablos en iglesias menores. LaVera Cruz de San Fernando (Cádiz)...............................................................................237 Yolanda Muñoz Rey A Retabulística Barroca de Lisboa entre o Liberalismoe a Actualidade: Mecanismos de alienação e de conservação de um património. O papel do Museu Nacional de Arte Antiga........................................................................247 Sílvia Ferreira Índice de autores...................................................................................................................263 Índice geral............................................................................................................................265 6 Parte III O Retábulo e a iconografia: interpretação, significado e função 7 Torre de Moncorvo - O retábulo flamengo de Santa Ana Adília Fernandes1 Introdução As origens de Torre de Moncorvo, como concelho, remontam à idade Média. No século XIII, D. Dinis concede-lhe carta de foral. Nos finais de setecentos, dentro da nova divisão administrativa e judicial, a vila de Moncorvo é cabeça da mais extensa comarca do reino, cujo senhorio pertence à Coroa. Sob o ponto de vista histórico, aparece como a mais importante das seis que com ela completam a província de Trás-os-Montes. Torre de Moncorvo é sede de provedoria e, como tal, pertence-lhe fiscalizar e cobrar as receitas da Coroa, tendo sob a sua alçada a comarca de Bragança e a de Vila Real. É, ainda, sede de comarca eclesiástica ou vigaria,equivalente a uma diocese. Nesta última qualidade, é uma das cinco circunscrições que compõem o arcebispado de Braga, com cento e vinte e quatro igrejas paroquiais. É visitada, apenas, pelo próprio arcebispo ou seus representantes2. As vigarias resultam da extensa dimensão territorial do arcebispado e visam facilitar a sua administração. Em 1881, Moncorvo é anexado à diocese de Bragança, criada em 1770, como consequência do programa de definição absolutista da governação de D. José I e do seu ministro, o Marquês de Pombal. NasMemórias Paroquiais, de 17583–documento que traduz a complexa constituição e construção de uma cultura histórica e geográfica de base paroquial, na sua caracterização física, económica, social e no quadro das suas ligações sociais e políticas da ordem régia, senhorial, donatorial, religiosa e eclesiástica – regista-se ser a Igreja de Moncorvo o mais sumptuoso templo que se conhece no reino das igrejas matrizes, é colegiada e reitoria. A grandiosidade do monumento acompanha a renovação empreendida em consequência dos descobrimentos e expansão portugueses, o crescente aumento populacional e o desejo de elevação do estatuto eclesiástico da comarca. Conta com o empenho dos responsáveis autárquicos, concretamente, 1Doutora em História Moderna pela Universidade do Minho; investigadora de pós-doutoramento na Universidade do Porto, onde integra o CITCEM (Centro de Investigação Transdisciplinar: Cultura, Espaço, Memória). 2Paulo Dias de Niza, Portugal Sacro-Profano,Parte II (Lisboa, Officina de Miguel Manescal da Costa, 1768), p. 252. Ver,também, Joaquim M. Rebelo,Resenha Histórica de Torre de Moncorvo (Moncorvo, Câmara Municipal de Torre deMoncorvo,1988), 13 e 15. 3José Viriato Capela e Ana Cunha Ferreira,Braga nas Memórias Paroquiais de 1758, (Braga, FCT e Associação Comercial de Braga, 2002), pp. 14-16 e Adília Fernandes, O Recolhimento de Santo António do Sacramento de Torre de Moncorvo (1661-18149–Percursos e destinos femininos(Coimbra, Palimage Editores, 2015), 187-196. 9 ORETÁBULO NO ESPAÇO IBERO-AMERICANO: FORMA, FUNÇÃO E ICONOGRAFIA na entrega de propriedades agrícolas sitas no Vale da Vilariça, e que, posteriormente, passam a incorporar os bens da igreja, tal como se constata pelo respetivo tombo. Em 1617, enquanto ainda decorrem as obras de construção da igreja, iniciadas no século anterior e perspetivando a sua grandiosidade, a câmara, estando vago o arcebispado de Braga, endereça duas cartas a Filipe II nas quais solicita a criação de uma diocese com a vila como sede episcopal. Alega, a par da grande distância de Braga a Moncorvo, que os rendimentos podem sustentar este estatuto e que o templo é apto a ser catedral. A passagem do arcebispo de Braga, frei Bartolomeu dos Mártires (1559- -1582), por esta localidade, aquando da promoção e aplicação das decisões e orientações do Concílio de Trento (em cujos trabalhos tem um papel importante)4, não conduz ao sucesso desta pretensão. Moncorvo mantém-se como comarca eclesiástica até ao século XIX, com cento e catorze freguesias e cinco anexas. Aquela pretensão é reveladora de um considerável incremento económico que o século XVII conhece. Moncorvo, vai afastando-se, no século XVIII, do desenvolvimento que vive no século anterior. Entra, agora, num processo de declinação. Aponta-se o início da edificação da igreja para a primeira década do século XVI5e a sua conclusão para o seguinte, conhecendo obras de reparação e enriquecimento nos séculos posteriores. A construção percorre o período filipino, pelo que recebe influências de Espanha. São patentes diversos elementos estilísticos, como os das igrejas-salão manuelinas, os renascentistas e os maneiristas, bem como os que remetem para a austeridade tridentina, cara aos Filipes, nomeadamente, na fachada principal. O incremento dos trabalhos pode ter resultado, em dada fase, da mediação de frei Bartolomeu dos Mártires. A monumentalidade da arquitetura religiosa, como a igreja matriz e o convento de S. Francisco, da vila, que resistem à exuberância barroca, entre tantas outras obras, justifica, nos séculos XVI ao XVIII, a instalação de oficinas, como uma “escola” de cantaria, e o recurso a inúmeros artistas de diversa formação para a sua execução. A sua origem é local, mas também de Braga, Porto e regiões espanholas, entre outras proveniências. A talha dos altares da igreja desdobra-se em diferentes expressões estilísticas, executada por pintores-douradores, entalhadores e imaginários que não deixam de traduzir os condicionalismos de um tempo de rigorismo que se reflete na sua liberdade criativa e os submete, paralelamente, a uma aprovação prévia pela hierarquia eclesiástica. O tríptico de Santa Ana No interior da igreja exibe-se uma das mais valiosas peças que a preenchem: o tríptico de Santa Ana6 (Fig. 1). Encontra-se junto do retábulo do Santíssimo Sacramento, do século XVII, em madeira polícroma. Formado por dois andares, este retábulo localiza-se na cabeceira da nave do Evangelho. A pequena dimensão do tríptico contrasta com a sua grandiosidade e profusão decorativa. 4 Ivone da Paz Soares, “Arcebispado de Braga por Setecentos”, in Revista Campos Monteiro, história património cultura, n.º 3 (Coimbra, Palimage Editores, 2008), 116. 5Luís Alexandre Rodrigues, “O programa arquitectónico da Matriz de Moncorvo e a demora da afirmação do da arte barroca no distrito de Bragança”, inO património histórico-cultural da região de Bragança/Zamora(Porto, CEPESE/Edições Afrontamento, 2005),39-66. 6Para o estudo deste tríptico, leia-se Adriano Vasco Rodrigues, O retábulo flamengo da parentela de Santa Ana na igreja matriz de Torre de Moncorvo, separata do vol. V daRevista de Ciências Históricas(Porto: Universidade Portucalense Infante D. Henrique, 1990), pp. 143-168 e Maria da Assunção Carqueja,Documentos medievais de Torre de Moncorvo(Torre de Moncorvo, Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, 2007), 161-178. 10
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