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O processo de descolonização literária em África PDF

442 Pages·2009·26.82 MB·Portuguese
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Cristina Ferreira Pinto Mendes de Freitas O processo de descolonização literária em África h - os casos de Chin ua Achebe, Ahmadou Kourouma e Mia Couto PORTO 2005 Cristina Maria Falcão Severo Ferreira Pinto Mendes de Freitas O processo de descolonização literária em África - os casos de Chinua Achebe, Ahmadou Kourouma e Mia Couto Dissertação de Doutoramento no Ramo de Conhecimento em Literatura apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. PORTO 2005 Aos meus pais Ao meu marido Às minhas filhas Por tudo e especialmente pelo tempo e dedicação a que me furtei Agradecimentos Para a realização deste trabalho, foi imprescindível o contributo de diversas pesoas e instituições a quem quero dirigir o meu agradecimento. Ao Professor Doutor Salvato Trigo, um agradecimento muito especial por ter aceite orientar esta dissertação, pela disponibilidade, atenção e comentários que me dispensou ao longo deste estudo, bem como pelo seu apoio ao longo dos anos - e são já muitos... Ao PRODEP, através da Escola Superior de Educação e do Instituto Politécnico do Porto, devo a situação de bolseira que, ao proporcionar-me dispensa total de serviço, permitiu que me dedicasse exclusivamente a esta investigação durante três anos. Devo ainda um agradecimento às colegas que se disponibilizaram para discutir comigo determinados aspectos do meu trabalho ou que, de alguma forma, prestaram a sua colaboração. Agradeço aos meus pais todo o apoio e incentivo que me deram em todos os momentos, especialmente nos mais difíceis. Finalmente, mas não por último, um muito obrigado ao meu marido por todo o apoio, carinho, paciência e estímulo que me permitiram concluir este trabalho. V Indice Resumo ix Abstract xi Introdução 1 Capítulo 1. O contexto cultural 15 1.1 O contexto cultural em Chinua Achebe 17 1.1.1 Cosmologia e religião 28 ■ Chukwu 31 ■ Deuses e Oráculos 32 ■ Chi 37 ■ Antepassados 39 1.1.2 Costumes e tradições 43 Casamento 43 Festa do Novo Inhame 46 Sistema legal e judicial 48 Sistema de títulos 53 Rituais fúnebres 54 1.1.3 Papel da mulher 57 1.1.4 Percepção temporal 77 1.1.5 O sobrenatural 87 1.2 O contexto cultural em Ahmadou Kourouma 91 1.2.1 Cosmologia e religião 95 1.2.2 Costumes e tradições 108 ■ Excisão 110 ■ Casamento 117 ■ Rituais fúnebres 120 1.2.3 Papel da mulher 123 1.2.4 Percepção temporal 128 1.2.5 O sobrenatural 138 1.3 O contexto cultural em Mia Couto 149 1.3.1 Cosmologia e religião 154 1.3.2 Costumes e tradições 160 1.3.3 Papel da mulher 166 1.3.4 Percepção temporal 170 1.3.5 O sobrenatural 174 vii Capítulo 2. Contaminação linguística 183 2.1 Contaminação linguística em Chinua Achebe 202 2.1.1 Oralidade vs literacia 214 2.1.2 Organização retórica do discurso 231 2.1.2.1 ordem lexico-semântica 233 2.1.2.2 ordem morfossintáctica 251 2.2 Contaminação linguística em Ahmadou Kourouma 256 2.2.1 Oralidade vs literacia 258 2.2.2 Organização retórica do discurso 271 2.2.2.1 ordem lexico-semântica 273 2.2.2.2 ordem morfossintáctica 293 2.3 Contaminação linguística em Mia Couto 301 2.3.1 Oralidade vs literacia 305 2.3.2 Organização retórica do discurso 313 2.3.2.1 ordem lexico-semântica 316 2.3.2.2 ordem morfossintáctica 329 Capítulo 3. Recursos da técnica narrativa 337 3.1 Contos e fábulas 349 3.2 Mitos e lendas 363 3.3 Canções e cânticos 372 3.4 Provérbios e máximas 378 Conclusões 399 Bibliografia 409 VIU RESUMO A descolonização literária tem sido, de modo geral, o projecto da escrita ficcional pós-colonial. No mundo das letras africanas, Chinua Achebe (Nigéria), Ahmadou Kourouma (Costa do Marfim) e Mia Couto (Moçambique) têm questionado técnicas romanescas, discursos e estratégias discursivas ocidentais a partir de uma posição privilegiada entre dois mundos. Este estudo pretende demonstrar que as literaturas africanas modernas se afirmaram como entidades autónomas das literaturas ocidentais e, mais especificamente, que um romance africano difere de um romance ocidental tanto a nível da sua dimensão ética e sócio-histórica como das convenções estéticas que o enformam. Com este nosso estudo, pretendemos, por conseguinte, demonstrar que estes autores providenciaram importantes modelos, no âmbito do romance, para uma prática literária africana. Seguindo uma metodologia comparatista, cobrimos um vasto período cronológico, bem como diferentes áreas geográfico-literárias africanas para encontrarmos migrações temáticas, discursivas, estilísticas e retóricas. Assumimos Achebe e as suas obras, Things Fall Apart (1958), A Man of the People (1966) e Anthills of the Savannah (1987), como elemento comparante, e tomámos as obras de Ahmadou Kourouma, Les Soleils des Indépendances (1970), e de Mia Couto, A Varanda do Frangipani (1996) e O Último Voo do Flamingo (2000), como elementos comparados. A dissertação está dividida em três capítulos que abordam os principais vectores por onde passa o processo de descolonização literária nos três autores. O capítulo 1 refere-se ao contexto cultural subjacente aos romances do corpus; o capítulo 2 discute a contaminação linguística entre a língua africana e a língua do antigo colonizador; o capítulo 3 examina o(s) modo(s) como os autores incorporam formas da oratura africana nos seus romances. Apesar da detecção de linhas de força comuns, este estudo não nos impediu de afirmar a diversidade entre as literaturas nigeriana, marfinense e moçambicana e de provar que a visão unificadora de uma literatura africana é indefensável, na medida em que em África, à semelhança dos outros continentes, existem literaturas sustentadas pelas culturas específicas dos seus vários povos. IX ABSTRACT The literary decolonization has been, in general terms, the project of ficcional post- colonial writing. Within African letters, Chinua Achebe (Nigeria), Ahmadou Kourouma (Ivory Coast) and Mia Couto (Mozambique) have questioned European discourses, discursive strategies and novelistic techniques from a privileged position between the two worlds. This study aims at demonstrating that modern African literatures have established themselves as entities autonomous from western literatures and, at a more specific level, that an African novel differs from a western novel on the basis not only of its ethical and socio-historic dimensions but also the aesthetic conventions that shape it. This study is intended, therefore, to prove that these authors provided important models, as far as the novel is concerned, for an African literary practice. Using a comparative methodology, a large chronological period will be covered as well as different African geographical and literary areas in order to find thematic, discursive, stylistic and rhetorical migrations. Achebe and his novels, Things Fall Apart (1958), A Man of the People (1966) and Anthills of the Savannah (1987), will be considered as the core element, and the novels of Ahmadou Kourouma, Les Soleils des Indépendances (1970), and of Mia Couto, A Varanda do Frangipani (1996) and O Último Voo do Flamingo (2000), will be taken as the comparative elements. The dissertation is divided into three chapters that deal with the main vectors through which the process of literary decolonization is achieved by these three authors. Chapter 1 refers to the cultural background of the novels selected; chapter 2 discusses language contact between the author's African language and his country's former colonizing language; chapter 3 examines the way(s) these authors incorporate forms of the African oral tradition in their novels. In spite of the detection of common parameters, this study did not prevent us from confirming diversity among the literatures of Nigeria, Ivory Coast and Mozambique, and from presenting proof that a unifying vision of a single African literature is not defensible, insofar as in Africa, like in the other continents, there are literatures which are sustained by the specific cultures of its peoples. xi Introdução A emergência, no século XX, da literatura africana em línguas alienígenas como um corpus distinto da literatura oral representa um notável enriquecimento da modernidade literária. O percurso, porém, não foi fácil e muito há ainda para discutir. Obiechina, um credenciado crítico africano, reconhece, em 1975, que os autores africanos estão paulatinamente a apropriar-se do romance, a "domesticá-lo", "...the form has been borrowed and assimilated to a new cultural reality, in which the old indigenous culture and the new technological culture have been and still are being painfully married. Like every other item of cultural borrowing, the novel is, in West Africa, still undergoing a process of "domestication"."1 Tem sido a crítica ocidental (europeia ou americana) que mais se tem debruçado sobre a problematização crítica da questão da narrativa africana. Em 1983, três importantes críticos nigerianos afirmavam: "...Africa's prose literature is under attack from a dominant and malicious eurocentric criticism."2 O principal objectivo destes autores é descolonizar a literatura africana, vê-la como uma entidade autónoma das outras literaturas e não como uma ramificação das literaturas ocidentais. Para tal, estes críticos preconizam que a literatura africana siga modelos e tradições próprios, uma vez que ela se enraíza numa cultura diferente da europeia. O processo de descolonização literária em África ainda está em curso: os diferentes autores continuam a trabalhar para a definição e afirmação das suas literaturas nacionais, pelo que consideramos que investigar os processos de distanciamento das literaturas africanas em relação ao cânone europeu é um tema ainda actual para objecto de pesquisa. Relativamente aos autores alvo do nosso estudo, eles estão de tal modo relacionados com a problemática em questão que se torna difícil precisar se a nossa escolha decorreu da opção desse tema de pesquisa, se esses nomes já se nos impunham pelas leituras que deles OBIECHINA, Emmanuel - Culture, Tradition and Society in the West African Novel, Cambridge University Press, 1975, p.35. Também em BRUCE, King (ed.) - The Commonwealth Novel since 1960, London, MacMillan, 1991, p.148, aparece esta ideia de domesticação, adaptação e experimentação a nível da língua e da estrutura no romance africano em inglês. 2 CHINWEIZU, JEMIE, Onwuchekwa, and MADUBUIKE, Ihechukwu - Toward the Decolonization of African Literature, Washington, Howard University Press, 1983, p.l. 1 fizemos. Escolhemos três importantes autores das literaturas africanas modernas de língua inglesa, francesa e portuguesa, respectivamente, da literatura nigeriana, marfinense e moçambicana, a saber, Chinua Achebe (Nigéria), Ahmadou Kourouma (Costa do Marfim) e Mia Couto (Moçambique). Achebe, notado logo em 1958, com a publicação de Things FallApart e considerado por muitos críticos como "o pai do romance africano em inglês3", tem, década após década, publicado regularmente romances, contos, poemas e ensaios, escrito diversos artigos e dado inúmeras entrevistas num contributo valiosíssimo para a afirmação e autonomização das literaturas africanas, em geral, e da literatura nigeriana, em particular. O seu desempenho tornou-o uma figura central nas discussões sobre o romance africano em geral. O estatuto seminal de Achebe deve-se, essencialmente, ao facto de os seus romances terem providenciado importantes modelos estéticos para uma prática literária africana, mas também ao facto do seu sucesso comercial e crítico ter encorajado, por um lado, africanos a escreverem para publicação e, por outro, editores a publicarem as obras de autores africanos. Para além disto, os seus numerosos ensaios críticos e teóricos sobre a sua própria obra e sobre literatura africana em geral contribuíram enormemente para estabelecer normas e convenções que serviriam de parâmetros para o trabalho dos romancistas africanos. Deste autor, seleccionámos, então, para o nosso estudo, três romances que representam diferentes 3 C.L.Innes designa Achebe como "father of the African novel in English" (INNES, CL. - Chinua Achebe, Cambridge University Press, 1990, p. 19). Gikandi refere-se a Achebe como "the person who invented African literature" e a TFA como "a foundational moment of literary history" (GIKANDI, Simon - "Chinua Achebe and the Invention of African Culture", Research in African Literatures, vol.32, n°3, Fall 2001, p.5) Soyinka reconhece que "the first West African writer to produce truly African Literature was not Leopold Senghor but Chinua Achebe." ( citado por LINDFORS, Bernth - "The Early Writings of Wole Soyinka", Journal of African Studies, n°2, 1975, p.85.) Bruce King refere o papel de Things Fall Apart a nível de descolonização do texto literário em Africa: "...the publication of Things Fall Apart ...would serve as a point of reference and comparison for future writing. The novel ...introduced techniques that liberated future African novelists from having to imitate the conventions of a western literary genre." (KING, Bruce - The New English Literatures: Cultural Nationalism in a Changing World, MacMillan, New York, 1980, p.58) Salah Hassan qualifica Things Fall Apart como "the quintessential postcolonial African narrative" e falando da hipercanonização de que foi alvo este romance afirma: "Designated by postcolonial criticism as an antithesis to canonical works, like Conrad's Heart of Darkness, that represented Africa, Things Fall Apart disrupted the established tradition, but it also secured its place in the canon and became the object of postcolonial hypercanonization." (HASSAN, Salah D. - "Canons after Postcolonial Studies", Pedagogy, vol .1, n°2, Summer 2001, p.300.) 2

Description:
A história do romance em África, tal como todas as histórias, é complexa e O estatuto pioneiro de Achebe na história da literatura africana reside precisamente . 12 WACHTEL, Eleanor - "Eleanor Wachtel with Chinua Achebe: Interview", The Malahat . Letras da Universidade do Porto, s.d., p.158.
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